11 exemplos de falsas acusações contra pais e mães alienados

Neste e no artigo da semana passada “qual o objetivo das falsas denúncias ou acusações? vivências de pais e mãe alienados”, analisamos as descrições de vivências que nos foram partilhadas por vários pais e mães alienados, vítimas de falsas acusações ou denúncias.

Este texto reúne diversos testemunhos e relatos de quatro Mães (Joana, Rita, Anamare e Sara), e seis Pais (João, José, Tomás, Vasco, Henrique e Rui – nomes fictícios) sobre falsas imputações e denúncias/acusações em processos de Alienação Parental que permitem ilustrar onze estratégias de falsas denúncias ou falsas acusações usadas pelo pai/mãe alienador com vários intuitos, especialmente o de afastar o outro o pai/mãe alineado da vida do(s) filhos(s).

ONZE FALSAS IMPUTAÇÕES E DENÚNCIAS/ACUSAÇÕES

1.Realizar falsas imputações e denúncias/acusações sobre o USO DE DROGAS E ÁLCOOL

Henrique relatou-nos que foi vítima de uma falsa acusação por parte da mãe alienadora indicando que ele teria um problema de alcoolismo, realizada com o objetivo de construir uma imagem sua negativa e afastar os filhos de si: “Falsas acusações…de ter um problema de alcoolismo”.

2.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de ABUSO SEXUAL 

Anamare identificou as falsas acusações de abuso sexual que o pai alienador realizou ao seu companheiro. Acusações falsas, porque nunca aconteceram. Contou que o relato deste episódio foi analisado pelo tribunal como manipulado pelo pai, o que reforça a questão de que a acusação foi falsa: “Que o companheiro da mãe na presença desta tirou uma fotografia à criança enquanto esta tomava banho. Para além de ser mãe, esta situação não aconteceu. A minha filha só tomava banho quando eu estava em casa e durante a semana acontecia no final do dia. Interessa reforçar que esta acusação foi feita em tribunal na audição da criança a quando do pedido de alteração das responsabilidades parentais uma vez que o pai requereu a guarda total e exclusiva da menor com base nas falsas acusações. Foi mais analisado pelo Tribunal que o relato da criança foi forçado para a situação específica. Mas a criança foi retirada da mãe, as marcas ficaram. Ficou o rasgo da dor de ser surpreendida em Tribunal e ficaram as feridas da acusação”.

O Rui contou-nos que foi vítima de falsas acusações de abuso sexual, proferidas pela mãe alienadora como uma estratégia de difamação para o afastar dos seus filhos: “Fui vítima de difamação…A mãe fez falsas acusações contra o pai, como abuso sexual, para afastá-lo das crianças…. “.

3.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de que o pai ou mãe alienada é uma PESSOA PERIGOSA

A Joana relatou que foi falsamente acusada pelo pai alienador de que era uma pessoa perigosa com o objetivo de a desqualificar como mãe perante a filha e o sistema judicial: “Acusou-me de possuir uma arma (nunca na minha vida, sequer, peguei numa arma, quanto mais ter uma!) …e de ser uma potencial traficante…. Fui acusada de ser …traficante. Valia tudo…Fui acusada …de ser maluca…era eu que punha a minha filha a par de todo o processo, a decorrer no tribunal, eu era, na boca dele, um monstro”.

O Tomás  partilhou-nos que a filha estava manipulada por discursos negativos da mãe alienadora e que, por isso, perante qualquer contrariedade, a filha tornava-se agressiva procurando assim validar aquilo que lhe foi dito pela mãe sobre o pai: “Para além disso e como é normal na idade, a minha filha testa limites mas no caso dela qualquer contrariedade que encontra quando está comigo desperta uma narrativa de “não me respeitas” , “os homens não interessam” ou “ “todos os adultos são mentirosos”, procurando a cada momento confirmar aquilo que lhe foi dito sobre mim pela mãe”.

4.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de MAUS TRATOS FÍSICOS

A Sara mencionou a dor e angústia decorrente do facto de ser vítima de falsas e injustas acusações repetidas, tendo sido arquivadas por falta de provas. Mas dor é ainda maior, porque estas falsas acusações afetam a sua relação com os seus filhos: “Já fui alvo de queixa de violência doméstica contra os meus filhos quatro vezes, mas os processos foram sempre arquivados. Não porque alguém me defendeu, mas porque não havia nada…dizem que os magoo, que os aperto de propósito para os fazer chorar…que lhes bato repetidamente…dizem…. até que até o meu companheiro os agrediu”.

Magoada, Joana contou como o pai alienador a acusava falsamente de influenciar a sua filha contra ele e de bater e maltratar a sua filha: “Era eu que influenciava a minha filha contra ele, era eu que a tratava mal, em todos os aspetos…bater…”.

Rita vive um enorme sofrimento emocional de treze anos de acusações persistentes, num processo prolongado, contínuo e desgastante, caracterizado por um  padrão recorrente de graves falsas acusações e maus tratos e violência física, sem provas,  que tem como consequência o seu descrédito e o desgaste do vínculo parental com danos irreparáveis,  assistindo à dor de ver o próprio filho, que antes era afetuoso, acreditar que a mãe é uma agora uma agressora: “Há 13 anos que vivemos um pesadelo silencioso. Um pesadelo que começou com falsas acusações — maus-tratos, violência física, ……. Denúncias infundadas que nunca foram sustentadas por provas, mas que foram ditas com tanta convicção que, aos poucos, se tornaram verdades perigosas…acreditar no filho é natural. Ouvir a sua voz a dizer que o pai que sempre o protegeu é, afinal, um agressor — é uma dor indescritível. Como lidar quando a boca que pronuncia essas palavras é a mesma boca que, um dia, chamou por nós com carinho e confiança?”

Anamare vítima de falsas acusações, repetidas e infundadas, que distorcem episódios verídicos que são dissimuladamente alterados para sustentar e reforçar as acusações de narrativas de perigo e indignidade do pai alienador: “Que a mãe maltrata a filha, batendo…Para além de ser mãe, nunca bati e/ou batemos na criança. Esta situação foi-se agravando e constantemente incluíram acusações. Nessa altura estávamos com regime de residência alternada, o que fazia com que semanalmente existissem acusações baseadas sempre em algum acontecimento verídico que era distorcido e alterado para outra situação acusatória”.

O Vasco assinalou o profundo sofrimento emocional que lhe gera o padrão de graves falsas acusações de maus tratos físicos a que tem sido sujeito, com um impacto jurídico direto. Destas, apenas uma situação que chegou a julgamento e mostrou-se deturpada nos fatos, sendo que cinco das seis acusações foram descartadas com facilidade. Este pai referiu que, mesmo que não tenha sido condenado, o simples fato de enfrentar essas acusações já causa uma estigmatização e um possível afastamento da convivência com os filhos: “um péssimo pai que batia nos filhos e os colocava de castigo vezes sem conta….uma pessoa altamente violenta que agrediu barbaramente a esposa no quarto, tendo feito tal ataque hediondo diante dos filhos …. Não foi preciso contratar os melhores advogados de Portugal para fazer cair 5 dessas 6 acusações. E na que ficou em cima da mesa, percebeu-se no julgamento que o que ocorreu foi muito diferente do que constava na acusação”.

Outro exemplo de sujeição a um padrão recorrente de falsas acusações é o do Henrique. Neste caso, com ênfase na caracterização de uma personalidade perigosa, rotulada de “agressivo” e “imprevisível” pela mãe alienadora. Mesmo sem provas e sustentação, tais acusações afetam a imagem do pai diante do seu filho e da sociedade, e cumprem o papel de afastar ou desacreditar este pai alienado: “Falsas acusações…de ser agressivo e imprevisível…”.

O Rui partilhou que foi vítima de uma falsa grave acusação de abuso físico, uma grave difamação, de uma denúncia sem provas, em que a sua reputação foi intencionalmente atacada: “Fui vítima de difamação…A mãe fez falsas acusações contra o pai, como abuso físico”.

5.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de MAUS TRATOS VERBAIS
A Joana é um exemplo de uma vítima de falsas acusações e de maus tratos verbais à sua filha pelo pai alienador: “era eu que a tratava mal, em todos os aspetos …ofender…”. Já o Vasco relatou ter sido vítima falsas acusações de maus-tratos verbais à mãe dos filhos: “constava na acusação do Ministério Público: que estávamos perante um mau marido que desrespeitava a esposa e a insultava repetidamente…”.

6.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de MAUS TRATOS EMOCIONAIS OU PSICOLÓGICOS
Ao longo de 13 anos, a Rita foi vítima de falsas acusações de maus-tratos emocionais e psicológicos, acusações infundadas e nunca comprovadas com evidências e que, tantas vezes, afirmadas com convicção ganharam a força que as transformou em histórias verdadeiras, com consequências graves para a sua família: “Há 13 anos que vivemos um pesadelo silencioso. Um pesadelo que começou com falsas acusações — maus-tratos, violência … emocional. Denúncias infundadas que nunca foram sustentadas por provas, mas que foram ditas com tanta convicção que, aos poucos, se tornaram verdades perigosas…começaram as insinuações. A irmã é a preferida. A irmã é a mais amada. É por ela que se faz tudo, é ela que recebe presentes, é ela que ocupa o lugar que o irmão nunca teve. “Só depois dela nascer é que o pai aprendeu a ser pai,” diziam. “Foi só depois dela que o pai começou a dar amor”.

O Tomás foi vítima de manipulação emocional por meio de uma informação falsa ou distorcida intencionalmente, com consequência na perceção que a filha tem dele:  “Mostrou-lhe mensagens falsas ou descontextualizadas…. Fê-la acreditar que só lhe dou “roupa velha e usada”…Criou-lhe uma narrativa de que não tenho dinheiro para lhe dar mais coisas enquanto a mãe lhe dá tudo”.

Com um sentimento de injustiça e parcialidade face ao sistema judicial e às decisões tomadas pelo tribunal, Joana revela ter sido exposta a realização de testes psicológicos, enquanto o pai alienador foi salvaguardado disso: “Assim como, o tribunal, também requer testes psicológicos, mas só a mim, salvaguardando o pai”.

7.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de NEGLIGÊNCIA 

A Sara afirma ter sido falsamente acusada de negligência e de incompetência quanto à prestação de cuidados básicos aos filhos, uma acusação injusta como mãe: “Dizem …que não sou capaz de cuidar deles, que não lhes ofereço condições de higiene, que os faço passar fome”.

De forma semelhante, a Anamare mencionou as falsas acusações do pai alienador relativamente ao facto de ser negligente na educação da filha, numa total desvalorização das suas competências maternas: “Falsas acusações por parte do pai da filha em comum Que eu não percebo nada de educação e que não sei escolher o que seja melhor para a filha… Para além de ser mãe, tenho formação e trabalho na área da educação, sempre promovi a inclusão de propostas diferenciadas na área formativa. Pelo contrário o pai pretende uma única área, ocupação extraescola com explicações, levando a que a criança não esteja focada no período escolar, conversando constantemente, uma vez que sabe que depois terá um ensino individualizado”.

Henrique conta que foi alvo de falsas acusações por parte da mãe alienadora, de forma infundada e instrumentalizada em contextos de conflito conjugal ou pós-divórcio, visando a construção de uma imagem sua distorcida, como sendo um pai ausente ou autoritário: “Falsas acusações …de que eu não me preocupava com os filhos (antes e depois do divorcio) …Falsas acusações …..de ser um pai-patrão”.

8.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de ABANDONO E/OU CULPABILIZAÇÃO PELA SEPARAÇÃO

O Tomás referiu-se a acusações que distorcem a realidade dos fatos da separação e que geraram danos profundos da sua imagem paterna e do vínculo com a filha: “Foi-lhe dito que “expulsei a mãe quando estava grávida”, criando uma narrativa de abandono que nunca existiu”.

Henrique relatou ter sido vítima de acusações emocionalmente devastadoras por parte da mãe alienadora, que o retratava como um pai constantemente ausente e desinteressado na vida dos filhos. Estas falsas imputações foram usadas repetidamente como instrumento para justificar o afastamento emocional entre pai e filhos, apresentando-o como dispensável, o que contribuiu para a recusa de convívio por parte dos filhos: “Falsas acusações…de que ele sempre foi ausente na vida dos filhos (esta a mais grave provavelmente)”.

Alvo de falsas acusações  e de ter sido o responsável pelo fim do casamento, o caso do Rui é um exemplo claro de Alienação Parental ativa. A mãe manipulou emocionalmente os filhos, de forma intencional e sistemática, distorcendo a realidade com o objetivo de destruir o vínculo entre pai e filhos: “A mãe, com uma frieza calculista, manipulou as crianças, colocando-as contra o pai e distorcendo a realidade…A mãe coloca as crianças contra o pai, fazendo-as acreditar que ele é o culpado pela separação ou pelos problemas da família”.

9.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de PERSEGUIÇÃO

O Vasco referiu que foi vítima de falsas acusações de perseguição e exposto ao uso de narrativas distorcidas por parte da mãe alienadora, com o objetivo de criminalizar comportamentos parentais normais, destruir a sua reputação e justificar o afastamento familiar. Estas falsas alegações serviram ainda para impedir o contacto com os filhos e sustentar pedidos de medidas protetivas injustificadas: “uma pessoa com uma personalidade doentia que perseguia a sua ex-companheira ao ponto de esta ter de mudar de emprego, e um indivíduo que não olhava a meios para perseguir e controlar os filhos na escola, catequese e no parque que habitualmente frequentavam”.

 10.Proferir falsas imputações e denúncias/acusações de MENTIROSA

A Joana relatou ter sido alvo de falsas acusações que visavam diretamente a sua integridade e credibilidade enquanto mãe e pessoa. “Fui acusada de ser… mentirosa”, afirmou. Esta acusação, embora aparentemente simples, tem um efeito profundamente desestabilizador — pois visa deslegitimar qualquer narrativa ou posicionamento que Joana apresente, seja no contexto judicial, familiar ou institucional: “Fui acusada de ser …. mentirosa…”.

O Tomás é rotulado de ‘ladrão’ pela mãe alienadora que convenceu falsamente a filha de que o pai é uma pessoa que mente constantemente: “Disse-lhe que sou um “ladrão” e que roubei coisa que nunca fiz….Convenceu-a de que minto constantemente…”.

11.Proferir falsas imputações e acusações de comportamentos e atitudes que o alienador praticou, atribuindo-os ao alienado, através da falsificação ou distorção dos fatos.

A Joana partilhou que o pai alienador a acusa falsamente de comportamentos que ele próprio cometia: “Ou seja, o progenitor acusou-me do que ele fazia…É uma pessoa com um distúrbio mental, que fazem da vítima o seu “espelho”, o seu “reflexo”.

No mesmo sentido, o Rui referiu que a mãe formulou acusações falsas contra ele, distorcendo os fatos e imputando ao pai condutas que, na realidade, foram praticadas por ela própria. Essa inversão dos acontecimentos tem causado confusão nas crianças e prejudicado a sua perceção da verdade, dificultando a resolução adequada dos conflitos familiares: “A mãe…diz que o Pai colocou um processo contra a Mãe (como, declarações da Polícia Judiciária; quando exatamente foi o contrário… A mãe acusou-me falsamente …inverteu a realidade, acusando o pai de ações que ela própria cometeu, confundindo as crianças e distorcendo a verdade…. O meu filho nas declarações à Polícia Judicial.  Diz que o Pai colocou um processo contra a Mãe; quando foi o contrário”.

Já o Tomás relatou que foi acusado injustamente de enviar “mensagens horríveis” à mãe, o que não corresponde à realidade, pois, segundo ele, na verdade nunca responde às mensagens por ela enviadas, demonstrando assim que a alegação é infundada e distorce os fatos: “Disse-lhe que envio “mensagens horríveis” à mãe quando é precisamente o contrário e nunca respondo a essas mensagens”.

MENSAGENS DE DOR E DESESPERO

Deixamos agora algumas mensagens de dor e desespero de mães/pais vítimas de Alienação Parental, através de falsas acusações ou denúncias.

O Tomás relatou que os momentos que partilha com a filha se tornaram emocionalmente exaustivos, marcados por um esforço constante para desconstruir as falsas narrativas implantadas pela mãe alienadora. O processo de reconstrução de uma relação saudável é assim dificultado por sabotagens contínuas, criando um ambiente de tensão e dor: “Neste momento os momentos em que estou com a minha filha transforma-se cada vez mais numa batalha para desmontar as falsas narrativas que lhe foram incutidas. É exaustivo e doloroso tentar reconstruir uma relação saudável quando constantemente sabotada pela outra parte”.

O José destaca uma das consequências mais perversas das falsas acusações em contextos de Alienação Parental – a inversão do princípio da presunção de inocência. Relata como, mesmo sem provas, se instala imediatamente uma suspeita que contamina a sua imagem e prejudica a sua relação com os filhos. A recuperação do vínculo torna-se extremamente difícil, mesmo quando a verdade é restabelecida: “Instala-se a suspeita e aqui o princípio de inocente até prova em contrário funciona no inverso, culpado ou muito suspeito, até provar que está inocente e mesmo que o consiga provar, os danos estão feitos e os recuperar é sempre complicado”.

O Vasco denunciou a lógica distorcida que impera no sistema de Justiça em casos de conflito parental, onde a verdade é frequentemente secundarizada em favor de estratégias processuais manipuladoras. Sublinha que esta dinâmica não apenas mina a imagem da justiça, como compromete seriamente o bem-estar das crianças e das suas famílias. Na sua crítica incisiva refere-se a um sistema onde “vence” quem melhor representa um papel, deixando as verdadeiras vítimas, os filhos, a pagar um elevado preço emocional para sempre: “Esta lógica justiceira do nosso sistema de Justiça representa uma ameaça ao bem-estar das crianças e jovens, mas também das suas famílias. “Vence” o processo em Tribunal quem mais mentiras papaguear e quem melhor treinar a coreografia… No fim, as crianças é que pagam. Ficam com marcas para toda a vida”.

A Rita partilhou um testemunho marcado pela persistência, dor e resistência emocional. Ao longo de anos, ela e a sua família lutaram para se manterem firmes perante uma realidade profundamente injusta. No entanto, a intensidade das falsas acusações e a repetição de mentiras através da voz do próprio filho desencadearam profundos abalos emocionais que lhes esvaziam a esperança e deixam marcas irreversíveis: “Durante anos, tentámos ser fortes. Tentámos manter a sanidade, a esperança, o amor. Mas houve momentos em que nos faltaram forças. Quando as acusações se intensificaram, quando as palavras se tornaram punhais, quando a dor de ouvir o nosso filho repetir mentiras nos deixou sem chão”.

A Sara vive uma realidade marcada por uma ausência que vai muito além da presença física, a ausência do afeto espontâneo de um filho. A sua dor é agravada pelo sentimento de injustiça, por nunca lhe ter sido dada a oportunidade real de se defender das acusações que a afastaram dos filhos: “Vivo e sobrevivo na ausência de um simples “amo-te mamã” e tudo isso sem que me fosse dada a oportunidade justa de me defender”.

FINALIZANDO COM MENSAGENS DE ESPERANÇA

A Sara viveu com o coração suspenso, entre a dor e a esperança. Para além da falta dos gestos simples de afeto por parte dos filhos, a sua voz foi muitas vezes silenciada por processos que não lhe permitiram defender-se com justiça: “Este é o meu testemunho. Um grito silencioso de quem foi calada demasiadas vezes. Um desabafo de uma mãe que só quer voltar a ser vista pelos filhos como sempre foi: um porto seguro. Esta partilha é a minha forma de dizer a outros pais e mães que não estão sozinhos. A verdade tarda, mas não deve falhar…hoje, continuo a lutar pelo direito de estar presente na vida deles, não por ego, mas porque acredito que os filhos têm o direito de amar e ser amados por ambos os pais, sem interferências…”. Não obstante transmite-nos uma mensagem de esperança, profundamente comovente e que carrega um peso emocional que muitas mães (e pais) certamente reconhecem: “Não sou perfeita. Mas sou mãe. A Mãe que ama, que chora sozinha à noite, que se levanta todos os dias com a esperança de que a verdade um dia vença…Sou a Mãe que luta, não para vencer ninguém, mas para estar presente, nos poucos momentos que atualmente me permitem, para os continuar a amar, apesar de tudo, e apesar de muitas vezes ser maltratada pelos meus próprios filhos, mas eles não têm a culpa”.

De igual forma a Rita quis testemunhar a outros pais a sua dor pela injustiça, mas também a sua esperança: “Hoje, escrevemos para todos os pais, madrastas, irmãos e avós que vivem esta dor silenciosa. Para todos aqueles que ouvem mentiras nas vozes de quem mais amam. Para todos aqueles que são tratados como culpados sem julgamento, sem provas, sem verdade…E escrevemos também para os que acreditam sem questionar. Para os que ouvem as mentiras e as aceitam sem pensar no que está por trás. Pensem. Reflitam. Nem tudo o que é dito é verdade. E, às vezes, a voz que ecoa a acusação é apenas o eco de outra voz, que manipula, distorce, controla…A verdade pode ser sufocada, mas não pode ser destruída. E um dia, ela há de emergir, trazendo consigo a paz que todos aqueles que amam verdadeiramente merecem”.

O testemunho carrega uma intensidade emocional profunda e representa a realidade dolorosa que muitas mães e pais enfrentam em silêncio. A Joana expressa a sua dor, um sentimento de impotência, mas também de coragem: “O tribunal entrega a minha filha a um pai mentalmente disfuncional, alienador, mentiroso compulsivo, que maltratou, gravemente, a minha filha. A minha filha sofreu maus tratos psicológicos, físicos e verbais graves…Passados 4 anos e meio, a minha filha, com 12 anos, revolta -se e, ainda que com pânico do pai, enfrenta-o e quando vem para junto de mim não a deixo mais”.

O testemunho do José traz uma mensagem de esperança, resistência e amor incondicional, fundamentais para equilibrar a dor e a injustiça sentidas: “Infelizmente sei bem o que é o fenómeno da Alienação. Nunca desistir, nunca baixar os braços, momentos mais difíceis podem servir para ganhar balanço para seguir em frente ainda com mais determinação. Não podemos desistir das crianças e sempre acreditar que um dia elas vão acordar e precisar de todo o nosso apoio quando entenderem o que lhes aconteceu. Só assim se o poderá travar, mas mesmo assim haverá sempre quem o tente e em muitos casos a suspeita sobre quem é visado vai se manter. Amor, muito, ele vai sempre um dia vencer”.

Gastos com cirurgias extra aumentaram 75% nos hospitais de Lisboa em dois anos. Só em 2024, custaram 40 milhões

Assim, em 2022 foram feitas 7.495 cirurgias adicionais (30,7%) do total. Em 2023, foram realizadas 9.971 (35,6% do total nesse ano), e, em 2024, 12.322 (38% do total). Relativamente à estabilização dos valores com cirurgias adicionais no último ano (que contrasta com o aumento do número total de procedimentos), o Conselho de Administração da ULS de Santa Maria, agora liderado por Carlos Martins, sublinha que isso se deveu a “medidas implementadas e que resultaram numa redução de cerca de 10% no custo médio por cirurgia em produção adicional”.

A decisão foi tomada quando foram detetados pagamentos avultados no serviço de Dermatologia, conhecidos desde a passada sexta-feira, quando a CNN revelou que um dermatologista do Hospital de Santa Maria terá recebido 400 mil euros em 10 sábados de trabalho adicional em 2024.

Noutra ULS onde os dermatologistas estão a ser escrutinados devido aos elevados valores auferidos com cirurgias adicionais, a do Algarve, os gastos também aumentaram e muito em apenas dois anos. De 2022 para 2024, o valor alocado aos pagamentos aos profissionais por cirurgias fora do horário normal de trabalho passou de 4,9 milhões para 7,8 milhões, um aumento de cerca de 60%.

Dermatologista do Santa Maria somou ao todo quase 715 mil euros, mas a codificação estaria correta

Nesse mesmo período, e segundo dados enviados ao Observador pela ULS do Algarve, também aumentou consideravelmente a proporção das cirurgias adicionais em relação às totais. Enquanto em 2022, apenas 29,5% das cirurgias eram feitas em horário extra, essa percentagem escalou para os 36,6%  no ano seguinte, e para os 42,1% em 2024 (ou seja, quase metade de todas as cirurgias foram feitas em horário adicional no ano passado). Fonte da ULS do Algarve explicou ao Observador que esta situação está relacionada com a extrema carência de especialistas nesta região do país, e que se tem vindo a agudizar nos últimos anos (potenciando o trabalho adicional realizada com as equipas reduzidas que ainda se mantêm nas unidades públicas da região, onde prolifera a medicina privada).

Já na maior ULS da zona centro, em Coimbra, os gastos com cirurgias também tiveram aumentos expressivos, de cerca de 50% no espaço de dois anos. Passaram de 5,3 milhões em 2022 para 6,5 milhões em 2023 e depois, em 2o24, aumentaram para os 8,2 milhões, segundo informação enviada ao Observador pela ULS de Coimbra. No mesmo período, o número de doentes intervencionados em horário adicional cresceu 62%, passando de 6.128 em 2022 para 9.942 em 2024 (o que representa 29% das cirurgias totais).

[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 2.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui.]

o zé faz 25 — imagem para link nos artigos

Ainda em Lisboa, a ULS de Lisboa Ocidental (que abarca os Hospitais São Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz) escolheu não divulgar os gastos totais, preferindo enviar informação acerca do gasto médio por cirurgia adicional, que se manteve estável aos longo dos últimos três. Em média, um cirurgia deste tipo custou a esta ULS 995 euros em 2022, 1072 euros em 2023 e 929 euros no ano passado. Quanto ao número absoluto de cirurgias realizadas em horário adicional, estas quase duplicaram em apenas dois anos (passando de 4.004 em 2022 para 7.642 em 2024, um aumento de 90%). Enquanto em 2022, estas cirurgias fora do horário normal dos profissionais representaram 23,1% do total, em 2024 foram já 34,7% do total de cirurgias programadas.

Assim, e extrapolando o gasto médio em relação ao número de cirurgias adicionais realizadas a cada ano nesta ULS, concluiu-se que foram gastos foram de cerca de quatro milhões de euros em 2022 e de 7,1 milhões de euros em 2024 — um aumento de cerca de 78% em dois anos.

No IPO de Lisboa, as cirurgias adicionais custaram 5,8 milhões em 2024, avançou ao Observador o gabinete de imprensa do instituto. Ao todo, as unidades hospitalares públicas da região de Lisboa (ULS de Santa Maria, ULS de São José, ULS de Lisboa Ocidental e IPO de Lisboa) gastaram cerca de 40 milhões em cirurgias adicionais em 2024.

Número de cirurgias extra no SNS disparou quase 80% em apenas três anos. Direção Executiva não divulga os gastos

Na zona norte, o Observador questionou a ULS de Santo António e a ULS de São João, mas só primeira respondeu, ainda que não tenha enviado valores referentes a gastos. No ano passado, esta ULS fez 13.648 cirurgias em horário adicional, o que corresponde a 33,9% do total de cirurgias.

No início desta semana, a Direção Executiva do SNS revelava que o número de cirurgias adicionais realizadas ao abrigo do programa SIGIC, de recuperação da atividade em atraso, aumentara 77% desde 2021 e 50% desde 2022. No ano passado, foram realizadas cerca de 239 mil cirurgias em produção adicional nos hospitais do SNS. O crescimento da produção adicional foi, no entanto, muito superior ao da produção convencional, que, desde 2021 aumentou apenas 12% e desde 2022 até 2024 cresceu 7%.

A Direção Executiva do SNS decidiu ainda não a evolução dos gastos com a produção cirúrgica adicional no SNS — apesar de o Observador ter pedido esses dados.

“As pessoas vão para a praia para trabalhar? É só gente a discutir e a falar alto ao telemóvel”

Esta semana no Irritações, Luís Pedro Nunes aborda o caso em torno do anúncio anti-aborto patrocionado por Miguel Milhão, e transmitido em alguns canais de TV, para deixar uma crítica a quem continua ligado à marca ‘Prozis’: “As ‘fit influencers’ disseram-se tão chocadas mas não cortaram com a marca? Querem cancelar mas continuam a dar códigos…”. Luana do Bem relata um episódio ‘de nervos’, após uma ida à praia, praia essa que, considera, está transformada “num escritório”. No entanto, vai mais longe: “Já não há toalhas individuais com a cara do Ronaldo. Agora têm todas 3 metros e estão cheias de mandalas”. Já José de Pina lança um alerta, após uma preocupação: “Já não há reformados a verem obras. Agora é só a mania da segurança e já nem se vê nada”. Com moderação de Pedro Boucherie Mendes, o Irritações foi emitido a 30 de maio, na SIC Radical.

Um programa com muita controvérsia, algum humor e bastante ironia. José de Pina, Luís Pedro Nunes e Luana do Bem debatem em estúdio com Pedro Boucherie Mendes sobre aquilo que os irrita de forma geral e em particular. Ouça mais episódios:

Homem morre após ser colhido por comboio no Porto

Um homem de 38 anos morreu esta sexta-feira depois de ter sido colhido por um comboio na linha que faz a ligação da estação de São Bento à estação de Campanhã, no Porto, adiantaram à Lusa fontes de segurança.

O acidente, com alerta pelas 21h15 desta sexta-feira ocorreu na zona dos túneis que ligam São Bento à Campanha, referiu fonte dos Bombeiros Sapadores do Porto.

Fonte da PSP do Porto detalhou que a vítima é um homem com cerca de 38 anos, acrescentando que as circunstâncias do acidente ainda estão a ser apuradas.

O atropelamento causou atrasos em vários comboios com origem e destino em São Bento, de acordo com a página na Internet da CP – Comboios de Portugal.

Pelas 23h30 três dos comboios previstos com destino a São Bento ainda registavam atrasos.

De acordo com a Proteção Civil, para o local foram destacados elementos dos bombeiros, de emergência e da PSP, num total de 20 operacionais, apoiados por sete viaturas.

Bentley promete uma versão do Bentayga mais potente do que o W12

A Bentley é o mais desportivo dos construtores mais luxuosos do mercado, apontado como o rival da Rolls-Royce, que por sua vez tem no Cullinan o SUV da família. O Bentayga já é 300 kg mais leve, mas hoje propõe apenas duas versões, a S Hybrid, um PHEV com um 3.0 V6 e 462 cv, e a S V8 com 550 cv, ainda assim ligeiramente abaixo dos 570 cv do V12 do Cullinan. Daí que tenham decidido produzir uma mecânica mais potente, capaz de ultrapassar o mítico 6.0 W12, que foi retirado de produção em 2024 (numa fase em que oferecia 600 cv na versão “normal” e 635 cv no Bentayga Speed). Agora a Bentley revela que está a preparar o SUV com a maior potência de sempre, com estreia agendada para 2 de Junho.

Este “super” Bentayga não recorrerá ao 6.0 W12 sobrealimentado, sendo a opção mais plausível o 4.0 V8 biturbo que já utiliza no Bentayda S Speed (com 550 cv). Só que esta unidade, que já conhecemos montada no Continental GT Speed PHEV, vê a potência do V8 subir para 600 cv e 800 Nm, valor que é reforçado por um motor eléctrico com 190 cv e 450 Nm. No total são 780 cv e 1000 Nm, sendo expectável que, uma vez no Bentayga, esta mecânica possa ficar limitada a 700 cv. Veja em baixo o anúncio do construtor britânico no Instagram.

Um bouquet de tulipas atirado ao Letes

Tulipas, mosquitos, elefantes, tempestades, efemerópteros, joaninhas, margaridas, baleias, montanhas, tempestades aparecem, surgem, crescem, repetem bruscamente as suas formas, os seus corpos, as suas sortes, desaparecem. As flores erguem-se, ejaculam, caem. A morte das flores diz-se apoptose – literalmente, queda.

Tão orgulhosa é, distinta de tudo, única, embora capaz de causar profundo dano – a nostalgia. Nem mesmo as águas do Letes – aquela mitológica fonte capaz de apagar, do coração de quem dela bebesse, toda a memória, e de substituí-la pelo consolo e pelo oblívio – têm qualquer poder sobre a nostalgia, como diz Ovídio.

O desejo de voltar a casa, de regressar a uma pessoa, é talvez o sentimento mais violento que a alma humana poderá experimentar. A nostalgia é, acima de tudo, ausência, falta de plenitude, um aperto no estômago, uma constrição no coração. Incómodo físico e profunda tristeza. Eis o que significa a palavra que, parecendo originalmente grega, não o é: na verdade, o termo foi cunhado apenas em 1688 por um estudante de medicina que combinou os termos gregos νόστος (nóstos – regresso), e ἄλγος (álgos – dor).

Curiosamente, a nostalgia pode também ser uma veemente protectora do amor graças ao poder do pensamento, perpétua espera por um abraço ou por um beijo, a que consagramos todos os nossos dias, e para os quais preservamos intactas aquelas partes de nós que aguardam que realmente se consumem. Nunca está verdadeiramente só quem sente saudade de alguém.

Conta-se que, depois de morrer, foi concedido que Protesilau regressasse ao mundo dos vivos para passar um último dia junto da sua mulher. Embora loucamente amasse Laodamia, ele hesitou, pelo menos é o que diz Ovídio. Laevius diz que Protesilau amava de tal modo a vida que, por pudor, temia vivê-la um dia mais.

Catulo diz que Protesilau temia a emoção que o dominaria quando estendesse os braços para Laodamia. Temia que o seu corpo não soubesse já desejar. Temia que, uma vez crescido, o seu pénis não fosse já capaz de deslizar para dentro dela; que, assim que a tivesse penetrado, não fosse já capaz de permanecer erecto dentro dela; que fosse enfim incapaz de oferecer à sua mulher o prazer que ela tão brevemente conhecera nos seus braços. Na verdade, Protesilau partilhara com Laodamia o leito uma única vez apenas, pois na madrugada a seguir ao casamento de ambos, já ele embarcava nos navios gregos rumo a Troia.

Por fim, Protesilau acabou por aceitar a proposta que os deuses lhe faziam. Abandonou o Hades, regressou à terra. Encontrou Laodamia, que lhe abriu os braços. Protesilau segurou-os. A noite é breve. Por um brevíssimo instante, a força de Protesilau regressou até ele. Ela entregou-se na escuridão. Mas, no final da noite, as sombras levaram-no de regresso à trevas eternas. Duas vezes havia Laodamia dormido com Protesilau: uma vez antes de ele partir, outra antes que ele de novo partisse. Daquele homem ela não conheceu senão o adeus.

Durante anos, consentimo-nos a esperança de imaginar o que está ainda por acontecer. E quando acontece (porque, cedo ou tarde, acaba sempre por acontecer, razão pela qual a nostalgia é tão preciosa), há muito que cada instante daquele momento fez de nós feliz morada.

Nem em sonho se pode possuir o tempo que desapossa, escreve Filodemo de Herculano, e o filósofo napolitano prossegue de uma forma ainda mais estranha: não devemos desejar longa vida aos homens, pois a vida longa não é a ‘vida viva’.

O que os homens da Antiguidade e as encostas do Vesúvio chamavam ‘vida viva’ não é o que Rimbaud e as pluviosas florestas das Ardenas chamavam ‘vida verdadeira’. Desta frase grega devida a Filodemo é necessário recordar também que é a força de um vulcão e o poder da sua lava que o preservaram da usura do tempo e da violência religiosa e odiosa dos homens. A vida é uma intensidade, o tempo uma medida.

Pouco importa que uma vida seja longa ou curta, somente os instantes limite de uma presença plena contam. Tal como, no corpo de cada um, apenas conta o íntimo vazio, livre, alerta e trémulo, não o ego, nem a imagem, nem o poder da palavra ensinada por outros.

O outrora é o incrível – e o curso do tempo que o desenrola é desordenado e incerto. Antigamente, os epicuristas de Pompeia, Herculano, Paestum e Capri invocavam este argumento para não adiar uma alegria que fosse.

Carpe diem! Escrevia Horácio de maneira muito ousada enquanto Augusto impunha o seu poder tirânico e inventava o império. Trata-se de pegar numa pequena foice para poder colher um dia na seara do tempo como se fosse uma flor num canteiro da natureza. Corta o dia! Castra a hora! Atreve-te a cortar, por exemplo, este Sábado como se, por exemplo, um bouquet de tulipas. Cada amanhecer antigo lança uma nova luz no espaço. Não há dois amanheceres. Todas as manhãs do mundo são sem regresso. Não há duas noites. Toda a noite é o fundo do espaço em pessoa. Não há duas flores, duas orvalhadas, duas vidas. Em todos os momentos nos devemos dizer: tu! A tudo quanto se aproxima devemos dizer: vem! A vida é um instante único de re-citatio que surge em cada um dos seus pontos, que purifica a sua felicidade em cada ocasião que a renova. Alegria cada vez mais decantada de contrariedades, medos, se não inteiramente da angústia original. Podemos então concentrar a presença, o dia, a flor, o ponto, o corpo, o choro, a alegria.

Existimos à mercê de sensações violentas e intermitentes. A vida humana não é capaz de escapar a conflitos, rupturas ou inconsistências. Os momentos em que tudo se encaixa, os solenes instantes em que a ordem reina, são meros oásis efémeros destinados a ruir como castelos de areia na praia. Transformadas em problemas por nós mesmos, colocamo-nos questões a que nunca seremos capazes de responder, mas que de qualquer maneira não podemos deixar de nos colocar. Vivemos num mundo onde o mal, o sofrimento, a sobranceria e a indiferença estão obsessivamente presentes. A nossa vida não pode escapar à comédia ou à tragédia. A condição humana é vulnerável, porque inescapáveis são as faces da finitude.

Laevius deu à tragédia de Protesilau e Laodamia um título estranho, cuja inscrição é já um abraço – Protesilaodamia. Catulo adorava esta história e Ovídio citava-a sem cessar.

Quem de nós viveu já outra coisa diferente de Protesilau? Quem de nós sentiu já outra coisa diferente de Laodamia? Aquele único dia. Aquela única noite.

Rui Moreira retira propostas de cedência de imóveis para mesquitas no Porto

O presidente da Câmara Municipal do Porto decidiu esta sexta-feira retirar as propostas de cedência de edifícios para duas mesquitas da reunião privada do executivo, agendada para segunda-feira, por não ser uma questão consensual.

Num comunicado enviado à Lusa, Rui Moreira explica que tomou esta decisão depois de ouvir o vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, decisão essa que teve a sua anuência.

“O atual mandato autárquico está a chegar ao fim e competirá a quem venha a governar a cidade tomar as decisões que entenda por conveniente. Não é pois recomendável que, a poucos meses do ato eleitoral, se promovam iniciativas que não são consensuais“, entende o independente.

Dizendo que esta questão não é consensual, o autarca considera que o executivo não deve contribuir para o exacerbamento de tensões na cidade.

Rui Moreira refere, contudo, que a cidade do Porto tem uma história de tolerância, lembrando que durante a II Guerra Mundial a maior sinagoga da Península Ibérica manteve as suas portas abertas paredes meias com a escola alemã do Porto.

“No início deste século, as igrejas evangélicas instalaram-se na cidade e foram bem acolhidas. Hoje, abundam na cidade os seus templos que acolhem muitos imigrantes e o mesmo sucede com a comunidade hindu com velhas tradições entre nós”, reforça.

Insistindo na ideia de que o Porto é uma cidade inclusiva, Rui Moreira salienta que existem na cidade várias mesquitas que funcionam em espaços informais. E acrescenta: “São lugares de culto sem o mínimo de condições onde se reúnem diariamente crentes do Islão“.

[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 2.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui.]

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Segundo o presidente da Câmara do Porto, a imigração é uma realidade que aporta ao país e à cidade uma “enorme diversidade e uma profunda alteração sociocultural” que não pode ser ignorada e que exige que sejam concretizadas políticas ativas de acolhimento e de integração.

“Porque sabemos qual foi o impacto da exclusão, em outros países que nos precederam, não devemos ignorar a realidade com que estamos confrontados”, aponta. Em sua opinião, este é um tema fraturante que deve ser debatido na cidade e pela cidade e que não deve passar ao lado da campanha eleitoral.

“É um tema que irá testar, na realidade, o caráter ecuménico da nossa cidade e dos seus atores políticos, sociais, culturais e também religiosos. É um tema que o atual executivo, a que presido, não irá condicionar”, conclui.

A Câmara do Porto ia votar uma proposta de cedência de direitos de superfície de dois imóveis devolutos para a construção de duas mesquitas, consolidando-se como “uma cidade inclusiva”.

“A construção de uma mesquita na cidade do Porto é um passo crucial na consolidação de uma cidade inclusiva, que promove a coexistência pacífica de diversas religiões, refletindo não apenas a diversidade cultural da cidade, mas também o seu compromisso com os princípios fundamentais da liberdade religiosa”, podia ler-se na proposta que iria ser votada e a que a Lusa teve acesso.

Morre aos 98 anos o professor Étienne-Émile Baulieu, inventor da pílula abortiva

O professor francês Étienne-Émile Baulieu, inventor da pílula abortiva, que sempre se dedicou a defender o progresso possibilitado pela ciência, morreu esta sexta-feira aos 98 anos, em Paris.

Médico e investigador, era mundialmente reconhecido pelo impacto científico, médico e social do seu trabalho sobre o papel das hormonas esteroides.

“A sua investigação foi orientada pelo seu compromisso com o progresso possibilitado pela ciência, pelo seu compromisso com a liberdade das mulheres e pelo seu desejo de permitir que todos tenham uma vida melhor e mais longa“, recordou a sua mulher, Simone Harari Baulieu, em comunicado.

“Poucos franceses mudaram tanto o mundo. Combatente da Resistência, génio da investigação, defensor da contraceção, inventor da pílula abortiva, Étienne-Emile Baulieu foi um espírito de progresso que permitiu às mulheres conquistar a sua liberdade”, reagiu o presidente francês Emmanuel Macron na rede social X.

Nascido a 12 de dezembro de 1926, em Estrasburgo, leste de França, Étienne Blum adotou o nome Émile Baulieu quando se juntou à Resistência contra os ocupantes nazis, com apenas 15 anos.

Doutorado em medicina (1955) e doutorado em ciências (1963), endocrinologista, fundou a Unidade de Investigação 33 do Instituto Nacional Francês de Saúde e Investigação Médica (Inserm) em 1963 para trabalhar com hormonas. Dirigiu-a até 1997 e trabalhou lá até ao final.

É particularmente conhecido pelo desenvolvimento da RU 486, em 1982. Esta pílula abortiva revolucionou a vida de milhões de mulheres em todo o mundo, oferecendo-lhes a opção de interrupção da gravidez induzida por medicamentos.

[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 2.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui.]

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Enfrentou duras críticas e até ameaças por parte dos opositores do direito das mulheres de controlar a sua reprodução. Há dois anos, lamentou à agência France-Presse (AFP) a proibição da pílula num Estado norte-americano, descrevendo a medida como um “retrocesso para a liberdade das mulheres”.

A sua investigação sobre o DHEA, a hormona cuja secreção e atividade antienvelhecimento tinha descoberto, levou-o também a trabalhar com neuroesteroides (esteroides para o sistema nervoso). Desenvolveu também um tratamento para a depressão, para o qual está em curso um ensaio clínico em vários hospitais universitários.

No seu gabinete do Inserm no Hospital Universitário Kremlin-Bicêtre, perto de Paris, que continuou a ocupar três vezes por semana, e onde estavam empilhadas fotos, diplomas e pastas contendo “o trabalho de uma vida inteira“, manifestou, até ao fim, o seu desejo de “ser útil”.

Em 2008, fundou o Instituto Baulieu para compreender, prevenir e tratar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. A sua investigação teve como alvo a proteína Tau, juntamente com outra proteína, a FKBP52, que tinha descoberto e que está naturalmente presente no organismo.

Casado em segundas núpcias com Simone Harari Baulieu, enviuvou de Yolande Compagnon. Deixa três filhos, oito netos e nove bisnetos.

Trump diz ter despedido diretora da National Portrait Gallery por ser “altamente partidária”

Kim Sajet lidera a National Portrait Gallery, na capital dos Estados Unidos da América, há mais de 12 anos, depois de uma longa carreira no mundo das artes. Em 2022, a diretora afirmou que a coleção se dirigia mais para “os mais ricos, os pálidos e os homens”, o que justificou esforços para incorporar obras de “artistas contemporâneos”, com algumas peças a retratar problemas políticos como racismo e imigração. Três anos mais tarde, Donald Trump decidiu que esta liderança deveria mudar, caracterizando Sajet como “altamente partidária” e uma “grande apoiante” do programa que promove medidas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI).

Para o Presidente, este conjunto de características é “altamente inapropriado” para o cargo que desempenha e, por isso, e “após o pedido e recomendação de muitas pessoas”, oficializou a decisão através de uma publicação na sua rede social Truth. Contudo, uma vez que a galeria não está sob comando direto de uma organização federal, existe quem questione se Trump tem realmente o poder para mudar a sua gestão sem aprovação do conselho de administração da Smithsonian, o instituto que gere vários museus e centros em Washington.

O fator que talvez possibilite esta decisão de Trump, no entanto, é a presença de um forte aliado do Presidente neste mesmo conselho: o seu vice, JD Vance. Apesar de ser uma repetição daquilo que foi já feito por Joe Biden, com Kamala Harris a entrar também na administração da Smithsonian durante o seu mandato, Trump admitiu publicamente que queria uma maior promoção de “grandeza americana” nos vários museus da instituição, queixando-se de uma grande presença de “narrativas que pintam valores americanos e ocidentais como intrinsecamente nocivas e opressivas”, lembra o New York Times.

[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 2.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui.]

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Segundo Trump, Kim Sajet é uma “grande apoiante de DEI”, mesmo depois de o Chefe de Estado ter proibido programas que promovam estes valores em instituições financiadas a nível federal — como é o caso da Smithsonian, que recebe mais de 2/3 do seu financiamento do Congresso norte-americano. Assinada a ordem executiva, a instituição seguiu as indicações presidenciais e encerrou os seus gabinetes de diversidade. A nível da National Portrait Gallery, a missão do centro que incluía “diversidade, equidade, acesso e inclusão” foi substituída para “acolhedor e acessível”.

Na capital do país, a National Portrait Gallery é a casa dedicada a destacar “indivíduos que tenham feito contribuições significativas para a história, desenvolvimento e cultura das pessoas dos Estados Unidos”. Fora da Casa Branca, é o único local em todo o país que possui uma coleção completa dos retratos presidenciais.

João Gião e a subida do Sporting B: «Nunca me falaram nisso, mas correndo bem…»

Convidado desta sexta-feira do Canal 11, João Gião, treinador do Sporting B, explicou a caminhada da equipa secundária leonina na Liga 3, num trajeto que resultou na subida de divisão. Desta forma, após oito partidas no comandos dos ‘bês’ verdes e brancos, Gião alcançou cinco vitórias, dois empates e uma derrota, ajudando a carimbar um bilhete rumo à 2ª Liga.

Em entrevista, o técnico de 38 anos abordou a chave do sucesso. “A nossa missão numa equipa B é formar jogadores e os mais preparados a chegar à equipa A. Temos de estimular ao máximo os jogadores para chegarem lá acima, mas num contexto de equipa e com ambição. Tem de haver ambição, cobrança e objetivos coletivos. Pediram-me que ajudasse a formar jogadores e preparar jogadores para a equipa A. Nunca me falaram na subida, mas, com o avançar das coisas e correndo bem, começámos a falar disso. Formar jogadores tem de ser sempre a nossa primeira vitória”, começou por assumir.

Além disso, Gião perspetivou os desafios para a próxima temporada, na 2ª divisão. “Vamos assumir um patamar. O estímulo vai aumentar. Chegamos à 2ª Liga, que é um patamar completamente diferente da Liga 3. Até do ponto de vista mediático, os jogadores estarão noutro contexto. Vamos permitir um estímulo ainda mais elevado para conseguirmos aproximar os jogadores ainda mais da equipa principal”, sublinhou o técnico da equipa B.

De resto, o treinador dos ‘bês’ do Sporting elogiou a estrutura que encontrou em Alcochete e Alvalade. ” Toda a gente está envolvida, obviamente o míster Rui Borges na equipa A e eu na equipa B. São decisões que passam por todos. Têm de ser tomadas pela estrutura e não só por um treinador. Não posso ter todo e qualquer tipo de escolha sobre um jogador, enquanto treinador de equipa B ou de formação. A comunicação é muito fácil, até diretamente com o míster Rui Borges. Não me me lembro de uma semana de treino nossa em que ele não tenha visto 10 ou 15 minutos do treino. O ambiente na Academia é muito acolhedor, o processo é mais informal e ajuda a que o processo seja facilitado. São decisões partilhadas por toda a gente e que ajudam a defender os interesses do clube”, concluiu o treinador de 38 anos.

Esta temporada, o Sporting B garantiu a subida à 2ª divisão do futebol português, uma vez que terminouh a fase de apuramento de campeão da Liga 3 na segunda posição, com 26 pontos somados, menos quatro do que o vencedor Lusitânia de Lourosa, e à frente do Belenenses (22 pontos) que disputa agora o play-off com o Paços de Ferreira.

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