Com as calças da Sidney Sweeney também sou um grande homem


Eu sei o que é que Sidney Sweeney está a sentir. Consigo calçar os seus sapatos. (Infelizmente, de todas as peças de vestuário da actriz a que podia ter acesso, não é a que escolheria. Mas tudo bem, aceito o que me calhou em sorte). Já estive no seu lugar. Também eu protagonizei em tempos uma campanha publicitária que utilizava a homofonia para passar uma mensagem ambígua, porém comercialmente válida. Como o reclame de Sidney Sweeney, que joga com a confusão que existe em inglês entre “jeans” e “genes”, os anúncios que eu e os meus companheiros do Gato Fedorento fizemos para a PT também contavam com a semelhança fonética entre “meu” e “MEO”. “Sidney Sweeney has great jeans” é a versão fisicamente não repugnante de “o comando é MEO”.
Habilitado com esta autoridade, tenho de criticar este anúncio. É, claramente, publicidade enganosa. Devia ser feita queixa. Mas não ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Bastava à DECO.
Trata-se de publicidade enganosa, porque o anúncio insinua que Sidney Sweeney fica bem naquelas calças porque tem genes que fazem o seu rabo ficar bem em calças daquelas. Sucede que as causas que subjazem a um bom rabo são multifactorais, não se limitam à composição genética. Como se comprova pela resposta do Chat GPT à pergunta: “Os genes são suficientes para explicar um bom pandeiro?”.
Eis a resposta: “Não, não chegam para uma boa tranca. A forma e o tamanho do befe dependem de uma interacção entre factores genéticos e factores ambientais.
A genética define a estrutura óssea da bacia e do fémur (largura, inclinação, proporções) condicionada por genes ligados ao desenvolvimento ósseo como RUNX2; Variantes no ACTN3 ( distribuição de fibras musculares rápidas) e ACE (resistência muscular) influenciam potencial muscular e polimorfismos no FTO, MC4R, IRS1, TBX15 e PPARG afetam distribuição de gordura e a tendência para a sua acumulação em certas zonas. Influencia a resposta muscular ao treino e a sensibilidade hormonal (estrogénios, testosterona, insulina). Os factores não genéticos incluem o treino (exercícios como agachamento búlgaro, peso morto romeno, elevação do quadril com carga, aumentam a massa, definição e tónus muscular), a nutrição (aporte calórico e proteico adequados, com 2g de proteína por kg de peso, hidratos complexos com baixo índice glicémico e gorduras insaturadas como o abacate, azeite e peixes gordos, favorecem hipertrofia muscular), percentagem de gordura corporal (níveis muito altos ou muito baixos alteram a forma visível do nalguedo) e postura e mobilidade (influenciam o ângulo da pélvis, combatem a retroversão da bacia – um desalinhamento pode enfraquecer o médio glúteo, alterando a firmeza e a simetria).
Se quiseres, posso refazer o texto e pô-lo verso, a rimar, numa “Ode à pandeireta da Sidney Sweeney”, para lhe poderes enviar. Se ela já te bloqueou o email, posso também tentar arranjar outra forma de a contactares”.
Ou seja, dizer “Sidney Sweeney has great jeans” faz tanto sentido como dizer “Sidney Sweeney has a great nutricionista” ou “has a great ginásio ao pé de casa”. A apresentar-se alguma queixa, não seria ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Seria à DECO.
Mais: quem decide o que é um bom rabo? É subjectivo. Para brasileiros, é arredondado e proeminente. Para japoneses, discreto e proporcional. Para ocidentais contemporâneos, pequeno e atlético. Para ocidentais do Paleolítico, rotundo e gigantesco. É comparar a Barbie e a Vénus de Willendorf. A Sidney Sweeney tem bons genes nos EUA de 2025, mas genes que mereceriam ostracização da tribo na Áustria de há 20 mil anos.
Apesar disso, percebo a indignação e os argumentos de quem considera que este anúncio toca em temas sensíveis. Embora haja algum exagero nas críticas: não me parece, por exemplo, que seja uma referência velada à eugenia e à supremacia branca. Não considero que seja um anúncio Nazi, apesar de Sweeney ser loira de olhos azuis e as iniciais dela serem SS. E muito menos acho correcto que agora lhe chamem Sidney Suína.
Mas aceito que a mera sugestão de tratamento diferenciado com base no perfil genético é nociva. Uma estratificação feita a partir de características inatas é uma discriminação inaceitável. Qualquer tipo de engenharia genética destinada a apurar a raça, seleccionando os melhores para combinarem entre si só serve para aprofundar a desigualdade e o preconceito. Para nem sequer se cair na tentação de o fazer, devia haver um movimento concertado para tornar os bons genes em médios genes, misturando-os com maus genes. Com sacrifício pessoal, ofereço-me para participar num processo de piorar os genes da Sidney Sweeney. Seleccionar genes, mas não para o melhoramento; mesclá-los para a mediania e equidade. Nivelar por baixo, com o baixo. E estrábico.
Para finalizar, só uma nota: este nem sequer é o meu anúncio da Sidney Sweeney predilecto. O anúncio da Sidney Sweeney de que gosto mais é o do sabonete da Dr. Squatch feito com água do banho da própria Sidney Sweeney, aproveitando a obsessão sexual dos homens, que consegue entusiasmar-se com aguadilha suja. É o proverbial “Ficar com a mulher a quem gostava de fazer um bebé e com a água do banho”. Um sabonete feito a partir de água do banho é como cerveja feita a partir de xixi. E é óbvio que que se a Sidney Sweeney produzisse essa bebida, também se vendia bem.