Em Novembro de 2024, num leilão da Sotheby’s, uma banana colada a uma parede com fita adesiva foi vendida por 6,2 milhões de dólares a um multimilionário das criptomoedas. Já antes, a peça frugal do artista italiano Maurizio Cattelan provocara confusão, risos, escândalo, títulos sexy em jornais online. Uma banana colada à parede é arte? O que é arte?

Cattelan está habituado a criar discussão, choque, admiração — é como se as reacções às suas obras fizessem parte da arte que cria desde meados dos anos 80. Foi também assim quando, em 2016, instalou uma sanita de ouro no museu Guggenheim em Nova Iorque: os visitantes podiam, escatologicamente, usar a obra (Cattelan chamou-lhe America e aquele luxo absurdo vibrou com mais força naqueles dias inaugurais da era de Trump).

Durante um empréstimo, America seria roubada em Inglaterra para o seu ouro ser derretido e vendido. “Fomos abençoados. Fomos abençoados, pois tornou-se épica. Antes era uma obra normal, somente uma obra de arte”, disse Maurizio Cattelan a Constança Babo sobre esse epílogo criminal para America.

Sem America, mas com Comedian e outras 25 obras, a exposição Sussurro enche a Casa de Serralves (e não só) com o humor e o desconcerto, por vezes algo macabro, de Maurizio Cattelan. É uma das exposições mais marcantes do ano.

“Não devemos limitar as leituras, as interpretações” das obras de arte, acredita o artista. “Temos de encontrar os nossos próprios significados”, diz o enfant terrible italiano nesta entrevista em que recua aos anos em que se fez artista, depois de uma carreira como designer de móveis. “Sentia-me atraído por utilizar as minhas mãos, comecei a aprender a soldar e a fazer carpintaria. Comecei por fazer os móveis da minha casa e, assim, por necessidade, comecei a fazer objectos.”

Num dos grandes momentos desta edição do Festival de Almada, que arranca esta sexta-feira, Thomas Ostermeier, um dos maiores encenadores do teatro europeu, apresenta História da Violência de Édouard Louis (ainda só disponível na edição impressa). Gonçalo Frota falou com o encenador.

Ao desespero e à desistência perante o estado das coisas, a companhia franco-catalã Baro d’evel contrapõe a poesia do levantamento e do colectivo. Qui Som? é uma das luzes que iluminam este Festival de Almada, diz-nos Inês Nadais, que viu a peça e falou com a companhia em Avignon.

“A humanidade vai morrer? Merecemos”, diz Kae Tempest em conversa com Joana Gonçalves. Mas esta não é uma entrevista lúgubre: o rapper, escritor e dramaturgo inglês sente-se “bem”, “mais forte”, o que vive, como homem trans, como humano, “é simplesmente lindo, foda-se. É maravilhoso”. O novo álbum Self Titled é uma conversa a sós e Tempest tem muito para dizer. Em Outubro actua em Lisboa.

Julio Iglesias nunca foi moderno (e nunca quis ser). Ignacio Peyró escreveu sobre alguém que teve “uma das vidas mais divertidas” do século XX. Julio não tinha grande voz, não dançava bem e não tinha dotes de compositor. No início, era tímido. O que fez dele um símbolo de Espanha, um ícone em tantos países? “Ninguém odeia Julio Iglesias, ninguém odeia os golfinhos, as baleias e os gatinhos”, resume Peyró na conversa com Marco Vaza.

Também nesta edição:

— Cinema: os filmes de Jacques Rozier chegam às salas portuguesas; recensões a Mundo Jurássico: Renascimento, Lucefece e Contos do Esquecimento;

— Livros: as estreias de Ana Cláudia Santos e Paulo Teixeira no romance (textos ainda só disponíveis na edição impressa);

— Música: os novos discos de Lorde e Caroline;

— Fotografia: Rehab Nazzal fotografa o horror na Cisjordânia, “uma extensão do genocídio em Gaza”.

Boas leituras!

No Encontro de Leituras de 8 de Julho, o convidado vai ser o escritor brasileiro Raphael Montes, com o livro Suicidas (editora Cultura). Quem quiser receber informações pode inscrever-se na mailing list do Encontro de Leituras através de [email protected].

Leituras: o nosso site de livros; Cinecartaz: tudo sobre cinema

Do que me lembro, e não me lembro assim de muito porque já passou muito tempo, os trotskistas sempre foram cultos e maçadores.

Desde que saiu da província política portuguesa e, eleito presidente do Conselho Europeu, foi viver para a metrópole da União Europeia (a “cidade-mãe”, que é o significado de “metrópole” em grego), António Costa sofreu algumas transformações no seu aspecto e submeteu a deixis corporal a um controlo estético codificado pelo “monstro afável” de Bruxelas.