Lei dos estrangeiros não é jogo de futebol entre Marcelo e Governo

Presidente da República explica o pedido de fiscalização: “criar certeza” perante as “muitas interpretações diferentes” sobre a constitucionalidade. O Presidente da República afirmou nesta terça-feira que pediu a fiscalização preventiva do Tribunal Constitucional da lei dos estrangeiros para “criar certeza”, perante diferentes interpretações sobre a constitucionalidade do diploma. Marcelo Rebelo de Sousa, que prestava declarações a canais de televisão junto à praia de Monte Gordo, no Algarve, onde se encontra a gozar férias, disse não querer comentar diretamente a decisão do Tribunal Constitucional, mas explicou que, com o pedido de fiscalização preventiva da lei dos estrangeiros, quis “criar certeza” perante

Há pessoas que odeiam música. A ciência já sabe porquê

Pode parecer estranho para a maioria, mas para algumas pessoas a música não traz qualquer sensação positiva. Um novo estudo refere que esta característica comportamental é culpa de uma desconexão entre as redes auditiva e de recompensa do cérebro. A maioria dos estudos sobre o sistema de recompensa humano assumiu uma sensibilidade global, o que significa que a capacidade de uma pessoa de experienciar prazer é um traço unificado que se aplica, de forma geral, a todos os tipos de estímulos recompensadores. No entanto, há cerca de uma década, uma equipa da Universidade de Barcelona desafiou esta noção ao descobrir

Alerta prolongado até sexta-feira: temperaturas aumentam, risco de incêndio agravado

Governo decidiu prolongar a situação de alerta devido às previsões meteorológicas, que apontam para aumento da temperatura e risco agravado de incêndio rural. Portugal está em situação de alerta desde o dia 2 de agosto e estava previsto até quarta-feira – sendo agora prolongado por 48 horas. O Governo decidiu nesta terça-feira prolongar a situação de alerta até às 23:59 de sexta-feira devido às previsões meteorológicas, que apontam para aumento da temperatura e risco agravado de incêndio rural. Uma nota do Ministério da Administração Interna (MAI) divulgada ao final da tarde adianta que “todas as medidas de caráter excecional, outrora

Grávida teve bebé no meio do passeio. Ministério da Saúde admite erro humano

Uma averiguação preliminar dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) apurou que um “erro humano” levou a que a chamada de socorro da grávida de 28 anos que teve o parto na rua não fosse encaminhada para o INEM. Uma grávida deu à luz no meio da rua, esta segunda-feira de manhã, no Carregado, depois de lhe ter sido negada uma ambulância pelo SNS 24. Soraia ligou para a linha de apoio do Serviço Nacional de Saúde quando começou a sentir as contrações, mas em vez de enviarem uma ambulância, pediram-lhe para ir de carro. Segundo o Correio da

Assistentes de inteligência artificial partilham dados confidenciais do utilizador

Os assistentes de inteligência artificial (IA) estão a recolher e a partilhar dados confidenciais do utilizador, como registos médicos e bancários, sem a devida salvaguarda, conclui um estudo divulgado esta quarta-feira.

Investigadores da Universidade College London, no Reino Unido, e da Universidade de Reggio Calabria, em Itália, analisaram dez assistentes de IA, que necessitam de ser descarregados e instalados no computador ou telemóvel para poderem ser utilizados, e descobriram que recolhem muitos dados pessoais da atividade dos utilizadores na internet.

A análise revelou que vários assistentes transmitiram conteúdo completo de páginas da internet, incluindo informação visível no ecrã, para os seus servidores.

Um dos assistentes de IA, Merlin, capturou entradas de formulários, como dados bancários ou de saúde, enquanto ChatGPT, Copilot, Monica e Sider tiveram a capacidade de inferir atributos do utilizador, como idade, sexo, rendimentos e interesses, e usaram esta informação para personalizar as respostas mesmo em diferentes sessões de navegação.

“Esta recolha e partilha de dados não é trivial. Além da venda ou partilha de dados com terceiros, num mundo onde ciberataques em massa são frequentes, não há forma de saber o que está a acontecer aos dados de navegação depois de recolhidos”, alertou, citada em comunicado da Universidade College London, uma das autoras do estudo, Anna Maria Mandalari.

Para o estudo, os investigadores simularam cenários de navegação do mundo real criando a identidade de “homem rico da geração Y [nativa digital] da Califórnia”, nos Estados Unidos, que usaram para interagir com os assistentes enquanto completavam tarefas na internet comuns, incluindo leitura de notícias, compras na Amazon e visualização de vídeos no YouTube.

Foram também incluídas atividades do espaço privado, como aceder a um portal de saúde universitário, iniciar sessão num serviço de encontros ou aceder a pornografia, que os investigadores assumiram que os utilizadores não queriam que fossem rastreadas, uma vez que os dados são pessoais e sensíveis.

De acordo com o estudo, realizado nos Estados Unidos, alguns assistentes de IA, incluindo Merlin e Sider, não pararam, como deveriam, de gravar a atividade quando o utilizador mudou para o espaço privado e violaram a legislação de proteção de dados norte-americana, ao recolherem informações confidenciais de saúde e educação.

Os autores do estudo defendem a necessidade urgente de supervisão regulamentar dos assistentes de IA para proteger os dados pessoais dos utilizadores e recomendam que os programadores adotem princípios de privacidade desde a sua conceção, como o consentimento explícito do utilizador para a recolha de dados.

Rutger Bregman: “‘Segue a tua paixão’ é o pior conselho de carreira do mundo”

Depois dos best-sellers Utopia para Realistas e Humanidade — Uma História de Esperança, Rutger Bregman escreveu Ambição Moral. O historiador neerlandês quer que a geração mais bem preparada de sempre deixe os empregos “pouco ambiciosos e pouco idealistas” — e comece a solucionar os problemas do mundo.

“Alguns dos meus amigos da esquerda diriam que isto é uma causa perdida porque nunca lhes podes pagar os mesmos salários. E eu seria o último a negar que o dinheiro é um incentivo importante. Mas há outra coisa que também é extremamente importante, que é o estatuto”, diz ao Ípsilon. “Eu passo muito tempo a estudar alguns dos maiores movimentos civis do passado, incluindo o movimento abolicionista. E o que me impressionou ao estudar esse movimento é que fazia parte de uma mudança social mais ampla, que tinha tudo que ver com tornar fazer o bem mais prestigioso. Houve essa mudança entre as elites que disseram: ‘Chega, temos de começar a contribuir para a sociedade de uma forma muito mais profunda’.”

Rutger Bregman​ defende que a ambição moral não é uma característica pessoal, mas uma atitude. “Todas as pessoas têm o seu limiar de acção, um ponto crítico a partir do qual começam a agir.” Ele já começou.

Estamos em 2025. Continua optimista?
Eu nunca fui um optimista! Nunca me descreveria como optimista. Optimismo, para mim, sugere complacência, como se dissesse: “Olha, vai correr tudo bem! Não te preocupes. Sê feliz, relaxa…” Essa não é a minha atitude. Sempre preferi a palavra “esperança” em vez de “optimismo”, porque esperança é sobre a possibilidade de mudança. E, mais importante, obriga-te a agir, a fazer alguma coisa.

É 2025. Continua esperançoso?
Tenho sempre esperança. Teria esperança mesmo se as coisas ficassem muito negras. Eu percebo perfeitamente a pergunta. O mundo está a ir numa direcção muito má e é chocante ver com que rapidez isto está a acontecer em todas as frentes. Mas, na minha experiência, o melhor antidepressivo para sentimentos de desespero e pessimismo é fazer algo, comprometer-se, contribuir com alguma coisa. É a única coisa que realmente funciona.

“Precisamos que as pessoas mais ambiciosas e talentosas trabalhem nos verdadeiros problemas. Vivemos num país livre: podes ser aborrecido, se é isso que queres fazer com a tua única vida neste planeta. Podes simplesmente viver, morrer e ser esquecido quase de imediato — ou então fazer algo que importe, algo que seja verdadeiramente interessante.”
Getty Images/Catarina Pisco

Foi por isso que criou a Escola da Ambição Moral, uma fundação sem fins lucrativos em Amesterdão e Nova Iorque?
Basicamente, sim. Estamos a construir um movimento de pessoas que já não querem ficar de fora, que querem tornar este mundo não só um pouco melhor mas muito melhor, combinando o idealismo típico de um activista com a ambição de um empreendedor. Temos mesmo a atitude de “mais é mais”. Se os problemas do mundo são realmente grandes, então a solução tem de ser grande também.

As escolas deveriam ter um papel maior no desenvolvimento moral e na acção moral?
Sou um social-democrata europeu clássico. Acho que a escola deve ser sobre muitas coisas, tal como a vida também deve ser sobre muitas coisas. Não estou a dizer que a ambição moral é a única forma de viver uma vida boa. Uma vida rica e equilibrada envolve muitas outras coisas. O modelo de ensino certo para mim é o que os alemães chamam Bildung, que é uma perspectiva ampla sobre educação. O que significa ser um bom cidadão? Precisamos de saber muitas coisas: política, filosofia, ética, música, artes, etc.

Na Escola da Ambição Moral​, focamo-nos em pessoas um pouco mais velhas. Dizemos-lhes: “Uma carreira dura cerca de 2000 semanas de trabalho. Não é toda a tua vida, mas é uma parte significativa dela.” Actualmente, cerca de 25% das pessoas estão presas em empregos que consideram socialmente sem sentido. Muitas dessas pessoas passaram por universidades muito boas. Têm currículos excelentes, mas sentem que estão a desperdiçar o seu talento. Então, vamos fazer algo sobre isso. Mas não estou a dizer que precisamos de doutrinar jovens de 14 anos com ambição moral.​

Quando fala com esses jovens, que equívocos acha que têm sobre mudar o mundo?
Acho que temos de falar especialmente dos equívocos que os mais velhos têm sobre os mais jovens. Muita gente pensa: “É tudo pelo dinheiro, é por isso que entram nestas carreiras.” Tornam-se marketeers, banqueiros, advogados porque têm sinais de dólares nos olhos. Isso não é verdade.

Fizemos dezenas de entrevistas com estudantes de Harvard, que é um ambiente altamente competitivo. Se alguém esperaria esta dinâmica em algum lado seria em Harvard. O dinheiro é uma consideração relativamente menor para eles. Porque vão trabalhar para a McKinsey [empresa de consultoria norte-americana]? Por causa da clareza do percurso profissional que a McKinsey oferece. Dizem: “Fazes só dois anos, vais aprender muito, trabalhas meio ano aqui, meio ano ali, saltas de projecto em projecto, tens óptimos mentores e manténs a tua liberdade de escolha. Depois de dois anos, podes fazer o que quiseres.” Na verdade, depois acabam sugados por aquilo a que chamamos Triângulo das Bermudas do Talento: consultoria, direito corporativo e finanças.

Pense como era quando tinha 23, 24, sem ideia do que fazer da vida. É-se facilmente impressionado por pessoas com histórias aparentemente boas. Esse é o momento para ajudar a mudar o percurso deles. Começámos bolsas para profissionais em meio de carreira, pagamos-lhes para largarem o emprego. Já convencemos advogados corporativos, consultores, empreendedores a largar o trabalho e lutar contra o tabaco em Bruxelas.

Estamos muito impressionados com o progresso deles. Mas é difícil fazer isto numa escala maior porque é preciso dar algum capital inicial. Damos subsídios equivalentes a um salário médio na Holanda, muito menos do que ganhariam normalmente, mas ainda assim são necessárias grandes angariações de fundos.

Foi difícil não gritar “mudança sistémica” a meio da leitura. Até que escreveu que a ideia que os indivíduos não fazem diferença é, na verdade, uma visão hiperindividualista da humanidade. Pode explicar este argumento?
Todos os meus livros são sobre como fazer mudanças sistémicas. Obviamente, é o que precisamos. Sou o primeiro a admitir que a insistência na mudança individual, muitas vezes vinda da direita, é frequentemente uma desculpa para permitir que a pobreza e a desigualdade persistam.

Mas pode haver também uma indulgência ou desculpa da esquerda onde se grita “precisamos de mudança sistémica, de derrubar o patriarcado, acabar com o capitalismo”, e depois não se faz nada. Vi muito isso entre amigos de esquerda e, honestamente, quando olhava para o espelho.

O meu livro anterior, Humanidade, correu bem e comecei a ganhar dinheiro, algo que nunca imaginei. Quando era estudante, queria ser professor de História, era o quão ambicioso era na minha carreira. Depois escrevi livros e correu bem. Perguntei-me: “OK, quais são as minhas obrigações morais agora?”

Falei com autores progressistas que também tiveram sucesso, mas que não tinham um plano claro para o que fariam com isso. Descobri que se ganhas um salário mediano na Holanda, já estás entre os 3% mais ricos do mundo. Mas, em média, os holandeses só doam 0,4% do rendimento familiar para instituições de solidariedade, e a maior parte para instituições pouco eficazes. Isto é um exemplo simples de onde está o problema.

Muita “actividade” política é, na verdade, um hobby político — seguir notícias, ler jornais, expressar opiniões em festas —, mas não é activismo real. Activismo real é traduzir essa consciência em acção. Significa usar o que tens — talento, tempo, capital financeiro — para fazer a diferença, investir esse capital. Quem vive em países mais ricos, especialmente quem tem tempo para ler um jornal de qualidade, tem por definição capital significativo. Por isso, é mesmo isso que interessa: usar esse capital.

Outro ponto importante: pode dizer que precisamos de mudança sistémica. Mas como é que essa mudança acontece? Volto sempre à citação de Margaret Mead, que nos lembra que são pequenos grupos de cidadãos comprometidos que fazem uma grande diferença.

Essa é a minha análise da História. O movimento abolicionista tornou-se um movimento maciço de centenas de milhares a pedir mudança sistémica, mas começou com umas poucas dezenas de pessoas muito empreendedoras, muito activas. É disso que a ambição moral trata: estar do lado certo da história antes de ser moda juntar-se a um movimento de massa, não só entrar quando já é grande, mas criar o movimento de massa.

Rutger Bregman, 37 anos, cofundou uma fundação sem fins lucrativos (The School for Moral Ambition) que reúne especialistas de várias áreas para combater problemas solucionáveis que fogem ao radar de activistas e legisladores. Os lucros do livro serão doados à fundação
Maartje ter Horst

Devemos optimizar a moralidade? A ideia que defende de ambição moral está próxima do altruísmo eficaz, que procura usar dados objectivos para determinar as formas mais eficazes de beneficiar os outros​?
O meu livro é, na verdade, um estudo de muitos movimentos que acho interessantes. Passei muito tempo a estudar os abolicionistas, as sufragistas, o movimento pelos direitos dos animais, os Nader’s Raiders e também dediquei algum tempo a estudar os altruístas eficazes.

Acho realmente que a ênfase em aprender a “contar” é extremamente importante. Todas as correntes éticas — como o consequencialismo, o deontologismo, a ética da virtude, entre outras — concordariam, penso eu, que, quando todas as circunstâncias são iguais e temos de escolher entre salvar uma vida ou duas, a resposta é óbvia: devemos fazer o maior bem possível.

Se podes fazer mais bem, então faz mais. Não é preciso ser um utilitarista louco para acreditar nisso. Há uma razão pela qual as crianças na escola aprendem rapidamente a contar. É muito importante na vida distinguir menos de mais.

Seria a última pessoa a dizer que as pequenas acções não contam. Eu não como carne, não apanho um voo para férias, reciclo o meu lixo e tudo isso. Mas não penso que isso seja a minha grande contribuição para o mundo. Também não estou na ilusão de que isso vá salvar o mundo, mesmo se todos o fizessem. Precisamos de muito mais, especialmente das pessoas que têm muito capital, seja humano ou financeiro. Temos de ser mais ambiciosos.

Por isso, no livro, dou exemplos de pessoas que não fazem apenas duas ou três vezes mais bem que outras, mas mil, dez mil ou um milhão de vezes mais, porque é esse o mundo em que vivemos. Alguns problemas são incrivelmente negligenciados e algumas soluções são incrivelmente eficazes. Se aplicarmos essas soluções a estas causas negligenciadas, podemos fazer uma enorme quantidade de bem com grupos pequenos de pessoas.

No seu livro anterior, escreveu que a maioria dos humanos são bons. Agora escreve que, geralmente, nos falta ambição moral. A ambição moral depende mais das circunstâncias ou da natureza?
Diria que Humanidade e Ambição Moral são duas faces da mesma moeda. O primeiro recorre a evidência muito semelhante, mas apresenta-a sob uma perspectiva mais positiva. Ambição Moral surge, em parte, como uma resposta a isso.

Em Humanidade, descrevo que os humanos são naturalmente gregários e sociais; queremos desesperadamente fazer parte de um grupo. Somos produto do que os antropólogos evolutivos chamam “a sobrevivência dos mais amigáveis”.

Queremos mesmo viver em comunidade, e isso foi uma enorme força de progresso. Foi uma das razões por que conquistámos o mundo, e não os Neandertais ou os chimpanzés, porque conseguimos cooperar num nível que os outros não conseguiram.

Mas isso pode também ser um obstáculo ao progresso moral, porque é difícil ser o outsider, ser chato, dizer “isto da escravatura é profundamente imoral, precisamos de fazer alguma coisa”. É difícil incomodar os outros. Por isso, a ambição moral é o caminho incómodo.

No final do livro, menciona que aprendeu com a sua mãe que por vezes é preciso ser desagradável para fazer a coisa certa.
Sim. Não penso que seja preciso ter nascido de uma certa forma; há muitas evidências de que pode se tratar de uma mentalidade contagiosa.

Escrevo extensivamente sobre o que aconteceu no meu país durante a Segunda Guerra Mundial. Sempre me fascinou esta questão quando era miúdo: porque é que algumas pessoas tiveram coragem para esconder judeus perseguidos nas suas caves? Pensei que existiria uma personalidade heróica. Mas não há. Fizeram centenas de entrevistas a heróis da resistência e eles eram um cruzamento da população: pessoas da esquerda à direita, ricas, pobres, jovens, velhos. Há apenas este dado: quando voltaram a analisar os números, descobriram que, em 96% dos casos, quando as pessoas eram convidadas a juntar-se à resistência, diziam que sim.

Isso é muito importante. Não é sobre a psicologia da resistência, é sobre a sociologia. Como espalhamos este vírus, esta ideia? Isto é o que tenho visto acontecer, vezes sem conta, na História: as pessoas contagiam-se umas às outras.

Todos gostamos de pensar que seríamos as pessoas a esconder judeus nas nossas caves.
A resposta a essa dúvida é simples: olha para a tua vida agora. Se estás apenas a viver a tua vida como a maioria das pessoas certamente, não terias feito nada naquela altura.

Se és activista e usas os teus talentos, capital financeiro ou cultural para realmente fazer a diferença contra os problemas mais negligenciados, os menos populares, então provavelmente terias feito a coisa certa nessa altura também. É uma questão simples de responder. As pessoas dizem: “Não sei o que teria feito.” É fácil. Olha para a tua vida agora.

“Segue a tua paixão” é um mau conselho?
É o pior conselho de carreira do mundo. É importante não começares a pensar só em ti, no que te faz sentir bem agora. Vai para o mundo e diz: aqui estou eu, aqui estão as minhas capacidades. Onde sou necessário? O que precisa de acontecer? O que posso fazer? Onde posso fazer a maior diferença?

Depois, torna-te apaixonado por isso. A paixão é muito mais maleável do que as pessoas pensam.

No livro, conto a história de uma médica do serviço nacional de saúde do Reino Unido que largou o emprego porque achava que tratar pacientes em países ricos não era a melhor forma de tornar o mundo mais saudável. Foi para uma escola que descrevo no livro, a Charity Entrepreneurship, ouviu os investigadores que lhe falaram do envenenamento por chumbo, algo que nunca tinha considerado, mas que é um dos maiores problemas globais de saúde. Agora, criou uma instituição chamada Lead Exposure Elimination Project que fez um trabalho tremendo contra o envenenamento por chumbo. Convenceram o Governo do Malawi a regular devidamente o chumbo nas tintas. Fez o trabalho de milhares de médicos em poucos anos, no que toca a anos de vida salvos.

Estas são as possibilidades. Vivemos num mundo estranho, onde algumas coisas estão tão negligenciadas que são simplesmente ignoradas porque não estão na moda ou não é prestigioso trabalhar nelas.

Ou são causas de que o algoritmo das redes sociais não gosta.
Sim! E isto não é um problema só da direita, é também da esquerda. A esquerda é muito selectiva nos problemas que escolhe debruçar-se. Nos últimos anos, o clima passou a ser tudo. Às vezes, gosto de chamar-lhe “climatismo”. É a ideia de que só podes olhar para os problemas do mundo através da lente das alterações climáticas. Obviamente, o aquecimento global é um problema global muito sério. Mas quando perguntas às pessoas porque é que é um problema sério respondem-te que vai causar muito sofrimento humano — mortes, perda de meios de subsistência, etc.

Mas isso já está a acontecer agora! Por exemplo, a malária mata 600 mil pessoas todos os anos. A tuberculose: 1,2 milhões de vidas. Isto corresponde a várias ordens de grandeza maior do que aquilo que as alterações climáticas provocam actualmente.

Claro que a situação vai piorar no futuro. Mas penso que esta tendência de fazer tudo girar à volta do clima é, na verdade, prejudicial para muitas pessoas que são muito menos privilegiadas.

Por vezes, penso que as alterações climáticas têm mais ressonância com activistas progressistas ricos e países ricos porque é algo que conseguem experienciar por si próprios. Todos sentimos que o clima está a mudar. Experienciamos isso no dia-a-dia, mas alguma vez sentimos a ameaça de cozinhar dentro de casa? Ou a poluição do ar interior? Malária, tuberculose? Posso continuar. Não, obviamente que não. E tendemos a ignorar isso. Isto não quer dizer que o aquecimento global não seja um grande desafio. Acho que é um enorme desafio e que muitas mais pessoas precisam de trabalhar nisso.

Há muitos comportamentos dolorosos nos círculos progressistas também. Tornar-me empreendedor, começar uma organização por mim mesmo, acho que isso é muito bom para muitas coisas progressistas, para os progressistas fazerem algo de verdade, construírem algo, terem algum compromisso real.

É um conselho um pouco de direita: torna-te empreendedor.
Bem, aprende-se muito sobre como o mundo realmente funciona. E também se percebe que algumas das críticas-padrão que a direita faz à esquerda têm alguma verdade.

É fácil criticar quando estás de fora, quando não tens nada a perder, quando não tens empregados. Quando estás a tentar construir uma empresa, outras coisas passam a ser importantes.

Tenho dedicado muito tempo a denunciar todas as empresas absurdas e vou continuar a fazê-lo ao longo de toda a minha carreira. Mas se Ambição Moral é sobre alguma coisa, é uma ode ao empreendedorismo, às pessoas que fazem algo do nada, que não ficam só à espera que alguém faça alguma coisa.

A luta pelos direitos humanos é coisa da esquerda? A luta pela democracia é de esquerda? A luta pela dignidade animal é de esquerda? Na Escola da Ambição Moral, trabalhamos com muita gente do lado mais conservador do espectro político. Estou a trabalhar com pessoas que me disseram que nunca imaginaram financiar alguém como eu, o tipo que foi a Davos [dizer que o que era necessário fazer para prevenir uma crise social era simples: “Impostos, impostos, impostos”].

Acho que consigo trabalhar com estas pessoas porque não sou um purista moral. Não estou sempre com aquela moralidade superior de “o meu caminho ou nada”. Estou a tentar construir coligações com pessoas que concordem em 80% e discordem em 20%. E que assim pensam: “Somos aliados, não inimigos.” Há uma tendência na esquerda de purismo moral, em que só querem trabalhar com quem concordam a 100%. Bem, essa é uma excelente forma de ser ineficaz.

Marc Andreessen explica que inovação vai fazer nascer a próxima Apple

A certa altura tudo se torna obsoleto. E quem inventar o dispositivo ou inovação que torne os smartphones obsoletos, será a próxima Apple, diz o investidor de capital de risco e programador que em 1993 inventou o primeiro navegador de internet. Em 2020, a Apple tornou-se a primeira empresa do mundo com uma valorização em bolsa de mais de 2 biliões de dólares — cerca de 1,68 biliões de euros. O estrondoso sucesso da empresa fundada por Steve Jobs foi inicialmente alicerçado no lançamento, em 1984, do Apple Macintosh —  o primeiro computador que qualquer mortal podia usar em casa

“Portugal tem uma invenção que transformou a nossa vida: o multibanco. Na Holanda tinha de procurar o meu banco para levantar dinheiro”

Nuno Fox

O ecossistema da inovação em Portugal tem vindo a melhorar e há muitos exemplos de ideias novas e relevantes que estão a marcar a agenda em diferentes sectores, mas ainda há falhas importantes a resolver para tornar o país num viveiro de inovação – e algumas passam por decisões tomadas a nível europeu.

André Losna, da Xpert Energy, responde a questões sobre o que saber antes de comprar uma moto elétrica

Matilde Fieschi

Neuraspace, nos negócios do espaço, Soundparticles, no som a três dimensões, CaetanoBus, nos autocarros a hidrogénio, e A. Sampaio e Filhos, no têxtil são quatro exemplos de inovação que já passaram pelo podcast do Expresso ‘Liga dos Inovadores’. No quinto episódio, estivemos à conversa com António Costa Silva, que foi ministro da Economia entre abril de 2022 e abril de 2024 e esteve muitos anos ligado ao mundo das empresas, na presidência da Partex; Isabel Rocha, vice-reitora da Universidade Nova e professora em Inovação; e Ricardo Paes Mamede, professor no ISCTE e que coordenou a avaliação do impacto dos fundos europeus na qualificação, inovação e internacionalização.

António Costa Silva, Isabel Rocha e Ricardo Paes Mamede formam o ‘conselho de curadores’ da ‘Liga dos Inovadores’

Nuno Fox

Os três compõem o conselho de curadores da ‘Liga dos Inovadores’, ajudando a organizar ideias, despistar dúvidas e hierarquizar escolhas e juntaram-se para refletir sobre o que é a inovação, em que medida as empresas portuguesas são inovadoras e o papel das políticas públicas. Cada um enumera também a maior inovação empresarial das últimas décadas em Portugal.

Este episódio foi originalmente publicado no Expresso em 26 de fevereiro de 2025.

O podcast que nos conta o que de inovador e diferenciador está a ser feito pelas empresas em Portugal. Na “Liga dos Inovadores”, Elisabete Miranda e Pedro Lima conversam com gestores, diretores e profissionais que nos contam histórias que conquistaram o mercado e vão contribuindo para a transformação económica do país e da sua imagem. Falam-nos das vitórias que os trouxeram até aqui, mas também das ansiedades, dos concorrentes que invejam, dos gestores que admiram, dos profissionais que têm e dos perfis que precisam de contratar. Todas as semanas, às quartas-feiras.

Gato dentro da máquina da roupa: alguns sobrevivem, mas o descuido é quase fatal

Sufocamento, lesões físicas muito graves, choque eléctrico… O melhor é o ciclo da máquina nem sequer começar, obviamente. Um gato dentro de uma máquina de lavar a roupa. Possivelmente já aconteceu em casa do leitor do ZAP: chega à lavandaria, à marquise, e vê o seu gato dentro do tambor da máquina. E em dias de tanto calor como estes, a probabilidade de isso acontecer aumenta – o gato está a fugir ao calor como pode. E reparou que aquele até era o local mais fresco da casa. Mas isso é com a máquina desligada. Com a máquina da roupa

“A minha memória é a minha caneta e o meu papel. É a minha biblioteca”

No cartão de cidadão português vem que Ilda Vaz nasceu em 1968. Mas, na verdade, a sua data de nascimento foi dois anos antes, em Cabo Verde, na ilha de Santiago. Tornou-se, assim, no papel, quase gémea com a irmã, essa, sim, nascida dois anos depois. Naquela altura, conta, estas eram coisas normais de acontecer, a data de registo ser diferente da biológica.

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