Palcos da semana: andando e fazunchando entre o mar, o Taboão e um Baile à Baiana

Tão natural como a sede de concertos
Em Paredes de Coura, já se mergulha no Taboão, já se deita o olho ao melhor lugar, já se vão montando tendas. Há que garantir as melhores condições para aproveitar os concertos que aí vêm, no “anfiteatro” que a natureza parece ter amaciado de propósito para albergar alguns dos melhores espectáculos, reencontros e rastilhos de vícios musicais dos últimos anos.
No coração do autoproclamado “habitat natural da música” estão, nesta 32.ª edição, os Vampire Weekend regressados aos discos com Only God Was Above Us, os Franz Ferdinand de coolness renovada por The Human Fear, os Air a darem ares das graças electrónicas que fazem desde um tal de Moon Safari, as fusões narrativas e sonoras de King Krule, o lado Messy da indie-pop segundo Lola Young e Sharon Van Etten em banda com The Attachment Theory, entre dezenas de outros.
Tudo isto só começa quarta-feira, mas há outro motivo para os festivaleiros já estarem no terreno: entre este domingo e terça, há um aquecimento que Sobe à Vila minhota com concertos e DJ sets.
Da burguesinha à baiana
Chama-se Jorge Mário da Silva, mas é como Seu Jorge que o conhecemos na música (ou, no cinema, como o Mané Galinha da Cidade de Deus). Voz de Burguesinha, Carolina ou É isso aí (neste caso, a meias com Ana Carolina), dá ginga a histórias com riqueza sonora e o olhar crítico de quem passou a infância imerso numa favela “problema social” carioca.
Este ano, juntou mais ritmos ao caldeirão e meteu-se num Baile à Baiana. É na senda deste álbum – enaltecido pela Rolling Stone compatriota como “uma celebração da riqueza cultural do Brasil e um marco na carreira do cantor, que se consolidou como um dos artistas mais versáteis e criativos” – que o vemos regressar.
Toca a Andanças
Depois de ter experimentado vários poisos – de Évora a São Pedro do Sul – é na aldeia de Campinho, junto ao Alqueva, onde já se enraizou na comunidade local, que o Andanças torna a assentar arraiais com a firme ideia de pôr gente de todas as idades a entrar em novos ritmos, aqui encarados como “meios privilegiados de aprendizagem e intercâmbio entre gerações, saberes e culturas”, descreve a organizadora Pé de Xumbo.
Bollywood, danças com adufes, salsa, kizomba, lindy hop… Não há passo que lhe escape. Mas espraia-se muito para além das oficinas e bailes de dança: há concertos, DJ sets, teatro, contos, visitas, passeios, caminhadas… Relaxar também faz parte da extensa lista de actividades, com sugestões de ioga, tai chi, massagens ou, fora do programa, uma boa sesta à sombra de um chaparro. O mais importante, afinal, é cada um andar ao seu ritmo.
A Fazunchar, (es)culturalmente
Fazunchar significa fazer. Em Figueiró dos Vinhos, os mais antigos saberão traduzir do laínte o nome do festival de arte urbana. O dialecto pode ser de antanho, mas o conteúdo faz-se agora, por acção directa e transformadora dos mui modernos street artists que ali se juntam para “decorar” a terra. Isto “sem nunca perder o foco no essencial: a ligação humana e a valorização do património cultural e social da região, a ligação humana e a valorização do património cultural e social da região”, frisa a organização. Esta é já a sétima edição.
Na vila onde um dia José Malhoa construiu O Casulo brotam agora pinturas murais de Daniela Guerreiro, Bordalo II e Restless, a “intervenção escultural” de Robert Panda, uma exposição de Raquel Belli, A Garota Não em concerto, a actuação de DJ Kwan e a estreia do documentário de Pedro Guerra Redesenhando Mundos (sobre o festival e baptizado com o seu lema), além de residências artísticas, oficinas para adultos e crianças, conversas, visitas guiadas e – novidade do ano – um mercado de autor.
Há mar e mar, há ir ao Mar Me Quer
Alexandre O’Neill há-de perdoar-nos pela adulteração do seu slogan. É para falar num festival algarvio que sobressai na agenda pela onda verde que lhe está na génese, no cenário e no programa. Ao sucinto mas sumarento cartaz musical da quarta edição – que inclui Da Weasel, Dillaz, Calema, Bispo, Plutónio, Soraia Ramos… – junta a habitual carta de intenções em nome da consciência ambiental e do compromisso com a sustentabilidade (visíveis, por exemplo, nos materiais usados no recinto).
Este ano, puxa também a brasa à inclusão e à articulação com a comunidade: além de se adaptar a pessoas com daltonismo, faz parcerias com instituições locais para oferecer experiências como oficinas de teatro sensorial ou escultura táctil.
