“Sou massagista, motorista, cozinheiro, às vezes até sou uma mãe para eles”


A etapa de sábado da Volta a Portugal, entre Boticas e Bragança (185,2km), ficou marcada pela vitória emocionante de Hugo Nunes, da Credibom – LA Alumínios – Marcos Car. Entre lágrimas do ciclista e do diretor desportivo, Hernâni Brôco, um histórico da prova com várias participações, a equipa celebrou mais do que um triunfo: celebrou a força de um grupo constituído apenas por portugueses que vive a corrida em cada detalhe.
Nos bastidores, longe das câmaras e do pódio, há histórias que valem quase tanto quanto as pedaladas.
Já segue a Bola Branca no WhatsApp? É só clicar aqui
Serafim Vieira conhece a Volta a Portugal tanto como atleta como nos bastidores. Antigo corredor, hoje é massagista e muito mais que isso. “Faço o que houver para fazer: massagista, motorista, cozinheiro, às vezes até sou uma mãe para eles…”, resume com humor.
Está há meia dúzia de anos nesta função e o seu dia começa cedo e acaba tarde: depois de cada etapa, trata da recuperação física dos atletas, prepara refeições, cuida do autocarro e ainda ajuda na logística da frota.
“Lavar o autocarro por fora demora uma hora… e ainda há abastecimentos, desinfeção, arrumações. Muitas vezes vamos dormir à meia-noite e no dia seguinte às 7 horas já estamos de pé”.
Com a experiência de quem já competiu, Serafim também tem uma palavra a dizer sobre a alimentação da equipa: hidratos e proteínas na medida certa, massa no imediato após a corrida e arroz ao jantar, para garantir que o corpo está pronto para o dia seguinte.
Outro elemento com histórias para contar é Rui Seabra, que vive a sua 26.ª Volta a Portugal. As primeiras foram atrás de um microfone, como jornalista da Rádio Voz de Alenquer, numa época em que transmitir a prova exigia criatividade e paciência.
“No início, os telefonemas eram das cabines públicas e muitas vezes corríamos para ouvir o Rádio Volta”, recorda.
Anos mais tarde, Rui trocou o estúdio pelas massagens: estudou fisioterapia, trabalhou com atletas de várias modalidades e acabou por regressar à Volta como massagista. O convite veio de um antigo ciclista e atualmente colabora com Hernâni Brôco, vivendo agora a corrida numa perspetiva completamente diferente, mas com a mesma intensidade.
O triunfo de Hugo Nunes não foi apenas um momento desportivo: foi o reflexo de uma equipa onde cada elemento, do ciclista ao massagista, vive a Volta como um projeto coletivo. E isso ficou bem vincado nas palavras de Hernâni Broco ao microfone da Renascença.
“Somos um todo, eu e quem ganha uma etapa somos rostos mais visíveis, mas somos um grupo muito especial, que começou como um projeto muito modesto e que tem feito um grande trabalho. A vitória do Hugo acaba por ser um prémio para todos nós, mas principalmente para quem não aparece tanto”.
Entre pedaladas, massagens, refeições e quilómetros de estrada, a Credibom – LA Alumínios – Marcos Car continua a escrever histórias dentro e fora do pelotão.
*jornalista em serviço especial para a Renascença