Lisboa está a trabalhar com outros municípios para alterar lei das Lojas com História


A Câmara de Lisboa está a trabalhar com outros municípios do país para propor ao Governo a alteração da lei das Lojas com História, inclusive o alargamento da proteção dos contratos de arrendamento, revelou esta quarta-feira o vereador da Economia.
Diogo Moura (CDS-PP) falava na reunião pública da câmara, no âmbito da apreciação da proposta de reconhecimento e distinção como Lojas com História de três estabelecimentos, nomeadamente os restaurantes Antigo 1º de Maio e Cabaças, ambos na freguesia da Misericórdia, e a loja Rita Salazar Store, no Areeiro, que foi aprovada por unanimidade.
O reconhecimento destes três estabelecimentos acontece após submissão da proposta a consulta pública, em que não se registou qualquer tipo de participação, indicou o vereador da Economia.
A proposta inclui ainda as decisões desfavoráveis ao reconhecimento como Lojas com História de outros dois estabelecimentos, a Leitaria Pastelaria Eneri, na Misericórdia, e Leitaria da Anunciada, em Santo António, tendo este ponto sido aprovado com a abstenção de PS, Livre, BE e Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre).
A este propósito, Ricardo Moreira, do BE, manifestou preocupação que a ideia de que o programa municipal Lojas com História, criado há 10 anos para proteger o comércio histórico da cidade, “esteja agora a entrar num processo de gentrificação”, com grandes marcas que compram estabelecimentos históricos, mantendo esse reconhecimento e utilizando os espaços apenas para aumentar a sua marca.
Também Ana Jara, do PCP, alertou para a necessidade de rever os critérios do programa, para que não seja apenas protegido o património arquitetónico e para evitar a passagem destas lojas para outros negócios.
Tanto o BE como o PCP realçaram o caso da Ginjinha Sem Rival, que está em risco de fechar porque o novo proprietário do imóvel (que é um hotel) opôs-se à renovação do contrato de arrendamento, tendo o vereador Diogo Moura reiterado que está a acompanhar a situação.
“O estabelecimento continua a funcionar, continua a pagar a sua renda e não houve qualquer ação de despejo até este momento”, indicou o vereador da Economia, referindo que já passou prazo que o senhorio estabeleceu para o fim do contrato, mas o processo está a ser analisado, com a ideia de vigorar até 31 de dezembro de 2027, no âmbito da proteção prevista às Lojas com História, prevalecendo sob o Novo Regime do Arrendamento Urbano (NRAU).
Do PS, Pedro Anastácio defendeu a necessidade ter novas valências no programa Lojas com História, com “novos eixos de proteção do comércio histórico”, inclusive mais instrumentos legais para salvaguardar o objetivo de “promoção e divulgação do comércio, garantindo que não há nenhum tipo de monocultura no comércio”.
Em resposta, Diogo Moura disse que o trabalho de revisão do regulamento do programa municipal Lojas com História “está feito” e encontra-se em avaliação na CCDR — Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, adiantando que esse trabalho inclui a flexibilização de alguns dos critérios para “incluir muitos mais estabelecimentos”.
“O problema da proteção não é do programa, porque o programa cumpre tudo aquilo que faz […] A lei é que não protege”, indicou o responsável pelo pelouro da Economia, referindo-se ao NRAU.
Diogo Moura revelou que na terça-feira, em conjunto com o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), esteve reunido com o Governo, na área da Economia, em que apresentou várias propostas de alteração quanto ao licenciamento zero e à lei n.º 42/2017 das Lojas com História.
Lisboa está a trabalhar em conjunto com outras câmaras municipais que têm Lojas com História, no total “são 20 municípios”, para apresentar ao Governo “no início de setembro” um documento com as principais alterações à lei, nomeadamente o alargamento do prazo de extensão da proteção dos contratos de arrendamento e a clarificação que os contratos ao abrigo do NRAU estão salvaguardados nesta lei.