O dueto de Montenegro, o punk de Pedro Nuno e o falsete de Rocha: a campanha eleitoral em versão musical

Gostos musicais não se discutem — mas, em tempos de campanha eleitoral, esmiúçam-se por motivos políticos. Afinal, os portugueses vão a votos no domingo, e não falta quem decida o seu voto de ouvido, pelo que (e quem) lhe soa melhor.
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Neste campeonato, Luís Montenegro adiantou-se: entrou em palco ainda antes de ter sido dado o tiro de partido. No passado 1 de maio, o primeiro-ministro (“sem gravata”, ou seja, em registo informal, como disse António Costa em tempos idos) galgou a escadaria de São Bento e partilhou o microfone com Tony Carreira, num dueto de “Sonhos de Menino”.
O político e empresário de Espinho, que não nasceu “numa aldeia perdida da Beira”, sonha ser como Cavaco, fazer “oito anos” em São Bento. Para alcançar tamanho objetivo, todavia, a AD ainda tem de subir alguns “tons”, indica a Sondagem das Sondagens da Renascença.
Do que depender de Pedro Nuno Santos, o PS irá distorcer a cantiga da AD, tentar mudar o registo. Há poucos dias, no “Instagram”, o secretário-geral socialista partilhou a sua devoção aos britânicos IDLES, particularmente o álbum “Joy As An Act of Resistance”. “My blood brother is an immigrant / A beautiful immigrant (O meu irmão de sangue é um imigrante/ um belo imigrante)”, ouve-se na música “Danny Nedelko”.
Fontaines D.C. e Warpaint também entram na playlist do socialista, que claramente não quer apenas mudar o país — quer-lhe mudar o gosto musical.
Já no último fim de semana, Rui Rocha não ficou atrás e, qual crooner em crise, aventurou-se a cantar “What’s Up” das 4 Non Blondes. A escolha era auspiciosa, o resultado menos.
Rui Rocha entra nos comícios ao som de “We Will Rock You”, dos Queen, termina sempre ao som de “Freed From Desire”, dos Gala, onde se ouve “My love has got no money / He has got strong beliefs (O meu amor não tem dinheiro / O meu amor tem convicções fortes)”.
É de notar, portanto, duas pequenas incongruências. Primeira: o perfil social dos eleitores do partido caracteriza-se
por uma predominância de jovens adultos, com elevado nível de instrução . Ou
seja, muito “pobres” não podem ser para conseguirem frequentar o Ensino Superior. Segunda: o partido é, conforme o próprio nome indica, liberal, não livre “from desire” (do desejo) mas, em essência, livre para agir sobre os próprios “desires”.
Os hinos: jingles, marchas e outras tragédias nacionais
Se os gostos musicais dos líderes políticos são a parte pessoal da banda sonora eleitoral, os hinos são a sua expressão programática em forma de jingle.
O hino da AD funciona, em parte, como o “Let it Go (Já passou)” da Disney, mas com refrão patriótico: “Deixa o Luís trabalhar”. A música insiste que “Portugal não pode parar” e “a esperança vai renascer”.
O PS também aposta na rima funcional. A frase de ordem é “o futuro é já, já, já”, Pedro Nuno Santos aparece metido no verso, e a esperança galopa entre deixas vazias como “depois da tempestade vem o sol”.
O Chega, por sua vez, dispensou subtilezas. O hino do partido é o único que soa a programa político: épico, com ecos da “Portuguesa” e berloques quinhentistas. “André Ventura, a voz dos heróis do mar”, ouvimos logo no início. Depois é só desfiar os temas corrupção, imigração, doutrinação, e a promessa de um “quinto império” — que, em termos musicais, é algo entre Luís de Camões e techno marcial.
Todos os hinos prometem futuro, mudança e felicidade. No entanto, nenhum parece destinado a sobreviver à noite eleitoral.