África do Sul. Mulher condenada a prisão perpétua por vender filha de seis anos

Joshlin Smith desapareceu em fevereiro de 2024 da sua casa em Saldanha Bay, uma pequena cidade piscatória 135 quilómetros a norte da Cidade do Cabo, e nunca foi encontrada. Agora, a mãe, Racquel “Kelly” Smith e outros dois coarguidos, o namorado e um amigo, foram condenados à pena máxima de prisão perpétua por tráfico de seres humanos e a dez anos por rapto. Para a justiça ficou provado que a criança de seis anos foi raptada e vendida por 20.000 rands (cerca de 980 euros).
“Não preciso de sublinhar a gravidade [dos factos]: o rapto de uma menina de 6 anos, privando-a da sua liberdade de movimentos e da sua liberdade”, afirmou o juiz do Tribunal Superior do Cabo Ocidental, Nathan Erasmus, citado pela britânica BBC. “Pelo crime de tráfico de seres humanos, é condenada a prisão perpétua. Pelo crime de rapto, é condenada a dez anos de prisão“, anunciou Erasmus, sob fortes aplausos na sala de audiências.
Durante as audiências da sentença, Kelly Smith e os dois coarguidos recusaram-se a testemunhar ou a chamar qualquer testemunha para os defender. Por seu turno, foram ouvidas mais de 30 testemunhas que descreveram a vida conturbada de Smith.
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A mãe da menina de seis anos foi descrita como manipuladora e alguém que contava “mentiras descaradas“. Uma assistente social a cargo do relatório do caso chegou a dizer que não seria “exagero concluir que [Kelly] Smith é a mente por trás do tráfico da sua própria filha”.
Lourentia Lombaard, uma amiga e vizinha de Smith, também prestou depoimento, alegando que Kelly lhe disse que tinha feito “algo estúpido“: vendeu Joshlin a um curandeiro tradicional, conhecido na África do Sul como “sangoma”, acrescentando que esse curandeiro queria apenas os olhos e a pele da menina.
Antes da sentença, a avó de Joshlin, Amanda Smith-Daniels, implorou para que a filha lhe dissesse onde está a criança. “Não sinto que qualquer sentença que eles recebam vá trazer a minha neta de volta”, afirmou à emissora local Newzroom Afrika, acrescentando que o desaparecimento da menina deixou a família “destruída”.
O desaparecimento da criança desencadeou uma operação de busca a nível nacional e a fotografia da menina foi amplamente divulgada nas redes sociais. O caso causou grande agitação no país, com um ministro a oferecer uma recompensa de um milhão de rands (49 398 mil euros) pelo seu regresso em segurança.
De acordo com a BBC, as autoridades garantiram que as buscas continuam tanto dentro do país, como a nível internacional. “Não vamos descansar enquanto não descobrirmos o que aconteceu a Joshlin. Continuamos à procura dela”, afirmou o comissário da polícia, Thembisile Patekile, à imprensa local.
A África do Sul tem uma das taxas de criminalidade mais elevadas do mundo e os raptos de crianças estão a aumentar, segundo dados oficiais.