O marcelês

O marcelês. A possível entrada de juízes sugeridos pelo Chega no Tribunal Constitucional tem levado a um exercício intenso do marcelês, esse dialecto que, ao contrário doutros, como o barranquenho, não se desenvolveu na raia mas sim no eixo mais urbano do país que, com algumas variantes, leva de Lisboa a Cascais, com passagem por Belém. Esta semana o marcelês esteve particularmente activo no Expresso, que está para o marcelês como o linguista Matteo Bartoli estava para Tuone Udaina, o último falante da língua dálmata: Matteo Bartoli entrevistou Tuone Udaina, o que fez dele a última pessoa a falar com alguém que sabia falar dálmata, o que era ao mesmo tempo um achado único e a partilha duma imensa solidão, o que de alguma forma se aplica ao falante de marcelês, Marcelo, e ao seu intérprete, o Expresso.  E escrevo intérprete num sentido quase demiurgo, porque o marcelês não se destina a ser transcrito mas sim insinuado, como bem se vê nas suas manifestações desta semana:

«Apesar de Montenegro ter uma visão formal, “depois é um pragmático”, ouve o Expresso. E, se isso acontecer, “não é um juiz, é o partido todo que entra”, teme-se em Belém, onde o Chega é visto como uma ameaça ao segredo e uma certa sacralização do Tribunal Constitucional.» (sublinhados meus)

«Aos olhos de Marcelo, sabe o Expresso, o longo jejum de poder e as frágeis minorias governativas deste ano e meio fizeram avultar no PSD uma certa “insensibilidade”, que levou o Governo a absorver parte das propostas do Chega, como preço a pagar pela governabilidade.» (sublinhados meus)

“Ouve o Expresso”?  Mas quem ouve, ouve alguém. E a quem ouve o Expresso? Não se sabe quem ouviu, nem quem foi ouvido e contudo sabe-se o que foi ouvido por alguém não identificado a outro alguém igualmente incógnito. E afinal o que foi ouvido? “O PR receia que, apesar de achar que o chefe do Governo e líder do PSD é um institucionalista, acabará por dar pelo menos um lugar de juiz constitucional à escolha do Chega.”  E será que não devia ser assim? O Chega, pelos resultados eleitorais obtidos nas últimas legislativas, alimenta a natural expectativa de ver reflectida essa realidade eleitoral nas substituições que vão ter lugar no Tribunal Constitucional. Outros partidos com menos votos que o Chega, como são os casos do PCP e do BE, viram chegar ao TC juízes indicados por si.  Porque seria desta vez diferente? Segundo o marcelês, “‘não é um juiz, é o partido todo que entra’, teme-se em Belém, onde o Chega é visto como uma ameaça ao segredo e uma certa sacralização do Tribunal Constitucional”. O que quer isto dizer exactamente: “Não é um juiz, é o partido todo que entra”? Temos juízes próximos do CDS, do BE, do PCP, do PS, do PSD. Entraram estes partidos todos no TC atrelados aos juízes que lhes são próximos? Ora aqui confrontamo-nos com uma das principais características do marcelês: não é passível de ser respondido, questionado, confrontado porque o marcelês não visa o conteúdo mas sim a intenção. E no caso a intenção é óbvia: segundo o marcelês, Marcelo pretende que o PSD negoceie com o PS as políticas para o país e a exclusão do Chega. É caso para dizer: “Agora é tarde. Inês é morta.” Marcelo não só andou com os governos da geringonça ao colo como nunca travou as tácticas de insuflação do Chega e consequente enfraquecimento do PSD levadas a cabo pelo PS. O resultado dessas suas brilhantes tácticas ficou bem expresso no resultado das últimas legislativas.

Mas, não contente com o que fez no passado, Marcelo quer agora tornar-nos o futuro ainda mais clivado do que já está ao defender que a renovação do TC se resolva entre PS e PSD, excluindo o Chega. O tempo em que não se tinha de contar com o Chega acabou e acabou também por culpa de Marcelo.

Em política ter razão não chega. Há que ter em conta que há momentos em que decidir baseado na razão que se tem se pode tornar numa forma insuportável de arrogância. E foi isso que aconteceu a Luís Montenegro quando manteve a festa do PSD no Pontal enquanto o país se confrontava com grandes incêndios. O país já compreendera que ele, Montenegro, não tinha percebido as implicações de manter a empresa Spinumviva enquanto era primeiro-ministro e agora o mesmo país volta a fazer um esforço para compreender que Montenegro tenha mantido o Pontal apesar dos incêndios. Enfim, Montenegro espera sempre que o compreendam. Mas a cada compreensão fica uma pergunta: será que Montenegro não percebe? E sobretudo já chega de justificar estas incompreensões de Montenegro com a “tabela PS”, ou seja com o comportamento dos líderes socialistas, nomeadamente António Costa, nos incêndios de 2017 e outros momentos dramáticos. Foi precisamente para fazer Portugal vir à superfície do lodo pantanoso desses anos que os portugueses votaram como votaram nas últimas legislativas. Se era para vivermos em contraponto com aquilo que o PS fez, então tínhamos deixado o PS no governo, que sempre era uma vida pior para o país mas mediaticamente mais descansada. E obviamente de maior agrado das paredes de Belém.

Há um limite para a nossa compreensão? “Tribunal liberta bombeiro de Ourém suspeito de ter ateado quatro fogos. Apesar das suspeitas que recaem sobre o homem, foi colocado em liberdade, pese embora o “perigo real” de continuar a atividade criminosa. Alegadas “dívidas” impedem que lhe seja cobrada uma caução.”
Acredito que a decisão do tribunal de Ourém seja uma interpretação rigorosa da lei. Mas perante decisões como esta sinto o mesmo incómodo que perante Luís Montenegro no Pontal enquanto o país ardia: será que não percebem que há um limite para a nossa compreensão?

O charme popular irresistível do Gospel brasileiro

Há uns tempos gravei um pequeno depoimento para a Conversa com o Bial, programa da Globo. Queriam ter a perspectiva de alguém não-brasileiro sobre o fenómeno do crescimento dos evangélicos especificamente na música. Hoje até artistas como o Caetano Veloso incluem canções de louvor nos seus concertos. A música feita por evangélicos no Brasil é tão marcante que até quem não tem fé pode acabar próximo do seu impacto popular. Lá, seguindo a referência norte-americana original, chamam-lhe também gospel.

O engraçado é que há uma história do gato e do rato quando se pensa na relação entre a música e a igreja. Abreviando muito, a música popular do mundo ocidental não existiria sem a igreja. O rock nasceu da tentativa de ter igreja sem Deus. Como assim? A meio do século XX nos Estados Unidos os músicos levaram para fora do santuário os êxtases oferecidos sobretudo pelo pentecostalismo evangélico—queriam manter o fervor prescindindo da santidade. Assim nasceu o rock’n’roll: vamos imitar o domingo de manhã ao sábado à noite. Culto sem o Criador (e também é por isso que qualquer concerto tenta oferecer hoje o espírito mais aproximado de uma comunidade unida numa crença).

Anos mais tarde, e novamente nos Estados Unidos (o palco preferido da vida moderna), houve cristãos que tentaram a desforra. Se num primeiro momento o Inferno pareceu ganhar com o rock, ao dar igreja sem Deus, depois a igreja quis o rock sem o Diabo—daí nasce o rock cristão. O rock cristão, admitamos, é ridículo. Mas o ridículo do rock cristão só existe pelo ridículo do rock em si mesmo, que é tentar ter o arrebatamento da adoração sem Deus. Todo o rock, com ou sem Deus, é uma expressão voluntária do ridículo.

Mas também é verdade que as histórias mais interessantes nascem da frustração do projecto original. Se o rock tentou ser igreja sem Deus, e se o rock cristão tentou ser rock sem o Diabo, o chamado Gospel brasileiro entra em cena com uma personalidade muito particular. Nada nem ninguém que chega ao Brasil fica na mesma: o Gospel brasileiro não é igual ao Gospel americano. E o Bial queria saber como é que eu olhava para isso, daqui do outro lado do mar. Falei-lhe destas minhas teorias (que não foram incluídas no curtíssimo depoimento que foi para o ar) mas tive também de admitir duas fases diferentes da minha relação com a música evangélica brasileira.

Quando era adolescente voltei-me contra a música evangélica brasileira que desde a infância me influenciava (e a todos evangélicos portugueses). Quis dar o meu grito do Ipiranga. Virei o evangélico que em Portugal se sentia na necessidade de não gostar de nada de que os evangélicos gostassem. Estava na Faculdade, tinha amigos intelectualmente sofisticados, sentia-me de esquerda. A música feita por evangélicos no Brasil era obviamente um subproduto tão ou mais desinteressante do que a sua inspiração norte-americana. Eu tinha o esclarecimento de o entender. A maior parte dos evangélicos em Portugal não. Por isso, até corrigia o português de alguns cânticos que de lá me chegavam. Eu era diferente.

Até que fui tendo a oportunidade de ser reconhecido no meio onde ambicionava chegar: a música portuguesa. A FlorCaveira, editora que inventei com amigos, caiu no goto da crítica nacional. Dei por mim como participante da história da cultura contemporânea do meu país. Ganhei um lugar. Senti-me à vontade com a elite. Mas esse período foi curto. Quem dorme com a imprensa, acaba com a cama feita por ela. Em menos de nada as modas passaram e eu, sem talento para me manter relevante, tornei-me um has been.

Uma vez mais, concluí que as coisas mais interessantes tendem a ser tentativas destinadas ao fracasso. O meu fracasso abriu-me horizontes para compreender o fracasso dos outros. É aí que sobressai a graça—a graça divina e a piada—aquilo que Deus nos oferece especialmente quando a nossa ambição se revelou provinciana. Não há desilusão maior do que atingir o nosso sonho.

Curiosamente, o Gospel brasileiro tenta o sonho americano. Imita o que chega dos Estados Unidos sem vergonha e, muitas vezes, sem noção—está fadado a tentar ser o que nunca conseguirá, porque o americano do sul nunca chegará a ser do norte. Nesses encontros e desencontros, o que ninguém esperava é que, no processo, se tornasse algo interessante. Sim, o Gospel brasileiro é hoje mais interessante do que o americano porque o esforço do primeiro criou um impacto maior do que o prestígio do segundo.

O Gospel brasileiro, ao imitar a música dos americanos do norte mais privilegiados, oferece aos americanos do sul uma expressão verdadeiramente popular. O Gospel brasileiro dificilmente será aceite pelo gosto da elite mais esclarecida, mas não pode ser negado como a manifestação mais sincera do povo que ela visa defender. A música evangélica brasileira é o que os revolucionários sempre sonharam como o resultado das massas emancipadas pelo poder de um texto. Marx não queria a revolução do proletariado, Marx queria o charme popular irresistível do Gospel brasileiro.

A música evangélica é no Brasil cantada por cerca de 30% da população (perto de 60 milhões de pessoas) e é ouvida por ainda mais. É uma força de mercado imparável. Até o empresário mais satânico consegue imaginar os lucros das igrejas. A pessoa no supermercado ouve as músicas do culto. Este tipo de capitalismo religioso nem o Max Weber imaginou. O Gospel brasileiro faz de pobres ricos, e mete estrelas a cantar a adoração dos anónimos. A música religiosa no Brasil mete o mundo ao contrário.

Logo, se ainda há rock’n’roll no mundo, certamente ele está no Gospel brasileiro. Antes detestava, agora adoro.

PRR Indústria 4.0: quando o mérito fica à porta e o relógio decide quem ganha

O mais recente concurso do PRR Indústria 4.0 voltou a expor um problema estrutural na forma como o país gere os incentivos ao investimento empresarial.

Mais de 80% do investimento planeado pelas empresas ficou sem apoio. Não por falta de qualidade, inovação ou impacto económico. Mas porque o orçamento esgotou em minutos e o critério de selecção foi… a ordem de chegada.

Sim, leu bem: não foi o mérito que contou, foi o cronómetro.

A “corrida” que descredibiliza o sistema

O processo foi digno de uma comédia burocrática.

Empresas e consultores prepararam durante meses candidaturas sólidas e alinhadas com os objectivos do PRR;

No momento da abertura, quem clicou primeiro ganhou; quem submeteu segundos depois viu a sua candidatura bloqueada por falta de verba.

Fala-se de centenas de projectos estruturantes, prontos para reforçar a competitividade, digitalização e modernização da indústria nacional, que ficaram pelo caminho por um detalhe de segundos.

E a dúvida permanece: todos tiveram igualdade de acesso à informação sobre o momento de abertura? Ou continuamos a assistir a “campismos digitais” de quem, por sorte ou por privilégio, entra primeiro e leva tudo?

O preço de desperdiçar talento e investimento

Estima-se que mais de 200 milhões de euros em investimento privado fiquem por concretizar, correspondentes a cerca de 160 milhões de euros em fundos comunitários que poderiam ser mobilizados para a economia.

Num país que arrisca perder verbas por falta de execução, é irónico que projectos válidos fiquem bloqueados por uma corrida ao clique.

É tempo de mudar

O modelo actual penaliza o mérito e fragiliza a confiança das empresas no sistema de incentivos. É urgente:

  • Garantir datas e horários de abertura claros e equitativos;
  • Criar períodos de pré-registo que assegurem igualdade de oportunidades;
  • Reforçar o orçamento quando existam candidaturas válidas que gerem impacto económico comprovado.

Porque quando o mérito fica à porta e o relógio decide o futuro dos investimentos, o que está em causa não é apenas a justiça — é a credibilidade de todo o sistema.

As razões de um Tribunal Constitucional

Depois da publicação do acórdão do Tribunal Constitucional abundaram as críticas e as críticas das críticas. Tudo isso é normal e saudável numa democracia madura. Com o passar das horas e dos dias, porém, as críticas das críticas padronizaram-se. Essa padronização foi útil porque fez compreender que as objecções aos críticos do acórdão basearam-se na maioria das vezes em equívocos sérios que, uma vez desdobrados, se tornam gravemente lesivos da própria instituição do Tribunal Constitucional.

No meio da variedade dos argumentos de crítica das críticas ao acórdão, houve sobretudo dois que aparecem regularmente nos debates sobre este tema aqui e noutras democracias. O primeiro avançou a proposição segundo a qual tudo é ideológico na esfera da decisão institucional. São instituições que exercem o poder. Logo, são determinadas na sua orientação sistemática pelas opções e crenças ideológicas dos seus titulares. Em rigor, esta argumentação não defendia os juízes que chumbaram as normas da proposta do governo. Mas atacava os críticos – como eu – que se batem por uma vocação diferente dessa instituição chamada Tribunal Constitucional. Assim, ninguém se devia queixar do conteúdo ideológico e partidário dos juízes conselheiros porque essas críticas eram tão ideológicas quanto o próprio acórdão. Tudo é, afinal de contas, ideológico. Segundo um certo bon mot, tudo é político. E, portanto, tudo se equivale numa espécie de nulidade. A crítica equivale-se à decisão criticada.

Esta litania emerge de um pseudo-realismo teórico que proclama enxergar os reais motivos de todos os agentes para lá das suas máscaras mais ou menos malevolentes. Para chegarmos a este patamar de sofisticação intelectual seria preciso condenar como irrelevantes as razões invocadas para cada tomada de posição. Estas não passariam, na verdade, de falsos pretextos para camuflar uma irreprimível vontade de poder ou, na hipótese mais benigna, a vontade de evangelizar. No seu afã de desvalorizar a crítica da decisão do TC sem terem de examinar o conteúdo da mesma, os nossos pseudo-realistas esqueceram-se que assim desvalorizavam radicalmente a própria instituição – e já não a decisão. Se tivessem razão, então o TC veria a justificação constitucional e política para a sua existência completamente apagada. O Tribunal teria de ser substituído por uma segunda câmara legislativa, cujos titulares fossem escolhidos por um método de eleição mais próximo do povo (eleitor) soberano e representado. Se tudo fosse, afinal de contas, ideológico, e se se aceitasse uma decisão do TC como perfeitamente ideológica, então para quê haver um Tribunal com os poderes soberanos que o TC tem? Se as razões não contam, se a autonomia da razão jurídica é, neste contexto institucional estrito, uma ficção ardilosa, então somos reduzidos à contagem de maiorias e de minorias partidariamente formadas e temporalmente oscilantes. Para o acto de legislar até se poderia pensar que tal seria suficiente, embora façam mal os que negam às razões públicas o lugar de regramento e de esclarecimento do debate público. Mas para a institucionalização do controlo de constitucionalidade a tese torna-se fatal.

Mais: a tese de que as instituições mais não são do que sedes de imposição de uma verdade sobre as consciências empurra imediatamente para a necessidade imperativa de as colonizar. Por alguma razão é uma tese que sempre fez as delícias dos extremismos políticos. Se a inclinação para colonizar partidária e ideologicamente as instituições já se manifestaria por interesse próprio das agremiações políticas, agora, com essa tese, a acção colonizadora ver-se-ia justificada num plano geral de acção política. Como assim se nega às instituições a sua qualidade formadora da cultura democrática, protectora da convivência social e da autonomia pessoal, então não colonizar aparece como um acto de estupidez política e, a prazo, de suicídio partidário. Sucede que, com o triunfo desta tese, o outro lado do espectro político rapidamente perceberá que imitar o adversário é uma questão de sobrevivência. O desmoronamento do capital político e cívico que acompanha estas expedições de colonização é apenas uma questão de tempo.

Conviria compreender que a invenção de um Tribunal Constitucional especializado, que já leva mais de 100 anos, teve apenas um intuito: assegurar a ordem da legalidade em todas as decisões públicas. Não tinha outro propósito senão esse. Daí a insistência na apresentação de razões jurídicas públicas, seguindo uma racionalidade jurídica, e não ideológica, seguindo o texto constitucional e os princípios gerais que lhe eram inerentes, com juízes que imitassem os seus congéneres dos tribunais inferiores, num espírito de imparcialidade inatacável e protegendo a instituição das inevitáveis tentativas de a condicionar ideologicamente.

Entre os dois grandes momentos formadores da institucionalização do controlo de constitucionalidade nos regimes modernos, o primeiro veio dos Estados Unidos da América logo no início do século XIX. Mas aí John Marshall quis sobretudo resolver um problema de soberania inevitável sempre que se criam estruturas federais. E resolveu-o soberanamente, não sem uma terrível oposição e resistência frequentes até culminar 60 anos mais tarde numa horrível guerra civil. Na Europa continental, a invenção mais directa do tribunal constitucional especializado nos meses posteriores à Primeira Guerra Mundial ilumina melhor a nossa confusão actual. Os seus proponentes afirmaram explicitamente que esse tribunal existiria para garantir a ordem da legalidade do sistema político, a tal ponto que, sem um tribunal que agisse como um tribunal, não se poderia dizer que houvesse um regime constitucional. A preservação do substrato liberal nas nossas democracias depende, por um lado, da aceitação de que o direito deve regrar pelo menos uma parte muitíssimo considerável das nossas decisões públicas; e, por outro, de o órgão responsável em última instância pela verificação da legalidade dos actos do sistema político se autointerpretar como sede de julgamento, e não como agência de co-legislação. Ao grande patrocinador intelectual desta concepção do regime constitucional, ele próprio juiz do Tribunal Constitucional austríaco, caberia o destino de se ver alvo de uma campanha feroz da direita política daquela época. As decisões que Hans Kelsen subscreveu como juiz constitucional valeram-lhe o ódio de quem não aceitava que razões jurídicas vinculadas ao texto constitucional pudessem sustentar a pronúncia pela não-inconstitucionalidade da secularização das leis do casamento civil. Em 1930, Kelsen acabaria por abandonar o Tribunal. A demissão de Kelsen decorreu directamente da vitória daqueles que viam as instituições como ideológicas. Mas, na Áustria do início dos anos 30, a derrota da visão de um Tribunal Constitucional como uma instituição da razão jurídica, imparcial relativamente às perspectivas políticas e ideológicas das partes em confronto, vinculado apenas ao texto constitucional e aos princípios gerais nele implícitos, conduziu à destruição do próprio Tribunal.

O segundo argumento veio de quem também não se incomodou muito com o exame das razões apresentadas pelos críticos. Para este segundo grupo, havia intromissão ideológica, mas estava exclusivamente do lado daqueles que, como eu, criticaram a decisão. Daqui tiveram de subir o tom para a histeria que se tornou habitual. A intromissão ideológica dos críticos tinha afinal um carácter todo ele “autoritário”. O ridículo foi imperando sem notificar as suas vítimas. Foi assim que ficou patente que a complacência ovina tem valor democrático quando sectariamente convém. A crítica do exercício do poder, património da cultura democrática, passou a “autoritarismo” ou, para aqueles que mais corajosamente não se contêm, “fascismo”. É a perfeita inversão dos valores democráticos que desde há muito tempo supõe uma ética e uma prática enérgica de criticar abertamente o poder.

Não ocorreu a estas luminárias que os juízes conselheiros têm de apresentar publicamente as razões da sua decisão, que nem por isso deixa de ser soberana. A soberania confere forçosamente legitimidade à decisão; não confere rectidão ao seu conteúdo. Se fosse ofensa tão grande escrutinar, criticar e, porventura, recusar as razões dos juízes constitucionais, para quê a publicidade da decisão?

Contudo, se o que ofendeu muitos dos defensores da decisão foi ouvir outros dizer que os juízes conselheiros se moveram por razões ideológicas e partidárias, e não propriamente jurídicas-constitucionais, então seria interessante analisar o silêncio de todos estes guardiões da democracia aquando das inúmeras ocasiões em que a esquerda política, noutras paragens, vilipendiou e ameaçou juízes constitucionais que tomaram decisões que lhe desagradaram. Provavelmente, nessas ocasiões, algumas delas bem recentes, como a decisão do Supremo Tribunal federal dos EUA sobre o aborto nos EUA, Dobbs v. Jackson Women’s Health Organization, revertendo o famoso acórdão Roe v. Wade de 1973, os nossos paladinos da liberdade dos povos até estiveram ao lado dos insultos e das ameaças de violência contra os titulares da instituição.

Vivemos tempos que favorecem a subversão sectária das instituições, a desvalorização da nobreza do debate racional e o atropelo das subtilezas estruturantes das práticas e dos costumes. Ao mesmo tempo, negligenciamos a protecção da vocação funcional das instituições e dos princípios que as sustentam. Depois não se queixem.

“Inaceitável”. FIFA condena novo ato de racismo na Premier League

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, juntou-se à condenação generalizada dos insultos racistas de que foi alvo o futebolista ganês do Bournemouth Antoine Semenyo.

“É absolutamente inaceitável ver o abuso racista dirigido a Antoine Semenyo, do Bournemouth, que levou à paragem do jogo da Premier League contra o Liverpool, em Anfield, na última noite”, referiu Infantino.

O incidente ocorreu na sexta-feira, no jogo da primeira jornada da Premier League que terminou com a vitória dos reds por 4-2.

“O futebol não tem espaço para racismo ou qualquer forma de discriminação – a coragem de Antoine e a sua prestação em campo, apesar dessa adversidade, é um exemplo poderoso de força e dignidade para os jogadores em todo o mundo”, disse ainda o líder do organismo que rege o futebol mundial.

Infantino reforça ainda o “apoio inequívoco” ao jogador, ao Bornemouth, à Premier League e federação inglesa (FA).

O extremo ganês disse que essa situação o vai marcar “para sempre”.

“Não por causa das palavras de uma pessoa, mas porque toda a família do futebol se juntou” para o apoiar, explicou.

O jogo foi interrompido no minuto 29 quando o internacional do Gana reportou os insultos de um adepto do Liverpool, de 47 anos, que seria expulso do estádio de Anfield.

No final do jogo, a Premier League anunciou a abertura de um inquérito interno, reiterando o apoio ao jogador.

Em comunicado, a Liga inglesa assegurou que vai “trabalhar com as partes envolvidas e as autoridades para garantir que os estádios oferecem um ambiente inclusivo e acolhedor para todos”.

Virgil van Dijk, defesa e capitão do Liverpool, classificou o incidente como “uma vergonha” e apelou à “educação da nova geração” contra o racismo.

Este sábado, a polícia inglesa anunciou a abertura de um inquérito ao acorrido.

Será que estamos prontos para ter esta conversa

Há poucas palavras que causem tanta urticária coletiva como “impostos”. É  pronunciá-la e assistir, em segundos, a uma crise existencial: “Pagamos demais!”,  “O Estado rouba-nos!”, “E depois é só tachos!”. Há algo de maquiavélico neste  desabafo nacional. E compreendo. Mas também há algo de profundamente  ingénuo. Porque, sejamos francos, se há coisa que verdadeiramente nos une  enquanto sociedade – para além do amor ao café e do ódio ao VAR – é o  esquecimento conveniente de que, desde que nascemos, estamos rodeados de  coisas pagas com… impostos.

O debate sobre a carga fiscal está, mais uma vez, na ordem do dia. Afinal, é mais  fácil culpar o IRS pelo saldo bancário do que refletir sobre como tornarmos o Estado  mais eficiente.

Sim, lamento estragar o mito do self-made citizen, mas o parto no hospital público, as vacinas no centro de saúde, os manuais gratuitos, a estrada que nos levou à escola e até a professora que nos ensinou que Camões não é uma app, tudo isso  foi pago com os impostos de todos. E, repito, de todos. Não foi com magia. Tudo isto existe porque há impostos.

No entanto, a forma como hoje se fala de fiscalidade em Portugal parece retirada  de um sketch: “Os impostos deviam baixar já! Urgentemente! Rápido!” – diz-se. E  eu pergunto: e depois? Cortamos a despesa? Reformamos a máquina? Ou  simplesmente começamos a ter de pagar as contas por inteiro? Porque a questão  não pode ser apenas “como cortar impostos”, mas sim “como tornar o Estado mais eficiente para que os impostos que pagamos façam realmente sentido”. Isso sim, era um debate de verdadeiro serviço público.

Ao longo dos anos, fomos confundindo investimento com despesa e reforma com cortes. A saúde é um excelente – talvez o melhor – exemplo disto mesmo. Aumentámos, ano após ano, o orçamento da saúde e, no entanto, os tempos de  espera para consultas e cirurgias continuam a encher páginas de jornais e salas de  espera. Porquê? Porque durante demasiado tempo se achou que o problema era  falta de dinheiro, e não de organização. Atirar verbas para um sistema ineficiente é  como encher um balde furado: por mais que se tente nunca vamos conseguir completá-lo.

Mas o que falhou? Falhou a reforma. Falhou a coragem de olhar para dentro da administração pública e reconhecer que os serviços precisam de mais do que orçamentos. Precisam de objetivos, metas, métricas e, vá, um pouco de sentido de urgência. Sistemas de incentivo à produtividade? Ótima ideia. Recompensar equipas que gerem bem os seus recursos? Parece-me sensato. Medir desempenho? Inovador, quase revolucionário aos dias de hoje. A responsabilidade e a eficiência não são inimigas do Estado Social. São os seus melhores aliados.  Porque um Estado que desperdiça, por muito justo que seja, deixa de ser ético.

Há, portanto, uma falha geracional grave na forma como estamos a educar as novas  gerações para o papel dos impostos na sociedade. Falamos-lhes dos direitos, esquecemo-nos de lhes falar dos deveres. Mostramos-lhes os serviços, ocultamos lhes a fatura. Criamos consumidores do Estado, mas não cidadãos conscientes da  sua manutenção. E assim, ano após ano, vamos perpetuando o ciclo: exigimos  mais, pagamos a contragosto e protestamos com o coração, mas com pouca razão.

O mais curioso é que muitos jovens portugueses dizem que querem sair do país por causa da “carga fiscal”. Mas depois escolhem emigrar para países como a Suécia ou a Alemanha – onde a carga fiscal é, imaginem, ainda maior. Mas afinal, o que há  lá que não há cá? Transportes públicos gratuitos e que chegam a horas, filas de  espera que não duram três invernos, universidades públicas acessíveis e de qualidade, e serviços que funcionam com uma previsibilidade quase aborrecida.  Ou seja, nesses países não se protesta por pagar impostos… porque se vê  claramente para onde vão.

Por cá, a sensação é outra: pagamos muito, vemos pouco, e somos frequentemente tratados com indiferença pelos serviços que supostamente são nossos. Resultado?  Cria-se uma cultura de descrédito no Estado, como se o problema estivesse no próprio conceito de contribuição, e não na sua gestão. A consequência mais grave  disso? Uma geração que cresce a ver os impostos como um assalto e não como um investimento coletivo.

E é aqui que temos de fazer a viragem. Não é o valor dos impostos que está em causa – é a sua tradução em bens públicos de qualidade. Precisamos de uma  Administração Pública que se veja como motor de desenvolvimento e não como uma engrenagem emperrada. Precisamos de dirigentes públicos com formação, visão e coragem para reformar. E precisamos, urgentemente, de um pacto nacional  para a eficiência, que nos devolva a confiança de que vale a pena contribuir.

Porque, verdade seja dita, ninguém gosta de pagar por um serviço medíocre. Mas  ninguém se importa de investir quando sente que está a construir algo que é seu. O  imposto não é o vilão. O desperdício, esse sim, é o verdadeiro ladrão.

Bruno Lage. “Welcome to portuguese league”

O treinador do Benfica, Bruno Lage, considera que a sua equipa foi aguerrida e sólida na partida contra o Estrela Amadora.

Resultado melhor que a exibição

“Vitória para o Cruz, para os adeptos, vitória dos jogadores, fomos uma equipa aguerrida. Ganhar, ponto. Foi o que disse aos jogadores no final do jogo, em jeito de brincadeira, mas em inglês: ‘Welcome to portuguese league’. Têm de perceber que as equipas portuguesas são muito fortes, são muito boas, principalmente a jogar nos seus estádios. Tivemos de ser uma equipa sólida. 4 jogos, 4 vitórias, 0 golos sofridos”.

Benfica não foi muito acutilante

“Entender o momento de cada jogo. Criámos algumas oportunidades, o Estrela criou as suas oportunidades. Quando olharmos para trás vamos ver que há jogos que são assim, de campeão. Criámos as oportunidades suficientes para vencer, vestimos o fato de macaco. O mais importante é vencer e seguir em frente”.

Mesmo onze

“Esta era a partida mais importante. Esta equipa é a que tem mais minutos. Numa semana normal, teríamos folga amanhã, mas vamos treinar. Estamos a fazer a pré-época com jogos oficias. Sentimos que precisamos de toda a gente, valorizar a entrada dos jogadores”.

Akturkoglu

“Opção técnica. Sentimos que o Andreas [Schjelderup] fez um grande jogo, precisávamos de um homem para dar mais velocidade, optámos pelo Prestianni. Está feliz de estar cá. Pode jogar na quarta. Está feliz, escolheu outro número. Começou bem a época, senti-o feliz. É um jogador do Benfica”.

Não há processo que trave a importância de Pavlidis, o homem disciplinar que quis entrar com o pé direito (a crónica do E. Amadora-Benfica)

Antes, durante e depois da Liga dos Campeões, o Campeonato. Cumprido o primeiro objetivo rumo à fase de liga da Champions, o Benfica volta a bitola para a Primeira Liga, onde se estreou em casa do Estrela da Amadora. O dérbi de Lisboa surgiu depois da eliminatória frente ao Nice e antes do exigente compromisso em casa do Fenerbahçe, a contar para o playoff da prova milionária. Apesar do exigente calendário no arranque da temporada, e que levou inclusivamente ao adiamento do jogo da primeira jornada, frente ao Rio Ave, para setembro, as águias têm pouca margem de manobra e querem começar a Primeira Liga a vencer, ao contrário do que aconteceu nas últimas temporadas, sob pena de se atrasarem face aos rivais FC Porto e Sporting.

Fredrik é tão bom olheiro que se viu a ser herói antes de todos os outros verem (a crónica do Benfica-Nice)

Como não podia deixar de ser, Bruno Lage foi o nome mais badalado para os lados da Luz nos últimos dias. Primeiro, no jogo frente ao franceses, o treinador foi captado a dar um sentido abraço a Kerem Aktürkoglu que, ao que tudo indica, está de saída dos encarnados para rumar ao Galatasaray. Depois, a Supertaça continua a dar que falar e, na quinta-feira, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol instaurou um processo disciplinar ao técnico setubalense para “apuramento da eventual relevância disciplinar de factos não descritos nos relatórios oficiais do árbitro, do delegado ou das forças policiais”, depois de os leões terem protestado por palavras impróprias de Lage, alegadamente dirigidas ao árbitro Fábio Veríssimo.

Ficha de jogo

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Estrela da Amadora-Benfica, 0-1

2.ª jornada da Primeira Liga 2025/26

Estádio José Gomes, na Amadora

Árbitro: Hélder Carvalho (AF Santarém)

E. Amadora: Renan Ribeiro; Atanas Chernev, Bernardo Schappo, Luan Patrick; Sidny Cabral, Abraham Marcus (Jorge Meireles, 82’), Paulo Moreira, Fábio Ronaldo (Rodrigo Pinho, 74’); João Gastão (Ianis Stoica, 64’), Alan Godoy (Kikas, 64’) e Jovane Cabral (João Resende, 82’)

Suplentes não utilizados: Diogo Pinto; Issiar Dramé, Assane Ndiaye e Alex Sola

Treinador: José Faria

Benfica: Anatoliy Trubin; Amar Dedic, António Silva, Nico Otamendi, Samuel Dahl; Enzo Barrenechea (Florentino Luís, 87’), Richard Ríos (Tiago Gouveia, 90+3’), Fredrik Aursnes, Andreas Schjelderup (Gianluca Prestianni, 70’); Franco Ivanovic (Leandro Barreiro, 87’) e Vangelis Pavlidis (Henrique Araújo, 90+3’)

Suplentes não utilizados: Samu Soares; Rafa Obrador, Kerem Aktürkoglu e Gonçalo Oliveira

Treinador: Bruno Lage

Golos: Pavlidis (g.p., 60’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gastão (24’), Ricardo Rocha (adjunto, 25’), Mário Ferreira (adjunto, 25’), Otamendi (53’), Chernev (58’), Barrenechea (63’), Ríos (84’) e Pinho (90+6’)

“Aktürkoglu? É um jogador muito importante para a equipa. Vale cerca de 25/27 contribuições para golo. Começou muito bem a época, feliz no Benfica e escolheu um novo número. É público que recebeu uma proposta, mas o que sinto é que o jogador está focado com a equipa. Tal como disse na última conferência, conto com ele para o próximo jogo. Queixa? Não estou nada preocupado. Posso garantir de forma muito claro que o que consta na queixa é falso. Estou seguro de que o próprio árbitro, Fábio Veríssimo, quando for confrontado com isso, vai dizer o mesmo do que eu. Sentimos a importância de começar bem o Campeonato. Começámos bem a época e temos de levar para este jogo o que fizemos bem no último. A determinação de jogar bem e a consistência que a equipa tem vindo a demonstrar. Começámos com o pé direito e queremos dar continuidade no Campeonato”, antecipou Lage.

Pela frente o Benfica tinha o Estrela Amadora de José Faria que, nesta janela de transferências, tem sofrido várias mudanças na sua composição. Na primeira jornada, os tricolores empataram em casa do Estoril (1-1), num desafio em que apresentaram várias debilidades no setor defensivo. Sem Guilherme Montóia e Robinho, que saíram lesionados, Faria estava obrigado a mexer frente às águias. “Para jogar contra um clube gigantesco como o Benfica, teremos de ter um E. Amadora a roçar a perfeição. O Benfica começou muito bem a temporada, com um título conquistado e bom nível de jogo na eliminatória que fez. Mostraram ter capacidade para fazer coisas boas nesta época. Temos de estar muito focados e determinados. Estes jogos são os mais fáceis, pois todos querem jogar e marcar presença nestes palcos. Não vai ser preciso estimular muito os jogadores”, explicou o treinador.

Nos onzes iniciais, as novidades foram escassas e só surgiram do lado de José Faria, que lançou a sua equipa num 3x5x2 e colocou Abraham Marcus e Fábio Ronaldo nos lugares que pertenceram a Nilton Varela e Robinho. No Benfica, Bruno Lage não surpreendeu nem refrescou a equipa, repetindo o onze inicial dos últimos dois jogos, com Franjo Ivanovic e Vangelis Pavlidis no ataque. Como seria de esperar, as águias começaram com mais bola num relvado bastante longe do ideal, mas, nos primeiros minutos, pouco conseguiram incomodar uma formação tricolor que instalou o seu bloco à entrada da área e defendeu em 40 metros. A primeira ocasião de perigo surgiu na sequência de um canto de Fredrik Aursnes, com a defesa a aliviar para a entrada da área e Samuel Dahl a finalizar por cima (12′). Pouco depois, o lateral sueco voltou a estar em evidência e, na conclusão de uma jogada da direita para a esquerda, desferiu um remate de meia-distância que saiu perto do poste direito da baliza estrelista (17′).

O Estrela começou a sentir-se confortável com a forma como o jogo estava a decorrer e, na sequência de uma bola parada estudada, ficou bastante perto de inaugurar o marcador, com Jovane Cabral a levantar para Sidny Cabral que, na linha de fundo, cruzou para o coração da área, com Atanas Chernev, na pequena área, a rematar por cima (24′). Na resposta, Dahl cruzou rasteiro, ninguém desviou e a bola sobrou para Aursnes, que rematou cruzado, com Pavlidis a desviar de calcanhar a rasar o poste (27′). Depois de um toada mais eletrizante, a qualidade do jogo decaiu, com as equipas a precipitarem-se na tomada de decisão e a cometerem muitos erros. Já na ponta final do primeiro tempo, João Gastão combinou com Abraham Marcus e recebeu à entrada da área, no corredor central, desferindo um grande remate de primeira que Anatoliy Trubin defendeu com a ponta dos dedos para o poste da sua baliza (38′). Os papéis inverteram-se e, depois de um grande cruzamento de Aursnes, Andreas Schjelderup recebeu dentro da área, puxou para o pé direito e atirou para um grande corte de Luan Patrick, quando Renan Ribeiro parecia batido (43′). Assim, o nulo persistia ao intervalo (0-0).

A etapa complementar arrancou com os mesmos protagonistas e uma entrada diferente dos encarnados, mas a boa reação tricolor manteve-se e as dificuldades prosseguiram. A primeira ocasião de perigo voltou a surgir de bola parada, com Sidny a cobrar um livre forte para a baliza, Trubin vacilou, não agarrou e a bola saiu para a sua frente, com Alan Godoy a aparecer completamente sozinho e a cabecear para forma, de forma incrível (55′). No lance seguinte, Dahl cruzou para a área, Ivanovic ganhou a frente do lance aos centrais e, antes de chegar à bola, sofreu um toque de Chernev nas costas, com Hélder Carvalho a assinalar o castigo máximo (58′). Na cobrança, Pavlidis picou a bola de pé direito para o meio da baliza, Renan voou para a esquerda e ainda tentou esticar o braço, mas não foi suficiente para impedir o golo (60′). Os tricolores continuaram a criar perigo e, logo a seguir ao golo inaugural, Sidny apareceu a finalizar à entrada da área, com António Silva a cortar com o corpo para canto (62′).

Já com Ianis Stoica, Kikas e Rodrigo Pinho no ataque do Estrela, e Gianluca Prestianni no lado esquerdo da ofensiva vermelha — este sábado sem o branco —, a equipa forasteira voltou a desequilibrar pelo lado esquerdo, com Dahl a cruzar rasteiro para Aursnes, que recebeu de costas e amorteceu para o remate de primeira de Richard Ríos, para fora (76′). Pouco depois, em mais um ataque que passou pelos pés do norueguês, Prestianni amorteceu para o tiro forte e colocado de Ivanovic, para uma grande estirada de Renan Ribeiro (80′).José Faria recorreu ao banco pela última vez para realizar mais duas alterações de ataque, com as entradas de Jorge Meireles e de João Resende. Bruno Lage tentou trancar a sua baliza com Leandro Barreiro e Florentino Luís, mas Kikas conseguiu isolar-se à entrada para o período de descontos e, perante a saída de Trubin, picou a bola sobre o ucraniano, só que o remate saiu por cima (90+1′). Lage voltou a mexer e colocou Tiago Gouveia e Henrique Araújo em ação e, de livre, Pinho desferiu um remate forte que saiu ligeiramente ao lado, deixando Trubin pregado ao relvado (90+5′). O resultado manteve-se até ao fim e o Benfica saiu da Reboleira com os três pontos (0-1).

Há 7 regras universais de moral — que todas as culturas respeitam

Todos, em todo o lado, partilham um código moral comum. Num estudo em 60 sociedades de todo o planeta, uma equipa de investigadores não encontrou exemplos de grupos humanos que considerem estes comportamentos moralmente maus. Se acha que seguir uma lista com 10 mandamentos parece ser demasiado exigente, ficará satisfeito por saber que há de facto apenas 7 pilares da moralidade que são universalmente elogiados e observados em todo o mundo. Segundo investigadores da Universidade de Oxford, estas regras comuns podem ter surgido devido a uma necessidade evolutiva de cooperação, e estão, portanto, biologicamente integradas na natureza humana. Num estudo

Benfica vive o melhor arranque de sempre da sua história. “Welcome to Portuguese League”, disse Bruno Lage aos jogadores

Quatro jogos, quatro vitórias, seis golos marcados e zero sofridos. Está encontrado o melhor arranque de sempre do Benfica numa temporada, registo que Bruno Lage quebrou agora em 2025/26, jás que os encarnados nunca tinham começado uma época com quatro jogos sem sofrer golos. Para já, melhor só o FC Porto de André Villas-Boas que, na história época de 2010/11, alcançou as quatro vitórias nos quatro primeiros jogos com um saldo de 9-0 golos. Curiosamente, essa equipa dos dragões sofreu o primeiro golo logo a seguir, à quinta partida, mas alcançou um registo de 11 vitórias consecutivas no arranque e só perdeu ao 27.º jogo.

Na Amadora, o Benfica teve uma dura partida frente ao Estrela, que começou com Amar Dedic, Richard Ríos, Enzo Barrenechea e Franja Ivanovic a estrearem-se na Primeira Liga e prosseguiu com o primeiro nulo ao intervalo entre tricolores e encarnados desde 2007/08, naquele que foi ainda o primeiro nulo ao intervalo que o José Gomes viu nas últimas quatro temporadas, a contar para o Campeonato. Como tem sido seu apanágio, Vangelis Pavlidis voltou a ser decisivo, apontando o seu 20.º golo em 35 jogos na Liga portuguesa, e deu às águias a primeira vitória no primeiro jogo da época no Campeonato três anos depois. Há sete anos que o Benfica não vencia um jogo da Liga, fora de casa, com o golo decisivo a ser marcado de penálti.

Não há processo que trave a importância de Pavlidis, o homem disciplinar que quis entrar com o pé direito (a crónica do E. Amadora-Benfica)

“Sabemos que era um jogo difícil. O relvado não era o melhor. Tentámos jogar futebol, mas não foi possível. Tivemos de lutar. No fim levámos os três pontos, que é o mais importante. Dupla de ataque? É bom. Temos mais jogadores agressivos que atacam o espaço. Precisamos de jogadores para marcarem muitos golos. Temos de melhorar, quando encontramos a comunicação certa e espaços para atacar vai ser muito bom. O mais importante é levar os três pontos. No ano passado perdemos alguns pontos fáceis. Foi difícil marcar, mas o mais importante é que não sofremos e levámos os três pontos para casa. Todos percebem o quão grande é o clube e que temos de ganhar, ganhar e ganhar. Queremos continuar e temos jogos cruciais no futuro. Fenerbahçe? Sabemos que é importante para o Benfica jogar a Champions. São uma boa equipa, com um bom treinador e grandes jogadores. Vai ser difícil, mas vamos fazer de tudo para estarmos na Champions”, partilhou Pavlidis na flash-interview da SportTV.

“É uma vitória para o Cruz, bicampeão europeu que nos deixou hoje [sábado, para os nossos adeptos que nos apoiaram do início ao fim e dos jogadores. Fomos uma equipa sólida, aguerrida, vestimos o fato de macaco. Aqui é ganhar, ponto. Aquilo que disse aos jogadores no fim, até em jeito de brincadeira, em inglês, foi ‘Welcome to Portuguese League’ [bem-vindos à Liga portuguesa, em português]. Têm de perceber que as equipas portuguesas são muito fortes e boas, principalmente a jogar nos seus campos. O Estrela fez um bom jogo e tivemos de ser uma equipa sólida. Quando olho para o que fizemos nos últimos quatro jogos, são quatro vitórias e zero golos sofridos. O que faltou? Entender o momento de cada jogo. Até criámos oportunidades e podíamos ter marcado. O Estrela também criou. Temos de perceber que há jogos assim, de campeão, e hoje foi isso”, começou por dizer Bruno Lage ao mesmo canal.

“Onze inicial? Esta era a partida mais importante e queríamos entrar bem no Campeonato. Esta equipa tem mais minutos nas pernas… Numa semana normal teríamos folga amanhã [domingo], mas vamos treinar para recuperar e dar tempo de treino aos outros jogadores. Estamos a fazer a pré-época com jogos oficiais. A equipa já consegue durar mais tempo no jogo e precisamos de todos. Quando olhámos para o jogo, para a dinâmica da equipa e a segurança de jogo, optámos pela mesma equipa. Aktürkoglu? No último jogo, o Andreas [Schjelderup] fez um grande jogo e precisávamos de um homem para dar mais velocidade em situações de drible no corredor. Optámos pelo Prestianni. Aktürkoglu está feliz por cá estar. Quarta-feira vamos ter outro jogo e pode jogar desde que esteja pronto para ajudar. E ele está. Sentimos isso. Começou a época muito bem, marcou golos e ajudou a equipa a ganhar a Supertaça. Sinto-o feliz, com a cabeça tranquila e é um jogador do Benfica”, concluiu o treinador.

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