Stock da dívida pública de Moçambique disparou mais de 26% em cinco anos

O stock da dívida pública de Moçambique aumentou 26,2% em cinco anos, fechando 2024 num recorde de 16.238 milhões de dólares (14.430 milhões de euros), anunciou o Ministério das Finanças, alertando para o contínuo crescimento do endividamento interno.

“Este incremento foi impulsionado, em grande medida, pelo crescimento acelerado do endividamento interno, resultante do financiamento do défice de Tesouraria, após o congelamento do apoio ao Orçamento do Estado por parte dos parceiros internacionais. A dívida do Governo Central mantém-se predominantemente composta por dívida externa, que representa 61% do total, enquanto os restantes 39% correspondem à dívida interna”, refere-se no relatório da dívida pública de 2024, a que a Lusa teve acesso esta segunda-feira.

O documento “evidencia a trajetória de ajustamento fiscal e os progressos na gestão da dívida” de Moçambique, “contudo, a crescente dependência do financiamento interno e a pressão do serviço da dívida na tesouraria do Estado, impõem desafios adicionais à sustentabilidade fiscal”.

Segundo o relatório, do Ministério das Finanças, o stock da dívida pública era, em 2020, de 12.935 milhões de dólares (11.500 milhões de euros), e cresceu mais 7,9% em 2024, face ao ano anterior.

Este crescimento foi impulsionado pela dívida interna, através das emissões de Bilhetes do Tesouro e do financiamento através do Banco Central, com um incremento de 29,7% e representando 39% do stock total, revelando uma dependência crescente do financiamento interno”, alerta-se no documento.

Segundo a mesma fonte, em contrapartida, o total da dívida externa recuou 2,6% em 2024, “influenciada pelo alívio da dívida ao Iraque, bem como pelos ajustamentos de dados”, resultado da migração do antigo sistema de gestão da dívida, CS-DRMS, para o novo sistema MERIDIAN.

Por outro lado, no relatório aponta-se que a “atual carteira de dívida continua exposta a um elevado risco de refinanciamento” e que só no ano passado, do total da carteira de dívida, 22,0% “venceu num ano” e 47,7% do total da dívida interna “teve de ser refinanciada em 2024, enquanto a dívida externa apenas 5,6%.

“A análise de custo-risco mostra que, em 2024, o total da carteira de dívida com taxa de juro fixa era de 89,5%. Os dados mostram ainda que o risco é maior na dívida interna devido à estrutura de maturidade curta, com 60,9% do total sensível a alterações nas taxas de juro num ano. De igual modo, a carteira total de dívida está exposta a um elevado risco cambial, dado que 61,0% é constituída por instrumentos indexados à taxa de câmbio”, sublinha-se.

No relatório recorda-se ainda que o Estado moçambicano alcançou em 2024 um acordo extrajudicial envolvendo o Credit Suisse e o grupo Privinvest, no tribunal Superior de Londres, “que reduziu a exposição do Estado em relação às Dívidas Não Declaradas, de 1.400 milhões para 220 milhões de dólares” (1.245 para 195,5 milhões de euros).

Esse valor, explica-se no documento, corresponde “a uma redução de 84% do total reivindicada pelos bancos, dos quais cerca de 66% correspondem à componente de capital” e “em contrapartida”, Moçambique receberá uma indemnização acima de 825 milhões de dólares (733,2 milhões de euros).

O Alqueva dos estrangeiros e Kim Kardashian em tribunal

Neste episódio do Economia Expresso, falamos do acordo entre os Estados Unidos e a China de fazer uma redução nas tarifas. Passamos pela energia perdida no apagão e pelos investimentos da NOS. Damos todos os detalhes do investimento estrangeiro nas terras agrícolas portuguesas, incluíndo o Alqueva. E terminamos com a ida de Kim Kardashian a tribunal, para testemunhar

Ventura tinha razão: a factura é obrigatória

Presidente do Chega ia comprar um quadro, até arranjou notas em vez de cartão, mas afinal não comprou nada. A vencedora não passa recibos. O episódio invulgar decorreu neste sábado, quando a comitiva do Chega passou pelo Mercado Municipal de Vila Real. André Ventura, que liderava a comitiva, deparou-se com uma vendedora de quadros, desenhados à mão pela filha. O presidente do Chega começou por elogiar o trabalho, e comentou que as obras de arte não são a sua praia, assumindo não ter jeito para pintar e desenhar. Depois desta troca de impressões, durante alguns segundos, enquanto observava os quadros,

Ministra relaciona mortalidade infantil com falta de investimento dos antecessores

A ministra da Saúde disse esta segunda-feira que o aumento da mortalidade infantil está mais relacionado com a diminuição do investimento na área materno-infatil nos últimos anos do que com o encerramento de urgências de ginecologia e obstetrícia durante 2024.

“Ninguém pode dizer hoje que não está relacionado, mais do que com as urgências [encerradas], com a diminuição, nos últimos anos, daquilo que tem sido o investimento que precisamos de fazer, concretamente, no sistema público, na área materno-infantil”, afirmou Ana Paula Martins, à margem das comemorações do Dia Internacional do Enfermeiro, no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real.

A ministra da Saúde respondia aos jornalistas, que a questionaram sobre a notícia hoje avançada pelo Correio da Manhã de que a taxa de mortalidade infantil em Portugal subiu 20% em 2024, ano marcado por vários serviços de urgências de ginecologia e obstetrícia encerrados, facto que a ministra admitiu não ser “uma boa resposta”.

“Obviamente que ter urgências que estão fechadas ou que são intermitentes não é uma boa resposta, ter urgências de pediatria que estão mais fragilizadas também não é uma boa resposta”, referiu a responsável da pasta da Saúde.

De acordo com as “Estatísticas Vitais” do INE, registaram-se, em 2024, 118.374 óbitos, mais 0,1% (79 óbitos) do que em 2023, dos quais 252 óbitos foram de crianças com menos de um ano (mais 42 do que em 2023), o que se traduziu no aumento da taxa de mortalidade infantil para 3,0 óbitos por mil nados-vivos (2,5 em 2023).

Ana Paula Martins apontou como soluções o “indiscutível” reforço “das equipas de saúde materno-infantil na região de Lisboa e Vale do Tejo, sobretudo na Península de Setúbal”, onde os dados da mortalidade infantil “deixam maior preocupação”, tal como o PÚBLICO já tinha escrito em Janeiro.

“No centro de tudo isto estão duas coisas essenciais: primeiro, recursos humanos, temos de mobilizar mais obstetras para estar no SNS e temos de valorizar os nossos enfermeiros da área materno-infantil”, detalhou.

A ministra avançou que já foi feita “uma primeira revisão da composição das equipas da urgência para o número de partos ali realizados”, a par do “SNS grávida”, que “já orientou mais de 35 mil casos para os cuidados de saúde primários”.

Ana Paula Martins referiu ainda que no início do ano a Direcção-Geral da Saúde pediu uma avaliação “caso a caso” dos óbitos verificados “para confirmar as explicações, a nível nacional, uma vez que temos algumas explicações plausíveis”.

A responsável detalhou que neste número se incluem grávidas com maior complexidade sob o ponto de vista das comorbilidades, com doença crónica ou várias doenças crónicas e grávidas que precisam de ter uma vigilância sobretudo no primeiro trimestre de gravidez.

“Aguardamos que este grupo de peritos possa dar-nos indicações precisas se estes números exigem, seguramente exigirão, medidas adicionais àquelas que já estamos a tomar”, afirmou.

Questionada também sobre o aumento de subscrições de seguros de saúde, a ministra disse não ter “um barómetro, nem dados” que lhe permitam saber se é reflexo da falta de confiança no SNS ou da necessidade de garantir uma resposta mais rápida, destacando o trabalho em marcha para reduzir listas de espera.

“O Serviço Nacional de Saúde tem vindo a reforçar, positivamente, este ano, a resposta às listas de espera, uma redução, para cirurgias e também para consultas, menos nas consultas, é verdade. Vemos com muitos bons olhos esta complementaridade entre o serviço público, o privado e o social”, reiterou.

Ana Paula Martins enalteceu ainda que “nas coisas mais graves e mais caras, o Serviço Nacional de Saúde é a rectaguarda de todos os portugueses” e que este se encontra “em diálogo muito estreito” com o sector privado e social para retomar convenções que permitam um acesso mais rápido aos meios complementares de diagnóstico.

Rocha diz que houve “insistência” do PSD para coligação pré-eleitoral

O presidente da Iniciativa Liberal garante que “houve tentativa, por parte da AD, de integrar a IL noutra plataforma” no momento pré-eleitoral. As declarações de Rui Rocha surgem depois de Luís Montenegro se ter referido a esta hipótese como “mexericos políticos”.

Rui Rocha, que esteve em campanha no Algarve, considera que “não se trata de mexericos, mas de se ser transparente com os portugueses”, depois das declarações proferidas por alguns membros da AD. Em causa estão as declarações de Nuno Melo, do CDS, que disse que a sua coligação é apenas com o PSD.

“Eu, sobre a questão dos mexericos, quero dizer que não se trata disso. Trata-se de ser transparente com os portugueses e de enquadrar os portugueses no contexto de declarações que foram feitas por responsáveis da AD. Não me parece que isso sejam mexericos”, disse Rui Rocha, que realça que Luís Montenegro nunca o desmentiu.

“Não é desmentido, porque não pode ser desmentido que houve essa tentativa e essa intenção”, referiu o presidente dos liberais, afirmando que o desafio foi feito pela “mais alta liderança do PSD”. E insistiu: “Tenho a certeza que não dirão o contrário, nem disseram o contrário”, disse.

Rui Rocha acredita que a informação que divulgou “gerou desconforto” na coligação de direita AD e insiste que o seu partido tem um papel a desempenhar num futuro Governo. “Nós não existimos para passar certificados de bom comportamento à AD. Nós existimos para modificar o comportamento da AD”, disse. “Eu sinto que a IL é a luz que lidera esta campanha eleitoral porque nós somos atacados de todo o lado, da esquerda à extrema-direita, à própria AD. Nós somos a luz que, neste momento, está a liderar a discussão política em Portugal”, acrescentou Rui Rocha, considerando que o seu partido é “a luz que falta ao país”.

Casas de apostas coloca Mourinho como favorito a suceder Ruben Amorim no Man. United

Regresso de ‘Mou’ a Old Trafford cada vez mais possível segundo os apostadores da ‘Betfair’. Há outro português entre os candidatos

Ruben Amorim colocou em cima da mesa a possibilidade de deixar o Manchester United caso o clube venha a ter um arranque de temporada igual ou parecido ao desempenho que tem tido esta época na Premier League, principalmente nesta reta final do campeonato.

“Toda a gente está a pensar na final da Liga Europa, mas temos coisas mais importantes em que pensar neste clube. Para mim, a maior preocupação é esta sensação de que está tudo bem, porque já não podemos alterar muito a nossa classificação, então não faz mal. O maior problema neste momento é que estamos a perder o sentimento de que somos um clube enorme e que é o fim do mundo perder um jogo em casa”, disse o técnico português no final da derrota em casa com o West Ham, por 2-0.

Ora, esta segunda-feira, a imprensa desportiva inglesa avançou com a possibilidade de Ruben Amorim sair do clube durante o início da próxima temporada e colocou alguns nomes que poderão suceder ao ex-técnico do Sporting… alguns dos quais surpreendentes, a começar desde logo por quem lidera este ‘ranking’: José Mourinho. Segundo a ‘Betfair’ – e os apostadores desta reconhecida casa de apostas britânica -, o atual treinador do Fenerbahçe é o nome que está mais perto de assumir os red devils caso Ruben Amorim deixe a equipa técnica. Com uma probabilidade de 4-1 (quatro dólares ganhos por cada dólar apostado), José Mourinho lidera uma lista que conta ainda com um outro nome português. Falamos de Marco Silva, atual treinador do Fulham, que tem uma probabilidade de 12 para 1, ou seja, um lucro de 12 dólares por cada dólar apostado.

Relacionada

Em declarações ao ‘The Sun’, um porta-voz da Betfair adiantou: “A época do Manchester United depende da final da Liga Europa na próxima semana. Para Ruben Amorim a derrota é algo impensável, dado o desastre que tem sido esta época, especialmente desde que assumiu o comando. Se os spurs vencerem, poderão surgir algumas questões sobre o seu futuro em Old Trafford, especialmente depois de ter admitido, no fim de semana, que poderá abandonar o clube se as coisas não melhorarem no início da próxima época. Olhando para quem poderia assumir o cargo, um regresso de José Mourinho poderá estar em cima da mesa, com o ‘Special One’ a liderar as apostas.”

José Mourinho orientou o Manchester United entre maio de 2016 e dezembro de 2018, tendo conquistado uma Taça da Liga inglesa e ainda uma Liga Europa ao leme dos red devils.

Por Sérgio Magalhães

Atlas da Educação. Como evoluiu a escolaridade da população nas últimas décadas?

Como evoluiu a escolaridade da população portuguesa nas últimas décadas?

A evolução tem sido muito positiva. Em três décadas, a escolaridade média da população residente em Portugal duplicou. Em 1991, a média era de cerca de 4 anos de estudos. Em 2021, subiu para os 8 anos. No entanto, continua abaixo da meta dos 9 anos definida em 1986, devido ao peso da população mais idosa, com níveis de escolarização mais baixos. Já os adultos mais jovens atingem, em média, os 12 anos de escolaridade obrigatória.

O que permitiu este progresso?

Um dos principais fatores foi a entrada massiva das mulheres no sistema de ensino. Hoje, entre os 25 e os 64 anos, as mulheres têm, em média, mais estudos do que os homens, sendo que esta diferença se inverte apenas nas gerações mais velhas. Atualmente, há uma geração de pais mais qualificada, com destaque para o nível de escolaridade das mães.

Que impacto tem esta evolução nas taxas de abandono escolar?

O impacto tem sido significativo. A taxa de abandono escolar precoce desceu de 63% para cerca de 12% em três décadas, e encontra-se agora abaixo dos 10%, o objetivo definido a nível europeu. O fenómeno está hoje mais presente no sul do continente e nos Açores. Há trinta anos, era no norte. Concelhos como Odemira e Vila Real de Santo António registam um aumento recente, embora longe dos níveis do passado.

E quanto à taxa de retenção?

A taxa de retenção tem estado baixa, mas os dados mais recentes mostram uma tendência de subida, especialmente no final do terceiro ciclo. Os rapazes continuam a reprovar mais do que as raparigas.

A escola está a conseguir reduzir desigualdades?

Sim, mas com limites. Os níveis mais elevados de escolarização concentram-se nos centros urbanos, como Lisboa, Porto e capitais de distrito. Ainda assim, há exemplos positivos em concelhos do interior, como Valpaços (Vila Real) e Vouzela (Viseu), onde os resultados escolares superam o contexto social e cultural. No entanto, o Atlas da Educação sublinha que a redução das desigualdades educativas não é suficiente para compensar as desigualdades do mercado de trabalho. Isso pode ajudar a explicar a emigração de jovens qualificados.

O que mais pesa no sucesso ou insucesso escolar dos alunos?

Segundo o Atlas, os alunos têm mais sucesso quando têm mães licenciadas e vivem em contextos com empresas de qualificação média. Pelo contrário, residir em concelhos com elevada taxa de desemprego, forte presença da agricultura ou grande densidade urbana está associado a piores resultados escolares.

Benfica faz esclarecimento sobre bilhetes da Taça de Portugal e anuncia duas medidas

Dérbi com o Sporting está agendado para o próximo dia 25, às 17h15

O Benfica emitiu um comunicado sobre a venda de bilhetes para o dérbi frente ao Sporting, referente à final da Taça de Portugal, no Jamor, às 17h15 do próximo dia 25. Os encarnados referem que foram confrontados com uma procura “significativamente” superior e anunciou duas medidas para dar seguimento à venda de ingressos.

Eis o comunicado na íntegra:

“O Sport Lisboa e Benfica esclarece que foi confrontado com uma procura significativamente superior aos 12 500 bilhetes a que tem direito para a final da Taça de Portugal.

Em face dos constrangimentos técnicos provocados pela elevada e imediata procura a que o sistema foi sujeito, com as consequências e os contratempos que o Clube lamenta, foi decidido:

1 – Enviar mensagem aos Sócios com Red Pass com assiduidade total que tiveram o pagamento da sua encomenda devolvido por forma a procederem à sua conclusão até ao final do dia de amanhã; 

2 – Adiar para quarta-feira, às 10h00, a venda de bilhetes destinados aos restantes Sócios.”

O grande problema de escrevermos como máquinas

Um colega enviou-me um email. Era longo, muito estruturado, verborreico, ortograficamente impecável. Claramente, não tinha sido escrito pelo meu colega. Outra pessoa talvez pudesse ser enganada. Mas para quem, ao longo de anos, lidou com a forma de falar, de escrever e de estruturar o pensamento do suposto autor, não houve dúvida.

Hoje, há textos feitos por sistemas de inteligência artificial que são usados em emails, publicações em redes sociais, documentos, e trabalhos de escola ou faculdade (por causa disto, é possível que a avaliação escolar se incline para apresentações e provas orais). É difícil ler o que alguém publica no LinkedIn e perceber se aquelas seis dicas de carreira têm mais autoria humana do que apenas uma prompt bem feita. Por norma, o autor não quer admitir que o texto é obra de um modelo de linguagem, pelo que haverá sempre uma dimensão escondida neste fenómeno.

O problema, contudo, não é tanto a proliferação de conteúdo mediano e sem rasgo (os grandes modelos de linguagem, por concepção, apontam aquilo que produzem para o patamar da mediania). De banalidades já estava a Internet cheia, bem antes de a enchermos com texto produzido por IA. No ano passado, a Palavra do Ano escolhida pela Oxford University Press foi “brain rot (“apodrecimento cerebral”), uma expressão usada para designar um suposto declínio mental causado pelo consumo, sobretudo online, de conteúdo trivial.

O problema é a influência que esta escrita robotizada tem na forma como escrevemos, comunicamos e, por consequência, pensamos. 

Os humanos, membros de uma espécie que tem na comunicação entre indivíduos o seu trunfo histórico, tendem a aproximar o discurso que têm do discurso que os rodeia. É um fenómeno chamado convergência linguística. Se é um falante de português europeu e já viajou para o Brasil, é provável que ao fim de pouco tempo tenha dado consigo a usar um gerúndio que seria impensável deste lado do Atlântico. Com o texto gerado por IA, o processo é semelhante.

A revista Atlantic, num artigo sobre o tema, cita um estudo de uma universidade australiana (ainda não publicado) que mostra como as pessoas se deixam influenciar pelo ChatGPT. Numa experiência, foi pedido aos 320 participantes que escrevessem um anúncio classificado para a venda de um sofá. Depois, foi-lhes dado a ler um anúncio escrito pelo ChatGPT e foi-lhes pedido que repetissem a tarefa. Nesta segunda tentativa, os anúncios tornaram-se mais verborreicos (é uma característica conhecida do ChatGPT, e uma que tem impacto ambiental, para além de comunicacional): os textos mais do que duplicaram em tamanho, passando a ter, em média, 87 palavras; antes, a média era de 33.

A ascensão da IA generativa não representa a primeira vez que a tecnologia se intromete na forma como estruturamos e comunicamos o que pensamos. Os humildes correctores ortográficos e as sugestões de frases básicas fazem-no há anos. Mas o impacto era muito menor. 

Uma consequência séria de usarmos os chatbots para tudo é que acabamos a uniformizar o discurso e o pensamento, seja na forma ou no conteúdo. Outra é que ainda mais pessoas deixarão de escrever em profundidade ou de ler textos mais longos, o que terá um impacto negativo na assimilação de conhecimento e na produção de ideias novas. Já há quem dê instruções simples a um chatbot para que este escreva documentos, enviando-os de seguida para uma pessoa que vai usar a mesma ferramenta para resumir os documentos em meia dúzia de pontos. Ironicamente, a densidade informativa fica na máquina: o que passa de um humano para o outro é apenas um punhado de ideias-chave, com um inútil trabalho maquinal de permeio. 

Além de tudo isto, ainda podemos assimilar vieses e gerar achatamentos culturais.

Um estudo da Universidade de Cornell, nos EUA, publicado recentemente, comparou o impacto da escrita gerada por IA em utilizadores norte-americanos e indianos. Uma das conclusões é que a IA “levou os participantes indianos a escrever mais como os americanos, portanto homogeneizando a escrita ao encontro dos estilos ocidentais e diminuindo as nuances que diferenciam as expressões culturais”. Os investigadores prosseguem: “De forma preocupante, a IA influencia não apenas o que é escrito (…), mas também elementos mais entranhados de como é escrito, apagando de forma silenciosa os estilos de expressão cultural não-ocidentais”. Ao escrever com recurso a esta tecnologia, os participantes indianos passaram a descrever a comida indiana com uma perspectiva ocidental.

É este o problema de escrever como um robot: acabaremos a pensar como um. Nem os mais tecno-entusiastas argumentarão que é um avanço.

Uma nota de optimismo é acreditar que haverá um grupo de pessoas que continuará a escrever humanamente e a ler texto produzido por humanos. Que haverá quem prefira a originalidade e a diversidade estilística aos bullet points fáceis e às frases redondas do ChatGPT. E que a diversidade de discurso continuará a ser causa e consequência da diversidade de pensamento. É verdade que é um cenário benigno, descrito por alguém cujos dias de trabalho são passados a escrever ou a ler e publicar o que outros escrevem. Mas o leitor, se chegou até aqui, provavelmente também faz parte deste grupo.

IMI. Quem está isento, quem paga e quando paga

O Governo anunciou, recentemente, o adiamento do prazo limite de pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). Os proprietários têm mais um mês para abrir os cordões à bolsa.

Afinal quem paga e quando IMI? Quem está isento? É possível reduzir o valor do IMI? Retire as dúvidas aqui.

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Quem paga IMI?

O Imposto Municipal sobre Imóveis é uma das principais receitas dos municípios, cobrada a quem adquire imóveis. Na prática, é uma taxa que incide sobre o chamado Valor Patrimonial Tributário (VPT).

Há novos prazos de pagamento?

Sim. Seguindo o calendário anual, maio é o mês em que a grande maioria dos proprietários começa a pagar IMI, se optarem por uma única prestação, pode mesmo ser o único mês de pagamento.

No entanto, este ano o Governo prolongou o prazo limite, até ao final de junho, devido a constrangimentos técnicos no portal.

Governo garante que Fisco vai repor eventuais "inconformidades" na cobrança de IMI

Como fica o calendário de pagamento para este ano?

Quem tem a pagar menos de 100 euros de IMI, tem de fazê-lo numa prestação única e conta agora com dois meses, até final de junho.

Quando o IMI varia entre 100 e 500 euros, é dividido em duas prestações, mas também pode ser pago de uma só vez. Até 30 de junho os contribuintes devem fazer um destes pagamentos. A segunda prestação é paga em novembro.

Para pagamentos de IMI acima de 500 euros, é possível pagar em três vezes: até final de junho, no mês de agosto e no mês de novembro.

Governo alarga prazo para pagamento do IMI até final de junho

Quem está isento de IMI?

Os imóveis para habitação própria e permanente, com um valor patrimonial até 125 mil euros, não pagam IMI nos primeiros anos. É uma isenção temporária, válida por três anos, que pode ser prolongada por mais dois.

A isenção pode ainda abranger arrumos, garagens e despensas, mesmo que sejam consideradas uma fração autónoma, desde que estejam incluídas no edifício ou na urbanização da habitação própria e permanente.

A isenção de IMI é automática e permanente para as famílias com baixos rendimentos, até 16 398,17 euros anuais brutos (em 2024) ou 16 824,50 euros (em 2025), e para imóveis com um valor patrimonial até 71 296,40 euros (em 2025).

Estão ainda isentos imóveis arrendados com rendas congeladas ou com lojas históricas.

Quem muda para um lar de terceira idade perde a isenção?

Não. Quem está a residir em lares de terceira idade, instituições de saúde ou com familiares continua isento de pagar IMI, por baixos rendimentos. Ainda assim, terá de provar que era a sua habitação própria e permanente, até ficar dependente dos cuidados de terceiros.

Uma forma criativa de combater a crise na habitação? Subir o IMI nas casas de luxo

O que posso fazer para pagar menos IMI?

Além das isenções, os municípios têm margem de manobra para reduzir o IMI cobrado, esta é uma decisão anual, do poder local.

Há ainda autarquias que reduzem o IMI em função do número de dependentes, o IMI Familiar, ou da eficiência energética, outras agravam o imposto em zonas com forte densidade populacional.

Quem não tem o valor patrimonial tributário atualizado, pode estar a pagar IMI a mais.

Como posso pedir a reavaliação do imóvel?

Este pedido é gratuito e pode ser feito a cada três anos, através do portal da Autoridade Tributária. Basta pedir a reavaliação do Valor Patrimonial Tributário.

Esta avaliação tem em conta vários critérios, como a área bruta de construção, a localização da casa, a qualidade, o conforto e a antiguidade, bem como o valor de construção.

Sem um pedido de reavaliação, o IMI é atualizado de forma automática à inflação. Para perceber se compensa pedir a avaliação do imóvel, consulte o simulador do portal das finanças, que permite calcular o VPT.

1 68 69 70 71 72 654