Jobim sobre 8 de janeiro: “Foi uma balbúrdia, sem envolvimento das Forças Armadas”
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Com passagens pelos 3 poderes Brasileiros nas últimas décadas, Nelson Jobim mantém seu envolvimento no cenário político e jurídico, trazendo uma visão clara e pragmática sobre a turbulência política que marcou o Brasil nos últimos tempos. Sua análise do 8 de janeiro de 2023, em Brasília, é direta: “Foi uma balbúrdia, uma bagunça, como tantas outras que já vimos na história do Brasil. As forças armadas são absolutamente legalistas, seus comandantes estão comprometidos com a manutenção do processo democrático. Não há risco de golpe de Estado neste momento”, garante, tranquilizando e reforçando sua convicção de que as instituições democráticas brasileiras resistem às pressões internas e externas.
Ele acrescenta que, apesar das imagens de tumulto que circularam mundialmente, não há evidências de envolvimento das forças armadas. Para Jobim, o episódio foi resultado de ações isoladas de indivíduos, e não de uma tentativa coordenada de golpe. “O que aconteceu foi uma manifestação de desordem, uma confusão sem apoio ou participação dos militares de forma oficial ou institucional. As Forças Armadas permanecem absolutamente legalistas e comprometidas com a democracia, mesmo diante de alguns excessos e provocações que surgem no dia a dia político”, afirma, evidenciando sua confiança na institucionalidade brasileira.
Repensar o sistema político
O ex-ministro também pontua a fragilidade do sistema político atual, que reflete uma crise de representatividade e de funcionamento das lideranças. Segundo ele, a desorganização do Congresso, a dependência de recursos como as emendas parlamentares, e a perda de relevância dos partidos políticos criaram um cenário de fragilidade nas decisões coletivas. “Nós estamos vivendo uma desfuncionalidade que precisa ser urgentemente enfrentada. O Judiciário, por sua vez, tem assumido um papel que devia caber ao Legislativo e ao Executivo, e isso cria uma crise maior”, explica.
Jobim sugere que talvez seja o momento de repensar o próprio sistema político brasileiro, considerando o fortalecimento de um modelo semipresidencial, onde a relação entre o chefe do Estado e o chefe do Governo seja mais equilibrada. “Podemos aproveitar essa crise para buscar uma estrutura mais eficiente, com mais responsabilidade compartilhada, maior estabilidade e menos conflitos artificiais”, avalia, sinalizando uma possível mudança de paradigma que ajudaria a fortalecer a democracia brasileira.
Cuidados com a saúde
O segredo da longevidade, segundo Nelson Jobim, é cuidar da saúde e manter-se ativo. Para ele, trabalhar é essencial, não apenas por necessidade, mas como uma forma de manter a mente e o vigor. “Eu sempre digo: trabalhar, trabalhar, trabalhar. Não podem deixar de trabalhar, porque, se deixar, começa a piorar. Todos os meus amigos que entraram na aposentadoria e pararam de fazer qualquer coisa, tiveram problemas de saúde. Eu não. Vim virando a página, me aposentei do Supremo, voltei para o executivo, como Ministro da Defesa, depois estive na advocacia e agora continuo trabalhando no conselho do Banco PTG Pactual, cuidando do compliance.”
Ele também reforça a importância de manter uma rotina de cuidados pessoais, atividades físicas e momentos de lazer. Nelson faz pilates e musculação duas vezes por semana, garante que isso contribui para seu bem-estar. “Me cuido. Não tenho restrições maiores, vivo normalmente, tomo um vinho de vez em quando, um uísque, sem exageros. Acho que tenho mais sorte do que juízo. As coisas estão indo bem, e o melhor é que continuo com vontade de aprender, de seguir em frente, de aproveitar cada dia”, afirma, com sua tranquilidade habitual.
