Livre alerta que governo minoritário sem apoio parlamentar poderá rapidamente ficar em gestão


O porta-voz do Livre, Rui Tavares, alertou esta terça-feira que um governo minoritário, sem um diálogo parlamentar que seja construtivo, poderá “muito rapidamente” tornar-se num executivo em gestão.
“Um governo minoritário na próxima legislatura, se não estiver assente num diálogo parlamentar que seja construtivo, pode muito rapidamente ser um governo em funções de gestão”, afirmou Rui Tavares à saída do Hospital de Aveiro onde reuniu com os administradores.
Sem revelar se viabilizaria ou não um eventual Governo minoritário do PS, o dirigente do Livre assumiu que, para evitar esse cenário, é “importantíssimo” que se deixe de lado o jogo de quem é que chega primeiro, alegando que isso aplica-se ao futebol, mas não ao parlamentarismo. “O que é preciso é ter uma maioria ou, pelo menos, uma base de apoio parlamentar a um governo que seja coerente e coeso”, reforçou.
Na sequência da reunião em Aveiro, círculo eleitoral onde o Livre quer eleger deputados pela primeira vez, Rui Tavares revelou que, se houver um governo em gestão durante mais de um ano, isso impossibilita novas contratações e decisões administrativas na saúde. Além disso, acrescentou, há reformas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que ficariam à espera de um governo que só viria com um novo ciclo político em 2026.
O porta-voz do Livre, que desde o início da campanha eleitoral tem defendido uma solução de governabilidade à esquerda, considerou que a esquerda não tem de falar a uma só voz, mas tem de ser pragmática e coordenar-se na altura de encontrar uma maioria de governação. “Isso é o que acontece noutros países europeus e é o que pode acontecer em Portugal, mas, evidentemente, não acontecerá com partidos que não trazem este tipo de atitude para o centro da ação política”, frisou.
Rui Tavares reforçou que o Livre não está a concorrer para a oposição, muito menos para a oposição à restante esquerda, mas sim para a governação. Por isso, é fundamental que o Livre seja um “partido decisivo e de charneira na política portuguesa” para mudar o país, insistiu. “Estou cada vez mais convencido de que apenas uma votação muito reforçada no Livre pode ser a chave para uma solução e uma alternativa de governação”, concluiu.
O porta-voz do Livre garantiu também que se integrar uma solução governativa impedirá a privatização do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e tornará o “terreno de jogo” entre serviço público e privado equilibrado. Rui Tavares considerou que, neste momento, o SNS está a travar “uma luta desigual com os olhos vendados e a mão atrás das costas” com o privado.
Na sua opinião, é preciso haver coragem política para fazer frente aos privados e para impor regras iguais para todos. “Os privados, nomeadamente em grandes áreas metropolitanas como a de Lisboa, têm vantagens competitivas numa concorrência desleal que movem ao Serviço Nacional de Saúde, situação que seria possível de combater sem gastar um euro, mas mudando apenas a lei e dando as mesmas obrigações aos privados e SNS”, vincou. E acrescentou: “Até agora ainda não encontramos nenhum ministro da Saúde que tem a coragem política de fazer valer para os privados as mesmas regras que valem para o público”.
No décimo dia de campanha eleitoral, Rui Tavares acusou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, de fazer promessas na saúde que sabia que eram impossíveis de cumprir. “Fez na saúde, como tinha feito na economia, como tinha feito nas outras áreas. No início do mandato era relativamente fácil apanhar fruta madura que foi deixada pelo Governo de António Costa [PS]”, frisou.
O porta-voz do Livre considerou que Luís Montenegro não tem vontade política de travar a degradação na saúde, apelando aos eleitores que vejam bem a quem é que vão entregar o voto no próximo domingo. Além da questão dos privados, Rui Tavares apontou a necessidade de se criarem condições de atratividade para profissionais de saúde no SNS, não tanto no que diz respeito às remunerações, mas na questão do tempo e possibilidade de conciliar a vida profissional com a familiar.
O Livre, que na semana passada visitou o Hospital de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, insistiu ainda na necessidade de se criarem incentivos para que os profissionais de saúde fiquem no SNS oferecendo-lhes uma carreira estável e atrativa.
Rui Tavares assumiu a ambição de eleger pela primeira vez em Aveiro, afirmando querer “roubar” o mandato à IL, que elegeu um deputado por este círculo nas legislativas de 2024. “Temo-nos cruzado com muita gente que, prontamente, diz que quer ter uma eleição do Livre em Aveiro”, frisou.
Segundo Rui Tavares, é muito importante poder representar um distrito que tem um dinamismo económico muito grande, que tem uma cultura muito própria na área industrial e um eleitoral que tem muito arreigados os valores da independência, da autonomia e de conquista de uma certa prosperidade para a família. “Nós achamos que Aveiro é um distrito que pode ser muito fértil para causas e valores de esquerda, tal como já foi no passado, tanto no início do liberalismo em Portugal como no 25 de Abril”, sustentou.
Dizendo querer imprimir dinamismo e dignidade a Aveiro, o porta-voz do Livre revelou que quer “roubar” o mandato à IL que, nas últimas eleições legislativas, “elegeu por pouco”. “É uma competição saudável e eles terão que entender, uma vez que também gostam da concorrência”, brincou.
Há muitos distritos que querem ter um partido que é europeísta, ecologista, das liberdades, dos direitos humanos, da defesa do Estado Social e que não quer recuar em nenhum direito, apontou. Além de Aveiro e Santarém, Rui Tavares, que tem recusado traçar uma meta para estas eleições, manifestou já o objetivo de eleger, igualmente pela primeira vez, em Braga e Leiria.
A candidatura do Livre em Aveiro tem como cabeça de lista, Filipe Honório, de 32 anos e assessor político, seguindo-se Joana Filipe, também assessora política. Nas últimas eleições legislativas, o Livre não conseguiu eleger em Aveiro, tendo os deputados sido distribuídos pelo PSD (sete), PS (cinco), Chega (cinco) e Iniciativa Liberal (um).