“Covardia” de António Costa e um déjà-vu. Sócrates quer transmissão em direto do julgamento na TV

“Lamento que Costa estivesse calado durante todos estes anos sobre essa verdade, é covardia”. Julgamento de Sócrates arrancou ontem. José Sócrates acusou esta quinta-feira o também ex-primeiro-ministro António Costa de covardia por ter ficado em silêncio sobre o facto de ter sido ele quem lhe apresentou o ex-ministro Manuel Pinho. “Eu convoco António Costa para que esta verdade seja clara. Foi ele que me apresentou Manuel Pinho. Não foi o Ricardo Salgado nenhum. E o que eu lamento, isso sim, (…) é que o doutor António Costa estivesse calado durante todos estes anos sobre essa verdade. Podia-a ter dito imediatamente”,

Religião e ideologia política influenciam crença em desinformação sobre saúde

As pessoas mais religiosas e com ideologias políticas de direita são mais propensas a aceitar tratamentos alternativos, bem como mais suscetíveis a aceitar teorias da conspiração e desinformação sobre saúde, concluiu um estudo da investigadora Catarina Santos.

Em entrevista à agência Lusa, a investigadora do ISCTE e autora do estudo “O papel das crenças conspiracionistas e pseudocientíficas na previsão da adesão a tratamentos alternativos” diz que “as pessoas mais religiosas e que são de direita são mais propensas a aceitar tratamentos alternativos (…) portanto há traços de personalidade que podem levar as pessoas a ser mais propensas a aceitar teorias da conspiração”.

Catarina Santos começa por explicar que a pseudociência é tudo o que “sob a capa da credibilidade da ciência, vende coisas que não têm prova científica, sejam elas tratamentos ou pseudo medicamentos, que acabam por querer tomar o lugar dos procedimentos científicos já estabelecidos”.

Neste sentido, “a pseudociência, um tipo específico de desinformação, abrange uma série de áreas da saúde, tendo a grande marca de afastar as pessoas dos tratamentos que são, efetivamente, eficazes para as questões que as assolam”.

“A desinformação em saúde é tudo o que leva as pessoas a pensar que sabem algo sobre um determinado assunto, baseado em factos que não existem ou em crenças que não são realistas e não [são] verdadeiras”, afirmou a académica.

Ademais, a investigadora detalhou que “a informação que é transmitida pode ser verdadeira, no entanto, a forma como o indivíduo interpreta essa informação pode levar o próprio a estar desinformado”, apontando a falta de sentido crítico e de literacia sobre os temas, como uma possível justificação.

“Há características individuais e pessoais que podem levar a uma maior tendência a crer na desinformação. As pessoas com menos literacia para uma determinada área têm uma maior tendência a crer na desinformação”, acrescentou.

Em matéria da aceitação de desinformação em contexto de consulta médica, “as pessoas tendem a preferir os tratamentos convencionais aos alternativos”, enquanto “uma pessoa que acredita numa teoria da conspiração tende a acreditar noutro tipo de coisas semelhantes”, afirmou.

“As pessoas que pensam que sabem mais sobre as coisas são as que intuitivamente mais aderem [a estas teorias] porque não utilizam o seu espírito crítico (…) é a confiança que têm no seu conhecimento que as leva a aceitar coisas que não compreendem devidamente”, explicou a investigadora.

Além disso, “se a informação é dada por um médico e se existe confiança na ciência, é normal aceitar melhor o tratamento convencional”, sendo que o estudo desenvolvido pela académica concluiu que “as crenças conspiratórias e a falta confiança na ciência influenciam significativamente as decisões de tratamento. A abordagem destas crenças é crucial para combater a desinformação sobre saúde e incentivar a adesão a cuidados médicos baseados em provas”, rematou.

Rússia lançou o “maior e mais cínico” ataque deste o início da Guerra

A Rússia lançou esta madrugada 11 mísseis e 539 drones contra a Ucrânia. Foi o “maior e mais cínico” ataque russo, desde o início da guerra. Mal Donald Trump e Vladimir Putin desligaram o telefone, a Rússia começou a lançar mísseis e drones contra a Ucrânia, naquele que terá sido o maior ataque russo desde início da guerra. O Presidente dos Estados Unidos ligou ao seu homólogo russo e depois do telefonema disse que estava “infeliz” com conversa, que não resultou em “nenhum progresso” na direção de uma solução negociada para acabar com a guerra. E eis que as tropas

Morreu Michael Madsen, eterno “durão” de Reservoir Dogs e Kill Bill

Icónico “mauzão” de Hollywood teve uma paragem cardíaca aos 67 anos, na sua casa, em Malibu. O ator secundário que todos reconhecíamos dizia ter nascido na época errada. O ator Michael Madsen, mais conhecido pelos icónicos papéis nos filmes de Quentin Tarantino, Reservoir Dogs e Kill Bill, morreu na manhã desta quinta-feira, aos 67 anos, na sua casa em Malibu, na Califórnia. O norte-americano sucumbiu a uma paragem cardíaca, confirmou o seu agente, Ron Smith, de acordo com o The Hollywood Reporter. Os fãs dos nove clássicos dirigidos por Tarantino certamente lembram-se dos papéis marcantes e gratuitamente violentos interpretados por

“Democracia não se deve dar por garantida”: Provedora Europeia critica uso excessivo de decretos de urgência por Bruxelas para desregulação

Bruxelas não deve recorrer excessivamente a processos legislativos especiais – que evitam o escrutínio do Parlamento Europeu, eleito diretamente pelos cidadãos, e a consulta de instituições da sociedade civil – para conseguir aprovar medidas de desregulação económica. A confiança dos cidadãos está em risco e “a democracia é algo que não se deve dar por garantido”, vincou a Provedora de Justiça Europeia, a portuguesa Teresa Anjinho, em entrevista ao “Financial Times” publicada esta sexta-feira, 4 de julho.

A provedora, desde 27 de fevereiro no cargo, considera que o recurso excessivo pela presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, dessas prerrogativas legislativas – agora usadas, por exemplo, para tornar menos ambiciosas as metas climáticas aprovadas por Bruxelas há alguns anos – faz com que a percepção dos cidadãos seja de que “estas decisões estão a ser tomadas à porta fechada, que estão a ser feitas à pressa”.

A Provedora nota que “os EUA estão a influenciar geopoliticamente todos estes temas (…) da simplificação, o tema da competitividade, à defesa”, e deixa alertas relativos à ânsia europeia de responder às medidas de desregulação tomadas pela presidência de Donald Trump.

‘‘O problema” – disse Teresa Anjinho ao jornal britânico – nem é a simplificação de regras ou de processos burocráticos; mas sim “quando essa simplificação vem associada a processos de urgência que se desviam dos processos legislativos normais”.

A Comissão deve, assim, cumprir os processos normais de aprovação de leis, já que “a forma como estas decisões estão a ser percecionadas (…) é de que a competitividade está, de certa forma, a ser conseguida à custa destes processos legislativos e destas leis pré-preparadas”, acrescenta Teresa Anjinho.

A falta de transparência da Comissão já tinha sido alvo de críticas da Provedoria Europeia em temas como a compra conjunta de vacinas contra o vírus da covid-19 durante a pandemia. Ursula Von der Leyen foi obrigada recentemente pelo Tribunal Geral da União Europeia a revelar as mensagens escritas trocadas com o presidente executivo da farmacêutica Pfizer, fabricante de uma das vacinas, durante a negociação desse contrato de compra no valor de milhares de milhões de euros.

A presidente da Comissão, que tinha recusado anteriormente o acesso a essas mensagens escritas solicitado pelos meios de comunicação, alega, contudo, que não encontra os SMS em questão.

Em maio, a propósito do acórdão do Tribunal, Teresa Anjinho frisou que o mais recente relatório da Provedoria revelava “um aumento completamente inédito de mais de 40% das queixas”, grande parte relativas a dificuldades no acesso a documentos administrativos.

Em outubro do ano passado, a sua antecessora no cargo, a irlandesa Emily O’Reilly, responsabilizava, em declarações a um grupo de meios de comunicação que incluia o Expresso, a Comissão de Ursula von der Leyen por uma “preocupante” falta de acesso a documentos. A antiga provedora sugere que é da alemã, “particularmente vista como muito poderosa”, que virá esta quebra na transparência: “O controlo está concentrado no topo. Não creio que venha dos serviços, que não tomam as decisões sensíveis. São os vários gabinetes [dos comissários], incluindo talvez o da própria presidente”.

“Isto é frustrante e preocupante, porque se algumas destas coisas estivessem a acontecer noutros países, (a Comissão) estaria a apontar o dedo a esse governo”, dizia então O’Reilly.

Teresa Anjinho, jurista, antiga deputada do CDS na Assembleia da República, foi eleita Provedora em dezembro no Parlamento Europeu à segunda volta, com elogios unânimes dos eurodeputados portugueses em relação ao seu trabalho. É a terceira provedora da história do cargo europeu, substituindo a irlandesa Emily O’Reilly, que esteve dez anos na liderança deste organismo. À Euronews, Teresa Anjinho dizia então que a sua candidatura visava “garantir que consigo chegar às queixas dos mais vulneráveis” e considerava “cada queixa é um ato de confiança (…) as pessoas dirigem-se a nós, por vezes, sem sequer terem a noção do que diz a lei, apenas com a sensação de injustiça”.

Comissão investigada

O “Financial Times” avança que a Provedoria Europeia abriu, entretanto, três inquéritos – cujas conclusões não têm força legal, ou seja, não são de cumprimento obrigatório pela Comissão – a algumas mudanças legislativas de emergência. Um deles diz respeito às iniciativas para aligeirar as regras de due dilligence empresarial que obrigam as empresas a tomar medidas para detetar e eliminar eventuais problemas ambientais e de direitos humanos nas suas cadeias de abastecimento. Organizações não-governamentais europeias queixaram-se de que a Comissão não cumpriu a lei que obriga à audição da sociedade civil e à avaliação prévia do impacto destas mudanças.

Outro inquérito diz respeito às mudanças nas regras de atribuição de financiamentos ao setor agrícola, menos exigentes a nível ambiental; ao passo que o terceiro incide sobre as alterações implementadas no combate ao tráfico humano, que incluem a criminalização de quem ajuda migrantes.

“A avaliação das consequências e dos riscos de certas decisões”, como as relativas a direitos humanos, deve ser feita antes da aprovação das leis, diz Teresa Anjinho; e seguir os processos regulares serve para “garantir que há justiça”.

O jornal britânico lembra ainda que Ursula Von der Leyen enfrentará, na quinta-feira, uma moção de censura no Parlamento Europeu, motivada precisamente pela alegada sua falta de transparência. Um grupo de deputados europeus encabeçado pelo parlamentar romeno Gheorghe Piperea contestam a falta de escrutínio das decisões do braço executivo da União Europeia, nomeadamente no que concerne às controversas mensagens trocadas com a cúpula da farmacêutica norte-americana.

Segundo o Politico, a votação, que será precedida por um debate na segunda-feira ao qual von der Leyen é forçada a comparecer, deverá resultar numa vitória para a presidente. Apesar de muitos eurodeputados de todos os quadrantes concordarem com as críticas à Comissão, os principais grupos parlamentares já recusaram acompanhar esta iniciativa de um deputado de extrema-direita. Para que a moção pudesse ser aprovada, demitindo com ela a presidente e todos os comissários europeus, dois terços dos 720 deputados teriam de votar a favor.

Xangai vai proibir motoristas de entregas que violem regras de trânsito

Xangai vai impedir que motoristas de entregas ao domicílio, que violem as regras de trânsito, se mantenham na atividade, um novo capítulo no debate sobre estas figuras cada vez mais presentes nas ruas chinesas, noticiou hoje a imprensa.

De acordo com o portal de notícias de Xangai The Paper, as autoridades da cidade criaram um sistema de três níveis que inclui a expulsão do setor dos trabalhadores que tenham sido assinalados com um ‘código vermelho’ e que não tenham melhorado o comportamento na estrada após várias advertências.

Estes motoristas vão ser colocados numa lista negra e as empresas que os empregam não podem permitir que continuem a aceitar encomendas nas suas plataformas.

Mais de 400 condutores foram suspensos durante o teste-piloto do sistema, que teve início em abril.

A medida junta-se a outras tomadas anteriormente por governos locais e empresas, após meses de debate público na China sobre a pressão a que estão sujeitos os motoristas de entregas, que recebem menos de um dólar por entrega e têm pouco tempo para descansar, na sequência de vários incidentes noticiados pelos jornais.

Num dos casos, um estafeta ameaçou um cliente com uma faca em Wuhan (centro) e noutro, o condutor danificou uma vedação em Hangzhou (leste) quando se apressava para entregar uma encomenda, tendo sido obrigado a ajoelhar-se como castigo pelos seguranças do local, o que levou a que dezenas de outros colegas convocassem um protesto.

Em várias cidades do país é comum ver estes condutores a andarem em contramão, passarem sinais vermelhos ou mesmo a acelerarem nos passeios, desviando-se dos peões.

No final de novembro, as autoridades chinesas exigiram que as plataformas digitais revissem e corrigissem os algoritmos que pudessem prejudicar os condutores – especialmente os que reduzem os prazos de entrega e aumentam a pressão sobre os trabalhadores.

A ideia é evitar que os condutores cometam infrações de trânsito e provoquem acidentes, à medida que tentam cumprir com prazos de entrega irrealistas.

Poucas semanas depois, a plataforma Meituan Waimai anunciou que iria obrigar os condutores de entregas a descansarem quando se verificasse que tinham trabalhado demasiado tempo.

Desde o início do ano, as infrações rodoviárias cometidas por condutores de entregas com motociclos elétricas diminuíram 14,8% em Xangai e os acidentes mortais 42,9%, graças às medidas tomadas, lê-se no The Paper.

Tensão comercial: China impõe taxas ao conhaque europeu em resposta a Bruxelas

Pequim anunciou hoje que vai impor, a partir de sábado, taxas ‘antidumping’ sobre o brandy importado da União Europeia (UE), sobretudo o conhaque francês, em resposta às taxas impostas por Bruxelas sobre veículos elétricos fabricados na China.

As taxas mais elevadas incidirão sobre o grupo francês Hennessy, que enfrentará um imposto de 34,9%. As casas Rémy Martin e Martell serão taxadas em 34,3% e 27,7%, respetivamente.

A medida surge um dia antes da publicação das conclusões da investigação ‘antidumping’ conduzida por Pequim às importações de brandy europeu, bebidas espirituosas destiladas a partir de vinho, essencialmente conhaque, que começou como retaliação à investigação europeia sobre apoios estatais chineses à indústria de veículos elétricos.

A China absorve cerca de um quarto das exportações de conhaque francês. O setor afirma estar a perder cerca de 50 milhões de euros por mês devido a estas medidas.

Em visita à China na semana passada, a presidente da Assembleia Nacional francesa, Yaël Braun-Pivet, manifestou esperança de que as sanções fossem levantadas “nos próximos dias”.

Desde o outono passado, os importadores já eram obrigados a depositar uma caução equivalente junto das alfândegas chinesas, no âmbito de medidas provisórias impostas por Pequim.

‘Dumping’ consiste na venda a preço inferior ao custo de produção.

Onda de calor dos últimos dias será “novo normal” no futuro

Os últimos dias de calor de Junho vividos em Portugal, Espanha e em boa parte da Europa Ocidental ofereceram temperaturas muito altas, alguns recordes e teriam sido um fenómeno extraordinário há 20 ou 30 anos, pela sua intensidade e por ocorrerem no início do Verão. Mas a nova realidade das alterações climáticas está a tornar estas ondas de calor precoces mais comuns, adiantam dois peritos ouvidos pelo Azul, explicando que estes extremos farão cada vez mais parte de um novo normal.

“Recordo as ondas de calor severas na Europa em Junho de 2019, de 2021 e 2022. Em todas elas tivemos valores de temperaturas recorde, em diferentes estações, em diferentes países”, recorda José Álvaro Silva, climatologista da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), que falou ao Azul a partir de Genebra, num dia em que a cidade Suíça estava para atingir os 32 graus. Já não são, portanto, eventos excepcionais. “Há dez anos, dir-lhe-ia que era algo excepcional, mas tendo em conta o que observámos nos últimos anos, no mês de Junho, não é comum, mas já se tem vindo a verificar.”

A 27 de Junho, Portugal começou a sentir os efeitos da canícula que, a 2 de Julho, ainda afectava 59% das estações meteorológicas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), de acordo com o resumo climatológico de Junho da organização, publicado nesta quinta-feira. O IPMA define as ondas de calor como períodos que duram pelo menos seis dias em que “a temperatura máxima diária é superior em cinco graus ao valor médio diário no período de referência”, explica-se no site.

No dia 29, o mais quente em Portugal continental durante essa onda de calor, a localidade de Mora, no distrito de Évora, atingiu os 46,6 graus Celsius, tornando-se num novo extremo absoluto de temperatura máxima em Portugal continental para o mês de Junho, desde que há registos. Nessa noite, Portalegre não desceu para lá dos 31,5 graus, atingindo também um extremo absoluto da temperatura mínima em Junho.

Os extremos absolutos para todo o ano permaneceram intactos: 47,3 graus em Amareleja, a 1 de Agosto de 2003, para a temperatura máxima, e 32 graus em Faro, a 26 de Julho de 2004, para a mínima, ambos ocorridos no pico do Verão. Mas os novos valores mostraram a força desta onda de calor, que terá ajudado a puxar a temperatura média do mês para cima. Junho de 2025 acabou por ser o terceiro Junho mais quente desde que há registo, de acordo com o boletim do IPMA. Uma primeira onda de calor, ocorrida entre 15 e 20 de Junho em 12 estações meteorológicas, também terá contribuído para essa marca.

Poderia ser pior

Assim, a temperatura média para o mês passado foi de 22,49 graus, 2,14 graus acima do valor normal entre 1991 e 2020. Ficou atrás de Junho de 2004, que teve uma temperatura média de 23,25 graus, e de 2005. Em termos de humidade, este foi o quarto Junho mais seco desde 1931, deixando a “região Noroeste do território [continental] e sotavento Algarvio na classe de seca [meteorológica] fraca”, de acordo com o boletim.

Isto ocorre após um Abril e Março chuvosos, algo que é preciso ter em conta quando se pensa na intensidade do calor que se viveu em Portugal. “Ao contrário de muitas ondas de calor, que acontecem em cima de Primaveras secas e fazem amplificar a sua intensidade, estamos pelo contrário numa situação em que há mais água no solo do que a média”, diz ao Azul Ricardo Trigo, climatologista e investigador no Instituto Dom Luiz, da Universidade de Lisboa, que estuda há décadas ondas de calor.

Segundo o investigador, o solo seco e a temperatura do mar Mediterrâneo são os dois factores que mais contribuem para amplificar as ondas de calor. No caso desta última, só as águas “estupidamente quentes” do Mediterrâneo, em muitas regiões cinco graus acima da média, é que contribuíram para essa amplificação na Península Ibérica. Mas isso pode mudar de um ano para o outro.

“Se daqui a dois anos a água do Mediterrâneo continuar muito quente e houver uma seca muito forte na Península Ibérica no Inverno e Primavera, então uma onda de calor que se formar ainda pode ser mais intensa do que esta”, avisa o perito. O solo seco pode “puxar as temperaturas um grau para cima”, o que facilita a propagação de incêndios, explica o investigador.

O lado perigoso

Segundo José Álvaro Silva, da OMM, neste momento já foi ultrapassado o pico da onda de calor na Europa. O fenómeno foi causado por uma massa de ar quente vinda do Norte de África, que ficou estagnada devido a um sistema de alta pressão, criando uma situação de bloqueio, também chamada de cúpula de calor. Além das altas temperaturas do mar Mediterrâneo, também a falta de cobertura de nuvens contribuiu para a intensidade do calor.

No território espanhol, os termómetros atingiram os 46 graus em Huelva no dia 28 de Junho, batendo-se um recorde histórico para aquele mês, que se tornou no Junho mais quente em Espanha, desde que há registos. Já França teve o seu segundo Junho mais quente. Embora não tenha havido recordes de temperatura no território francês, cidades como Tolouse e Avignon tiveram um número recorde de dias muito quentes, quando a temperatura máxima ultrapassa os 35 graus.

Por toda a Europa Ocidental, de Roma a Basileia, de Bruxelas a Berlim, as fotografias tiradas nas cidades iam revelando pessoas a tomarem banho em rios, a protegerem-se nas sombras, a molharem-se nas fontes. No entanto, oito pessoas morreram em situações ligadas à onda de calor, incêndios afectaram países como a Alemanha, a Turquia, a Grécia e a Espanha, mostrando o lado perigoso destes fenómenos extremos.

A Direcção-Geral da Saúde anunciou na quinta-feira que a nível nacional houve 69 mortes em excesso durante o período de alerta de calor, iniciado a 28 de Julho, a maior parte de pessoas com idades a partir dos 85 anos, uma faixa etária particularmente vulnerável a estes fenómenos. E, no entanto, o Verão vai ainda no início.

“Vamos continuar a ter tempo quente ao longo dos meses de Julho e Agosto, de acordo com a previsão sazonal que aponta para temperaturas acima da média ou até muito acima da média em grande parte da Europa”, adianta José Álvaro Silva, explicando que estas são condições boas para a existência de novas ondas de calor ao longo da temporada.

Verão alargado

O climatologista da OMM adianta que é necessário um estudo de atribuição para se avaliar que impacto é que as alterações climáticas tiveram na onda de calor destes dias, mas apresenta um contexto importante. “Desde 1950, das 30 ondas de calor mais severas na Europa, 23 tinham acontecido neste século”, refere, citando um relatório da OMM de 2024. Ou seja, dois terços daqueles fenómenos estão concentrados nas últimas décadas. “Isto é perfeitamente elucidativo desta aceleração das alterações climáticas, sobretudo na Europa”, diz, apontando para fenómenos cada vez mais intensos e frequentes.

Além da contribuição mais directa de aquecimento da atmosfera, as alterações climáticas – provocadas em grande parte pela emissão de gases com efeito de estufa durante a queima de combustíveis fósseis nas actividades humanas – parecem estar a provocar mais situações de bloqueio que exacerbam estas ondas de calor, conta José Álvaro Silva. A diminuição de gelo no Árctico e no Hemisfério Norte e o aquecimento das águas marinhas contribuem para fenómenos extremos mais intensos, mostrando que as alterações climáticas influenciam a vários níveis.

Tudo isto vai continuar a transformar o clima nas próximas décadas. “Enquanto continuarmos a ter este pano de fundo de alteração do clima, estes eventos extremos vão continuar a crescer de intensidade”, afirma José Álvaro Silva. “Temos de começar a lidar com um novo normal.”

Por sua vez, Ricardo Trigo antecipa que o “Verão passará a alargar-se e a começar mais cedo”. “Se esta onda aparecesse há 30 anos, era completamente anómala, agora começa a ser normal e daqui a 20 anos ninguém liga a isto. Haverá outras ondas mais intensas e a acontecerem mais cedo”, diz. Resta às sociedades prepararem-se para isso.

Pais que não acordam com o choro dos bebés não têm desculpa

Não há qualquer desculpa biológica para os pais continuarem a dormir durante o choro dos bebés – nem para serem a maioria das mães a levantar-se para cuidar dos filhos. As mães são muito mais propensas a tratar dos bebés em período noturno do que os pais. Mas um novo estudo pôs em dúvida a ideia de que as mulheres estão biologicamente preparadas para acordar mais do que os homens quando um bebé chora. O estudo, publicado na mais recente edição do jornal Emotion, sugere que a disparidade significativa nos cuidados noturnos se deve a fatores sociais e não biológicos.

As inconstitucionalidades da política migratória do Governo

Jorge Miranda, considerado, por muitos, o “pai da Constituição portuguesa”, num parecer conjunto com Rui Tavares Lanceiro, aponta inconstitucionalidades nas alterações do Governo à lei da nacionalidade e lei de estrangeiros. Um parecer jurídico assinado pelo constitucionalista Jorge Miranda, conhecido como um dos “pais da Constituição portuguesa” aponta inconstitucionalidades na nova política migratória do Governo. O parecer é também assinado pelo advogado Rui Tavares Lanceiro, especialista em Direito Administrativo e Constitucional. Em causa estão vários aspetos da nova proposta do Governo sobre a lei da nacionalidade “suscitam dúvidas de constitucionalidade” e outros, que, segundo os especialista, são mesmo “inadmissíveis” à

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