A estrada que pôs duas crianças órfãs e o fogo que levou memórias de infância. Em Seia, as chamas ainda são um trauma


A estrada não tem nome formal, mas isso não lhe tira importância nem memória. Quem passa por aqui acima e abaixo todos os dias e desenha a curva para Vide vai, provavelmente, a pensar nos afazeres do trabalho, que afastam para longe a história de quem aqui perdeu a vida. São os efeitos da passagem do tempo, mas que, rapidamente, são invertidos à mínima chama que apareça na encosta da aldeia de Cide, no concelho de Seia.
“Fiquei impressionada, a gente conhecia-se, éramos como família – vivíamos ao lado um dos outros. Ainda para mais, era um casal jovem, com duas crianças pequenas”. Rosa Correia nasceu em Cide, mas é emigrante em França. Lembra-se bem do dia, em outubro de 2017, em que soube que os vizinhos tinham morrido cercados pelas chamas na estrada, à beira de casa. “Quando há estas situações, ainda nos lembramos mais”, conta à Renascença.
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A aldeia fez o luto, mas não esquece. A própria dificuldade de Bruno Moura em falar do assunto autoexplica-se quando finalmente encontra palavras para resumir o que sente: “Tenho um bocado esse trauma ainda.”
Dessa altura, Bruno também não se esquece da noite de aflição, em que subiu a estrada à revelia das autoridades para mandar mais de três mil litros de água para um barracão, que conhecia desde criança e onde tinha guardado todo o material de construção civil do pai. Não conseguiu e só ali perdeu mais de cem mil euros em equipamento, que não estava protegido por seguros.