Trancoso com frente de 6km. Mais de 2500 operacionais combatem 22 incêndios

Um violento incêndio deflagrou na madrugada desta quarta-feira junto à aldeia de xisto do Piódão, concelho de Arganil, e está a ser combatido por 625 bombeiros, 190 viaturas terrestres e sete aeronaves por volta das 16h. Imagens que estão a correr nas redes sociais mostram a aldeia praticamente cercada pelas chamas. O fogo terá começado devido à trovoada que se abateu sobre o Centro do país durante a noite.
O fogo que lavra em Trancoso desde sábado tem, esta noite, uma frente activa com cerca de seis quilómetros e “muito trabalho” pela frente para os operacionais, de acordo com a Protecção Civil.
“Foi um dia muito difícil, ao fim do qual temos uma frente activa com cerca de seis quilómetros. Ainda temos muito trabalho pela frente”, disse à agência Lusa o comandante operacional Carlos Silva.
Durante o dia as chamas rondaram várias localidades dos concelhos de Trancoso e de Fornos de Algodres, tendo entrado nos municípios vizinhos de Celorico da Beira, durante a tarde, e de Aguiar da Beira (concelhos do distrito da Guarda) ao final do dia.
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, diz que a próxima sexta-feira, 15 de Agosto, será o dia mais preocupante, tendo em conta os dados meteorológicos disponíveis. Esta tem sido uma preocupação veiculada por vários especialistas, que apontam dia 15 de Agosto como uma grande preocupação.
“É um dia particularmente preocupante porque há uma convergência de condições objectivas meteorológicos e físicas que aponta para uma situação muito propícia de permanência ou agravamento dos fogos florestais”, alerta o chefe de Estado, dizendo que o período de alerta se estende para o fim-de-semana. Em declarações aos jornalistas, Marcelo agradece a todos os que combatem os incêndios, dizendo que os últimos dias têm sido “uma brutalidade”.
O incêndio florestal que eclodiu na serra do Açor, no município de Arganil, distrito de Coimbra, estendeu-se a Seia (Guarda), obrigando à deslocação de cerca de 55 pessoas dos dois municípios, mas sem danos nas habitações, disse fonte oficial.
Segundo o presidente da Câmara de Seia, Luciano Ribeiro, “logo que foi dada a ordem de evacuação ao início da tarde”, foram concentradas na Casa do Povo de Vide, “cerca de 55 pessoas” de “algumas povoações do concelho de Seia, mas também do concelho de Arganil”.
Há confirmação de pelo menos três bombeiros feridos, da parte da manhã, mas sem gravidade. Luís Paulo Costa, presidente da Câmara de Arganil, disse à SIC Notícias, ao final da manhã, que os “ventos intensos, com direcções errantes, têm dificultado o trabalho dos bombeiros” e que não conseguia precisar quantas frentes tinha o incêndio. Ao final da tarde, desta feita à CNN Portugal, o autarca adiantou que a situação tinha piorado. “As projecções colocaram o fogo com uma nova frente”, adiantou Luís Paulo Costa, confirmando que as chamas já tinha entrado no concelho de Seia.
Duas aldeias da freguesia de Piódão, Foz d’Égua e Chãs d’Égua, foram evacuadas pelas 11h e, com o piorar da situação, a população de outras sete aldeias também teve que ser retirada ao início da tarde desta quarta-feira, segundo o canal.
O presidente da Junta de Freguesia do Piódão, José Lopes, explicou que estes moradores foram levados para o centro social de Vide, já no concelho de Seia, distrito da Guarda, a cerca de dez quilómetros de Piódão. “São pessoas mais idosas e mais debilitadas, que foram retiradas para as salvaguardar”, frisou o autarca.
Há meios dos bombeiros dentro da aldeia histórica e em zonas circundantes e, por causa das cinzas e do fumo, algumas pessoas foram abrigadas na igreja matriz. “A faixa de segurança em redor da aldeia que andámos a fazer é que talvez ajude a salvaguardar as casas e o património. De resto, em termos florestais, vai ficar tudo queimado”, lamentou o presidente da junta.
O incêndio já se estendeu à freguesia vizinha de Pomares, constituída por 12 aldeias, parte das quais está directamente na linha de fogo. O presidente da junta, Amândio Dinis, disse à Lusa ao início da tarde que uma das frentes de chamas evoluiu do Piódão para as encostas da serra do Açor junto das localidades de Porto Silvado e Sobral Magro: “Estão lá muitos bombeiros e essa parte está controlada, há é muito fumo. Em Sobral Magro ardeu tudo à volta, mas a aldeia está salvaguardada”, indicou.
Mais de 2150 operacionais combatiam pelas 17h os seis maiores incêndios activos em Portugal continental, apoiados por 682 viaturas e 23 aeronaves, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC).
De acordo com a informação disponível na página da Internet da ANEPC às 17h, o fogo que mobilizava mais meios era o que deflagrou cerca das 5h em Piódão, no concelho de Arganil, distrito de Coimbra, com 640 operacionais, 195 meios terrestres e dez aeronaves.
O autarca disse ainda que, por precaução e devido principalmente ao fumo, foram retirados de casa moradores das localidades de Porto Silvado e Vale do Torno. Na zona do incêndio, existem mais povoações — Soito da Ruiva, Gramaça e Sobral Gordo, entre outras — que se encontram, aparentemente, a salvo.
Pelas 10h, em declarações ao PÚBLICO, o presidente da Junta de Freguesia do Piódão, José Lopes, mostrava-se apreensivo com o vento forte que se sentia no local e com a possibilidade de as duas frentes de incêndio que existiam na altura se “juntarem”, uma vez que a aldeia estava praticamente cercada por chamas. Ainda assim, o autarca destacava que a aldeia tinha tido “a sorte de os bombeiros chegarem antes de os caminhos estarem cortados”.
A maioria da população acorreu à praça central da típica aldeia de xisto, onde Agosto é um período tipicamente de festa e de chegada de muitos turistas e emigrantes. A GNR aconselhou alguns idosos e pessoas com mobilidade reduzida a dirigirem-se à igreja matriz, para estarem protegidas do fumo e das cinzas.
Devido a este incêndio, a Câmara Municipal de Arganil decidiu activar na manhã de quarta o Plano Municipal de Emergência e Protecção Civil, considerando que “a situação nas próximas horas tenderá a agravar-se”.
Trancoso preocupa
A trovoada que atingiu durante a madrugada o distrito da Guarda também originou um reacendimento no incêndio de Trancoso, que fez agravar as condições adversas no terreno e obrigou a Protecção Civil a fazer um reforço de meios na manhã desta quarta-feira. A GNR encerrou também a Estrada Nacional 330 (nos dois sentidos), entre as localidades de Penaverde e Maceira.
A aldeia de Queiriz, no concelho de Fornos de Algodres, está a viver uma “situação complicada” devido ao incêndio rural que lavra desde sábado no concelho vizinho de Trancoso. “O fogo está junto à povoação e a situação está complicada, com bombeiros e população a fazerem a protecção das casas”, disse à agência Lusa Carlos Silva, comandante operacional do Oeste, que está no posto de comando.
Esta frente progrediu com intensidade durante a manhã, vinda de Aldeia Nova, no concelho de Trancoso, tendo passado por localidades como Casal do Monte e Aveleiros. “Não há registo de casas afectadas, apenas quintais, pastos e um povoamento florestal que ardidos”, acrescentou o comandante operacional.
Carlos Silva adiantou que os meios no terreno podem vir a beneficiar da ajuda do vento e que ainda não houve necessidade de evacuar a aldeia de Queiriz. Quanto ao reforço de meios, admitiu que neste momento não é possível devido ao número de ocorrências activas no país.
Vários incêndios deflagraram esta madrugada
Entretanto, durante a madrugada deflagraram incêndios em vários pontos do país, um deles em Sátão, onde às 16h estavam 240 operacionais, 77 viaturas e cinco aeronaves a combater três frentes activas que consomem mato e pinhal. Há três localidades — Aldeia Nova, Carrasqueira e Outeiro de Cima — numa das linhas de fogo mas fora de risco, disse à agência o segundo comandante do Comando Sub-regional Viseu Dão Lafões.
Houve também focos novos em Macedo de Cavaleiros e Sabugal, que pelas 8h30 estavam em fase de resolução. Já o incêndio florestal na zona de Ermidas-Sado, no concelho de Santiago do Cacém, que deflagrou na tarde de terça-feira, entrou em fase de resolução durante a madrugada, de acordo com a Protecção Civil. O fogo, que chegou a ter três frentes activas, foi dominado às 2h30, declarou à Lusa uma fonte do Comando Sub-regional do Alentejo Litoral.
Um incêndio rural em Tabuaço, que tem sido considerado pela Protecção Civil como uma ocorrência significativa, começou no domingo à noite na freguesia de Távora e Pinheiro e continua a lavrar esta quarta-feira. Permanecem no terreno, pelas 16h, 250 operacionais e 80 viaturas.
O trânsito encontra-se cortado na Estrada Nacional (EN) 323, nos dois sentidos, entre as localidades de Távora e Granjinha, no concelho de Tabuaço, distrito de Viseu, devido à ocorrência de fogos rurais na região, segundo avançou a Guarda Nacional Republicana.
O incêndio que lavrou em Sobral de São Miguel, no concelho da Covilhã, entre domingo e terça-feira, encontra-se em fase de vigilância e consumiu cerca de 700 hectares de mato, pinho e eucalipto, informou o presidente do município. Vítor Pereira frisou que não ardeu qualquer casa e que se evitaram danos na integridade física, numa zona que já tinha sido consumida pelas chamas há cinco anos.
Fogo em Vila Real queimou 6400 hectares
Cerca de 80% do perímetro do incêndio na serra do Alvão, em Vila Real, encontra-se em rescaldo e vigilância, estando as atenções concentradas na frente da Samardã e pontos quentes deste fogo que já queimou 6445 hectares.
Segundo adiantou o comandante das operações de socorro, David Lobato, num briefing feito ao início da tarde aos jornalistas, falta dominar cerca de 20% do perímetro deste incêndio que deflagrou no dia 2 de Agosto, em Sirarelhos, se estendeu a Mondim de Basto, esteve em conclusão e teve duas reactivações.
O também comandante sub-regional do Médio Tejo chamou a atenção para as condições meteorológicas que se fazem sentir hoje, como as elevadas temperaturas, sendo esperada, pelas 15h, uma rotação do vento. Esta é uma zona de serra, com ventos erráticos e temperaturas a rondar os 40 graus em vários dias consecutivos. Espera-se uma tarde de muito trabalho na serra do Alvão por causa dos pontos quentes. Os meios vão manter-se no terreno e, se não houver uma reactivação, o fogo poderá entrar em fase de resolução ao final do dia.
Durante os dias em que o incêndio lavrou, cinco operacionais ficaram com ferimentos considerados leves e duas casas de segunda habitação foram atingidas.
David Lobato realçou que, no terreno, vão manter-se cerca de 400 operacionais, com 100 veículos e ainda a actuação de dois helicópteros, que estão a trabalhar em rotação, ou seja, está sempre um deles no teatro de operações. “Não vamos desacelerar”, garantiu, referindo que, ao final da noite se fará uma nova avaliação deste incêndio que já percorreu cerca de três dezenas de aldeias da serra do Alvão. Com Lusa