Depois do projeto para uma riviera do Médio Oriente sugerido em fevereiro, um novo plano pós-guerra para Gaza estará a circular nos bastidores da administração Trump, avança o The Washington Post este domingo, 31 de agosto. O prospeto de 38 páginas revisado pelo jornal norte-americano sugere que o enclave torne-se tutelado por um fundo e fique sob a administração dos Estados Unidos da América por 10 anos, enquanto decorrem os trabalhos para que a área seja reabilitada e transformada num hub tecnológico e de resorts turísticos.

Chamado Fundo para a Reconstituição, Aceleração Económica e Transformação de Gaza, ou GREAT Trust, a proposta foi desenvolvida por alguns dos mesmos israelitas que criaram a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada pelos EUA e por Israel, que agora distribui alimentos dentro do enclave. O planeamento financeiro foi feito por uma equipa que trabalhava na época para a Boston Consulting Group — empresa de consultadoria que se afastou deste projeto e despediu dois quadros seus que elaboraram o plano.

Para o processo de reabilitação, o projeto prevê a deslocação temporária de mais de 2 milhões de pessoas, através de partidas “voluntárias” para outros países ou áreas pré-definidas e asseguradas dentro do enclave. Os que têm terras em Gaza receberiam um token digital em troca dos direitos para reconstruir a propriedade, que poderia ser usado para financiar uma nova vida fora de Gaza ou trocar por um apartamento numa das “cidades inteligentes” previstas, que devem funcionar com tecnologias potenciadas por inteligência artificial.

Os palestinianos que escolhessem deixar Gaza receberiam um pagamento de 5 mil dólares em dinheiro e subsídios para cobrir quatro anos de renda de casa noutro país, assim como um ano de alimentação. De acordo com o plano, cada pessoa que escolhesse sair salvaria 23 mil dólares para o fundo em comparação com os custos da deslocação temporária em zonas asseguradas dentro do enclave — incluindo alimentação e moradia — o que no documento é descrito como “suporte de vida”.

De acordo com fontes ouvidas pelo The Washington Post, que falaram em condição de anonimato, o projeto foi criado especialmente para cumprir os requisitos da visão de Donald Trump para a “riviera do Médio Oriente”.

Na passada quinta-feira o Presidente teve uma reunião para discutir ideias para o pós-guerra, com a participação de Marco Rubio (secretário de Estado, o equivalente a ministros dos Negócios Estrangeiros no Governo português), Steve Witkoff (enviado especial da administração norte-americana para o Médio Oriente) e também o antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que já esteve envolvido em outros planos para Gaza no passado, e Jared Kushner, genro de Trump e antigo conselheiro do governo em assuntos do Médio Oriente.

No final da reunião, a Casa Branca não divulgou um resumo oficial dos temas discutidos ou as decisões potencialmente tomadas.

Com um lenço vermelho. Perante as câmaras e em várias intervenções públicas, o porta-voz militar do Hamas, Abu Obeida, tapava sempre o rosto. Na madrugada deste domingo, o canal saudita Al-Arabiya noticiou a morte daquele responsável pertencente ao grupo islâmico na sequência de um ataque aéreo a um apartamento no norte da Faixa de Gaza.

O visado deste ataque era Hudayfa Samir Abdallah al-Kahlout, conhecido pelo nome de guerra Abu Obeida, que sempre foi figura central da propaganda do grupo islamita. De acordo com o canal saudita, onze pessoas que se encontravam no apartamento foram mortas, incluindo o porta-voz. O corpo terá sido reconhecido por familiares e altos responsáveis do movimento.

Na tarde deste domingo, as Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmaram, em comunicado, a morte de Abu Obeida, o porta-voz da ala militar do Hamas, descrevendo-o como o “rosto da organização terrorista”.

As IDF organizaram uma operação a partir da sala de operações do Shin Bet (um dos ramos dos serviços secretos israelitas), em coordenação com o Comando Sul e com base em informação recolhida previamente pelos serviços de informações, que permitiram localizar o esconderijo onde se encontrava Abu Obeida.

No comunicado, as Forças Armadas sublinham que, ao longo da última década, o dirigente foi o principal responsável pelo aparelho de propaganda da ala militar do Hamas, coordenando a ação dos porta-vozes em diferentes brigadas e batalhões e articulando a estratégia mediática entre a vertente política e militar da organização.

Na mesma linha, o ministro da Defesa, Israel Katz, confirmou a morte de Abu Obeida. “Foi eliminado em Gaza e foi enviado para se encontrar nos confins dos infernos com todos os membros liquidados do eixo de terror do Irão em Gaza, no Líbano e no Iémen”, escreveu o governante este domingo no X.

דובר טרור החמאס אבו עוביידה חוסל בעזה, ונשלח לפגוש את כל מסוכלי ציר הרשע מאיראן, עזה, לבנון ותימן בתחתית הגיהינום.

ברכות לצה”ל ולשב”כ על הביצוע המושלם.

בקרוב, עם התגברות המערכה על עזה, יפגוש שם עוד רבים משותפיו לפשע – מרצחי ואנסי החמאס. pic.twitter.com/e6cb0CRLYy

— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) August 31, 2025

“Parabéns às IDF e à Shin Bet pela execução fabulosa. Em breve, com a intensificação da campanha militar em Gaza, muitos mais dos seus parceiros criminosos — criminosos do Hamas — vão juntar-se a ele”, disse ainda Israel Katz.

Já o líder das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, frisou, este domingo, que as IDF vão continuar a atingir “alvos em todas as arenas”. O responsável militar referiu que a morte de Abu Obeida é mais uma prova de como Israel tem conseguido eliminar os altos quadros políticos do eixo de resistência do Irão espalhado pelo Médio Oriente.

A morte de Abu Obeida não será o “fim” destes ataques, garantiu Eyal Zamir, que enfatizou que os ataques também acontecerão no futuro “fora de Israel”. “Grande parte da liderança do Hamas permanece no estrangeiro. Nós também os vamos atingir”, ameaçou o líder militar.

Por sua vez, o Hamas ainda não confirmou a morte do porta-voz. Em reação, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não deixou de ironizar a situação: “Provavelmente, não têm ninguém para fazer esse anúncio”.