Habitantes de Santiago do Cacém protestam no sábado para exigir reparação da EN120

Habitantes do concelho de Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal, promovem uma concentração, no sábado, no Roncão, para exigir a reparação urgente de um troço de cerca de 15 quilómetros da Estrada Nacional 120 (EN120).

O porta-voz da Comissão de Utentes do Concelho de Santiago do Cacém, Dinis Silva, explicou esta sexta-feira à agência Lusa que em causa está “o péssimo estado” em que se encontra a estrada, entre a Cruz de João Mendes, na freguesia de São Francisco da Serra, e a cidade de Santiago do Cacém.

De acordo com o responsável, a partir das 10h00 de sábado, habitantes do concelho vão juntar-se, no âmbito desta iniciativa, para “reivindicar e exigir ao Governo a reparação total da EN120“. Em comunicado, a comissão de utentes assinalou que, devido “ao péssimo estado” desta via, “diversos utentes têm feito queixa junto da Infraestruturas de Portugal” para pedir a sua reparação.

Por esta estrada nacional circulam “milhares de viaturas” e, apesar deste tráfego intenso, a Infraestruturas de Portugal “há muitos anos que não faz uma reparação na via”, pode ler-se no documento.

A “Infraestruturas de Portugal deveria reparar esta estrada, mas não o tem feito, tem deixado chegar ao limite, com custos acrescidos para os utentes“, que se queixam de “pneus furados, jantes danificadas, suspensões danificadas”, acrescentou Dinis Silva.

A ação de protesto, que inclui uma tribuna pública, na qual os utentes da via serão convidados a pronunciar-se sobre o estado daquele troço da estrada, pretende exigir uma “repavimentação urgente” da EN120, explicou.

“Está bastante danificada entre a Cruz de João Mendes e Santiago do Cacém, sem bermas e com muitos buracos e até autênticas crateras em curvas sem visibilidade”, precisou o porta-voz da comissão de utentes.

No final da ação, vai ser votado um documento que será, posteriormente, enviado à Infraestruturas de Portugal, ao Governo e a outras entidades.

Greve de cinco dias nos Transportes Urbanos de Coimbra começa na segunda-feira

Os trabalhadores dos Transportes Urbanos de Coimbra vão estar em greve durante cinco dias, a partir de segunda-feira, e acusam o Governo de não avançar no processo negocial. O município considera esta greve uma a luta política e não sindical.

A greve, que vai de segunda-feira até dia 30, foi decidida na terça-feira, em plenário de trabalhadores, dando continuação a uma luta que se iniciou com uma paralisação de dois dias em fevereiro e três em março. A greve de abril foi suspensa face a uma reunião que estava marcada com o Governo para esse mês.

A decisão foi unânime e a reunião nem uma hora durou“, afirmou à agência Lusa a coordenadora regional do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), Luísa Silva, justificando a decisão com o facto de ainda não haver qualquer avanço que dê esperança aos trabalhadores, apesar de estar marcada uma reunião com o Governo.

De acordo com a dirigente sindical, os trabalhadores decidiram suspender a greve de quatro dias em abril face à marcação de uma reunião com o Governo e Câmara de Coimbra, para dia 29 desse mês, mas esta acabou desconvocada, face ao apagão, que aconteceu um dia antes.

Posteriormente, foi marcada uma nova reunião para 27 de maio, “sem ordem de trabalhos e sem documentos” para a resolução dos problemas dos trabalhadores, que reivindicam melhorias salariais e reposição da carreira, afirmou Luísa Silva.

“Os trabalhadores consideraram que, desde 17 de março [data da primeira reunião entre as partes], passou imenso tempo para reunir, para o assunto ser trabalhado”, notou, recordando que o compromisso seria de deixar este dossiê preparado até às eleições, para ser posteriormente assumido pelo Governo que assumisse funções.

Segundo Luísa Silva, na terça-feira os trabalhadores e sindicatos irão a Lisboa para a reunião com o Governo, no Ministério das Finanças, admitindo que, dependendo do resultado dessa reunião, poderão ser desconvocados os restantes três dias de greve.

Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara, José Manuel Silva, admitiu surpresa face à convocação dos cinco dias de greve, recordando que a reunião entre Governo, autarquia e sindicatos não aconteceu por causa do apagão “e não por falta de boa vontade”.

“Demos de imediato conhecimento da data da nova reunião, para 27 de maio, que não havia condições para reuniões durante a campanha eleitoral. O Governo esteve sempre de boa-fé, assim como a Câmara”, afirmou.

O autarca vincou que, dos quatro municípios que têm serviços municipalizados de transportes, o único “que está a tentar resolver o problema é o único onde há greve”, considerando que esta luta tem “um caráter fortemente político, que só prejudica os munícipes, especialmente os mais pobres”.

Para José Manuel Silva, o processo negocial “estava a evoluir bem“, com a Câmara de Coimbra disponível para um subsídio de 15% do vencimento base dos motoristas, que implicaria um esforço anual de 820 mil euros da autarquia.

“Essa solução temporária não é impeditiva da reintrodução da carreira, com a qual concordarmos”, salientou. Questionado se antevê a possibilidade de serem desconvocados os restantes dias de greve após a reunião de terça-feira, o autarca mostrou-se pouco confiante.

“Não sei quais os critérios para desconvocar a greve, porque também não entendo os critérios para convocar a greve”, afirmou.

Esta será a terceira greve dos trabalhadores dos SMTUC este ano, depois de terem cumprido dois dias em fevereiro e três em março, num calendário de luta que aumenta um dia todos os meses até setembro, mês em que deverão realizar-se as eleições autárquicas, totalizando 40 dias de paralisação.

Angola precisa de uma “grande revolução” para voltar a ser forte produtor de café

O ministro da Agricultura e Florestas de Angola defendeu na quinta-feira que o país precisa de uma “grande revolução” através da aplicação de práticas modernas e sustentáveis para voltar a ser um grande produtor de café.

“Havia no nosso país a falsa ideia de que éramos um grande produtor de café”, começou por dizer, Isaac Francisco Maria dos Anjos, no seu discurso no II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, em Brasília, no qual participaram a convite do Brasil delegações de 42 países africanos, além de representantes de organismos internacionais, como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), de bancos multilaterais de desenvolvimento, instituições de pesquisa, organizações e cooperativas da agricultura familiar e entidades do setor privado.

“De facto fomos o quarto maior produtor de café”, acrescentou o ministro angolano, avisando: “mas hoje para voltarmos ao mundo do café, ou adotamos as práticas de uma agricultura sustentável, ou seremos banidos”. “O nosso café não poderá ser vendido se não cuidarmos da pessoa que trata do café”, frisou, acrescentando que as fazendas terão “de se adaptar aos códigos modernos”. “Significa uma, grande, grande, revolução”, disse, afirmando que o país tem o compromisso de aumentar a produção interna com base no uso de tecnologias adaptadas.

No seu discurso, o responsável disse que Angola enfrenta graves consequências das alterações climáticas, especialmente no sul do país, onde longos períodos de seca têm causado perdas económicas significativas. Atualmente, Angola possui 35 milhões de hectares de terra arável, mas apenas 17% está em uso, ou seja, cerca de 6 milhões de hectares são efetivamente explorados, disse, recordando que a taxa de irrigação é de apenas cerca de 2%, o que limita fortemente a produtividade agrícola e que participação da agricultura no PIB também permanece modesta, não ultrapassando os 4,3%.

Uma missão do setor do agronegócio brasileiro esteve em Angola de 5 a 10 de maio, com a participação de cerca de 30 empresários brasileiros e do ministro brasileiro da tutela, Carlos Fávaro, que participou de reuniões governamentais e visitas técnica nas províncias de Luanda, Malanje e Cuanza-Norte e ainda reuniões com representantes do setor privado angolano para discutir formas de financiamento.

Vai ser elaborado um documento e, segundo o Ministério da Agricultura, o material será entregue a Lula da Silva por ocasião do encontro presidencial no Palácio Planalto, esta sexta-feira, com o Presidente de Angola, João Lourenço. “Estamos disponíveis para negociar com o Governo brasileiro as melhores condições para a efetivação desta cooperação estratégica que marcará o inicio de uma nova era de cooperação”, disse Isaac Francisco Maria dos Anjos.

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, recebe esta sexta-feira o seu homólogo angolano, no segundo dia da visita de João Lourenço ao Brasil, que será ainda marcado pela assinatura de acordos e por um encontro com um grupo representativo da classe empresarial brasileira. Fonte do Ministério das Relações Exteriores do Brasil adiantou à Lusa que serão assinados meia dezena de memorandos centrados nos setores agropecuário e da energia.

Santos é eliminado da Taça do Brasil e Neymar ‘manda’ calar adeptos rivais

O Santos encontra-se numa série negativa de jogos sem conseguir vencer e ontem não foi exceção. Com o regresso de lesão de Neymar, a equipa de São Paulo voltou a perder, desta vez contra o CRB, da Série B, nos penáltis (5-4), na segunda mão da Taça do Brasil, após um jogo sem golos. Já na primeira mão, em casa do Santos, a partida terminou também empatada, mas a uma bola. No final do jogo, os adeptos do CRB, enquanto festejavam a vitória, fizeram também cânticos ofensivos contra o Santos e Neymar, enquanto este dava uma entrevista em campo. “Santos para a Segunda Divisão, Santos para a Segunda Divisão!”,  é o que se pode ouvir das bancadas. Neymar não gostou e, depois de tentar não reagir, não se conseguiu conter e, ao sair de campo, ‘mandou’ calar os adeptos rivais [Vídeo: TNT Sports Brasil]. 

Dinamarca aprova aumento da idade da reforma para os 70 anos, a mais alta da Europa

O Parlamento dinamarquês aprovou na quinta-feira o aumento da idade da reforma para 70 anos a partir de 2040, como parte de uma reforma do sistema de segurança social.

A medida, aprovada com 81 votos a favor e 21 contra, é uma consequência da reforma global do sistema de segurança social aprovada em 2006, que estabeleceu um sistema de aumento progressivo da idade da reforma de cinco em cinco anos, em função do aumento da esperança de vida.

Actualmente, a idade da reforma é de 67 anos na Dinamarca, mas passará para 68 anos em 2030 e 69 anos em 2035, segundo a agência de notícias espanhola EFE. As pessoas nascidas depois de 1 de Janeiro de 1970 terão de esperar até aos 70 anos para se poderem reformar, de acordo com a nova alteração.

A primeira-ministra dinamarquesa, a social-democrata Mette Frederiksen, declarou há alguns meses que o partido era favorável à renegociação do modelo quando a idade da reforma chegar aos 70 anos. “Não acreditamos na forma automática como a idade da reforma aumenta. Não podemos continuar a dizer às pessoas que têm de trabalhar mais um ano”, disse Frederiksen ao jornal Berlingske na altura.

Nas últimas semanas, vários protestos apoiados por sindicatos contra o aumento da idade de reforma ocorreram em Copenhaga.

Antes da votação de quinta-feira, Jesper Ettrup Rasmussen, presidente de uma confederação sindical dinamarquesa, disse que a proposta de aumentar a idade da reforma era “completamente injusta”. “A Dinamarca tem uma economia saudável e, ainda assim, tem a idade de reforma mais alta da UE”, disse. “Uma idade de reforma mais alta significa que as pessoas perderão o direito a uma vida digna na terceira idade.”

As idades das reformas variam de país para país, mas muitos são os que as têm aumentado nos últimos anos para reflectir uma esperança de vida mais longa e combater défices orçamentais. Em Portugal, a idade da reforma vai subir para 66 anos e nove meses em 2026, estando actualmente nos 66 anos e sete meses.

Como recorda a BBC, na Suécia, a idade mínima para começar a reivindicar benefícios das pensões é 63 anos. Em Itália, a idade da reforma situa-se nos 67 anos mas, como na Dinamarca, também está sujeita a ajustes com base nas estimativas de expectativa de vida. Em França, uma lei foi aprovada em 2023 e muito contestada pelos franceses, elevou a idade da reforma de 62 para 64 anos.

Dados de 2023 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) previam que a idade normal da reforma fosse aumentar em três quintos dos países da OCDE: o relatório referia que as idades iam variar entre os 62 anos na Colômbia, Luxemburgo e Eslovénia e os 70 anos ou mais na Dinamarca, Estónia, Itália, Holanda e Suécia.

Entrevista com Chimamanda Ngozi Adichie, a biografia de Herberto Helder e a China de Wang Bing

Em 2013, Americanah fez dela um caso sério na literatura, uma voz das mulheres negras nas várias lutas que têm de manter (nada é certo, como vemos por estes dias). A nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, uma escritora-celebridade como há poucas, chegou aos 47 anos com menos certezas.

Desde Americanah, publicou ensaios, fez luto pela morte dos pais, teve medo de não conseguir escrever ficção. Mas conseguiu: deu-nos o romance Inventário de Sonhos, recentemente editado em Portugal.

“O facto é que eu não conseguia escrever. E não conseguia escrever ficção, e era um sentimento horrível. O pior de ter um bloqueio é sentirmo-nos impotentes porque não sabemos quando vai acabar ou se vai acabar. Senti sempre uma espécie de pânico em relação à minha escrita de ficção porque gosto muito de ficção”, disse Adichie na conversa com Isabel Lucas, no âmbito da parceria PÚBLICO/FLAD Meet the Author.

É uma grande entrevista na qual a escritora discorre sobre os EUA que hoje a desgostam (“como cresci numa ditadura, sei como é e como são os governos autoritários”); o “silêncio” e a “vergonha em todas as culturas quando se trata do corpo feminino”; o rótulo de feminista (“fico sempre meio constrangida”); a objectificação do corpo das mulheres; a morte dos pais (“mudou-me drasticamente”); o que significa ser humano.

Diz-nos que Herberto Helder “não era um arcanjo”, uma figura inacessível, nas Alturas, mesmo que tenha “jogado” com o “enigma que criou”. Primeira biografia do poeta que se quis obscuro, Se Eu Quisesse, Enlouquecia resulta de oito anos de trabalho de João Pedro George. Com recurso a arquivos, cartas, testemunhos e a obra do poeta (1930-2015). Hugo Pinto Santos conversou com o biógrafo.

São dez horas de cinema, dez horas em que Wang Bing mergulha no país das “ferramentas humanas”. Esse país é a China onde os ateliers têxteis nascem e morrem como cogumelos. Juventude, que se divide em três partes, foi filmado entre 2014 e 2019. Nele vemos trabalho, exploração, mas também juventude, amor, vida.

“Não vejo futuro para a vida daquelas pessoas”, disse o realizador chinês a Vasco Câmara. “No final de Juventude há lojas que fecham e as pessoas continuam a procurar trabalho. Poderão encontrar empregos em outras indústrias. Mas as condições serão as mesmas. Continuarão amarradas a longas horas de trabalho. As pessoas são como as tecnologias: tornam-se obsoletas e uma nova geração substitui-as. Nos últimos 40 anos já três gerações trabalharam nestes ateliers. Quando uma ferramenta se estraga, substitui-se por outra. Quando uma tecnologia se torna obsoleta, passa-se à seguinte sem qualquer consideração. Se houver trabalho, pode-se comer. Se não houver trabalho não se come. Não há outras garantias para estas pessoas, não há medidas de segurança. Não têm plano de reforma. Não têm seguro de saúde. Não têm nada. Nem a garantia de uma vida melhor.”

A banda inglesa These New Puritans, nascida no caldo pós-punk mas que rapidamente extravasou esse contexto, regressa com um belíssimo Crooked Wing, álbum entre tensão marcial e ascensão celestial. Mário Lopes falou com eles.

Também nesta edição:

— Filmes: Ossos e Nomes (entrevista com o realizador Fabian Stumm), Breve História de uma Família, Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final, Diva Futura – Cicciolina e a Revolução do Desejo, Amor e Queijo;

— Música: os novos discos de Arcade Fire e Model/Actriz;

— Exposições: And They Laughed At Me, da iraniana Newsha Tavakolian, na Narrativa (Lisboa); e Somos Todos Capitães – 50 Anos em Liberdade, em Braga;

— Dança: um português, André Braga, e um moçambicano, Panaibra Gabriel Canda, encontram-se em OU, da CirCoLando;

— Livro: o romance O Palácio de Gelo, de Tarjei Vesaas (ainda só disponível na edição impressa).

Boas leituras!


Leituras: o nosso site de livros; Cinecartaz: tudo sobre cinema

Núcleo do Sporting de Torres Vedras vandalizado

Foram escritas frases a vermelho nas paredes e nos vidros das janelas

O Núcleo Sportinguista de Torres Vedras foi vandalizado na madrugada desta sexta-feira, 23 de maio, com tinta vermelha. Nas paredes e nos vidros das janelas, foram escritas frases a vermelho, como se pode ver pelas fotos de Record.

Nas pinturas efetuadas esta madrugada, pode ler-se ainda as iniciais ‘NN’ que induzem que a vandalização esteja associada aos ‘No Name Boys’ – grupo de adeptos organizado do Benfica, o maior movimento organizado da claque, que habitualmente se reúne no Topo Sul do Estádio da Luz.

Esta foi a primeira vez, em mais de três decadas de existência, que este Núcleo leonino do Oeste foi vandalizado.

O ato ocorreu a dois dias do dérbi Benfica-Sporting, marcado para este domingo, 25 de Maio, referente à final da Taça de Portugal.

Por Duarte Gomes

Cancro. Relatório que aponta redução de doentes em lista de espera “baseia-se num erro”

O coordenador do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direção-Geral da Saúde (PNDO) considera que é “pouco significativa” a redução do número de doentes oncológicas que aguardam cirurgia acima do tempo máximo de resposta.

De acordo com o relatório de acompanhamento do Plano de Emergência para a Saúde, até 31 de março deste ano, havia cerca de 1.500 doentes oncológicos à espera de uma cirurgia para lá do Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG). Eram menos 1.100 do que no mesmo período de 2024.

Em entrevista à Renascença, José Dinis reconhece que “estes relatórios são importantes” e “se está a diminuir [o número de doentes oncológicos em lista de espera], o que me interessa é a tendência”.

No entanto, este responsável alerta que “este relatório, apesar de mostrar uma redução, baseia-se sempre num erro”, porque o modelo dos tempos de espera, tal como está, “é obsoleto e não reflete a realidade, porque não define com clareza quando é que o relógio começa a contar… atualmente, a lei define que o relógio começa a contar quando o doente assina a proposta de uma cirurgia”.

“Nós achamos que o tempo começa a contar quando é colocada ao doente a proposta de cirurgia, que deve ser feita numa consulta multidisciplinar, que é a forma cientificamente válida e consensual a nível internacional de definir uma estratégia para a doença oncológica”, defende.

Olhando para a redução traduzida neste relatório de acompanhamento do Plano de Emergência para a Saúde, “estes 1.500 doentes em espera podem esconder casos em que 200, 300 ou 100 podem ser relevantes para a sobrevivência, mas podemos ter outros que são absolutamente irrelevantes, porque os tumores não são todos iguais”, sublinha.

E exemplifica: “Vamos supor que, num determinado hospital, um tumor que devia ser operado em 15 dias e é operado em 16… esse doente vai contar como estando para lá do tempo média de resposta garantida. Mas se o mesmo tumor, noutro hospital, for colocado como prioritário em 45 dias, e é operado em 44 dias, está a cumprir o tempo máximo de resposta garantida… é um absurdo”.

Recursos hídricos em perigo com projeto de mina em Grândola e Alcácer do Sal

O projeto da Mina da Lagoa Salgada, para exploração de cobre, chumbo e zinco nos concelhos de Grândola e Alcácer do Sal, representa um perigo para os recursos hídricos deste território, alertaram esta sexta-feira ambientalistas e agricultores.

Seis organizações da sociedade civil, como a Zero, referem, num comunicado conjunto, que o projeto de mineração, classificado “incompreensivelmente” de Potencial Interesse Nacional (PIN) em abril de 2022, prevê, entre outros minerais, a “exploração de ouro utilizando cianeto de sódio, uma substância altamente tóxica”.

Além dos “impactos ambientais [e] sociais gravosos” para estes dois concelhos do distrito de Setúbal, os subscritores consideram que este é “mais um exemplo” de como o estatuto PIN pode ser usado “de forma discricionária”, para “contornar restrições legais e facilitar a aprovação de um projeto privado, cuja utilidade pública é, no mínimo, muito discutível“.

A posição conjunta, divulgada esta sexta-feira e enviada à agência Lusa, reúne a Zero, Associação de Agricultores de Grândola, Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS), Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), Associação de Defesa do Ambiente “Proteger Grândola” e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

E surge no âmbito da consulta pública referente ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do estudo prévio do projeto, que terminou no passado dia 30 de abril, com um total de 630 participações.

O investimento, previsto “nascer” na União de Freguesias de Grândola e Santa Margarida da Serra, no concelho de Grândola, e na freguesia de Torrão, no concelho de Alcácer do Sal, tem uma área de 1.649 hectares e inclui infraestruturas para produção de energia fotovoltaica, corredor para linha elétrica e conduta de água para abastecimento da unidade.

No entender destas seis organizações, apesar do “tempo de vida útil expectável” do projeto ser “de apenas 11 anos”, o EIA “levanta sérias dúvidas” no que respeita aos “impactes nos recursos hídricos, ao incompreensível fracionamento do projeto e à eficácia da compensação florestal”.

No comunicado, os ambientalistas alertam para o consumo de água para fins industriais, “com origem exclusivamente na água subterrânea, sem recurso a fontes externas, num volume médio estimado de 864 metros cúbicos por dia”.

Segundo os subscritores do comunicado, a informação apresentada no EIA “não é suficientemente clara para dissipar dúvidas sobre o volume anual total de água necessário para o funcionamento da mina, sendo frequentemente utilizados dados relativos apenas a volumes médios extraídos”.

Os ambientalistas identificam também a ausência de um “plano alternativo para assegurar o abastecimento” da unidade, em caso de seca, e lembram que a mina está inserida na Região Hidrográfica do Sado e Mira, a qual “enfrenta situações críticas” de escassez de água e de “sobre-exploração dos recursos subterrâneos”.

Além de considerarem que a “presença de áreas com rochas potencialmente geradoras de escorrências ácidas” representa “um risco adicional de contaminação dos recursos hídricos”, criticam a “utilização de cianeto de sódio no processamento do ouro”.

Por se tratar “de uma substância altamente tóxica, com riscos amplamente reconhecidos”, é “inaceitável optar por uma abordagem com um potencial de impacte ambiental tão elevado”, quando existem “alternativas tecnológicas no mercado”, apontam.

As organizações levantam ainda dúvidas quanto “à eficácia” das medidas de compensação pelo abate de sobreiros e criticam a ausência de uma avaliação, no âmbito da consulta pública, dos projetos da Linha Elétrica e da conduta adutora de água previstos no investimento.

O projeto promovido pela Redcorp — Empreendimentos Mineiros, Lda mereceu igualmente a discordância da Câmara e Assembleia Municipal de Grândola, tendo esta última proposto impugnar o investimento nos tribunais, assim como o parecer desfavorável da Câmara de Alcácer do Sal.

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