Cinco vinhos especiais para brindar aos 25 anos da Fugas (ou noutra ocasião à altura)
Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 1013
Um grande vinho é sempre também o contexto e a circunstância e, por isso, o vinho que talvez me tenha sabido melhor foi um Frei João bebido há uns 30 anos, em Manaus. No regresso à cidade depois de duas semanas de incursão pela floresta amazónica, aquele tinto, mesmo com peixe grelhado, nunca o vou esquecer. O melhor vinho é sempre aquele que nos sabe melhor!
Podia escolher o emocionante Grandjó de 1925, provado quase um século depois, um Barca Velha ou Legado, os vinhos quase-perfeitos da Sogrape, os finos tintos da Casa Rosado Fernandes (Alentejo) da década de 1970, que ainda vivem, a riqueza, elegância e complexidade do Quinta da Gaivosa 1995, ou um dos majestosos Czar do Pico.
Marcados na memória estão também dois tintos muito especiais: o poderoso Kompassus Baga 1991 e o delicado Villa Oliveira tinto 2014, edição 125 anos, dois vinhos monumentais só possíveis pela acção do tempo, mas elejo um branco, o Quinta das Bágeiras Garrafeira 1013, que não será difícil e encontrar ainda a preços acessíveis e pode, assim, ser partilhado com os leitores.
Um branco sólido, cheio de sabor e harmonia, intenso na frescura e complexidade, e que confirma também a Bairrada como grande região de brancos — e temos andado demasiado absorvidos com os tintos. Mas sobretudo porque é daqueles vinhos que trás consigo a consistência do tempo, a vinha velha (mais de 70 anos) que fornece as uvas (Bical e Maria Gomes), as antigas técnicas e tonéis da fermentação, e, fundamentalmente, o tempo que nos obriga a esperar por ele. Ou seja, um branco que nos exige respeito e não se deixa moldar. José Augusto Moreira
Verdelho de João Silva, Criação Velha, Pico
Há uns bons anos, numa viagem ao Pico, em passeio pela Criação Velha, um dos pólos da paisagem vinhateira protegida da ilha, descobri um pequeno viticultor que produzia um Verdelho “passado” dos antigos. Um vinho sem aguardente mas com o álcool de um fortificado, por excesso de madureza das uvas. Julgo que o produtor se chamava João Silva. Não estava em casa, foi a mulher que me atendeu e me deu a provar um Verdelho de uma pipa já meio vazia, colheita do ano anterior. Um outro vinho qualquer estaria morto. Mas aquele estava soberbo. Comprei alguns garrafões e passei o vinho para garrafas.
Paguei o preço que me foi pedido, uma ridicularia, face aos preços absurdos a que são vendidos vinhos similares, e até piores. Beber rótulos, e a fama do produtor, nunca foi uma atitude muito inteligente. Por vezes, encontramos a felicidade na adega do mais humilde produtor. Foi o meu caso. Pedro Garcias
Quinta do Crasto Porto Tawny 50 Anos
É um dos melhores vinhos que temos provado nesta categoria de tawnies criada há três anos. Com um perfume intenso a iodo, nozes, mel de cana e casca de laranja cristalizada, encanta pelo equilíbrio entre doçura e frescura. Tem uma acidez vibrante, que sentimos primeiro, textura aveludada e a complexidade de um vinho feito de ingredientes muito antigos, e por isso também muito concentrado, mas sofisticado.
“A essência” deste 50 Anos, como lhe chama o enólogo Manuel Lobo de Vasconcellos, é um tawny com mais de 100 anos, dos stocks da casa Constantino de Almeida, que o Crasto engarrafou em tempos como Honore Porto, mas do qual guardou uma pequena quantidade. É um vinho harmonioso, fresco e verdadeiramente um vinho fino. Apesar de a escolha cair nesta categoria quando o que se está a celebrar conta meio século de vida, escolhemo-lo para brindar à Fugas e desejar: venham mais 25! Ana Isabel Pereira
Pedras Brancas Espumante 2020
A recomendação deste espumante para celebrar o aniversário da Fugas é um piscar de olhos aos leitores açorianos (e um tique de vaidade de quem assina o texto, pronto). Qualquer cidadão terá o direito de provar o primeiro espumante alguma vez foi feito na ilha da Graciosa, mas a realidade é tramada: só há 850 garrafas deste Pedras Brancas 2020 Brut Nature. Se os graciosenses (4100 almas) decidissem provar o vinho, não saía da uma única da ilha.
Cá está um vinho peculiar que, feito de Verdelho e Arinto dos Açores e assinado pelo picoense Paulo Machado (Insula Atlantis) e pelo bairradino José Carvalheira (Carvalheira Wine Creators), tem aromas e sabores que podem baralhar os distraídos ou aqueles que estão habituados a espumantes frutadinhos. A partir de um vinho que esteve 40 meses sobre borras temos notas marinhas (algas, iodo e maresia), fruta madura e sabores salgados, com ligeira sensação doce e uma mousse com persistência mediana na boca. Os graciosenses têm orgulho nas suas queijadas, nas meloas, nos alhos (IGP) e nos vinhos brancos tranquilos. Podem agora, com galhardia, acrescentar este espumante, notoriamente vulcânico. Edgardo Pacheco
Duas Quintas Reserva Especial 1995
Um vinho intemporal. Em 1995 o enólogo João Nicolau de Almeida decidiu recuperar a memória de Rui Fernandes escrita em 1532 para descrever a região de Lamego e as qualidades do seu “vinho de pé”. Fez então um vinho com pisa prolongada seguindo a receita com mais de 500 anos. Tinha nascido o Duas Quintas Reserva Especial que, quando foi lançado, era um vinho duro, tânico, difícil. Era preciso esperar por ele.
Há uns dez anos, escrevi sobre esse vinho num texto para a Fugas. O tempo tinha-lhe limado as arestas. O que era duro e adstringente tinha evoluído para um volume de boca sumptuoso e uma complexidade impressionante. Ainda mais recentemente, voltei a prová-lo com um grupo de amigos. O vinho crescera. Ganhara mais fineza e elegância, sem deixar de ser grandioso, imponente e com uma extraordinária palete de aromas e de sabores.
Há uma lição deste vinho que justifica uma reflexão. A que nos convoca para o valor do tempo nestes dias dominados pela pressa. Beber um tinto com 30 anos e notar que só agora está a chegar à sua melhor forma é mais do que uma experiência sensorial: é uma exaltação do Douro e uma lição de vida. Manuel Carvalho

Nome Pedras Brancas Espumante 2020
Produtor Adega e Cooperativa Agrícola da Ilha Graciosa;
Castas Verdelho e Arinto
Região Açores
Grau alcoólico 12%
Preço (euros) 60
Pontuação 92
Autor Edgardo Pacheco
Notas de prova É o primeiro espumante alguma vez foi feito na ilha da Graciosa e só há 850 garrafas deste Pedras Brancas 2020 Brut Nature. É um vinho peculiar, feito de Verdelho e Arinto dos Açores e assinado pelo picoense Paulo Machado (Insula Atlantis) e pelo bairradino José Carvalheira (Carvalheira Wine Creators). Tem aromas e sabores que podem baralhar os distraídos ou aqueles que estão habituados a espumantes frutadinhos. Esteve 40 meses sobre borras e tem notas marinhas (algas, iodo e maresia), fruta madura e sabores salgados, com ligeira sensação doce e uma mousse com persistência mediana na boca. Um espumante notoriamente vulcânico de que os graciosenses também podem orgulhar-se.

Nome Quinta do Crasto Porto Tawny 50 Anos
Produtor Quinta do Crasto;
Castas Mistura de castas
Região Douro
Grau alcoólico 21%
Preço (euros) 390
Pontuação 97
Autor Ana Isabel Pereira
Notas de prova Com um perfume intenso a iodo, nozes, mel de cana e casca de laranja cristalizada, encanta pelo seu equilíbrio entre doçura e frescura. Na boca, sentimos-lhe primeiro a sua acidez vibrante e depois então uma textura aveludada e toda a complexidade de um vinho feito de ingredientes muito antigos, e por isso também muito concentrado, mas sofisticado. Este Quinta do Crasto Porto Tawny 50 Anos é harmonioso, fresco e verdadeiramente um vinho fino. Especial, para ocasiões igualmente especiais.
