Porquê o Alasca Negociar na terra gelada é uma vitória para Trump e Putin


Nos últimos dias, muito se especulou em relação ao país onde poderia ocorrer a tão esperada reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a primeira desde 2018, com a guerra na Ucrânia como tema dominante. Emirados Árabes Unidos, Itália ou Suíça foram algumas das hipóteses avançadas mas nenhuma se confirmou. O encontro vai ter lugar no Alasca, um estado norte-americano. A escolha, que poderá parecer à primeira vista surpreendente, poderá afinal ter sido uma vitória para a diplomacia dos dois países.
No caso de Trump, organizar a reunião em território americano pode ser visto como uma demonstração de força e poder, uma vez que é Putin que vai ter de se deslocar aos EUA, escreve o The Telegraph. Recorde-se que há quase 10 anos que o presidente russo não pisa solo norte-americano — a última visita de Putin aos Estados Unidos aconteceu em setembro de 2015, quando participou na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque e se encontrou com o então presidente dos EUA Barack Obama.
A escolha do estado do Alasca para local da reunião entre os líderes das duas maiores potências nucleares do planeta também tem vantagens para o presidente russo. Desde logo, permite a Putin evitar sobrevoar qualquer outro país, nomeadamente países considerados hostis e signatários do Tribunal Penal Internacional — um tribunal que emitiu um mandado de captura contra o presidente russo, em março de 2023, pela prática de crimes de guerra. Desta forma, Putin sairá de Moscovo, atravessará todo o território russo e também o estreito de Bering e aterrará no Alasca — o território norte-americano mais próximo da Rússia (vendido, aliás, pelos russos aos EUA, em 1867, em troca de sete milhões de dólares).
Os elogios à decisão de organizar a reunião no Alasca têm ecoado nos dois países. O republicano Mike Dunleavy, o governador do Alasca, diz que aquele estado é uma “ponte entre as nações” e “o local mais estratégico do mundo”. Já Yuri Ushakov, um oficial sénior próximo de Putin, descreveu o Alasca como o ponto de encontro “lógico” e lembrou, citado pela agência russa TASS, que “Rússia e EUA são vizinhos próximos, partilhando uma fronteira comum”. “Parece bastante lógico que a nossa delegação atravesse simplesmente o Estreito de Bering e que a importante e antecipada reunião dos líderes desses dois países aconteça precisamente no Alasca”, acrescentou Ushakov.
This week started with administration officials refusing to acknowledge that Russia started the war in Ukraine. It ends with a tense, shocking conversation in the Oval Office and whispers from the White House that they may try to end all U.S. support for Ukraine. I know foreign…
— Sen. Lisa Murkowski (@lisamurkowski) March 1, 2025
Embora possa parecer provável que a sugestão do Alasca tenha partido da administração Trump, alguns especialistas dizem, por outro lado, que a ideia pode ter tido origem em Moscovo, de forma a agradar ao presidente dos EUA.
Mas se a escolha do Alasca tem sido elogiada pelos republicanos do estado, o facto de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter ficado (para já) de fora do encontro motivou duras críticas da experiente senadora do Alasca Lisa Murkowski — uma acérrima defensora da Ucrânia. “Sei que política externa não é para os fracos, mas neste momento estou enjoada, pois o governo parece estar a afastar-se dos nossos aliados e a abraçar Putin, uma ameaça à democracia e aos valores dos EUA em todo o mundo”, escreveu Murkowski na rede social X.
Para já, os EUA mantêm os planos para uma reunião a dois entre Donald Trump e Vladimir Putin. No entanto, a CNN citou neste domingo um alto representante da Casa Branca indicando que o Presidente norte-americano está “aberto a uma cimeira trilateral com ambos os líderes [Putin e Zelensky]” — uma ideia à qual o vice-presidente norte-americano JD Vance se opõe.