Antigos embaixadores denunciam silêncio da UE como cumplicidade com genocídio em Gaza

Acompanhe o nosso liveblog sobre o conflito no Médio Oriente

Um total de 58 antigos embaixadores de países da União Europeia (UE) acusaram esta quinta-feira as instituições europeias de cumplicidade com Israel pelo silêncio perante “o genocídio” na Faixa de Gaza.

“O mundo recordará como a UE e os seus Estados-Membros responderam a esta catástrofe trágica. O silêncio e a neutralidade perante o genocídio constituem cumplicidade. A inação encoraja os perpetradores e trai todos os princípios que a União e os seus Estados-membros dizem defender”, numa carta inicialmente divulgada pelo POLITICO.

O grupo de antigos diplomatas, que não inclui nenhum português, considerou que a UE “é testemunha do espetáculo horrível que Israel está a levar a cabo, todos os dias, os crimes atrozes contra a população palestiniana, sobretudo em Gaza, mas também na Cisjordânia ocupada”, e que “equivale a uma campanha sistemática de brutalização e desumanização”.

O governo israelita de Benjamin Netanyahu está a “levar a cabo uma implacável campanha de violência de destruição” no enclave palestiniano, acusaram, enquanto condenaram os militares das Forças de Defesa de Israel pelo homicídio de “dezenas de milhares de crianças” e pelos “bombardeamentos indiscriminados”.

A ofensiva contra Gaza começou depois dos ataques grupo islamita palestiniano Hamas, que controla o enclave, em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

Os ataques já provocaram mais de 60 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

Israel também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 150 pessoas já morreram de desnutrição e fome, a maioria crianças.

Incêndios: Proteção Civil fala em “fatores explosivos”

A área ardida aumentou em comparação com o mesmo período do ano passado. Mário Silvestre, comandante nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), recusa falhas, aponta o dedo às condições meteorológicas e orografia difícil do terreno e defende que é necessário reduzir o número de ignições.

Eu não diria que está a falhar, diria que as condições meteorológicas e a paisagem infelizmente que Portugal ainda apresenta serão sempre difíceis do ponto de vista do combate quando há muitas ocorrências”, disse Mário Silvestre, esta quinta-feira, em conferência de imprensa.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

No briefing diário sobre a situação dos incêndios, o comandante nacional considera que existem “fatores explosivos” que potenciam os incêndios em Portugal.

“Ventos fortes, orografia complexa, manchas muito contínuas de floresta são fatores explosivos do ponto de vista dos incêndios. Temos incêndios que após a sua ignição percorrem 4 quilómetros por hora, ardem 250 hectares hora, estamos a falar de cenários extremamente complexos para o dispositivo de combate a incêndios.”

Nesta conferência de imprensa, Mário Silvestre defendeu a necessidade de reduzir o número de incêndios.

“Não diria que estamos a falhar, temos que ter uma abordagem de reduzir o número de ignições. É necessário reduzir o número de ignições”, declarou. Entre sábado e quarta-feira, 39% dos fogos aconteceram durante a noite.

Pelas 20h40, havia em Portugal seis incêndios considerados significativos pela Proteção Civil. Arouca e Ponte da Barca que envolvem mais de um milhar de bombeiros e em Penafiel viveram-se momentos de sobressalto, com a aldeia de Canelas a ser ameaçada pelas chamas.

De 36 a 44°C. Episódio de tempo quente “consideravelmente severo” até 4.ª feira em Portugal

Um “episódio de tempo quente”, previsto para entre hoje e quarta-feira em Portugal continental, deverá ser “consideravelmente severo” pela duração e temperaturas máximas previstas, entre 36 e 44 graus Celsius, alertou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Em comunicado divulgado esta quinta-feira, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) refere que o episódio de tempo quente deverá verificar-se “previsivelmente até dia 6 de agosto, com um grau de confiança elevado”. Haverá uma ligeira descida temporária das temperaturas máximas nesta sexta-feira no litoral oeste e, eventualmente, na terça-feira. Assim, refere o IPMA, “os valores das temperaturas máximas

Santa Clara dá a volta à eliminatória e segue em frente na Liga Conferência

O Santa Clara apurou-se nesta quinta-feira para a terceira pré-eliminatória da Liga Conferência de futebol, ao vencer os croatas do Varazdin por 2-0, anulando a desvantagem de um golo da primeira mão.

Vinícius Lopes, logo aos cinco minutos, inaugurou o marcador para os homens da casa, enquanto Gabriel Silva, aos 68′, marcou o segundo golo do Santa Clara, consumando a reviravolta no resultado da eliminatória, depois da derrota sofrida na primeira mão por 2-1.

O Santa Clara repete assim o feito que conseguiu na temporada de 2021/22, quando superou a segunda pré-eliminatória, naquela que foi a sua estreia em provas europeias.

O vencedor desta ronda vai defrontar na terceira pré-eliminatória, agendada para 7 e 14 de Agosto, quem sair vencedor do confronto entre Larne, da Irlanda do Norte, e Prishtina, do Kosovo.

Presidente da República pede que não se façam apelos desproporcionais para ativar mecanismo europeu

Acompanhe o nosso liveblog sobre a situação dos incêndios em Portugal.

O Presidente da República pediu esta quinta-feira que não se façam apelos desproporcionais para acionar o Mecanismo Europeu de Proteção Civil para combater os incêndios, argumentando que há o risco de banalizar esse tipo de pedido.

Em declarações aos jornalistas na ilha do Pico, nos Açores, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que, neste momento, a prioridade deve ser “prevenir o que possa acontecer nas próximas semanas” e “não recorrer a meios extremos” como se a “situação fosse da gravidade” vivida já noutros países.

O Presidente da República falava após o pedido, esta quarta-feira, do presidente da Câmara de Ponte da Barca ao Governo para que fosse acionado o Mecanismo Europeu de Proteção Civil ou outros acordos bilaterais com países para combater o incêndio no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

“Parece que é prudente não começar por fazer apelos que são desproporcionados em relação ao tempo que vivemos e às circunstâncias que vivemos, banalizando esse pedido e tornando mais difícil, no caso de uma emergência mais grave, o recurso a ele”, disse.

Marcelo explicou que esteve na Proteção Civil — sem a presença da comunicação social — na passada terça-feira e foi dessa ida que “recolheu essa sensação” sobre o acionamento do Mecanismo Europeu de Proteção Civil.

O Presidente da República disse ainda, sobre o incêndio em Ponte da Barca, que o município já está a receber apoio de meios espanhóis, lembrando que “há um acordo que diz que até 25 quilómetros da fronteira há uma intervenção automática de um lado e de outro”.

O pedido do autarca social-democrata de Ponte da Barca surgiu depois vários apelos que tem vindo a dirigido ao Governo, sem sucesso, para reforço dos meios aéreos para combate ao incêndio que começou no sábado no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

É impossível combater este incêndio com apenas um meio aéreo. Esta frase diz tudo. Estou indignado, revoltado“, afirmou à Lusa Augusto Marinho.

No mesmo dia, Portugal pediu assistência de satélite à União Europeia (UE), através do sistema Copernicus, mas ainda não ativou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, indicou à Lusa a Comissão Europeia.

Segundo a Comissão Europeia, “ainda não foi feito um pedido para ativar o Mecanismo Europeu de Proteção Civil”, mas a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) pediu imagens de satélite para os incêndios que afetam os municípios de Arouca, no distrito de Aveiro, e Ponte da Barca, no distrito de Viana do Castelo.

[Horas depois do crime, a polícia vai encontrar o assassino de Issam Sartawi, o dirigente palestiniano morto no átrio de um hotel de Albufeira. Mas, também vai descobrir que ele não é quem diz ser. “1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto uma embaixada em Lisboa e esta execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. É narrada pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Ouça o segundo episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E ouça o primeiro aqui]

Caixa Geral de Depósitos volta a liderar resultados dos testes de stress à banca, antecipa Macedo

Foi com um tom de queixa que Paulo Macedo deixou soltar que os jornalistas pouco ligam ao facto de, pela segunda vez consecutiva, a Caixa Geral de Depósitos voltar a apresentar dos “melhores resultados dos testes de stress da Europa”. A liderança neste exame à solidez das entidades bancárias europeias aconteceu em 2023, quando obteve o terceiro melhor resultado em 70 bancos, e deverá repetir-se em 2025, a crer no presidente executivo do banco público.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue – nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para [email protected].

Acordo comercial UE-EUA “não foi tão desequilibrado como possa parecer”

O acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos da América, que estabelece tarifas de 15% sobre as exportações europeias, entra em vigor esta sexta-feira. O professor de Risco Geopolítico da Porto Business School, Jorge Rodrigues, não considera o acordo “desequilibrado”, ao contrário de muitos analistas.

“De um ponto de vista pragmático, [o acordo] não foi tão desequilibrado como possa parecer à primeira vista e as vantagens, realmente, são superiores aos problemas que eventualmente venham a ser criados”, afirmou em declarações à Renascença.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

No seu entender, o pacto comercial “dá previsibilidade e estabilidade [ao mercado], permite desenvolver estratégias a longo prazo, protege a maior área de negócios que realmente é trabalhada entre a União Europeia e os Estados Unidos e, portanto, abre portas a uma evolução mais favorável”.

O acordo inclui a exportação de automóveis e medicamentos, os maiores mercados de exportação europeia para os EUA.

As taxas aduaneiras de 15% foram alcançadas depois de a União Europeia ter concordado em investir 750 mil milhões de dólares em energia ao longo de três anos, bem como 600 mil milhões de dólares nos Estados Unidos, equipamento militar e abertura de países ao comércio livre.

Quanto a esta questão, Jorge Rodrigues não vê qualquer confusão, pois “o que foi prometido como investimento não passa verdadeiramente de concretizar aquilo que está identificado como as necessidades de aquisições dentro das áreas de defesa, de energia e a nível tecnológico”.

Por isso, o professor universitário considera que Bruxelas agiu com pragmatismo para evitar uma guerra comercial.

“Alguns setores deveriam ser mais protegidos”

Contudo, considera que as tarifas deveriam ter sido melhor negociadas em alguns setores, como o agrícola, têxtil, do metal ou mecânico. “Houve uma universalidade de tarifas nos 15% e há alguns setores que deveriam ser mais protegidos”, disse.

Jorge Rodrigues ressalva que “gostaríamos de ter mais e melhor”, mas que a capacidade de negociação do Velho Continente está limitada não só “porque temos uma Europa dividida, com algumas dificuldades de integração definitiva e que, portanto, não consegue falar como um só ator”, como também pela dependência em relação aos Estados Unidos “em planos como a segurança (…) e numa eventual disrupção tecnológica exponenciada pela questão dos chips e da Inteligência Artificial”. Considera assim que a Europa “já não está no centro do mundo”.

“Analisando todo o contexto, foi o negócio possível, podia ser pior, mas definitivamente positivo para a União Europeia”, concluiu.

Reitores contra pré-seleção de candidatos ao cargo e alterações na designação das instituições

Os representantes dos reitores manifestaram-se contra a possibilidade de os conselhos gerais das instituições passarem a pré-selecionar os candidatos ao cargo, sustentando que limita a liberdade eleitoral, e criticaram a generalização das designações de “Universidade” e “Universidade Politécnica”.

A posição do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) consta de um parecer, divulgado esta quinta-feira, à proposta do Governo de revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

Depois de o processo ter sido interrompido na sequência da queda do Governo, o executivo apresentou, no início do mês de julho, uma nova proposta com ligeiras alterações, que preveem a existência apenas de universidades e universidades politécnicas (a anterior incluía também institutos politécnicos) e maior flexibilidade no peso de cada corpo eleitoral na escolha do reitor.

Do lado dos dirigentes das universidades, que já se tinham reunido com a tutela há duas semanas, o CRUP manifesta-se agora contra a pré-seleção, por parte do Conselho Geral, de dois candidatos à eleição do reitor.

“Esta filtragem reduz drasticamente o leque de escolha, limita a liberdade da comunidade, e compromete a neutralidade do Conselho Geral”, justifica o organismo.

Em alternativa, o CRUP propõe que, na ausência de maioria absoluta, seja realizada uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados.

Por outro lado, a última proposta do Governo passa a fixar um requisito mínimo de representação de 10% de cada um dos quatro corpos (docentes e investigadores, estudantes, pessoal não docente e ex-alunos).

Quanto aos restantes 60%, cada instituição de ensino superior terá a autonomia para definir nos seus estatutos a distribuição da representação, mas o CRUP defende uma ponderação máxima de 50% atribuível a qualquer um dos corpos eleitorais.

Outra das novidades na proposta do Governo tem a ver com a designação das instituições de ensino superior.

Governo reduz para metade organismos na Educação, Ensino Superior e Ciência

A anterior, que chegou a ser aprovada pela Assembleia da República na generalidade, mas caiu na sequência da queda do Governo, previa três tipologias: universidades, institutos politécnicos e universidades politécnicas (que ministrariam doutoramentos).

Agora, estão apenas previstas universidades e universidades politécnicas, ambas lideradas por reitores.

“Esta solução ignora a intencionalidade com que muitas instituições se constituíram enquanto institutos universitários ou politécnicos, por opção estratégica”, lê-se no parecer do CRUP, que critica a generalização das designações.

A intenção do Governo era simplificar, assegurando maior simetria entre os dois subsistemas e o paralelismo com outros sistemas do espaço europeu de ensino superior, mas os reitores alertam que, ao invés de contribuir “para uma melhor leitura da realidade institucional, antes a obscurece”.

“Para candidatos ao ensino superior, empregadores, parceiros internacionais e para a própria sociedade portuguesa, esta proposta introduz confusão onde deveria haver clareza”, referem, defendendo que os termos “universidade” e “universidade politécnica” deveriam ser reservados às “instituições de maior envergadura ou com um perfil mais abrangente”.

Por outro lado, o CRUP sublinha a necessidade de introduzir indicadores de diferenciação e propõe a dimensão do corpo docente e investigador com ligação à instituição, a percentagem de doutoramentos no conjunto da oferta formativa, a investigação integrada em unidades de investigação avaliadas com Muito Bom ou Excelente e o número e diversidade de áreas de formação.

No parecer, o conselho de reitores faz ainda referência a uma alteração ao artigo que consagra o poder de as instituições criarem livremente entidades de direito privado.

No texto da proposta mais recente do Governo, cai a expressão “livremente” e é introduzida a expressão “nos termos da lei e dos seus estatutos”, alterações que o CRUP considera terem “implicações profundas” e que, na prática, vão reduzir a autonomia das instituições.

“Equivale a retirar das mãos das universidades uma ferramenta de gestão e colaboração cuja utilização lhes foi legitimamente atribuída pelo RJIES original”, consideram.

Médio Oriente. PAN lamenta que “só agora” Portugal avance para o reconhecimento da Palestina

Acompanhe o nosso liveblog sobre o conflito no Médio Oriente.

O PAN lamentou esta quinta-feira que “só agora” Portugal assuma que reconhecer o Estado da Palestina é essencial, defendendo que sejam aplicadas sanções económicas a Israel perante uma “catástrofe humanitária inaceitável”.

“O PAN lamenta que só agora Portugal assuma que o reconhecimento do Estado da Palestina é um passo essencial para a solução dos dois Estados. Enquanto isso, uma criança é morta a cada hora na Faixa de Gaza (segundo a ONU), assistimos a uma catástrofe humanitária inaceitável”, criticou o partido de Inês de Sousa Real numa posição enviada por escrito à agência Lusa.

Referindo que o PAN “já expressou publicamente a condenação deste genocídio”, o partido reforça “a importância de serem aplicadas sanções económicas a Israel tal como fizeram com a Rússia”.

“O acesso à alimentação é um direito fundamental e só podemos condenar a instrumentalização da fome como método de combate em contextos de conflito e no de Gaza em específico, onde tantas crianças e famílias têm morrido sem conseguir aceder a bens alimentares, água ou cuidados médicos”, lamentou o partido, referindo duas iniciativas apresentadas no parlamento.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou esta quinta-feira que vai ouvir o Presidente da República e os partidos políticos com representação parlamentar com vista a “considerar efetuar o reconhecimento do Estado palestiniano” na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro.

“O Governo decidiu promover a auscultação de sua Excelência o Senhor Presidente da República e dos Partidos Políticos com representação na Assembleia da República, com vista a considerar efetuar o reconhecimento do Estado palestiniano, num procedimento que possa ser concluído na semana de Alto Nível da 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a ter lugar em Nova Iorque no próximo mês de Setembro”, anunciou o primeiro-ministro, em comunicado.

Quem quer ser testemunha de um planeta em mudança

O Verão aquece lá fora, e mais uma vez os incêndios vão mastigando a natureza e os nossos dias, em Portugal e em outros países europeus. Mais longe, as chuvas torrenciais causadas pelos tufões puseram algumas regiões da China em alvoroço e populações em risco. Embora cada fenómeno seja gerado dentro de um contexto particular, o certo é que vamos sendo testemunhas das alterações climáticas em tempo real. Mais profundamente, com mais ou menos consciência, vamos também sendo testemunhas de um planeta em mudança.

Num artigo de Junho do jornal britânico The Guardian sobre o desaparecimento dos insectos, o entomólogo norte-americano David Wagner, profundo conhecedor de traças, borboletas e das suas lagartas nos Estados Unidos, assumia essa posição de testemunha. “Sou um optimista, no sentido que acho que vamos construir um futuro sustentável”, explicava o entomólogo, de 69 anos.

“Mas isso vai demorar 30 a 40 anos e, nessa altura, será demasiado tarde para muitas das criaturas que amo. Quero fazer o que posso com a minha última década para narrar os últimos dias de muitas destas criaturas.”

A ideia do declínio dos insectos surgiu em 2017, quando um estudo alemão publicado na PLoS One mostrou, ao longo de 25 anos, uma diminuição de três quartos na abundância dos insectos existentes em zonas protegidas na Alemanha.

O alerta estava lançado.

Um ano depois, Brooke Jarvis pegou no tema e expandiu-o, como faz o bom jornalismo, e publicou um artigo no New York Times sobre o assunto. Nele, mostrou que aquilo que tinha sido identificado na Alemanha era um problema mais abrangente e não circunscrito a um país, onde a perda de habitat e os químicos vindos da agricultura são ameaças reconhecidas para os insectos.

A jornalista foi a vários países e falou com vários investigadores, incluindo Brad Lister, autor de um trabalho então recente que espelhava os resultados da Alemanha, mas agora numa floresta tropical, na ilha principal de Porto Rico, nas Caraíbas.

Lister tinha estado naquela floresta na década de 1970 para estudar lagartos, mas também tinha avaliado a abundância das suas presas, os insectos. Passados 40 anos, no início da década passada, voltou lá para fazer medições semelhantes e verificou que a abundância de insectos tinha diminuído entre 10 a 60 vezes. “Foi, sabe, devastador”, admitiu o ecólogo a Brooke Jarvis.

Ao contrário das paisagens alemãs, a floresta em Porto Rico não estava propriamente sob pressão humana. A suspeita sobre a causa do fenómeno recaía no aumento das temperaturas por causa das alterações climáticas, mas não era certo.

Passados mais de sete anos, o artigo do Guardian olhou precisamente para esta questão: regiões prístinas tropicais, sem pressões humanas, que ainda assim sofreram uma diminuição esmagadora dos insectos.

Naquele caso, a jornalista Tess McClure falou também com o entomólogo Daniel Janzen, que visita a floresta tropical de Guanacaste, na Costa Rica, desde a década de 1970. Em 1978, o entomólogo experimentou pela primeira vez colocar um lençol à noite, com luz atrás, para atrair os insectos. Desde então, passou a fazer a experiência todos os anos.

No início, o lençol ficava tapado, apinhado de mariposas e outros bichos. Hoje, são muito poucos os animais apanhados na “ratoeira”. As fotografias que mostram o contraste no número de bichos são reveladoras.

“É o mesmo lençol, com as mesmas luzes, no mesmo local, à frente da mesma vegetação. É a mesma altura do ano, a mesma altura do ciclo lunar, tudo é idêntico“, diz o especialista. “Só que não há mariposas no lençol.”

A tese do artigo para a causa do desaparecimento é que os insectos são muito susceptíveis à desidratação e dependem do ritmo cronometrado das estações nas florestas tropicais. Só que esse ritmo está a ser alterado pelas alterações climáticas. Se a estação das chuvas se atrasa um ou dois meses, isso tem um efeito devastador nas populações de insectos. Essa redução já está a ter um impacto nas populações insectívoras de aves em regiões intocadas nos Estados Unidos, no Brasil, no Equador e no Panamá, adianta o artigo.

Os insectos são o grupo de animais mais diverso da árvore da vida e, provavelmente, com o maior peso em biomassa. Das formigas às vespas, dos escaravelhos às borboletas, conhecem-se mais de 900 mil espécies. Mas a estimativa é que possam existir de dois a 30 milhões de espécies. Ou seja, são um mundo, que em larga medida é desconhecido, mas que tem um impacto abrangente.

Os insectos polinizam plantas, controlam outras pragas de insectos, são a base alimentar de muitos animais, são uma peça fundamental no processo de decomposição da matéria. Por isso, são fundamentais para os ecossistemas e para nós – pense-se apenas o que seria a agricultura se não houvessem insectos para polinizar as plantas.

Mas estão a desaparecer. Todos os anos, entre um e 2,5% da biomassa dos insectos vai se perdendo. Em algumas regiões, os cientistas acreditam que a velocidade é maior.

E, na maior parte do tempo, a grande maioria das pessoas não dá por isso.

Como Brooke Jarvis referia no artigo do New York Times, a floresta que Brad Lister visitou, passadas quatro décadas, em Porto Rico, ainda parecia “intemporal” e “fantasmagórica”, com cascatas e flores a cobrirem o solo, como se tudo estivesse bem. Quem não a conhecesse profundamente, ou quem não a estudasse profundamente, dificilmente iria se aperceber do desaparecimento daqueles pequenos animais.

É por isso que a monitorização que os cientistas fazem aos ecossistemas é tão importante. Só assim é possível ter dados sobre a evolução das populações ao longo das décadas. Só assim é possível ver as mudanças graduais ocorrerem, antes de uma transformação radical suceder e surpreender-nos a todos, impossibilitando-nos de agir para evitar o pior.

Nem todos os entomólogos são como David Wagner e Daniel Janzen, que continuam comprometidos a observar os insectos e, inevitavelmente, o seu desaparecimento. Daniel Janzen dizia que conhecia um entomólogo com décadas de experiência que deixara de ter “a coragem emocional” de colher mariposas à noite. É todo um lamento.

Mas a pergunta sobre o que estamos preparados para testemunhar à nossa volta será para cada um de nós.

Na próxima vez que estiver a caminhar por um trilho entre árvores e flores, insectos e aves, vale a pena perguntar que mundo é que existe ali. O que está a desaparecer, é certo, mas também o que se pode salvar, o que se pode restaurar? O que se pode conhecer… Afinal, somos participantes das revoluções deste planeta, queiramos ou não. E a vida continua a vibrar em cada recanto, merece a nossa atenção.

1 164 165 166 167 168 603