Criança de dois anos encontrada em escola à qual não pertencia, em Odivelas. PSP e CPCJ foram chamadas a agir

Uma menina de cerca de dois anos foi encontrada no interior da Escola Básica 2,3 Dom Dinis, em Odivelas, na manhã desta terça-feira, pelos funcionários do estabelecimento.

De acordo com a Polícia de Segurança Pública (PSP), os colaboradores da escola tentaram perceber o nome da criança, mas ela não se conseguia expressar. Em comunicado, é ainda esclarecido que “foram efetuadas diligências pelas várias salas de aula, questionando aos vários alunos se a conheciam ou se alguém seria familiar da menor”. No entanto, “estas diligências foram infrutíferas”.

As autoridades dirigiram-se à escola, tendo encontrado a criança sem “quaisquer sinais de violência“. Posteriormente e face ao exposto, a PSP suspeitou que se pudesse tratar de uma situação de abandono e, por isso, “procedeu ao transporte da menor para a 71ª Esquadra-Odivelas”, pode ler-se no comunicado.

Já na esquadra, a CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) de Odivelas foi acionada, tendo comparecido uma funcionária a quem foi entregue a criança.

Ainda não é possível determinar as circunstâncias exatas do incidente. Contudo, ao que avança o Correio da Manhã, que cita uma fonte da escola, não se tratou de uma situação de abandono, mas sim de um “engano“: um tio terá deixado a criança no estabelecimento de ensino errado.

Chocolate preto pode esconder segredo para travar o envelhecimento

Um novo estudo sugere que a teobromina – um componente-chave do chocolate preto – é capaz de abrandar a nossa taxa de envelhecimento biológico. O chocolate preto contém uma substância química que pode ter propriedades antienvelhecimento. Segundo um estudo publicado recentemente no bioRxiv o químico em questão é a teobromina. A principal fonte de teobromina são os sólidos do cacau. O chocolate preto é rico em sólidos de cacau. Por seu turno, o chocolate de leite tem níveis mais baixos. Já o chocolate branco não tem nenhum. Para saber mais sobre estes potenciais benefícios deste químico, os investigadores analisaram dados

Universitários concentram-se em Lisboa pelo fim das propinas, mais alojamento e mais apoio social

Estudantes universitários vão concentrar-se nesta quinta-feira junto à sede do Governo, em Lisboa, onde vão deixar um caderno reivindicativo para o próximo executivo, numa das acções da semana de luta sob o mote “Venha Quem Vier, Não Recuamos!”.

Os novos protestos dos estudantes do ensino superior começaram a ser desenhados no início do mês e arrancam nesta quarta-feira, numa altura em que o novo Governo ainda não tomou posse, até porque não são “uma resposta ao resultado das eleições”, mas sim “uma luta por direitos” que querem ver garantidos há muito, disse Guilherme Vaz, presidente da direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa.

As reivindicações estão resumidas em oito grandes medidas que abrangem várias áreas, desde o fim das propinas ao alojamento a preços acessíveis ou a mais serviços de psicologia acessíveis aos estudantes.

“Já tínhamos decidido que iríamos reivindicar um conjunto de medidas que consideramos urgentes. Sendo que o actual quadro mostra que as nossas reivindicações ficaram ainda mais fragilizadas, porque o partido do Governo, que tinha mostrado a intenção de aumentar (o valor) das propinas, vê agora reforçado o número de deputados”, acusou Guilherme Vaz.

A iniciativa partiu das associações de estudantes que construíram o apelo “Não Recuamos, Gratuitidade Já!” e que se traduziu na manifestação nacional de estudantes do ensino superior, no passado dia 24 Março de 2025.

“Queremos deixar bem claro que estamos fartos de promessas e anúncios antecipados que nunca se concretizam. Esta é uma altura em que todos prometem as soluções para amanhã para fazer face aos problemas do ensino superior, mas os estudantes sabem bem ao que muitos vêm”, criticou o presidente da Associação de Estudantes da FCSH.

Guilherme Vaz admite que a concentração em Lisboa possa ser o momento com maior expressão da semana de luta, que decorre entre 21 e 28 de Maio, apelando a acções de outras faculdades e universidades do país. Para já, estão confirmadas iniciativas “em Lisboa, Braga, Porto, Covilhã, Coimbra, Setúbal, Aveiro e Algarve (Faro)”, contou Guilherme Vaz.

Entre as reivindicações estão o fim da propina, o cumprimento e alargamento do Plano Nacional de Alojamento Ensino Superior (PNAES), o alargamento dos critérios de elegibilidade das bolsas e o aumento do seu valor de referência, assim como a contratação de mais psicólogos e preços mais baixos das refeições nas cantinas. A revisão democrática do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) e o fim do subfinanciamento crónico são outras das reivindicações dos estudantes.

Maestro Pedro Amaral é novo diretor artístico do Teatro Nacional de São Carlos

O maestro Pedro Amaral é o escolhido para diretor artístico do Teatro Nacional de São Carlos, até 2028, iniciando funções no dia 01 de setembro, foi anunciado esta terça-feira.

Em comunicado, o Organismo de Produção Artística (Opart) indicou que Pedro Amaral foi escolhido por unanimidade a partir de 21 candidaturas elegíveis, sucedendo ao neerlandês Ivan van Kalmthout, que saiu em julho do ano passado após um ano em funções.

O júri, composto por Conceição Amaral, que presidiu, Rui Morais, Jorge Vaz de Carvalho, Isamay Benavente e Paolo Pinamonti, decidiu pela candidatura de Pedro Amaral por estar “sustentada pela clareza e coerência da proposta programática, pela solidez da sua formação musical e pela relevante experiência artística”.

“A candidatura de Pedro Amaral colocou a missão de serviço público do Teatro Nacional de São Carlos no centro da sua ação, enaltecendo o seu papel de referência nacional e internacional. A carta programática apresentada a ‘3 tempos’, curto, médio e longo prazo, coloca o foco na criação artística, no repertório, no património musical português, no desenvolvimento do talento e criação portuguesa, com uma atenção especial e rigorosa na itinerância, na diversidade dos públicos e na construção de redes e colaborações internacionais”, lê-se no mesmo comunicado.

O mesmo texto acrescenta que “o júri valorizou ainda a abrangência da visão apresentada, aliada a um pensamento crítico e construtivo, bem como a um profundo sentido de missão e entusiasmo revelado por Pedro Amaral perante os desafios do Teatro Nacional de São Carlos e o seu futuro”.

Segundo a biografia partilhada pelo Opart, Pedro Amaral, nascido em 1972, iniciou os seus estudos com Fernando Lopes-Graça, em 1986, e formou-se na Escola Superior de Música de Lisboa (1994) e no Conservatório Nacional Superior de Paris, onde obteve o 1.º Prémio em Composição, por unanimidade do júri, em 1998.

Amaral frequentou também a Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, onde completou o mestrado em Musicologia Contemporânea (1998) e o doutoramento (2003) com uma tese sobre “Momente”, de Karlheinz Stockhausen.

As suas óperas “O Sonho” e “Beaumarchais” foram estreadas em Londres, em 2010, e em Lisboa, no Teatro Nacional Dona Maria II, em 2017. Atualmente, é professor da Universidade de Évora.

O concurso decorre numa altura em que o edifício do TNSC, em Lisboa, está encerrado para obras de requalificação, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e a programação artística está a ser cumprida em digressão pelo país.

O teatro nacional encerrou no final de julho de 2024, estando a reabertura agendada para 2026.

Nantes despede treinador Antoine Kombouaré

Clube francês diz que é preciso iniciar um novo ciclo

O treinador Antoine Kombouaré foi despedido pelo Nantes, três dias após ter assegurado a manutenção na Liga francesa, anunciou hoje o clube do guarda-redes internacional português Anthony Lopes.

“Ao longo dos últimos 14 meses, [Antoine Kombouaré] confirmou sua determinação, lealdade e compromisso sincero com o Nantes. Mas, ultrapassado esse período difícil, o clube acredita que é necessário iniciar um novo ciclo”, anunciou o Nantes, sem adiantar informações sobre o novo técnico.

Kombouaré, de 61 anos, que chegou ao Nantes na fase final da época passada, teve muita dificuldade para manter a equipa no escalão principal, pois, apesar de ter terminado no 13.º lugar, apenas assegurou a permanência na última jornada.

Por Lusa

Pedro Amaral é o novo director artístico do Teatro Nacional de São Carlos

O maestro e compositor Pedro Amaral foi a escolha unânime do júri para a direcção artística do Teatro Nacional de São Carlos. Será o antigo director artístico e maestro titular da Orquestra Metropolitana de Lisboa a suceder ao neerlandês Ivan van Kalmthout, que cessou funções em Julho de 2024, um ano depois de ter sido assumido o cargo. Pedro Amaral foi seleccionado entre as 21 candidaturas recebidas pelo júri do concurso internacional. Tem mandato para o quadriénio 2025-2028 e inicia funções a 1 de Setembro de 2025.

Composto por Conceição Amaral (presidente do júri), Rui Morais, Jorge Vaz de Carvalho, Isamay Benavente e Paolo Pinamonti, o júri escolheu por unanimidade o maestro e compositor nascido em Lisboa, em 1972. No texto em que foi anunciada a sua nomeação, é destacado um “profundo sentido de missão” e a clareza e coerência da proposta programática” da candidatura de Pedro Amaral, bem como a solidez da sua formação musical e a relevante experiência artística.

Segundo informa o júri, Pedro Amaral pretende, na sua direcção, focar-se na criação artística, no repertório, no património musical português, no desenvolvimento do talento e na criação portuguesa, com uma atenção especial e rigorosa na itinerância, na diversidade dos públicos e na construção de redes e colaborações internacionais.

ONU receia morte de 14 mil bebés em Gaza nas próximas 48 horas

Catorze mil bebés podem morrer nas próximas 48 horas em Gaza devido ao atraso na chegada de ajuda humanitária, alertou hoje o líder do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Tom Fletcher.

O número decorre, segundo disse o responsável da ONU em declarações à Rádio 4 da BBC, de uma avaliação feita pelas equipas do OCHA no terreno.

“Temos equipas fortes no terreno. Claro que muitos dos elementos dessas equipas foram mortos, mas ainda temos muitas pessoas no terreno. Estão em centros médicos, em escolas… a avaliar as necessidades”, adiantou.

“Quero salvar o maior numero possível destes 14 mil bebés nas próximas 48 horas”, acrescentou.

Referindo que a quantidade de ajuda que Israel está a permitir entrar em Gaza “é lamentável”, Tom Fletcher reiterou que a autorização de entrada de nove camiões de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, após 11 semanas de bloqueio, é “uma gota de água no oceano”.

Segundo sublinhou, até agora, apenas cinco camiões de ajuda humanitária tiveram acesso ao enclave palestiniano, o que “é uma ajuda totalmente inadequada” para as necessidades da população.

Embora nenhuma ajuda humanitária tenha entrado no território palestiniano desde 02 de março, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou no domingo que ia autorizar a entrada de uma “quantidade básica de alimentos destinados à população, a fim de evitar o desenvolvimento da fome na Faixa de Gaza”.

As autoridades israelitas já tinham anunciado que tinham deixado passar camiões com alimentos para bebés, sem especificar quantos, mas, de acordo com Fletcher, essa ajuda está tecnicamente em Gaza, mas não chegou aos civis, já que se mantém “do outro lado da fronteira”.

“A quantidade limitada [de alimentos] agora autorizada a entrar em Gaza não substitui, evidentemente, o acesso sem entraves aos civis necessitados”, insistiu Tom Fletcher, lembrando que as Nações Unidas têm um plano para fornecer ajuda em grande escala no território palestiniano.

Na semana passada, a ONU explicou que tinha camiões carregados com 171.000 toneladas de alimentos à espera de serem autorizados a entrar.

Durante o cessar-fogo de 42 dias entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, no início do ano, 4.000 camiões de ajuda entraram no território todas as semanas, segundo a ONU.

Fletcher apelou ainda a Israel para que abra “pelo menos dois pontos de passagem para Gaza”, para que “simplifique e acelere os procedimentos e levante todas as quotas”, a fim de satisfazer todas as necessidades em termos de “alimentos, água, higiene, abrigo, saúde ou combustível”.

Tom Fletcher adiantou esperar que Israel deixe entrar hoje 100 camiões em Gaza.

“Será difícil”, admitiu, garantindo que, se houver permissão, esses camiões, serão carregados com comida para bebés.

A abertura agora dada pelo Governo de Telavive foi justificada por Netanyahu com o receio de que as imagens de fome dos palestinianos fizessem com que os aliados de Israel retirassem o apoio militar e diplomático ao país.

As agências da ONU e as organizações não-governamentais (ONG) que trabalham em Gaza têm vindo, há várias semanas, a assinalar a escassez de alimentos, água potável, combustível e medicamentos no território palestiniano, em guerra há mais de 19 meses.

“Dois milhões de pessoas estão a passar fome” em Gaza, enquanto “toneladas de alimentos estão bloqueadas na fronteira”, lamentou o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Israel impôs um bloqueio ao território palestiniano de 2,4 milhões de habitantes em março, depois de ter posto termo a um cessar-fogo negociado em janeiro, durante o qual trocou vários reféns israelitas por prisioneiros palestinianos.

As eleições à luz da experiência europeia

Caro leitor, cara leitora

Primeiro, um pedido de desculpas. Tal como terá acontecido a muito boa gente, o resultado destas eleições foi ainda mais negro que o mais negro dos cenários que eu pudesse ter imaginado. Escrevi aqui que, em Bruxelas, não havia preocupação com as eleições portuguesas, ao contrário das presidenciais na Roménia ou na Polónia, porque a solidez dos dois grandes partidos portugueses garantia o rumo europeu e euro-atlântico do país, como sempre garantiu.

Ora, as eleições de domingo representam uma mudança estrutural do nosso sistema político-partidário – e não apenas um acidente de percurso –, sobretudo se olharmos para os seus resultados à luz da experiência dos nossos parceiros europeus. A maioria ampla que os dois grandes partidos democráticos garantiram desde as primeiras eleições livres desapareceu. O partido fundador da democracia e o primeiro responsável pela nossa inquestionável opção europeia perde o seu lugar central. Com quase total certeza, o partido nacionalista e populista que nasceu há menos de seis anos ganha o estatuto de líder da oposição no Parlamento.

André Ventura não verbaliza o seu antieuropeísmo com demasiada energia porque sabe até que ponto os portugueses valorizam a pertença à União Europeia. Segue, aliás, a prudência de alguns dos seus amigos europeus, como Marine Le Pen, que adoçaram o seu antieuropeísmo e a sua proximidade política a Trump, mas também a Putin, para se poderem “normalizar” junto dos eleitores e, mais recentemente, por causa da guerra e por causa das tarifas.

Mas o que Ventura defende é “trumpismo” puro e duro, à moda portuguesa – ao lado do “povo” contra as elites; contra os imigrantes que são o novo inimigo “externo”; contra a chamada cultura “woke“, por uma revolução ultraconservadora quanto baste. É uma espécie de etnonacionalismo cristão, à moda de Victor Orbán, que combate o alegado declínio moral da Europa laica, liberal e aberta ao mundo.

O seu sucesso, como na América ou na maioria dos países europeus, não advém só ou principalmente das más condições económicas de algumas camadas da população, embora em Portugal isso ajude. Vem do ressentimento de quem sente que não é visto pelos de cima, de quem perdeu estatuto social, com a acentuada terceirização da economia ou com a globalização do trabalho, quem vive em condições de mais difícil acesso aos bens materiais que se concentram no centro das grandes cidades. Mas também de quem pensa que os imigrantes prejudicam as escolas que os seus filhos frequentam ou o acesso aos serviços públicos de saúde ou até à habitação condigna. De quem é a culpa? Das elites – o “pântano” de Trump – e dos imigrantes.

Quem vota neles
Nos Estados Unidos, nas eleições presidenciais de Novembro passado, Kamala Harris venceu nas camadas mais educadas e com rendimentos superiores a 100 mil dólares; Trump, nas camadas mais modestas e menos educadas. Ou mesmo entre os imigrantes, muitos deles hispânicos, com o seu pequeno negócio ou com a sua fé católica, que vêem com péssimos olhos alguns aspectos da cultura “woke“, identitária e liberal dos democratas e que preferem um partido que pensam ser mais favorável aos seus negócios.

Há já alguns anos, entrevistei o sociólogo alemão Wolfgang Merkel, na altura conhecido por ter aconselhado alguns dos partidos de centro-esquerda europeus de tendência “terceira via” (ou “blairiana”, se preferir), precisamente sobre o que se adivinhava ser a crise subsequente dos partidos sociais-democratas e socialistas europeus. Lembro-me que Merkel avisou para o enorme risco de transferência dos votos nesses partidos para os movimentos extremistas e populistas da direita. Essa deslocação já tinha começado nos países com fortes partidos comunistas, directamente para as forças de extrema-direita.

O caso francês é paradigmático. Com a morte “natural” dos partidos comunistas depois de 1989, hoje, em alguns países europeus (não todos), assistimos a um fenómeno muito mais preocupante: como se viu por cá, os eleitores transferem-se directamente do PS para o Chega, depois de se terem transferido do PCP. Basta olhar para o mapa dos resultados – zonas tradicionalmente do PCP e, depois, do PS, todas pintadas a azul forte do Chega. Na margem sul, antigo bastião comunista e depois socialista, a única excepção foi Almada. No Alentejo, foi Évora, pintada desta vez a cor de laranja.

Portugal “europeizou-se”, no pior sentido da palavra, tal como acompanhou a tendência europeia de grande fragmentação do espectro partidário. Convém, de resto, reflectir nas experiências dos nossos parceiros europeus para lermos com mais atenção o que se espera do tsunami eleitoral de domingo. Ou seja, o que fazer com estes partidos populistas e nacionalistas.

Em países como a Alemanha ou a França, a fórmula do “cordão sanitário” permite conclusões diversas.

Na Alemanha, que não pode seguir outro caminho em face do seu passado, a AfD, que nasceu como um partido que se mobilizava apenas contra o euro, é hoje a segunda força política no Bundestag, com um discurso extremista, xenófobo, putinista e trumpista. Mesmo assim, a sua força eleitoral ainda vem significativamente dos antigos Lander da Alemanha de Leste.

Na França, o sistema maioritário a duas voltas tem permitido manter a União Nacional de Marine Le Pen fora do Governo, mas não a impediu de se transformar no maior partido francês. A estratégia de Le Pen não foi a da radicalização, como a AfD, mas a da “normalização”. Menos antieuropeísmo, mais “condições de vida”, o mesmo discurso contra os imigrantes ilegais, sobretudo de origem islâmica.

A Áustria é um caso interessante. O Partido Liberal, de extrema-direita, hoje liderado por Herbert Kickl, já participou três vezes na governação, como parceiro menor dos conservadores de centro-direita, convencidos de que essa participação o “domesticaria”. Envolveu-se em escândalos de corrupção. O efeito foi o contrário: a radicalização. Nas últimas eleições, no ano passado, foi o partido mais votado, sobretudo com a sua aposta na estigmatização dos imigrantes e na recusa em apoiar a Ucrânia contra a invasão russa, com o pretexto do estatuto, que ainda mantém, de “neutralidade.”

No final da II Guerra, a Áustria alegou ter sido anexada pela Alemanha nazi (o Anschluss) para não passar pelo processo de desnazificação. Na verdade, o nazismo criou raízes. Recebeu, proporcionalmente à sua população, mais refugiados sírios ou afegãos do que a própria Alemanha de Merkel ou a Suécia. Mas, tal como acontece, por exemplo, no Reino Unidos, os apoiantes do partido de extrema-direita concentram-se mais nas regiões da província onde a imigração é menor e perdem em Viena, onde as populações migrantes se concentram. Viena continua a ser “vermelha”, da cor da social-democracia. Desta vez, a resposta à vitória do partido de Herbert Kickl foi diferente – uma coligação entre os partidos do arco democrático, incluindo o centro-direita e o centro-esquerda, à imagem e semelhança da “grande coligação” alemã.

Na Suécia, Noruega e Finlândia, houve ou há governos de centro-direita que aceitam ou aceitaram o apoio parlamentar da extrema-direita. É o caso do Governo de Estocolmo, cujo primeiro-ministro, Ulf Kristersson, líder do Partido Moderado, que ficou em terceiro lugar nas últimas eleições, com os sociais-democratas em primeiro e o Partido dos Suecos, de direita nacionalista, em segundo, mas que conseguiu negociar com este último o seu apoio parlamentar a um Governo minoritário.

O caso dos Países Baixos também é interessante. O partido populista de Geert Wilders, profundamente xenófobo, venceu as últimas eleições, mas abdicou de liderar um Governo de coligação com outros partidos de direita e centro-direita a favor de um primeiro-ministro tecnocrata.

Mas, como é fácil de compreender, a vaga de extrema-direita não dá sinais de regredir e não há uma fórmula bem-sucedida, pelo menos até agora, para a travar. Muitos partidos de centro-direita tentaram seguir a via da “imitação” de algumas das bandeiras da extrema-direita e, em primeiro lugar, da bandeira contra a imigração. Foi assim em França ou, em parte, na Alemanha e na Áustria. O resultado não tem sido o de enfraquecê-las, mas antes fortalecê-las, ao “normalizar” o seu discurso.

Nada de radicalmente diferente aconteceu em Portugal, com a AD a tentar um discurso eleitoral sobre a imigração e a segurança mais próximo do de Ventura. Não travou o crescimento do Chega.

A polarização
Da mesma maneira, caro leitor, cara leitora, que aquele crescimento não é travado por uma campanha de “todos contra todos”, nomeadamente entre o PS e o PSD, quando todos sabemos, por longos anos de experiência, que os dois partidos, ainda que distintos na sua visão da sociedade, têm muitos pontos de convergência que tornam as pontes entre ambos relativamente fáceis.

Mas não. Pareciam pertencer a galáxias diferentes – o PSD pouco interessado em batalhas programáticas e mais interessado em cavalgar as benesses que ofereceu a várias classes profissionais graças aos excedentes de António Costa, e a tentar roubar eleitorado do Chega; o PS sem conseguir disfarçar a sua versão mais radical, que sempre foi minoritária e que sempre o afastou do poder quando prevaleceu. Um partido relativamente envelhecido, muito agarrado aos sectores mais imobilistas da sociedade – os pensionistas, naturalmente, ou os funcionários públicos. Ou, a uma certa cultura, “bloquista” fracturante, que já deu o que tinha a dar, como também se viu nestas eleições ou nas americanas, que não diz nada aos “de baixo”, aos invisíveis, aos ressentidos.

As “profecias” de Wolfgang Merkel estão a cumprir-se, também aqui. Infelizmente.

E a Europa?
Voltando ao início desta newsletter, o sistema político mudou estruturalmente, o que também pode abrir as portas a mudanças estruturais nas grandes orientações políticas do país, nomeadamente na sua inserção europeia. Ainda não vimos Ventura a apontar ostensivamente o dedo a Bruxelas, mas nada nos garante que não o fará.

Muita coisa dependerá da sabedoria e da lucidez com que PS e PSD olharem para a frente e compreenderem de onde vem a ameaça à democracia portuguesa e à própria União Europeia

A exuberância de Luís Montenegro na noite eleitoral compreende-se. Venceu, aumentou a votação, espera apagar os efeitos do caso Spinumviva sobre a sua idoneidade política. Devia ter sido mais comedido, interpretando os resultados eleitorais como um aviso a tempos difíceis que aí vêm. Vai ceder ao Chega, como muita gente desejaria dentro do PSD? Vai manter o “cordão sanitário”? Uma nova liderança no PS permitirá que faça o que fazem muitos dos nossos parceiros europeus – entendimentos ao centro , para que o centro democrático não colapse perante a vaga extremista?

As campanhas eleitorais dos maiores partidos do centro democrático foram paupérrimas, ignoraram a Europa e o mundo, polarizaram ainda mais o discurso político. Tudo o que não deveriam ter feito. Agora têm de olhar com toda a atenção para os desafios e os perigos enormes que a Europa enfrenta e decidirem em conformidade.

Tenha uma boa semana.

PSP abre processo disciplinar a agente que agrediu adepto algemado durante os festejos do Sporting

A Polícia de Segurança Pública (PSP) abriu um procedimento disciplinar ao agente que foi filmado a agredir na barriga um jovem algemado, este sábado, durante os festejos do bicampeonato do Sporting.

Em resposta ao Observador, a PSP adianta que “depois do conhecimento da situação, foi de imediato aberto procedimento disciplinar pela PSP, em processo autónomo” da ocorrência registada na Praça do Saldanha, em Lisboa, em que outro adepto perdeu um olho após ter sido atingido por uma bala de borracha.

A força de segurança afirma que o adepto algemado cuja agressão foi filmada tinha sido detido “por resistência e coação sobre funcionário (polícia da PSP), comunicada de imediato ao Ministério Público”.

Em causa está um vídeo que entretanto começou a circular nas redes sociais, assim como em vários canais de televisão, onde é possível ver um agente da PSP a agredir um adepto que estava algemado e que teria sido detido para ser identificado. Vários utilizadores das redes sociais indicaram que o adepto em questão tinha sido detido por posse e uso de pirotecnia, mas a PSP refere então que a detenção esteve relacionada por resistência e coação a um agente.

PSP abre inquérito após adepto do Sporting ter ficado cego de um olho devido a bala de borracha disparada nos festejos

De recordar que, também no sábado, um adepto foi atingido por uma bala de borracha disparada por um agente da PSP na Praça do Saldanha, acabando por ficar totalmente cego de um olho após ser submetido a uma cirurgia no Hospital de São José. Ao Observador, a força de segurança confirmou estar a conduzir um processo de inquérito ao incidente, sendo que o adepto em questão pretende processar a PSP e o Estado português por negligência.

“Eu estava com amigos. À nossa volta estava tudo a abrir fogo de artifício e engenhos pirotécnicos. Como já tinha a experiência do ano anterior e sabia que a polícia podia intervir com cassetetes, procurei afastar-me tanto quanto pude. De repente vi agentes armados com ‘shotgun’ a disparar sobre a multidão e o que aconteceu foi que uma bala perdida acertou-me no olho esquerdo e fiquei cego”, disse o adepto leonino em declarações ao jornal Record.