O acordo comercial entre os EUA e a UE

“O acordo cria certeza em tempos incertos”, disse Ursula von der Leyen, após a conclusão das negociações que fixaram uma tarifa aduaneira transversal de 15% para as exportações europeias e de 0% para as exportações americanas. Num primeiro momento, o único modo de justificar um resultado tão assimétrico como este foi recordar possibilidades mais gravosas. Podia ter sido pior foi o suspiro de alívio de alguns destacados representantes europeus, desde o Comissário para o Comércio, Maros Sefcovic, até ao chanceler alemão, Friedrich Merz, para quem as preces dos produtores alemães de automóveis soaram a ordens. O Primeiro Ministro belga foi filosófico. Descreveu o desenlace como “um momento de alívio, mas não de celebração”. Outros não se contiveram com tanta ponderação. O chefe do governo francês, Bayrou, depois de uns dias antes alertar os seus conterrâneos de que a austeridade vinha a caminho para evitar um “cenário à grega”, declarou “um dia sombrio”, e não hesitou em usar a palavra “submissão”.

De facto, nem os recursos recentemente preparados pela Europa para responder à coerção comercial de outros países – o chamado “instrumento anti-coacção” – mostraram que têm dentes; nem as estratégias mais audazes de pressão sobre os americanos, como ameaçar estrangular a economia americana com a carestia de bens intermédios europeus, estratégia usada pelos chineses nas últimas semanas com algum sucesso, puderam dar um ar da sua graça. Entre as vítimas de tanto negrume, consta a Organização Mundial de Comércio cujas normas, em particular as respeitantes ao estatuto de Nação Mais Favorecida, vão sendo uma a uma enterradas.

Na verdade, como não conhecemos os detalhes da aplicação destas tarifas, nem o tratamento dos sectores que foram vagamente citados como excepções, ainda não sabemos a amplitude real das consequências deste acordo. Não sabemos que viabilidade têm os números que impõem à Europa aquisições de produtos energéticos americanos, num período de 3 anos, os mesmos que perfazem o mandato presidencial de Trump, na ordem dos 750 mil milhões de dólares. Nem da capacidade de a Comissão vincular o sector privado de 27 Estados-membros a investir nos EUA cerca de 600 mil milhões. Por um lado, em 2018 Jean-Claude Juncker, o então presidente da Comissão Europeia, já prometera a Trump aumentar em grande escala as importações de energia, em particular de gás natural liquefeito, para apaziguar a fúria americana. Sem efeito notável, diga-se. Por outro lado, quem verificou os números actuais, constatou que nada do que foi estipulado é cumprível. Até ao final deste ano, a União Europeia, no seu conjunto, importará dos EUA menos de 65 mil milhões, incluindo gás natural, petróleo e carvão. Seria necessário quadruplicar estas encomendas já a partir de 2026, e se tal fosse possível, dadas as restrições de infraestrutura americana (em 2024, os EUA exportaram não mais do que 165 mil milhões destes seus três tipos de produtos energéticos para o resto do mundo) e as necessidades energéticas europeias, haveria rupturas sérias nas relações com outros fornecedores – e não apenas com a Rússia que já devíamos ter penalizado há muito mais tempo.

Além do dano que este acordo nebuloso causará à economia transatlântica, estes aspectos mirabolantes reflectem duas coisas distintas, mas cada vez mais ligadas. Primeiro, uma concepção radicalmente performativa da política, quer interna, quer externa. Proclama-se o que se quer e a eficácia da proclamação produzirá o resultado pretendido, não sendo as condições objectivas da realidade suficientes para o fazer. Trump “triunfou”, e o “negociador nato” verga todos os que encontra pela frente – este é um dos elementos da nova mitologia política americana que parece querer cavar um abismo próximo onde se afogar.

Segundo, a fraqueza geopolítica da Europa. O tão desejado mundo multipolar tem destes inconvenientes: os espaços políticos que não acompanharem o desempenho económico, tecnológico, militar, cultural dos seus adversários, não conseguirão conservar a situação de preeminência e de superioridade a que se habituaram. Em todos estes planos, a Europa debate-se com dificuldades cada vez mais notórias. Com um crescimento anual da sua economia, fixando o ano de Julho de 2024 a Julho de 2025, de 1,4%, a EU vai ficando cada vez mais para trás relativamente ao desempenho americano e chinês.

Incapaz de se defender sozinha, de agir na sua vizinhança próxima sem a iniciativa dos EUA, a Europa fica à sua mercê em tudo o resto. Está na hora de a Europa resistir à tentação de se dispersar por objectivos políticos cada vez mais numerosos. A alternativa é concentrar-se naqueles que poderão voltar a conferir-lhe poder e estatuto geopolíticos. Mais e mais objectivos políticos, e outras tantas competências burocráticas, apenas vão distraindo do essencial e entorpecendo a capacidade de agir. Não há nada de muito novo aqui: a reforma do mercado único e uma união dos mercados de capitais; o investimento em defesa; a travagem da degradação institucional e do esboroamento cultural das sociedades europeias. São tarefas prioritárias para todos os que não querem apenas fazer da política uma procissão de lamentos. Os sinais de alarme estão todos a soar e o capital político para levar a cabo transformações necessárias nestes domínios não é infinito. É preciso usá-lo bem e com critério.

É mais complicado do que parece

O acordo das tarifas que a União Europeia fechou com Trump é um espelho da supremacia norte-americana ao mesmo tempo que Donald Trump quer recuperar a grandeza perdida da América. É um pouco contraditório, mas todo o redesenhar da nova ordem internacional parece desordenado e caótico. Podemos culpar o presidente dos EUA por essa incongruência, mas esta nem sequer é uma novidade. O cenário do pós-Segunda Guerra Mundial esteve longe de ser previsto e até a estratégia da contenção sugerida por George Kennan foi sendo corrigida e adaptada durante os anos da Guerra Fria. O certo é que, fora as tiradas de Trump, os EUA estão definitivamente mais preocupados em lidar com a China na Ásia que com a Rússia na Europa. Os norte-americanos vão cometer erros tácticos na Ásia (tirar o tapete a aliados na região é aproximá-los da China), mas dificilmente a estratégia se vai alterar mesmo com os democratas de volta na Casa Branca.

Sendo um espelho da supremacia norte-americana, o acordo que a UE fechou com Trump é revelador do quanto Bruxelas compreendeu a alteração do equilíbrio de forças. Depois de décadas com uma taxa de crescimento económico inferior ao dos EUA, os europeus começam a sofrer de uma perda de qualidade de vida quando comparada com a dos norte-americanos e também já com a de alguns cidadãos no Extremo Oriente onde (e quem visite esses lugares pode comprová-lo), se antevê melhor como será o modo de vida no futuro.

No entanto, e ao mesmo tempo, a vida na Europa tem aspectos sem os quais nós, europeus, não imaginaríamos viver. Chris Arnade é um fotógrafo norte-americano que já trabalhou nos mercados financeiros de Wall Street, até se decidir passear pelo mundo e fotografar e escrever sobre isso. No mês passado escreveu para a Free Press sobre quem vive melhor, se os norte-americanos se os europeus. A sua escolha vai para estes últimos numa referência interessante à valorização que fazemos do espaço público e, consequentemente, da sua diversidade e imprevisibilidade, nomeadamente nos cafés (Steiner concordaria com ele nisto) e que mais não será que o resultado da menor importância que damos ao indivíduo, ao contrário do que acontece nos EUA. Não me interessa aqui discutir se Arnade tem ou não razão, até porque a explicação do fenómeno advém também de um passado diverso na Europa, contrário à padronização norte-americana criada num espaço de tempo mais curto. De salientar apenas que as coisas são o que são e estas acabam por ser mais complicadas do que parecem à primeira vista.

Assim, talvez o acordo que a UE fechou com Trump seja também uma derrota da América. Os norte-americanos vão pagar mais caro pelos produtos europeus e irão gastar mais dinheiro para ter bens fabricados nos Estados Unidos que podiam vir do Velho Continente. Trabalhadores, empresas, capital e máquinas serão usados para produzir o que a América vai deixar de importar e não fabricar o que vai deixar de exportar. O resultado é um desperdício de recursos e perda de qualidade. Mas isso é um problema deles. Não nosso. O nosso consiste em aceitar a nova realidade que é mantermos a vida dos cafés ao mesmo tempo que lidamos sozinhos com a Rússia. Com a tragédia. Vai ser difícil, mas não necessariamente impossível.

Não só a Rússia é mais fraca que a China como também os estados europeus têm meios (caso assim o decidam) para deter a Rússia sem que os EUA assumam a liderança do processo. Da mesma forma que Washington não quer perder tempo com a Europa para se concentrar em Beijing, é bom que Bruxelas resolva os seus mal-entendidos com os EUA para se focar em Moscovo. Nessa medida, o acordo de tarifas que a UE fechou com Trump é positivo. Estamos melhor que antes? Não. Mas sem dúvida melhor do que esperávamos em Abril. A verdade é que as coisas são mesmo um pouco mais complicadas do que parecem à primeira vista. O que não deixa de ser uma vantagem, pois que, sendo complicado é também imprevisível, logo inesperado e surpreendente. É tal qual como entrar num café europeu: nunca sabemos o que vamos encontrar.

Contra o reconhecimento do Estado da Palestina

O Gabinete do Primeiro-Ministro emitiu um comunicado sobre o reconhecimento do Estado da Palestina. Por mais distante que esteja da aberração inglesa, que condicionou um tal reconhecimento ao cessar-fogo, degradando numa penada o Reino Unido, Israel e o próprio Estado da Palestina, além da entorse das vetustas e prudentes tradições diplomáticas por via da chantagem em público; por mais distante que esteja do voluntarismo delirante de Macron (delirante, mas com boas razões económicas e eleitorais), a posição do governo português labora nos mesmos erros fundamentais.

Em primeiro lugar, ao fazer avançar o processo de reconhecimento no decurso da guerra, toda e qualquer proposta será inevitavelmente vista como um ganho ou uma perda no conflito, o que acarreta consequências. Independentemente do resultado das negociações, uma das partes, o Hamas, julgou-se logo suficientemente forte para endurecer as negociações sobre a libertação dos reféns.

Em segundo lugar, apesar de se fazer passar por positivo o facto de o interlocutor diplomático ser a Autoridade Palestiniana, favorece-se o ofuscamento permanente no que diz respeito às condições locais. A Autoridade Palestiniana afirma uma coisa em inglês para os jornalistas ocidentais, diz outras em árabe para consumo interno (deliberadamente mal traduzidas, quando o são, pelos meios de comunicação social ocidentais; o caso clássico é judeus em árabe acabar traduzido em inglês por forças militares israelitas).

Em terceiro lugar, o comunicado inclui um parágrafo vergonhoso e imperdoavelmente anti-semita: a «evolução altamente preocupante do conflito, seja na dimensão humanitária, seja na repetida alusão à possibilidade de anexação de territórios palestinianos». Com a indisfarçável sonsice de quem sabe muito bem o que está a dizer, estas duas linhas responsabilizam Israel pela situação humanitária – sem sequer sentir a necessidade de recorrer à falsa simetria e à falsa equidistância −, caucionando a propaganda implacável do Hamas, cujo êxito em grande parte das opiniões públicas, e ainda mais nas opiniões publicadas, não pode ser escamoteado.

Com isto, o governo português toma partido: contra Israel. Acresce que nunca evidenciou «disponibilidade para iniciar o procedimento», qualquer que ele fosse, quanto mais relativo ao reconhecimento de um Estado. A evolução altamente preocupante na dimensão humanitária na Ucrânia contribuiu para o «arranque de um processo de reconhecimento» dos territórios conquistados pela Rússia? Que disponibilidade houve para iniciar um qualquer procedimento em função da repetida alusão à destruição do Estado de Israel por parte do Irão? Dois pesos e duas medidas: pesos que pesarão nas consciências e medidas que serão a medida da cobardia.

Por último, o erro essencial. Se se iniciar o processo do reconhecimento do Estado da Palestina agora legitima-se retroactivamente o Hamas e o recurso à violência, inclusive contra civis −  civis israelitas e civis palestinianos. Historicamente, o Estado Palestiniano passará a ter sido fundado em 7 de Outubro de 2023. Toda a campanha militar e de propaganda, o seu braço civil usado com uma maestria de absoluto rigor científico, sairá vitoriosa. Pensar que esses vencedores desaparecerão do palco histórico ou é um caso psiquiátrico ou é fazer o jogo do Hamas. Seja como for, o Hamas terá conseguido algo que a propaganda por si só nunca lhe dá, mas que constitui sempre o seu desígnio: produzir a verdade.  Porque passará ser verdade que o Estado palestiniano só veio a existir por acção do Hamas. Um facto novo que estará além de toda a propaganda − já não precisará dela.

Assim, não se resolve um problema, criam-se antes condições ainda mais difíceis para que um dia venha a ser resolvido. Além da questão local, os reflexos da legitimação da violência em todo o mundo ocidental não deixaram de se fazer sentir − dos lobos solitários aos chamados territoires perdus de la République. Qualquer que venha a ser o desfecho de toda a situação, o simples facto de o problema ser equacionado nestes termos é já uma vitória do Hamas. A factura de um tal erro será apresentada a breve trecho. É só esperar.

Plano Nocional de Leitura (XXXVI)

Embora originalmente usado a propósito do alívio que algumas pessoas sentem ao passear nos cemitérios, mal o Verão se aproxima o conhecido meio-verso “Que paz tranquila!”, de A. A. Soares de Passos (1826-1860), transforma-se também no lema oficioso das classes que recomendam em público leituras a terceiros.   Os recomendadores agem sob a influência de dois estimulantes: a satisfação por terem conseguido ler certos livros ainda antes do Verão, e a satisfação de os poder recomendar a quem não os leu.  Anunciam que o Verão é a ocasião perfeita para a paz tranquila que a leitura proporciona; mas no fundo acham que o Verão é a altura para mandar outras pessoas fazer os trabalhos de casa, ou seja, ler o que eles já leram.

Recomendar coisas não é nem por sombras objectável.  Constitui a actividade fundamental da crítica literária, como das muitas outras tarefas que lidam com conteúdos normativos ligeiros.  Não há mandamentos divinos ou leis humanas que determinem que livros em particular deveremos ler; e não existem obrigações sérias de leitura, excepto no ensino, onde são temporárias e se derretem como um gelado, justamente com a chegada do Verão.   O conteúdo normativo das recomendações depende por isso do papel que quem emite as recomendações desempenha nas nossas vidas, e da confiança que nos merece.  É normalmente ligeiro não porque seja fútil mas porque não há penas para quem ignore essas recomendações.  Mas é não obstante normativo, porque quem as ignora pode sentir alguma pena.

Sendo sobretudo no Verão que se anuncia a paz tranquila que os livros podem proporcionar, não é bem entendido só no Verão que se fazem recomendações de leitura.   A situação estival causa porém uma perplexidade maior, visto que se recomendam livros na esperança de que aumentem a fervura das ideias na cabeça de quem os lê; ao mesmo tempo que se espera que dessa fervura possa emergir a paz tranquila dos justos. As praias estão em consequência repletas de banhistas perplexos a ler a Guerra e Paz e as Viagens de Marco Polo.  Não é de excluir que como espécie gostemos de suspirar ao mesmo tempo por grandes tempestades cognitivas e por um bom passeio pelo cemitério.

Um romano antigo tentou contrariar esta disjunção que parece quase intratável através de uma prescrição clássica.  O que lemos, disse ele, deve ao mesmo tempo servir para alguma coisa útil e causar agrado a quem lê.  No entanto, tirando os casos do agrado que sentimos por ter feito coisas úteis (como a satisfação que sentimos por ter cumprido um dever muito penoso), quase ninguém encontra na leitura das Viagens de Marco Polo qualquer utilidade, ou prazer.   Os sobressaltos causados por essa utilidade a haver perturbam os nossos passeios pelos cemitérios; e a paz tranquila que sentimos nesses cemitérios de Verão faz-nos esquecer os planos para melhorar a nossa educação.

A partir deste sábado, modelos de inteligência artificial vão ter novas regras

Os fornecedores de novos modelos de inteligência artificial (IA) de uso geral, semelhantes ao assistente virtual inteligente ChatGPT, terão, a partir deste sábado, de cumprir novas regras de segurança e transparência na União Europeia (UE)

Em causa estão Modelos de Inteligência Artificial Geralmente Acessíveis, isto é, sistemas desenvolvidos com foco em acessibilidade, transparência e uso generalizado, ou seja, IA que pode ser usada por muitos, ao contrário de modelos fechados ou restritos.

Passam a ser sujeitos a novas regras de documentação, transparência, segurança, conformidade com direitos de autor e avaliação de riscos na UE.

São exemplos os modelos treinados ou capazes de gerar linguagem como o ChatGPT da OpenAI, o Google Gemini, o Claude da Anthropic e modelos generativos da Mistral. Estes são considerados modelos gerais porque podem desempenhar tarefas diversas, como escrever textos, traduzir, responder a perguntas, gerar imagens, auxiliar em programação, entre outros.

Assim, a partir de hoje, os novos fornecedores que comercializem modelos de IA abrangidos por este regime deverão cumprir as novas regras, sendo que os que operem modelos de risco sistémico terão de notificar o gabinete criado pela Comissão Europeia para esta pasta e de mitigar tais riscos.

Os modelos existentes no mercado terão até 02 de agosto de 2027 para se adaptarem.

No caso do ChatgGPT, como já existe no mercado, a empresa terá mais dois anos para se adaptar na totalidade, sendo que para já a UE recomenda fortemente que fornecedores como a OpenAI adotem o código de conduta em vigor, servindo como preparação para o cumprimento total até 2027.

Em agosto de 2024, entrou em vigor na UE a lei da IA, a primeira legislação a nível mundial para esta tecnologia, que visa salvaguardar direitos fundamentais no espaço comunitário, mas no âmbito da qual apenas algumas disposições são já aplicáveis.

O regulamento estabelece obrigações para a IA com base nos seus riscos potenciais e no seu nível de impacto, estipulando a proibição de certas aplicações, limitações da utilização de sistemas de identificação biométrica pelas autoridades policiais, isenções aplicáveis à aplicação da lei, obrigações para os sistemas de alto risco e requisitos de transparência.

Prevê, também, coimas por infrações.

FPF responde a Vieira e promete usar “todos os meios legais” para responder

A Federação Portuguesa de Futebol anunciou este sábado que irá recorrer à justiça em resposta às acusações feitas por Luís Filipe Vieira, durante uma entrevista esta sexta-feira no canal Now.

Em comunicado, a FPF diz que irá usar “todos os meios legais disponiveis” para defender o seu nome e credibilidade.

“Em conformidade com o exposto, a Federação Portuguesa de Futebol e o seu Presidente reservam-se ao direito de utilizar todos os meios legais disponíveis para defender o seu bom-nome, credibilidade e honorabilidade sempre que os mesmos sejam colocados em causa”, refere.

Na referida entrevista, Vieira acusou Pedro Proença de se intrometer nas eleições do Benfica e revela que o líder da FPF “o tentou aliciar” para demover Nuno Lobo de concorrer à presidência do orgão máximo do futebol português.

“Chegou a aliciar-me para determinado candidato [Nuno Lobo] não se candidatar. Tinha 15 mil euros de ordenado, carro e quando fosse para a UEFA ele é que ficava como presidente”, disse Vieira, que falou ainda de “insinuações graves” de Proença sobre si.

“Eu não almoçava sozinho. Havia mais uma pessoa que pode confirmar. Ele devia saber que sou pai de família e não brinco. Não lhe admito a ele, se fiz ou não fiz. Ele ainda tem outro serviço. Eu sei de pessoas a quem ele foi fazer insinuações graves a meu respeito. Ainda era presidente do Benfica. Depois do que sucedeu ainda fez mais graves”, afirmou Luís Filipe Vieira em entrevista na sexta-feira.

Carneiro diz que Governo devia ter activado mecanismo europeu de Protecção Civil

O secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, disse este sábado, no Algarve, que o Governo devia ter activado os mecanismos de cooperação com a União Europeia para preposicionar aeronaves para o combate aos incêndios.

José Luís Carneiro falou aos jornalistas em Castro Marim, Faro, à margem da apresentação da candidatura do partido à câmara desse concelho algarvio, que terá como cabeça de lista o advogado Ricardo Cipriano, actual vice-presidente da câmara do município vizinho de Vila Real de Santo António.

O líder do Partido Socialista (PS) expressou a sua “solidariedade aos bombeiros e a todos os elementos que integram a Protecção Civil” e destacou a “actuação heróica [com que] têm ao longo da semana combatido os incêndios que deflagraram pelo país, a salvar a vida das pessoas, a salvar e a salvaguardar os seus bens e o seu património”.

“Para todas e para todos uma palavra de agradecimento. […] Em segundo lugar, julgo que a definição do estado de alerta é uma boa decisão. O Governo ouviu as palavras do Partido Socialista e pareceu-me adequado”, afirmou o dirigente partidário.

José Luís Carneiro concordou com a declaração feita pela ministra da Administração Interna, mas considerou que o Governo devia também “ter dado um passo ainda em frente, nomeadamente em relação ao diálogo com os parceiros europeus no âmbito do mecanismo europeu de Protecção Civil”.

“Era bom termos os mecanismos de apoio aéreo da União Europeia preposicionados para que, em função do contexto meteorológico, possamos mobilizar esses meios de forma mais célere para os fazer chegar onde eles venham a ser necessários”, disse o antigo ministro da Administração Interna.

O secretário-geral do PS considerou que a declaração de situação de alerta para o período em que Portugal vai ser afectado por uma onda de calor com temperaturas que podem superar os 40 graus foi “adequada e ajustada”.

“Eu próprio, como bem sabem, […] fiz três recomendações ao Governo. O Governo ouviu essas recomendações, avançou com o estado de alerta. Do meu ponto de vista, seria desejável que se pudesse também avançar com o diálogo com os nossos parceiros europeus para preposicionar os meios, porque entre o pedido e o preposicionamento de meios demora um conjunto de horas bastante prolongado e em circunstâncias de emergência é muito importante ter esses meios preposicionados”, argumentou.

José Luís Carneiro deslocou-se ao Algarve para participar na apresentação da candidatura de Ricardo Cipriano à autarquia de Castro Marim, concelho onde o PS tem, segundo o dirigente partidário, “as maiores expectativas para ganhar” nas próximas eleições autárquicas.

“O Ricardo é um jovem com muito talento, com muitas qualidades humanas, cívicas, profissionais. Temos aqui o percurso já cimentado em propostas de desenvolvimento e que fique claro que esta região raiana, que é uma região na qual nós colocámos muita da nossa visão da coesão territorial”, disse o líder partidário.

O secretário-geral do PS defendeu a necessidade de se “assumir com esta região um contrato territorial de desenvolvimento futuro para garantir investimento, criar oportunidades de emprego”, fixando jovens.

“Nós temos que dar condições de vida àqueles que vivem longe dos grandes centros urbanos, e a melhor forma de fazermos é por intermédio dos contratos territoriais de desenvolvimento para fixar os mais jovens, para atrair investimentos das empresas, para criar economia e com isso criar novas oportunidades de vida para aqueles que vivem nestes territórios particularmente que estão na fronteira com a Espanha e que estão entre o litoral e o interior”, propôs.

Rabo de Peixe pôs Marcelo a conduzir um barco de pesca e a beber ‘minis’ ao balcão

A vila piscatória de Rabo de Peixe recebeu o Presidente da República pondo-o a conduzir um barco de pesca pelo Atlântico e a beber ‘minis’ nos balcões e mesas dos cafés da vila, onde até deu para discutir o futebol nacional.

O Presidente da República começou a tarde do penúltimo dia da visita aos Açores na vila piscatória de Rabo de Peixe, em São Miguel – depois de uma breve ida à Igreja do Bom Jesus – pondo-se nos pés de uma fatia importante da população da zona: os pescadores.

A bordo de um barco de pesca, assumiu rapidamente o controlo da embarcação e conduziu a comitiva por uma curta viagem pelo oceano que banha a ilha açoriana.

Depois de se pôr nos pés de quem lá vive, pôs-se nos seus braços, passando pelas ruas da vila, abraçando e distribuindo beijos por quase todos por quem passava. A reação era de espanto pela presença do chefe de Estado, mas houve mesmo quem fosse ao extremo de venerar Marcelo, com um dos locais que o abordou que, de tanto espanto, fez várias vénias e a beijar a mão ao chefe de Estado.

E foi nas ruas de Rabo de Peixe que Marcelo encontrou a primeira de duas paragens em cafés da vila. No ‘snack-bar’ Cais do Porto, ao balcão, o Presidente sentou-se com vários jovens rabo-peixenses, onde a conversa durou vários minutos e passou por diversos assuntos, com especial foco no futebol.

O braguista Marcelo Rebelo de Sousa foi trocando argumentos com jovens aficionados de outros clubes grandes do panorama futebolístico português, para depois se interessar por um jovem futebolista de um clube da região, que participava na conversa para enaltecer os feitos da sua ainda curta carreira.

A acompanhar, a pintar o balcão do café, dezenas de cervejas (‘minis’) de uma famosa marca nacional, que, a pedido do Presidente, foram substituídas por garrafas de uma cerveja são-miguelense.

A presença, que surpreendeu ao início, normalizou-se com o desenrolar da conversa, mas viria ouvir-se da boca de um cliente recém-chegado uma frase exemplificadora da surpresa de ver Marcelo por aqueles lados: “O Presidente deve ser meio maluco para vir aqui”, disse o local.

Para não só o Cais do Porto ter direito à visita da mais alta figura do Estado, Marcelo ainda se sentou à mesa do ‘snack-bar’ O Telmo com José Manuel Bolieiro e o presidente da Junta de Rabo de Peixe para distribuir mais cumprimentos entre os que entravam.

No fim, ainda houve espaço para uma lembrança física da tarde agitada passada na vila piscatória: um cachecol do Clube Desportivo de Rabo de Peixe, que Marcelo levaria ao pescoço para a viatura oficial.

A visita encerrou a tarde em São Miguel, no terceiro dia da viagem do Presidente da República aos Açores, que passou, de manhã, também na ilha Graciosa. Este domingo, está agendada uma ida a Santa Maria e a São Jorge, para fechar a visita ao arquipélago.

Manifestantes gritam contra políticas de imigração, economia e justiça de Trump

A baixa de Los Angeles voltou a ser palco de protestos contra a administração de Donald Trump, com manifestantes a gritar palavras de ordem visando as políticas de imigração, economia e justiça.

“Fazemos isto porque estamos fartos de ver os nossos vizinhos a viverem em medo”, declarou Shawna Stillwell, voluntária da organização 805UndocuFund. “Se estiverem na rua e virem agentes ICE, liguem-nos”, apelou, referindo-se à agência de imigração dos Estados Unidos.

A organização opera uma linha telefónica de resposta rápida a rusgas de imigração, que têm estado no centro dos protestos em Los Angeles nos últimos dois meses. Falando no palco improvisado de uma carrinha de caixa aberta, onde os organizadores do protesto “Raiva contra o Regime” instalaram microfones para oradores, Stillwell apelou à resistência.

“O sistema quer que tenhamos medo, mas estamos juntos”, afirmou. “Ninguém é ilegal numa terra que foi roubada”.

Este foi um mantra repetido por vários oradores, que apontaram para o facto de o território dos Estados Unidos já ser habitado por nativos quando foi ocupado por colonos europeus.

A indignação relativa às rusgas de imigração estava visível também nos cartazes empunhados pelos manifestantes, onde se podia ler desde “Imigrantes e refugiados são bem-vindos” e “Defendemos os nossos vizinhos” a “Que se lixe o ICE”.

Grant, que nasceu e cresceu em Los Angeles, agitava um cartaz onde se lia “Viva Los Angeles” como legenda a um desenho de agentes de imigração atrás de uma vendedora de salsichas na rua, atividade comummente associada a imigrantes mexicanos.

“Venho aqui pelos direitos humanos”, disse à Lusa o manifestante, que contou ter participado em protestos durante todo o verão. “O meu pai era taxista e nunca tivemos dinheiro para comprar uma casa”, explicou. “Há muita coisa que depende da sorte e compaixão”.

Residente em Culver City, a cerca de 15 quilómetros da baixa de Los Angeles, Grant notou que os protestos estão a atrair faixas etárias e sociais muito diversificadas, porque os problemas se estenderam da imigração à economia, com a questão das tarifas.

“Mesmo que seja por nenhuma outra razão que manter o espírito de luta, isto é importante”, considerou. “Inspira-me e dá-me esperança”.

Um outro tema patente nos cartazes foi a questão da justiça, que agora está focada na polémica em torno de Jeffrey Epstein — um milionário que morreu por suicídio na prisão em 2019, quando aguardava julgamento por tráfico humano e abusos sexuais.

A procuradora Pam Bondi tinha prometido a publicação dos “ficheiros Epstein”, onde estariam nomes e detalhes dos crimes, mas acabou por declarar que tais informações não existiam.

Vários manifestantes exigiram transparência neste processo, lançando suspeitas sobre a amizade entre Donald Trump e Jeffrey Epstein. Foi o caso de Josie, que carregava um cartaz onde se lia “Acreditem nas mulheres” e pedia a divulgação dos ficheiros.

“Esta é uma de muitas razões por que estou aqui”, disse à Lusa. “Queremos Trump fora”. Josie disse que telefona e escreve emails com frequência aos seus representantes no congresso estadual e federal, de forma a manter a pressão para que mudem as políticas.

“Foi para isso que os elegemos”, referiu. Protestar nas ruas, disse, serve o mesmo propósito: “Para que vejam que as pessoas estão atentas a estas coisas e estão preocupadas”.

No local do protesto, frente à câmara municipal de Los Angeles, estavam várias organizações a defender diferentes causas, tais como a luta contra as empresas poluidoras e uma angariação de fundos em prol da Ucrânia.

“Somos a resistência”, declarou Anthony Bryson, da organização SoCal Uprising, falando à multidão. “A nossa filiação não é com um partido, é com a luta, com o combustível que nos alimenta para continuarmos a protestar”, afirmou. “Hoje é necessário ser revolucionário”.

Os protestos “Raiva contra o Regime”, organizados pelo movimento 50501, decorreram em todo o país. Foram a mais recente expressão de descontentamento por parte de eleitores e ativistas, que têm aumentado a presença nas ruas desde abril.

Em Los Angeles, várias localizações têm organizado protestos todos os fins de semana, numa tentativa de angariar voluntários e galvanizar os que não concordam com as políticas da administração.

Liga de Bombeiros: Portugal precisa de “melhorar muito” a articulação no combate a incêndios

O presidente da Liga dos Bombeiros critica o sentido de oportunidade do Governo na declaração da situação de alerta no país, considerando que o mesmo já deveria ter sido ativo quando estavam a lavrar os três maiores incêndios, em Ponte da Barca, Arouca e Penamacor.

Em declarações à Renascença, António Nunes afirma que os incêndios da última semana “justificavam terem sido accionados meios adicionais”.

“A decisão do Governo não foi essa. Justificava-se naqueles dois incêndios [Arouca e Ponte da Barca], até porque houve outros – Penafiel, Castelo Branco, Nisa – em que estávamos com uma mobilização muito forte dos nossos meios aéreos e dos nossos bombeiros, justificaria-se que pontualmente se expedisse esse apoio um ou dois dias”, afirma.

Ainda assim, o responsável da Liga dos Bombeiros entende que, se o Governo o decidiu só agora, é porque tem razões para isso.

“A aposta deve ser, sempre que há um início de fogo, não haver hesitações e responder com o número possível e disponível de meios que estejam naquele local, naquela região”, afirma, defendendo que “hoje cientificamente é possível” prever onde haverá maior risco de incêndio com alguns dias de antecedência.

António Nunes defende à Renascença que Portugal para enfrentar o que poderão ser as consequências das altas temperaturas dos próximos dias, tendo ao seu serviço 28 mil bombeiros voluntários, além de 15 mil bombeiros na reserva e no quadro de honra, necessitando de “melhorar muito” a articulação entre os meios disponíveis e a utilização de equipamentos específicos.

Este sábado, o Governo anunciou que o país estará em situação de alerta a partir de domingo e até quinta-feira. Neste momento, mais de 1.880 operacionais, apoiados por 595 meios terrestres combatem 44 incêndios no país, com destaque para os fogos em Vila Real e Ponte da Barca, de acordo com a Proteção Civil.