Porque uma espécie humana antiga não tem nome científico — e qual seria, se tivesse

Um grupo extinto de humanos que outrora esteve amplamente distribuído pela Ásia não têm um nome científico oficial. Parte da razão é arqueológica, e parte é uma questão legal. Os Denisovanos, um grupo humano extinto que outrora povoou grande parte da Ásia, continuam a carecer de um nome científico oficial mais de uma década após a sua descoberta. A ausência de designação científica como espécie resulta de uma complexa intersecção entre as evidências arqueológicas e as regulamentações taxonómicas que governam a forma como classificamos humanos antigos, explica a New Scientist. Primeiro identificados em 2010 a partir de um fragmento de

Ordem dos Advogados vai prestar apoio jurídico gratuito às vítimas dos incêndios

A Ordem dos Advogados está a criar uma bolsa de voluntários para prestar apoio jurídico às vítimas dos incêndios rurais que assolam parte do país, trate-se de particulares ou empresas.

“Face à dimensão humana, social e económica desta tragédia, a Ordem dos Advogados considera que o apoio jurídico constitui um instrumento essencial para auxiliar as populações neste momento de extraordinária vulnerabilidade”, diz a instituição em comunicado. O bastonário João Massano acrescenta que, estando a advocacia ao serviço da sociedade, não pode alhear-se de uma situação desta gravidade: “Não pode ficar indiferente”.

Nesse sentido, a Ordem dos Advogados já comunicou a sua intenção ao gabinete do primeiro-ministro Luís Montenegro, à ministra da Administração Interna e à presidente da Associação Nacional de Municípios. O líder da bancada parlamentar social-democrata também foi informado.

A ideia, explica João Massano, é aproveitar a rede dos municípios e as delegações da Ordem dos Advogados para fazer chegar apoio personalizado a quem mais dela precisa, sob a eventual coordenação do ministério liderado por Maria Lúcia Amaral.

A bolsa de advogados voluntários “oferecerá assistência jurídica abrangente, desde questões relacionadas com seguros e indemnizações até ao auxílio na navegação dos complexos procedimentos administrativos para acesso aos apoios públicos disponíveis”, refere o mesmo comunicado.

A Ordem dos Advogados está à espera de resposta das entidades oficiais para avançar para o terreno: “Avançaremos assim que tivermos luz verde da Associação Nacional de Municípios e do Governo”, prossegue João Massano, que não teme que os colegas não adiram à iniciativa. Já o fizeram, e em número significativo, quando em 2022 chegaram a Portugal os refugiados da guerra da Ucrânia. Também nessa altura foi lançada uma acção de solidariedade idêntica.

As perdas sofridas nos incêndios “transcendem os danos materiais e compreendem também a limitação no acesso a direitos e garantias fundamentais”, razão pela qual se revela urgente, para a Ordem dos Advogados, colocar estes recursos ao serviço das comunidades mais necessitadas.

O bastonário não está certo de que o aumento de penas para os incendiários anunciado pelo primeiro-ministro seja o caminho mais adequado para prevenir os fogos, e dá como exemplo a forma como Inglaterra tem vindo a lidar com os hooligans do futebol para sugerir uma solução idêntica: “A colocação de pulseiras electrónicas em quem tenha essas tendências e esteja, por exemplo, a cumprir pena suspensa durante a época dos fogos”.

Quase 350 mortos e 150 desaparecidos nas monções no Paquistão

Quase 350 pessoas morreram devido às chuvas de monção que atingem o norte do Paquistão desde quinta-feira, anunciaram este domingo as autoridades, que dão conta de pelo menos 150 desaparecidos na província de Khyber-Pakhtunkhwa.

Desde quinta-feira, as chuvas torrenciais causaram inundações, cheias súbitas e deslizamentos de terra que destruíram aldeias inteiras, deixando habitantes presos sob os escombros. Muitas vítimas morreram arrastadas pelas águas, no desabamento das suas casas ou eletrocutadas. Só naquela província fronteiriça com o Afeganistão registaram-se 317 mortes em dois dias, metade do total da atual época de monção.

No distrito de Buner, “pelo menos 150 pessoas estão dadas como desaparecidas e poderão estar presas sob os destroços das suas casas ou terem sido arrastadas pelas águas”, declarou à AFP Asfandyar Khattak, diretor da Autoridade Provincial de Gestão de Catástrofes.

O Paquistão, o quinto país mais populoso do mundo, é um dos mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas. Os 255 milhões de paquistaneses já sofreram, nos últimos anos, inundações maciças e mortíferas, rebentamentos de lagos glaciais e secas inéditas — fenómenos que, segundo os cientistas, tenderão a multiplicar-se sob a influência das alterações climáticas.

Também na China, inundações repentinas atingiram no sábado à noite a região da Mongólia Interior, matando nove pessoas e deixando três desaparecidas. Treze campistas foram surpreendidos pela subida “repentina” das águas na zona de Urad por volta das 22h (14h GMT), avançou a agência Xinhua.

Mais de 700 operacionais estão envolvidos nas operações de busca dos desaparecidos, tendo apenas uma pessoa sido resgatada com vida.

Ordem dos Advogados cria bolsa de voluntários para ajudar vítimas dos incêndios

A Ordem dos Advogados (OA) anunciou a criação de uma “Bolsa de Advogados Voluntários” para prestar “aconselhamento e apoio jurídico gratuito aos cidadãos e empresas gravemente afetados pelos incêndios rurais que têm assolado o país”.

No comunicado em que anuncia a criação da bolsa, a OA elenca quatro áreas de apoio:

• Assistência na tramitação de processos de indemnização;

Aconselhamento sobre direitos e obrigações resultantes dos danos causados pelos incêndios;

• Apoio na relação com seguradoras e entidades públicas;

• Orientação jurídica para acesso a medidas de apoio governamentais

“Face à dimensão humana, social e económica desta tragédia, a Ordem dos Advogados considera que o apoio jurídico constitui um instrumento essencial para auxiliar as populações neste momento de extraordinária vulnerabilidade”, lê-se no mesmo comunicado da organização dirigida por João Massano.

Famílias enfrentam perdas e preços a disparar após tempestade mortal na ilha de São Vicente

Seis dias após a tempestade que provocou nove mortos na ilha cabo-verdiana de São Vicente, Jéssica Lopes tenta assimilar a perda dos pertences e a dificuldade de garantir alimentação, depois de ter pagado quase o dobro pelo arroz.

“Perdemos tudo. Roupas, móveis, alimentação. O colchão temos de pôr ao sol todos os dias para podermos dormir, mas não temos panos de cama, nem luz, nem água, e cozinhar tornou-se um grande desafio”, conta à Lusa Jéssica Lopes, de 32 anos, sentada à porta de casa, rodeada de lama, móveis danificados e plásticos arrastados pela enxurrada.

Com dois filhos, de 14 e 3 anos, Jéssica, residente na Praça Estrela, afirma que “o mais difícil é esquecer o acontecimento e seguir em frente depois de anos de conquista”. “O arroz que custava 100 escudos já comprei por 150 [0,91 e 1,36 euros]. Comprámos porque não tínhamos escolha. Podem subir ainda outros produtos como o óleo. O meu marido trabalha, mas temos um salário básico e eu estou desempregada”, lamenta, acrescentando o receio de doenças devido ao acumular da água das chuvas.

“Há poças de água à porta, lama por todo o lado. Nós, vizinhos, já limpámos, mas eu não consigo dormir descansada com tudo isto”, acrescenta.

Erickson Coronel, 28 anos, taxista, também relata que os preços já começaram a subir, como a água de 0,5 litros, que passou de 45 para 80 escudos [0,41 e 0,73 euros].

“É quase o dobro, poderia ter comprado duas garrafas, mas compreendo a situação e não reclamo”, explica, acrescentando que a circulação de veículos também continua limitada devido às estradas danificadas.

No comércio, há “muita procura por produtos básicos”. Leinira Dias, 34 anos, proprietária de um minimercado, descreve a corrida por feijão, massas, água e artigos de higiene: “O desafio agora é abastecer e responder à demanda”, refere, explicando que alguns produtos provenientes de outras ilhas já estão a subir de preço, como o queijo, a batata e a cenoura.

Maitê Lima, 23 anos, trabalha num outro minimercado e conta que, depois de reabrir na terça-feira, as vendas estão mais movimentadas do que o habitual, mas ainda sem qualquer alteração nos preços. “Água, pão e bolachas estão a ser comprados em grande quantidade, sobretudo por quem vai distribuir às pessoas, também porque algumas lojas ainda não abriram devido ao prejuízo”, explica.

Nilza Xalino, 49 anos, responsável de um minimercado conta que apesar de ter tido “grandes perdas” em casa e no armazém dos produtos, o estabelecimento ficou intacto e já regista uma procura elevada por produtos básicos, mas mantém os preços mais acessíveis, consciente da situação de quem também perdeu tudo.

A Lusa tentou obter esclarecimentos junto da Câmara do Comércio do Barlavento sobre a subida dos preços e a situação nos estabelecimentos comerciais, mas não recebeu qualquer resposta até ao momento.

As cheias na segunda-feira deixaram bairros inundados, destruíram estradas e pontes e afetaram o abastecimento de energia e uma pessoa está ainda por localizar. O governo cabo-verdiano declarou situação de calamidade por seis meses em São Vicente, Porto Novo (Santo Antão) e nos dois concelhos de São Nicolau.

Além disso, já foi anunciado um plano estratégico de resposta que contempla apoios de emergência às famílias, mas também às atividades económicas, com linhas de crédito com juros bonificados e verbas a fundo perdido, justificando a decisão com o “quadro dramático, excecional”.

O governo utilizará os recursos do Fundo Nacional de Emergência e do Fundo Nacional de Emergência, criado em 2019 precisamente para responder a situações de catástrofes naturais ou impacto de choques económicos externos.

Um navio da Marinha portuguesa atracou na sexta-feira em São Vicente, com 56 militares, equipamentos de remoção de escombros, uma dessalinizadora para o hospital e drones para recolha de imagens aéreas em zonas de difícil acesso, além de mergulhadores e equipas preparadas para apoiar a população. Países como Timor-Leste, Guiné-Bissau, Portugal e São Tomé e Príncipe já manifestaram solidariedade.

Curto-circuito, três funcionárias, alarme: o que falhou na tragédia em Mirandela

Havia três funcionárias no lar no momento do incêndio – a lei exige mais. Polícia está a investigar, Segurança Social abre processo. Além dos fogos na floresta, um outro tipo de incêndio abalou o país neste fim-de-semana: seis idosos morreram num lar da Santa Casa da Misericórdia, em Mirandela. Num primeiro momento, o provedor Adérito Gomes revelou que as chamas começaram num “colchão anti-escaras”, num quarto com três utentes, que acabaram por morrer. Outros três, devido à inalação de fumo e a problemas respiratórios, também não conseguiram resistir. O Jornal de Notícias dá entretanto mais detalhes: o colchão, eléctrico, terá

Samanta Schweblin: as figuras quebradas da nossa existência

TítuloO Bom Mal

Autor: Samanta Schweblin

Tradutor: Rita Graña

Editora: Elsinore

Páginas: 160

Preço: 17,85€

Passaram sete anos desde que a argentina Samanta Schweblin publicou um livro. Kentuchis, o seu segundo romance, foi publicado em 2018 (em Portugal, em 2019). Antes disso, tinha lançado, em 2015 (em Portugal, em 2020), Sete Casas Vazias, uma coletânia de contos sobre os limites do pessoal e do privado, tema também abordado em Kentuchis, uma reflexão inteligente e atual sobre a tecnologia. O novo livro, e o mais recente conjunto de histórias breves, O Bom Mal, publicado este ano, mantém o foco no privado, mas alarga o espectro para incluir outras paisagens e personagens, algumas reconhecíeis, outras estranhas. Os temas são o trauma, o remorso e a morte, e como é possível acomodá-los na vida que inevitavelmente continua.

O Bom Mal inclui seis contos, alguns dos quais — revela a autora — inspirados em factos reais. São quase todos breves e lêem-se de um folgo só, com exceção de “O olho na garganta” e “A mulher da Atlântida”, que ocupam uma parte substancial do volume. O primeiro fala sobre um menino que perde a voz após engolir uma pilha e conta como o seu silêncio afeta a sua família, em especial, o seu pai, que vive assombrado por um telefone que toca todas as noites; o segundo fala sobre outra tragédia familiar, a de uma irmã mais velha que morre afogada no mar selvagem de Atlântida ao tentar ajudar uma poeta que perdeu a inspiração.

Todas as histórias têm no seu cerne personagens que vivem esmagadas pelo peso de um incidente traumático, que aconteceu há muito tempo, mas que o tempo não apagou completamente. São figuras quebradas, que tentam encontrar sentido num mundo absurdo, por vezes surreal, onde existem animais-fantasmas e humanos fantasmagóricos. Apesar da predileção de Schweblin por personagens femininas, as vozes de O Bom Mal são variadas — são homens, mulheres, adultos, crianças, velhos. Toda a humanidade. A paisagem é muitas vezes argentina, às vezes europeia, mas sempre citadina, como é habitual nos livros da escritora.

Neste pequeno livro de contos, Schweblin revela a mestria com que domina o registo curto, criando “tensão e avidez” no leitor, como é referido na sinopse da editora portuguesa, a Elsinore. Contudo, para quem conhece os livros anteriores da autora, O Bom Mal tem um gosto agridoce. O conjunto de histórias é interessante, mas  está longe de ser o melhor da escritora argentina. Falta-lhe a intensidade de livros como Sete Casas Vazias ou Kentuchis, brilhantes na forma como inquietam e interrogam, ao revelarem como os espaços sagrados da nossa intimidade podem ser facilmente invadidos. O leitor não encontrará nada disto em O Bom Mal — descobrirá apenas a tristeza e a mágoa que é carregada pelas personagens, cada uma delas assombrada pelos seus próprios fantasmas.

“Não gastes tudo em vinho!”

Andaram todos na escola secundária, mas há amigos e conhecidos dos meus filhos que frequentaram o “liceu”. A verem-se de ano a ano, nesta altura de férias, uma delas comentava que encontrara uma professora do “liceu”, mais aquela amiga do “liceu”, e eu estive quase, quase, para lhe dizer: “No liceu andaram os teus avós, se é que pertenciam a uma classe privilegiada e puderam fazer mais do que a 4.ª classe…” Ia dizê-lo de forma ríspida porque a conversa já ia longa e começara com “eu tive bebé no privado porque assim o pai passou lá a noite, eu sei que me mandariam para o público se as coisas se complicassem, mas temos seguro e as condições eram melhores”, “eu acho que não faz qualquer sentido pagarmos tantos impostos”, “a M. está emigrada, está muto bem, tem uma casa óptima, não é a mesma coisa que esses imigrantes que vêm para aí, a dormir às dezenas no mesmo quarto”.

Os novos meninos dos liceus, ao contrário dos seus avós, são uns ignorantes, que desconhecem a história do seu país (por isso, estão dispostos a votar para a repetirmos), e das suas famílias (ou preferem ignorá-la porque “não é bem” comentar que a avó ia descalça para a escola); e se eles conseguiram ter um curso superior (esquecem-se das ambições dos pais, das oportunidades que estes lhes proporcionaram, dos sacrifícios que fizeram), todos conseguem. Se eles conseguem pagar um seguro de saúde, se vão conseguir pagar o colégio, para quê pagar impostos? Os outros que paguem, ignorando que os avós — que se fosse no “antigamente é que era bom” já tinham morrido —, nunca descontaram o suficiente e sorvem recursos em pensões de viuvez, cirurgias às ancas, tratamentos oncológicos, lares… Esquecem-se que viver em sociedade é sermos solidários com todos.

O nosso umbigo, estamos concentrados no nosso umbigo. Um pouco como Carmen Garcia, que esta semana volta ao tema da amamentação, para contestar o artigo de Lígia Morais, e para defender um ponto muito importante — todos as mães e pais deveriam ter mais tempo para os seus filhos, até mais tarde. Contudo, Carmen parte da premissa errada, que é a de retirar direitos a quem quer e pode dar de mamar depois dos dois anos. No início desta discussão — começada pelo Governo para estarmos há duas ou três semanas a discutir mamas, em vez de olharmos para os reais direitos que o Executivo quer tirar aos trabalhadores —, contava a cronista num podcast do Observador, que enquanto andava em consultas com um dos filhos (ela e o pai tinham dificuldades para conciliarem as suas vidas com os horários de trabalho), havia uma colega que tinha o horário reduzido por causa da amamentação e Carmen a encontrava no ginásio. A conclusão é a mesma que a da ministra e da sua ex-assessora: há prevaricadoras. 

Confesso que ouvi e achei engraçado porque me lembrei da Maria Filomena Mónica, há muitos anos, numa entrevista na rádio, a comentar como, no tempo dos liceus, as senhoras gostavam de ter os seus pobrezinhos, davam-lhes o que não queriam, as roupas que já não serviam aos maridos e aos meninos, algum dinheiro e diziam-lhes como o gastar — “não gastes tudo em vinho!”, conhecem esta expressão? Assim estava Carmen, a colega tinha direito a duas horas, possivelmente dava de mamar ao filho e ainda lhe sobrava tempo para ir ao ginásio, preferia fazê-lo a estar com o miúdo — eu preferia ficar com o meu filho porque não sou amiga do exercício físico… E então, que temos nós com isso?

“Não gastes tudo em vinho!” Porque a colega ia ao ginásio — o que estaria a contribuir para o seu bem-estar, o do filho e até para o regressar ao trabalho com mais energia e boa disposição —, vamos retirar o direito a amamentar a toda a gente? Não, vamos exigir, como a própria Carmen Garcia sugere, mais direitos para os pais. Vamos exigir que o país tenha mais políticas de apoio à família. Temos de exigir que a fiscalização funcione para que não haja casos como o da psicóloga que foi posta a trabalhar a 30 km de casa, quando disse à entidade empregadora que tencionava gozar a licença de amamentação — o PÚBLICO fez uma análise a decisões judiciais feitas em tribunais superiores e não descobriu mães prevaricadoras, mas sim, empresas públicas e privadas que não cumpriram a lei.

“Um país só é um país desenvolvido a sério, quando todas as crianças, desde o nascimento, até aos seis anos, tenham creches, infantários, educadores da pré-primária e professores. Só depois coloco os psicólogos. Numa das crónicas que fiz para a Caras, no início dos anos 1990, dizia que a gravidez é um problema político e continua a ser. Como se pode querer que as pessoas tenham mais filhos, se depois não lhes são dadas condições. Como é que uma creche e um infantário fecha às 15h? As crianças estão muitas horas nos telemóveis, pois estão, mas de quem é a culpa? Somos nós, como sociedade, que somos responsáveis por isso… Os pais não têm tempo para os filhos.”

Quem o diz é Isabel Leal, que criou o Serviço de Psicologia da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, é uma das precursoras da profissão no país e é reitora do ISPA. A jornalista Rita Caetano fez-lhe uma entrevista de vida e, a dada altura, pergunta-lhe se em temas como os direitos das mulheres não estaremos a regredir. “Não sei se há regressão, mas o mundo está complicado”, começa por responder. “Sim, há homens e mulheres muito saudosas, sobretudo, mulheres jovens. Portanto, é uma busca de um tempo perdido que de facto é imaginário, não existe, nunca existiu e não vai existir”, continua, acrescentando que não acha que seja um retrocesso, mas também não é uma evolução. “É uma nova linha que parte da insatisfação e, mais uma vez, de se não saber distinguir aquilo que são respostas que têm de ser dadas, no individual, daquilo que são respostas colectivas. As pessoas não são educadas para saber fazer isso e os partidos políticos genericamente não ajudam a distinguir o que é individual do que é colectivo. Pedirmos à sociedade para nos dar respostas individuais é absurdo.”

Isabel Leal reflecte ainda sobre a saúde mental, a importância que esta ganhou durante a pandemia — as pessoas, simultaneamente, deram-se conta de que existiam e que a existência humana é uma chatice e provoca desconforto” —, e sobre a solidão, sentida com maior acuidade pelos mais jovens — “se, por um lado, a modernidade criou esta dimensão da individualidade, por outro, no passado havia o sentimento do colectivo, que às vezes era maior do que a própria individualidade e não permitia que essa dimensão de solidão ganhasse. Agora, as pessoas, mesmo que estejam no colectivo, sentem-se sozinhas”.​

A importância do vivermos em sociedade e sermos solidários! Uma das causas, já sabemos, são os ecrãs e a forma como são usados. Esta semana, a Folha de S. Paulo falou com especialistas sobre a forma como os adolescentes estão a iniciar a sua vida sexual, tendo acesso a conteúdos pornográficos cada vez mais novos, muitas vezes antes dos 13 anos, e como estes contribuem para que tenham noções erradas sobre o relacionamento sexual, sobre o que é o consentimento, acabando por não ter relações saudáveis. Também do Brasil chega o youtuber Felca que gravou um vídeo longo, para os parâmetros actuais, sobre a adultização das crianças, quando estas são sexualizadas e exploradas nas redes sociais por adultos — um fenómeno para o qual podemos contribuir enquanto pais quando inocentemente partilhamos imagens dos nossos filhos e podem ser vistas por pedófilos.

Quem aparenta ter uma relação saudável é Taylor Swift e Travis Kelce. A cantora foi ao podcast do namorado e do irmão do namorado, são duas horas, para anunciar o novo álbum, falar do caso dos álbuns anteriores, a sua digressão e a relação do casal. É engraçado perceber como Kelce está bem com o sucesso de Swift, como não se sente ameaçado por tudo o que ela representa, como é um homem resolvido. Porque são muitos os homens (não todos, eu sei) que têm imensa dificuldade em viver com o sucesso das mulheres.

Não escrevemos, mas esta semana, um deles apareceu à superfície, chama-se David Justice, ex-jogador de beisebol, casado com a actriz Halle Berry, entre 1993 e 1997, e que veio a público dizer que uma das razões para o divórcio foi que na sua cabeça uma mulher deve cozinhar e limpar, e se queria ter filhos com a artista, não dava, uma vez que “ela não cozinha, não limpa, não parece realmente maternal” — o idiota à espera que uma mulher, que foi a primeira mulher negra a conquistar o Óscar de Melhor Actriz, que ganha milhões, viesse para casa limpar e cozinhar para ele porque é essa a função das mulheres, tratar dos homens, continuar a infantilizá-los e a alimentar-lhes estômago e o ego.

Outra mulher que se destaca esta semana, além de Madonna que pediu ao Papa para ir a Gaza, é a princesa Ana, que celebrou 75 anos, na sexta-feira. A Inês Duarte de Freitas reuniu cinco coisas a saber sobre a irmã de Carlos III, que ao contrário do rei ou do irmão André, não foi grande motivo de escândalos e continua a ser a mais trabalhadora da família.

Em tempo de férias, a Inês Duarte de Freitas foi a dez clubes de leitura de dez celebridades, a maioria mulheres, e junta as suas últimas sugestões de leitura. Já a Rita Pimenta regressou das suas férias (para quem se apercebeu do interregno do Letra Pequena) e traz um livro para os mais novos, assim como a Sílvia Pereira também propõe saídas em família. Se os miúdos estão com energia a mais e não sabe o que fazer (até porque não está assim tão habituado a estar tanto tempo com eles…), a psicóloga Catarina Perpétuo escreveu um livro e tem alguns conselhos a dar.

E termino esta já longa newsletter com mais uma declaração de Isabel Leal, que nos traz alguma esperança. Diz a investigadora: “O mundo sempre foi complicado. E, portanto, estar a dizer que o nosso mundo é pior do que há 40 ou 50 anos, mesmo com todas estas bagunçadas que estamos a viver e a assistir, não é verdade. Eventualmente, hoje, as pessoas estão mais conscientes.”

Que saibamos usar bem a nossa consciência!

Boa semana!

Em Albano, Papa pede para derrubar muros e preconceitos: “cada um é dom para os outros”

“O fogo de Jesus não é o fogo das armas, nem o das palavras que queimam os outros, mas é o fogo do amor que se inclina e serve, que opõe à indiferença o cuidado e à prepotência a mansidão”, disse o Papa esta manhã, em Albano.

O fogo da bondade não tem custos como as armas, mas renova o mundo gratuitamente. Pode custar incompreensão, escárnio e até perseguição, mas não há paz maior do que ter dentro de si a sua chama”, acrescentou.

Leão XIV celebrou missa no Santuário de Santa Maria della Rotonda, na presença de uma centena de fiéis e pobres assistidos pela Cáritas local.

“Encorajo-vos a não fazer distinção entre quem assiste e quem é assistido, entre quem parece dar e quem parece receber, entre quem parece pobre e quem sente que oferece tempo, competências e ajuda”, disse o Papa, recordando que todos são preciosos e cada um é um dom para os outros. Por isso, “derrubemos os muros”.

Leão XIV agradeceu aos que trabalham nas comunidades cristãs para facilitar o encontro entre pessoas diferentes devido à sua origem, situação económica, psíquica e afetiva e sublinhou que também o mais frágil deve participas com plena dignidade.

”Isto acontece quando o fogo que Jesus veio trazer queima os preconceitos, as prudências e os medos que ainda marginalizam aqueles que levam escrita a pobreza de Cristo na sua história. Não deixemos o Senhor fora das nossas igrejas, das nossas casas e da nossa vida. Em vez disso, deixemo-Lo entrar nos pobres e, então, faremos as pazes também com a nossa pobreza, aquela que tememos e negamos quando buscamos a todo custo tranquilidade e segurança”, pediu o Papa.

Caramulo Sprint adia para outubro prova de automobilismo devido aos incêndios

O Caramulo Sprint, uma prova de ciclismo agendada para o próximo fim de semana, foi adiado para outubro devido aos incêndios, devido a ser uma prova de montanha.

“Considerando o estado de alerta de risco de incêndio em que o país se tem mantido nas últimas semanas e que a prova se desenvolve numa área de floresta, foi entendimento unânime das diversas entidades e organismos que neste momento não é passível garantir a reunião de todos os meios de segurança e prevenção necessários para a realização do evento em 23 e 24 de agosto”, anunciou.

Numa nota de imprensa enviada à agência Lusa, a organização diz que, desta forma, “não resta alternativa senão adiar o Caramulo Sprint 2025 para o próximo mês de outubro, em data a confirmar”.

“Ainda que uma decisão destas, numa data já tão próxima da prova acarrete diversos constrangimentos à organização, de forma alguma podemos colocar em risco a segurança das pessoas e da nossa floresta, que tão fustigada tem sido neste verão”, justificou.

A Caramulo Sprint iria decorrer no próximo fim de semana, na sua primeira edição, que é candidata ao Campeonato de Portugal de Montanha, disse à agência Lusa um dos responsáveis, Nuno Pinto.

A prova irá decorrer na serra do Caramulo, concelho de Tondela, distrito de Viseu.

Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração de situação de alerta, em vigor até domingo.

Os fogos provocaram um morto e vários feridos, na maioria sem gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.

1 14 15 16 17 18 596