Branca, loura e de olhos azuis, Sydney Sweeney fez anúncio de jeans a falar de genes e nasceu mais uma guerra cultural. Pedro Mexia analisa

Como em inglês, as palavras jeans e genes são homófonas, ou seja leem-se igualmente jeans, e sendo a actriz branca, loura e de olhos azuis, rapidamente começou na rede X uma onda de críticas alegando que a campanha era uma promoção codificada da eugenia.

Pedro Mexia escreveu uma crónica, disponível em exclusivo para assinantes em expresso.pt, sobre o que pode estar em causa nesta polémica. Partindo deste texto, é com o colunista do Expresso que fazemos a conversa de hoje.

Sydney Sweeney no Desert 5 Spot, em Hollywood, na tarde de estreia de “Americana”

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Tiago Pereira Santos

Neste podcast diário, Paulo Baldaia conversa com os jornalistas da redação do Expresso, correspondentes internacionais e comentadores. De segunda a sexta-feira, a análise das notícias que sobrevivem à espuma dos dias. Oiça aqui outros episódios:

O que fazer quando se tem 1% do PIB nacional guardado em casa Eis o problema de Alves Reis no verão de 1925

Onde se cria dinheiro? Quem cria dinheiro? E quem consegue colocá-lo em circulação? E que tal criar um banco? Foi isso mesmo que fez Alves Reis. Oiça aqui mais um episódio do podcast ‘Tempo ao Tempo’.

Apesar de o escudo valer menos do que a peseta, Espanha era vista pelos mercados como mais frágil. O ataque especulativo de 1995 obrigou a peseta a cortar 7% na sua paridade

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Fotografia de Tiago Miranda, trabalho gráfico de Vera Tavares e Tiago Pereira Santos

Oiça ‘Tempo ao Tempo’ aqui no Expresso, SIC e SIC Notícias, ou subscreva o podcast em qualquer plataforma de podcast. Todas as quintas-feiras um novo episódio escrito e narrado por Rui Tavares.

Poderia haver vida sob a superfície de Marte e nas luas geladas — graças aos raios cósmicos

Um novo estudo descobriu que partículas altamente energéticas no espaço, conhecidas como raios cósmicos, podem criar a energia necessária para sustentar a vida no subsolo em planetas e luas do nosso Sistema Solar — o que implica que há muitos mais locais no Universo onde a vida pode existir. A investigação mostra que os raios cósmicos podem não só ser inofensivos em certos ambientes, como também ajudar a vida microscópica a sobreviver. A descoberta desafia a visão tradicional de que a vida só pode existir perto da luz solar ou do calor vulcânico. Recentemente publicado na revista International Journal of

Sporting de Braga procura frente ao Cluj ficar mais perto do play-off da Liga Europa

O Sporting de Braga defronta esta quinta-feira o Cluj, na Roménia, pelas 17h30, na primeira mão da terceira pré-eliminatória da Liga Europa de futebol, com os olhos no play-off de acesso à fase de liga.

Após superar os búlgaros do Levski Sófia na segunda pré-eliminatória, com um empate em reduto alheio (0-0) e um triunfo caseiro, após prolongamento (1-0), o Sporting de Braga reencontra uma equipa que defrontou na edição 2012/13 da Liga dos Campeões.

Embora o técnico ‘arsenalista’, Carlos Vicens, considere improvável resolver já a eliminatória com o experiente Cluj na Roménia, um triunfo da equipa portuguesa deixa-a mais perto do play-off de acesso à fase de liga da Liga Europa.

Caso supere o Cluj, uma equipa que soma já nove partidas oficiais em 2025/26, com o saldo de três vitórias, três empates e três derrotas, o Sporting de Braga vai defrontar no play-off o Lincoln Red Imps (Gibraltar) ou o Noah (Arménia).

O jogo do Sporting de Braga com o Cluj, na Roménia, relativo à primeira mão da terceira pré-eliminatória da Liga Europa, está agendado para as 19:30 locais (17:30 de Lisboa), e terá a arbitragem de Elchin Masiyev, do Azerbaijão.

Médicos, enfermeiros e profissionais da saúde no Algarve estão em greve

Médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde cumprem esta quinta-feira uma greve conjunta de 24 horas, no Algarve, em protesto contra a falta de profissionais e a degradação das condições de trabalho.

A paralisação abrange todos os profissionais da saúde que trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS) na região, que exigem, entre outras reivindicações, a contratação de mais pessoal para travar o desgaste a que dizem estar a ser sujeitos.

Segundo os profissionais de saúde, a exaustão e o agravamento das condições de trabalho só não têm maiores consequências para os doentes e utentes devido ao “elevado sentido de responsabilidade e entrega” diária.

“Os pedidos de exoneração e rescisões de contratos de trabalho acontecem quase diariamente e, em muitos serviços, regista-se uma diminuição do número de profissionais, por turno”, lamentam os profissionais, num comunicado conjunto.

Por seu turno, o presidente da Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve, Tiago Botelho disse à Lusa não compreender os motivos invocados para a greve, considerando que, na sua origem, estão estruturas sindicais que atuam por razões políticas.

A greve, marcada para entre as 0h00 e as 24h00, foi convocada pelo Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS-FNAM), pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e pelo Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas do Sul e das Regiões Autónomas.

Médicos sem Fronteiras denunciam “matança orquestrada” em Gaza: “Isto não é ajuda”

“Um laboratório de crueldade”: é assim que a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) descreve aquilo em que se transformaram os locais de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla e inglês) – que, afirma, “institucionaliza a política israelita de fome” no território.

Num relatório que reune testemunhos de feridos e de pessoal médico em duas clínicas junto a centros de distribuição da GHF, a MSF avança o número de 174 pessoas tratadas com ferimentos de balas nas últimas sete semanas, entre junho e julho. Quase metade das vítimas eram crianças.

A grande maioria – quase todos (96%) – eram jovens rapazes, o que simboliza a estratégia adotada pelas famílias, de enviar o seu membro mais jovem e mais saudável para conseguir enfrentar a multidão e chegar à comida.


“As pessoas estão a ser abatidas como animais. Não estão armadas. Não são soldados. São civis com sacos de plástico, à espera de levar para casa farinha ou massa”


A MSF aponta que numa das clínicas, em Al Mawasi, no sul de Gaza, 11% dos ferimentos por balas de armas foram dirigidos à cabeça e ao pescoço, enquanto quase 20% tiveram como alvo o peito, o abdómen e as costas. Numa outra clínica a poucos quilómetros, em Khan Younis, os feridos apresentaram mais ferimentos nas pernas.

A precisão dos disparos, conclui a organização, sugere “uma intencionalidade, em vez de fogo acidental ou indiscriminado”.

As pessoas estão a ser abatidas como animais. Não estão armadas. Não são soldados. São civis com sacos de plástico, à espera de levar para casa farinha ou massa. Quão alto é o preço que se tem de pagar por um saco com comida?”, diz um coordenador médico da MSF no relatório.

O documento, que tem por base os dois centros da MSF no sul de Gaza, refere que no espaço de sete semanas foram recebidos 1.380 feridos vindos dos locais de distribuição de comida, além de 28 corpos sem vida.

"Já estive em guerras, mas nunca num genocídio”: O que vê um português em Gaza?

Entre os 28 mortos recolhidos, todos à exceção de um eram homens com idades entre os 20 e os 30 anos, com ferimentos de balas da cintura para cima.

No relatório sublinha-se que, apesar de as equipas médicas da organização não conduzirem investigações para identificar os autores dos disparos, os locais em questão são controlados pelo exército israelita, “tornando a presença de grupos armados palestinianos nestas áreas altamente improvável”.

Crianças com tiros no peito enquanto procuram comida. Pessoas esmagadas ou sufocadas em debandadas. Multidões abatidas a tiro em pontos de distribuição. Em 54 anos de operações da MSF, raramente vimos níveis de violência sistemática contra uma população civil desarmada, mascarada de ‘ajuda’. Os locais de distribuição da GHF transformaram-se num laboratório de crueldade”, refere a diretora-geral da MSF.

No seu relatório, os Médicos sem Fronteiras pedem o fim do “esquema” da Fundação Humanitária de Gaza, uma solução criada por Israel e pelos Estados Unidos que teve início em maio deste ano, depois de 11 semanas de total bloqueio de entrada de bens alimentares e de saúde. O mecanismo de distribuição é da responsabilidade de empresas privadas, acompanhadas pelo exército israelita, que garante o perímetro de segurança no local.

“Estamos a ser massacrados. Já fui ferido talvez 10 vezes,” diz Mohammed Riad Tabasi (nome fictício), um paciente tratado na clínica dos Médicos Sem Fronteiras em Al-Mawasi. “Vi com os meus próprios olhos cerca de 20 cadáveres à minha volta. Todos baleados na cabeça, no estômago.”

Avisos pelas redes sociais e horários “aleatórios”

Durante o cessar-fogo que vigorou entre janeiro e março deste ano, a ONU tinha cerca de 400 pontos de entrega de ajuda humanitária no enclave. A GHF tem quatro e e estão todos localizados em zonas controladas pelo exército de Israel. Foram criados em maio, em resposta a acusações do governo de Netanyahu de desvio de ajuda em Gaza, pelo Hamas, e de fracasso da resposta humanitária da ONU no local.

De acordo com o relatório da MSF, os horários de funcionamento dos centros da GHF são “aleatórios”. Os cidadãos de Gaza são avisados pelas redes sociais de que um determinado centro vai abrir. “Frequentemente estes avisos surgem durante a noite e com menos de 30 minutos” de antecedência, lê-se no documento. “Os pontos podem ‘abrir’ e ‘fechar’ em minutos.”

“A GHF publica no Facebook ‘rotas seguras’ para os locais, ignorando que os palestinianos normalmente se deslocam no escuro e que as referências circundantes foram destruídas, tornando estas ‘rotas seguras’ quase impossíveis de seguir.”

Os centros da MSF em Gaza estão vocacionados para prestar apenas cuidados primários, mas, desde que os centros da GHF começaram a operar, as equipas tiveram de mudar as rotinas, indica o relatório. “Habituaram-se de tal forma ao fluxo de feridos a seguir a cada distribuição que começaram a monitorizar as redes sociais da GHF — usadas para anunciar as aberturas dos locais — para garantir que as equipas médicas estavam a postos antes do tempo”, lê-se.

Os profissionais da organização descrevem como veem multidões a subir a rua, carregando sacos para guardar os bens recolhidos. “Depois os feridos começam a chegar, quase ao mesmo tempo. Tenho pacientes com ferimentos de balas que são, literalmente, carregados nos mesmos sacos de plástico que usaram para carregar comida“, relata uma responsável pela equipa de enfermagem.

“O modo como este esquema opera visa claramente retirar a dignidade às pessoas. Mesmo quem consegue obter alimentos nestes locais, corre o risco de sofrer roubos e agressões por outras pessoas famintas”, aponta a MSF, que se viu obrigada a criar um novo tipo de classificação de ferimentos — Espancado por Outro (BBO, na sigla em inglês) — para os casos de pessoas feridas no meio das multidões nos locais de distribuição de alimentos.

Em entrevista à Renascença no final de julho, um psicólogo português ao serviço dos Médicos Sem Fronteiras deu o seu testemunho de “pessoas a serem baleadas enquanto esperam por comida”, criticando a distribuição “mal feita” de ajuda humanitária pela GHF.

Segundo dados do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, mais de 1000 habitantes do enclave morreram à procura de ajuda e comida, em pontos de distribuição de alimentos. Os feridos, indica, ultrapassam os sete milhares.

A 13 de julho, a ONU reportava um registo de 875 mortos na recolha de comida, 674 dos quais nas imediações dos pontos de distribuição da GHF.

Trump anuncia tarifa de 100% sobre chips e semicondutores que não sejam produzidos nos EUA

O Presidente norte-americano Donald Trump anunciou esta quarta-feira que os Estados Unidos vão aplicar uma tarifa de cerca de 100% à importação de chips e semicondutores provenientes de países que não fabriquem estes componentes em território norte-americano nem tenham planos concretos para o fazer.

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A medida, segundo Trump, visa proteger e incentivar a produção nacional no sector tecnológico, sobretudo no fabrico de chips, considerado estratégico. Empresas que já tenham assumido o compromisso de construir fábricas nos EUA ficarão isentas desta tarifa.

“100% de tarifa sobre todos os chips e semicondutores que entrem nos Estados Unidos. Mas, se tiverem feito um compromisso de construir (nos EUA), ou se estiverem em processo de construção (nos EUA), como muitos estão, não haverá tarifa,” disse Trump na Sala Oval.

Trump não explicou, contudo, que tipos de chips serão abrangidos pela nova tarifa, nem qual o calendário para a sua aplicação.

O programa federal de subsídios à indústria dos semicondutores, aprovado em 2022, prevê um investimento de 52,7 mil milhões de dólares (cerca de 48,6 mil milhões de euros) para apoio à investigação e instalação de fábricas nos Estados Unidos.

Na década de 1990, os Estados Unidos produziam cerca de 40% dos chips a nível mundial, quota que desceu para 12% em 2024, de acordo com dados oficiais.

“Se, por alguma razão, disserem que estão a construir e não construírem, então voltamos atrás, somamos tudo, acumula-se, e cobramos mais tarde. Têm de pagar, e isso é garantido,” avisou Trump.

Os “berbicachos” do Presidente

No rico e culto pecúlio vocabular de Marcelo Rebelo de Sousa há uma palavra que se repete a cada passo: berbicacho. Em Março de 2013, o Presidente ainda não era Presidente e alertou que o Governo de Passos Coelho tinha arranjado um “berbicacho” por causa do salário mínimo; em Março de 2022, perante a proximidade de eleições legislativas, avisou que, “se os portugueses não dão maioria clara a ninguém”, será “um berbicacho para o Presidente”. E voltou outra vez à palavra, que, dizem os dicionários, significa uma “situação complicada ou difícil de resolver”, a propósito da extinção anunciada pelo Governo da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Em causa, diz Marcelo, está o risco de se “criar um berbicacho para resolver um problema que se entende que devia ser resolvido”.

Os leitores são a força e a vida do jornal

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Lula: “Não me vou humilhar” para negociar com Trump

O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afastou nesta quarta-feira a hipótese de um diálogo com o homólogo norte-americano Donald Trump para discutir as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, classificando essa possibilidade como uma “humilhação”.

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O dia em que a minha intuição disser que o Trump está disposto a conversar, não hesitarei em ligar-lhe. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não me vou humilhar”, disse Lula em entrevista à agência “Reuters”, a partir da residência oficial em Brasília.

As novas tarifas norte-americanas, que entraram em vigor esta quarta-feira, representam um aumento para 50% sobre vários produtos de exportação do Brasil.

Apesar do impacto potencial, Lula garantiu que não haverá, para já, medidas de retaliação da parte de Brasília.

Segundo Lula, o Governo está a estudar apoios a empresas afetadas, incluindo linhas de crédito e incentivos à exportação, embora sem revelar ainda detalhes concretos.

Lula sublinhou ainda que pretende contactar os líderes da China e da Índia para discutir uma resposta coordenada no seio dos BRICS.

“Não há ainda coordenação entre os BRICS, mas vai haver. Qual é o poder de negociação de um país pequeno com os Estados Unidos? Nenhum”, referiu.

O chefe de Estado criticou duramente a ligação entre as tarifas impostas pelos EUA e os processos judiciais contra Jair Bolsonaro, considerando inaceitável a tentativa de ingerência por parte de Washington.

Para Lula, Bolsonaro deve ser julgado não só pelas tentativas de reverter as eleições de 2022, mas também por incentivar a intervenção de Trump.

“O Supremo não está nem aí para o que o Trump diz, nem deve estar”, afirmou. “Bolsonaro é um traidor da pátria.”

O Presidente brasileiro disse estar aberto a um eventual encontro com Trump nas Nações Unidas, em setembro, ou nas negociações climáticas marcadas para novembro. Contudo, apontou o historial do ex-presidente dos EUA em situações semelhantes.

“O que o Trump fez com o Zelenskiy foi humilhação. Isso não é normal. O que fez com o Ramaphosa foi humilhação. Um presidente não pode humilhar outro. Eu respeito todos e exijo respeito.”

A ameaça do futuro que paira sobre nós

O chegar da chamada silly season tem para mim muito pouco de silly. Os últimos dias de julho recordam-me sempre que agosto se aproxima a passos rápidos e que, no dia 3, se cumprirá mais um ano sobre a primeira vez que fui seriamente ameaçado por ter escrito um artigo. Comentários rudes, violentos e ofensivos já os tinha tido, e muitos, nas caixas onde tal é possível ser feito em alguns jornais, nas edições online; mas, nesse dia, as palavras foram mais longe, através de uma mensagem pessoal enviada numa rede social.

Guardei as mensagens. Vasculhei o perfil da pessoa, as suas “postagens”. Era mais um simples nacionalista, adorador dos movimentos que nesse distante 2018 começavam a dar mais nas vistas. Seguia tudo o que tivesse pendor fascista. O meu artigo que o fez contactar-me, e que saíra na Visão, uns dias antes, tinha como base uma análise ao judaísmo em contexto da Grande Guerra, defendendo a paz e a concórdia: “Judaísmo, identidades e pré-conceitos: Uma leitura através de Mikhail Petrovich Artzybashev.”

Nunca respondi, mas fui seguindo o seu perfil nas redes sociais. Passados alguns anos, o meu ameaçador faleceu. No seu mural era dada a notícia, mas durante largos meses continuaram a ser lá replicadas matérias xenófobas, racistas e fascistas – os automatismos e os algoritmos conseguem manter vivo um perfil para lá de quem o criou.

Nesse distante 2018, Eugénio, pois era o seu nome próprio, fazia uma leitura de quem eu era: “és licenciado, tens um bom emprego e julgas que és esperto”; e acrescentava: “estás a dizer que quando formos todos mestiços, filhos de pai preto, judeu ou muçulmano e mãe indiferenciada, este mundo será finalmente o oásis perfeito”. Finalizava afirmando o seu orgulho pátrio, o valor da nossa história e como queria passar esses valores para as netas.

Hoje, sete anos depois, regresso a essas mensagens que remetiam para um futuro que, infelizmente, vejo aproximar-se. Diretamente, para aquele momento, ele não me ameaçava; era num futuro em que a sua visão do nacionalismo seria vencedora que a ameaça valia. Depois de dizer que guardaria o meu nome, a intimação era lançada para o futuro: “quando esta merda rebentar, não fales judeu, porque anda por aí muito maluco, grita só o teu nome para conversarmos.”

Mas, hoje, o que interessa como reflexão não é o conteúdo em si dessa ameaça. Nunca chegámos a “conversar”, como ela sugeria que viesse a acontecer quando “esta merda rebentar”, mas sempre que vejo os números de simpatizantes de certos movimentos e partidos percebo como a forma daquela ameaça era quase profética.

Normalizadas certas posturas, normalizada a violência verbal e, em muitos casos, física, o que sobra do hiato que eu julgava existir entre a ameaça do dito Eugénio e o futuro? Cada vez estamos mais perto da barbárie, cada vez estamos mais longe das formas civilizadas de agir para com o outro.

Cada vez mais urge não ficar calado ou quieto.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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