Municípios não agregados em escassez hídrica sem penalização de 15% no acesso a fundos


Os municípios não agregados vão deixar de ter uma penalização de 15% no acesso a fundos comunitários para investimento no setor da água, desde que se encontrem em escassez hídrica, afirmou esta segunda-feira à Lusa a ministra do Ambiente.
A medida, adotada no Conselho de Ministros de quinta-feira, altera o plano estratégico de abastecimento de água e gestão de águas residuais e pluviais até 2030 (PENSAARP2030), para evitar que a penalização de 15% aos municípios não agregados e em escassez hídrica dificulte o acesso destas autarquias a fundos comunitários para obras consideradas essenciais, como a atualização de infraestruturas para evitar perdas de água.
O PENSAARP2030, de fevereiro de 2024, incentivou os municípios a agregarem-se, em entidades intermunicipais ou em parcerias com as entidades gestoras do grupo das Águas de Portugal, para concorrer aos fundos europeus no setor da água.
Na primeira versão do plano, apenas os municípios agregados podiam concorrer a fundos comunitários, através dos Programas Operacionais (PO), o que deixou muitos municípios, que não se agruparam, impedidos de acesso a financiamento para projetos de água e saneamento.
Nesse sentido, foi feita uma alteração ao diploma em meados de 2024, dando possibilidade aos municípios não agregados de concorrerem, mas com uma penalização de 15% na taxa de financiamento.
“Decidimos fazer uma nova modificação e dizer que, no caso dos não agregados, desde que estivessem em situação de escassez hídrica, que é o caso do sul do país praticamente todo, mas com impacto muito grande no Algarve, excecionalmente, vamos abolir os 15% de penalização”, explicou Maria da Graça Carvalho.
A ministra do Ambiente e Energia salientou que o ministério continua a promover a agregação de municípios, por considerar que “tem todas as vantagens”, porque é conseguida “uma massa crítica” para fazer investimentos.
No entanto, os 16 municípios do Algarve, que não se agregaram, indicaram à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) que não iriam conseguir executar obras, por não conseguirem financiar a componente nacional das intervenções.
No caso do Algarve, o PO regional financia investimentos neste setor em 60%, pelo que, com a penalização de 15%, havia um financiamento efetivo de apenas 45%, tendo os municípios de avançar com verbas para completar os restantes 55% dos investimentos.
“É a zona que mais precisa de investir na redução das perdas de água, que é feita pelos municípios. E tem no PO uma verba ainda substancial para [investir nas] perdas de água”, explicou Maria da Graça Carvalho.
Segundo a ministra, a medida também pode abranger o Alentejo, onde tradicionalmente há escassez hídrica, embora nesta zona existam muitos municípios agregados, pelo que já não têm a penalização dos 15%. Outros municípios de zonas com escassez hídrica, como o Oeste, Trás-os-Montes e Viseu, também podem ser abrangidos, acrescentou.
Os restantes programas operacionais, à exceção do de Lisboa e Vale do Tejo, têm financiamentos pagos a 85% pelos fundos comunitários, o que implica que estas regiões “podem suportar melhor estes 15%” de penalização em caso de municípios não agregados.
A regra “n+3” de utilização dos fundos comunitários (que significa que a dotação de um programa pode ser executada nos três anos seguintes à sua dotação original) implica que os municípios, se não conseguirem executar, ficam sem a obra, além de haver um corte desse financiamento no programa operacional.
A declaração de escassez hídrica pode ser pedida junto da entidade responsável, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Em meados de 2024, a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) calculava que cerca de 72% dos 278 municípios do continente tinham modelos de gestão não agregados, pelo que estavam sujeitos a penalização no acesso a fundos comunitários.