Fomos ver o que tem de especial a subida à Senhora da Graça: “Há sempre música, vinho e muita amizade”


A subida à Senhora da Graça, em Mondim de Basto, é há décadas um dos momentos mais aguardados da Volta a Portugal. A dureza dos últimos quilómetros não assusta apenas os ciclistas, mas também atrai centenas de adeptos que, com bandeiras, faixas, música, fogareiros e muita boa disposição, transformam a serra num autêntico estádio ao ar livre.
Este domingo, a tradição repetiu-se: durante os oito quilómetros da subida do Monte Farinha, a estrada estava repleta de adeptos, alguns já instalados desde o dia anterior.
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Entre o colorido das camisolas e o som dos megafones, conversámos com dois grupos que, apesar de diferentes nas origens e na dimensão, partilham a mesma paixão pelo ciclismo e pela Senhora da Graça.
Aníbal Barros veio de Viana do Castelo com três amigos para apoiar o conterrâneo César Fonte, que cumpre este ano a sua 15.ª participação na Volta a Portugal. Chegaram no sábado, almoçaram em Mondim e subiram logo à serra para garantir um bom lugar junto à estrada.
Enquanto esperavam pela etapa, ainda acolheram um outro adepto que, a meio da subida, já mostrava sinais de cansaço e… sede. “Já fazemos isto há 15 anos. É uma jornada de convívio, é um gosto enorme estar aqui a apoiar o César. Uns anos vimos todos, outros faltam alguns, mas esta tradição nunca vamos deixar. O calor é muito, os líquidos nunca chegam, mas há sempre música, vinho e muita amizade”, contou Aníbal, sempre sorridente.
Para este grupo, a noite foi passada entre música, histórias antigas e um ambiente de festa que só termina depois da passagem do pelotão.
Uns metros mais à frente, do outro lado da estrada, o Penafiel Bike Club fez-se notar. Cerca de 35 pessoas vieram para apoiar, entre outros, Rui Carvalho, Cláudio Leal e Tiago Leal, todos corredores do pelotão desta Volta
A coordenar parte da logística estava Sofia Gaspar, que explicou que chegaram depois do almoço de sábado e que a primeira tarefa foi encontrar estacionamento para todos.
“Basicamente, passámos o tempo ontem [sábado] a arrumar carros, porque não podíamos tê-los aqui, então foi um vai e vem”, confessa. “Depois, passámos o dia todo juntos, a comer e a beber. Somos uma grande família. Temos uma escola de ciclismo e já estamos habituados a estas aventuras. A Senhora da Graça é a festa que mais gostamos de ver. É perto de casa e aproveitamos para passar o fim de semana e apoiar o ciclismo, que bem precisa.”
O grupo montou mesas, cadeiras e sombras, transformando o local num ponto impossível de passar despercebido.
Ano após ano, a subida à Senhora da Graça mantém o seu encanto. Para uns, é um desafio físico; para outros, um momento de reencontro com amigos e família. No ar mistura-se o cheiro a grelhados, o som dos cânticos e o entusiasmo que cresce a cada minuto até à passagem dos ciclistas.
Quando o pelotão surge na curva, os gritos de incentivo ecoam pela serra, e, por instantes, todos se sentem parte da corrida. É assim que esta tradição se mantém viva: pela paixão, pela festa e pela comunhão de todos os que, mesmo sob o sol forte de agosto, sobem à Senhora da Graça para viver de perto um dos momentos mais míticos do ciclismo português.
*jornalista em serviço especial para a Rádio Renascença