Apagão. ASAE garante segurança de alimentos, mas deixa avisos

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) esteve esta terça-feira no terreno para fiscalizar hipermercados, restaurantes e outros operadores económicos, depois do apagão que afetou ontem o país. Cerca de uma centena de inspetores foi mobilizada para avaliar se houve quebras na cadeia de frio dos alimentos.

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De acordo com o inspetor-geral da ASAE, Luís Lourenço, a prioridade foi eliminar eventuais riscos na conservação dos produtos, sobretudo alimentos perecíveis como carne e peixe. “O risco maior tem a ver com situações de deterioração de alimentos durante o período”, explicou à Renascença.

Apesar das preocupações, “não há sinalização de situações de risco”, referiu o responsável.

Segundo Luís Lourenço, muitos operadores já estavam preparados para este tipo de imprevistos, recorrendo a geradores para manter a refrigeração dos produtos.

O foco das inspeções recaiu especialmente sobre alimentos que já se encontravam descongelados à hora do apagão. “No caso dos produtos de pesca e carnes descongelados, o perigo residia no facto de não serem consumidos de imediato”, destacou.

O apagão começou por volta das 11h30, quando muitas áreas de restauração e retalho já estavam a preparar refeições.

Embora alguns operadores tenham conseguido vender produtos ainda seguros, outros viram-se obrigados a retirar do mercado itens mais críticos. “Até ao momento, não houve necessidade de proceder a apreensões”, garantiu Luís Lourenço.

Outro alerta lançado pela ASAE diz respeito à prática perigosa de recongelar alimentos que descongelaram durante a falha elétrica. “O problema não é estar seis, sete ou oito horas sem energia, desde que os equipamentos não sejam abertos constantemente”, explicou.

O inspetor-geral assegurou que “tudo está a ser feito para proteger a saúde pública”. Deixou ainda um apelo à confiança dos consumidores, garantindo que “qualquer produto que tenha ficado deteriorado foi destruído nos termos da legislação”.

Finalmente, Luís Lourenço lembrou que os consumidores têm um papel importante na fiscalização: “Podem utilizar o livro de reclamações eletrónico ou os mecanismos de denúncia no site da ASAE para reportar qualquer anomalia”.

Médio Oriente. Portugal defende não haver “plano B” além da solução dos dois Estados

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal defendeu esta terça-feira, perante o Conselho de Segurança da ONU, que “não existe plano B” para a paz no Médio Oriente além da solução de dois Estados.

Em Nova Iorque, numa reunião do Conselho de Segurança dedicada à situação no Médio Oriente, Nuno Sampaio assegurou que Portugal está pronto para trabalhar com a França e Arábia Saudita, os copatrocinadores da Conferência de Alto Nível que promoverá em junho a solução de dois Estados (israelita e palestiniano).

“Portugal está pronto para trabalhar com os copatrocinadores e contribuir para a solução dos Dois Estados, que apoiamos plenamente como a única solução viável a longo prazo para a paz na região e para pôr fim ao conflito. Não existe plano B”, afirmou.

Para permitir uma discussão séria sobre a solução de Dois Estados, o secretário de Estado indicou ser necessário um cessar-fogo e “uma Autoridade Palestiniana devidamente reforçada”, permitindo o seu maior contributo político para uma solução política pacífica para o conflito, principalmente “através do seu papel no terreno como fator de estabilização”.

Nuno Sampaio frisou que o direito à autodeterminação do povo palestiniano continua a ser um “objetivo comum urgente” e avaliou que a Conferência oferecerá “uma valiosa janela de oportunidade que merece todo o empenho para o seu sucesso”.

Visão diferente foi exposta pelos diplomatas de Israel e dos Estados Unidos, que manifestaram o seu ceticismo em relação ao evento que será promovido pela França e Arábia Saudita nas Nações Unidas.

O representante permanente adjunto de Israel na ONU, Jonathan Miller, afirmou que a conferência em causa está “fadada ao fracasso”, advogando que é “irrealista e pode causar mais mal do que bem, porque gera expectativas desnecessárias”.

Já a embaixadora norte-americana junto à ONU, Dorothy Shea, afirmou que Washington “fará a sua parte para ajudar a forjar uma nova realidade ao lado de Israel e parceiros árabes”, mas frisou que “reuniões ou conferências internacionais não mudarão a realidade” de que o “futuro deve começar numa Gaza sem o Hamas”.

Na mesma reunião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pressionou os Estados-membros da ONU a agirem durante a Conferência de Alto Nível prevista para junho.

“O meu apelo aos Estados-membros é claro e urgente: Tomem medidas irreversíveis para implementar uma solução de dois Estados. Não deixem que os extremistas de qualquer lado minem o que resta do processo de paz”, pediu.

Guterres incentivou a comunidade internacional a ir “além das afirmações” e a “pensar criativamente” sobre medidas concretas de apoio a uma solução viável de dois Estados “antes que seja tarde demais”.

“Mostrem coragem política e exerçam a vontade política para resolver esta questão central para a paz dos palestinianos, dos israelitas, da região e da humanidade”, concluiu o líder da ONU.

Ainda na sua intervenção perante o Conselho de Segurança, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal abordou também a situação na Síria e no Líbano, defendendo que quer o povo libanês, quer o povo sírio “merecem paz e total respeito pela integridade territorial, unidade e soberania dos seus países”.

“No Líbano, devemos continuar a apoiar o novo Governo no seu objetivo de reforçar as instituições estatais. (…) Em relação à Síria, salientamos a importância de uma transição política pacífica e inclusiva, protegendo todos os sírios, independentemente da etnia ou origem religiosa, (…), e livre de interferências estrangeiras prejudiciais”, afirmou.

A torneira dos fundos europeus vai começar a fechar-se?

A Comissão Europeia vai apresentar em julho uma proposta de Quadro Financeiro Plurianual que define os dinheiros comunitários entre 2028 e 2034. O debate está a correr na sociedade europeia, numa reflexão que percorre governos, parlamentos, instituições públicas e privadas e centros de reflexão.

A repartição dos dinheiros comunitários terá de ponderar realidades como o novo alargamento da União Europeia, a necessidade de reforço da defesa e a aposta na competitividade económica.

Deve Portugal preparar-se para receber menos verbas europeias no próximo ciclo comunitário? Os países vão ter de aumentar as suas contribuições? Onde estão os instrumentos financeiros e os novos recursos próprios de que a Europa precisa?

Ouça a conversa de José Pedro Frazão com Elisa Ferreira e Henrique Burnay, os convidados desta edição do “Da Capa à Contracapa”, um programa da Renascença realizado em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Fernando Angleu: «’Bora Mexer’ é dos 8 aos 80, para todos participarem»

A 2.ª edição do ‘Bora Mexer’ passou pelo Bairro da Boavista, em Lisboa, na manhã de segunda-feira, antes do apagão que afetou Portugal. Fernando Angleu, presidente do Conselho de Administração da Gebalis, que promove a iniciativa com o  apoio de Record e ainda da Câmara Municipal de Lisboa, destacou a importância destes eventos para os bairros da capital e apelou a que os cidadãos continuem a marcar presença em força nas próximas sessões. 

Estoril vence e ultrapassa Casa Pia em duelo de equipas tranquilas

O Estoril Praia venceu na visita ao Casa Pia por 3-1, no último jogo da 31.ª jornada da I Liga portuguesa de futebol, e ultrapassou a formação lisboeta, que joga em Rio Maior.

O marroquino Yanis Begraoui deu vantagem aos visitantes, aos 21 minutos, Cassiano empatou, aos 43, na conversão de uma grande penalidade, mas a formação comanda por Ian Cathro chegou à vitória nos minutos finais, graças aos golos de Alejandro Marqués e João Carvalho, aos 82 e 87, respetivamente.

No jogo inicialmente marcado para segunda-feira, adiado devido ao apagão energético que afetou a Península Ibérica, o Estoril Praia regressou às vitórias após duas derrotas e subiu ao oitavo lugar, com 42 pontos, por troca com o Casa Pia, que somou o quarto jogo sem vencer, soma 41 e ‘caiu’ para o nono posto.

Um exército da NATO está em guerra com… gansos

Ataques dos ferozes animais já “resultaram em ossos partidos, traumatismos cranianos e sofrimento emocional” num Quartel-General da Defesa Nacional canadiano. Guerra, guerra, guerra; Gaza, Ucrânia e Rússia a ameaçar a Europa. Todos os dias acordamos com novas más notícias e novos alertas — até o apagão geral na Península Ibérica desta segunda-feira deu asas à conspiração sobre um possível ataque russo à rede energética europeia. Entretanto, o Canadá tem uma invasão… diferente em mente. Falamos de uma “agressiva” presença no quartel-general de defesa da Carling Avenue, que já levou os responsáveis do exército do país a emitir diretrizes de segurança.

Alverca vence em Chaves em duelo pela subida. O que falta jogar até ao final da época na II Liga

O Alverca foi até Trás-os-Montes vencer o Desportivo de Chaves, por 2-0, num duelo da 31.ª jornada da II Liga entre duas equipas na luta pela subida de divisão.

Os ribatejanos abriram o marcador aos 31 minutos, com golo de Diogo Martins, e fecharam a contagem na segunda parte, por Reinaldo.

O Alverca aproveita os deslizes do Tondela e Alverca e aproxima-se da zona de subida direta. Soma agora 54 pontos, mantém o terceiro lugar – de “play-off” e fica apenas a um dos vizelenses e a quatro dos beirões.

Já o Chaves falha a subida ao lugar de “play-off”. Fica em quarto lugar, com os mesmos 50 pontos, e tem agora a subida seriamente comprometida.

O que falta jogar até ao final da época?

Nas últimas três jornadas, o líder Tondela, que não conseguiu ganhar nas últimas duas rondas, não tem vida facilitada porque vai jogar contra outros dois candidatos, ainda que sejam ambos em casa.

Na jornada 32, recebe o Desportivo de Chaves e na jornada seguinte recebe o Alverca. Termina a época com a visita ao União de Leiria, que nesta fase ainda tem uma réstia de esperança de chegar ao terceiro lugar.

Já o Vizela vai até ao Olival defrontar o FC Porto B, embrulhado numa luta acesa pela permanência, recebe o Académico, já com manutenção garantida e sem hipótese de chegar ao terceiro lugar, e termina a época nos Barreiros contra o Marítimo, que está no mesmo cenário que os viseenses.

O Alverca, que é um recém-promovido, recebe o Paços de Ferreira na próxima jornada, um clube que caiu para o lugar de “play-off” nesta jornada, vai até Tondela e termina a época contra o Portimonense no Ribatejo.

O Desportivo de Chaves vai até Tondela na próxima jornada, recebe o União de Leiria e termina a temporada numa visita ao Penafiel, clube que esteve uma boa parte da época em zona de subida, mas perdeu muita forma nas últimas semanas.

O Torreense é 5.º classificado com 48 pontos, está a seis do terceiro lugar, mas ainda sonha com o lugar de “play-off”. Vai até ao Penafiel na próxima jornada, recebe o Leixões e acaba a época em Mafra, atual último classificado.

Na luta para ultrapassar traumas e afastar fantasmas, Dembélé foi psicólogo e ghostbuster: PSG vence Arsenal em Londres

Era um duelo entre egos feridos, traumas e fantasmas empurrados para debaixo da cama. Arsenal e PSG, duas equipas que nunca conquistaram a Liga dos Campeões, defrontavam-se na meia-final com o objetivo de regressar à final, de voltar a tentar chegar ao topo do futebol europeu e de, principalmente, afastar de uma vez por todas a ideia de que são clubes que chegam sempre perto, mas nunca chegam a lado nenhum.

No Arsenal, a memória óbvia transportava-nos para 2005/06. Depois de afastarem Real Madrid, Juventus e Villarreal pelo caminho, os ingleses chegaram à final da Liga dos Campeões com o objetivo de se juntarem a Manchester United e Liverpool no lote de clubes de Inglaterra que, até então, tinham sido campeões europeus. Em Saint-Denis, porém, nem Thierry Henry, Fàbregas e Sol Campbell chegaram para derrotar o Barcelona de Deco, Ronaldinho e Eto’o: os catalães de Frank Rijkaard venceram os gunners de Arsène Wenger e o Arsenal não voltou a uma final da Liga dos Campeões.

“Sente-se a energia, o entusiasmo. Este é um dos maiores jogos desde que o Emirates foi construído. Dadas as circunstâncias desta época e os desafios que enfrentámos, é um grande feito estarmos aqui. Estamos a fazer história, uma história bonita, mas queremos mais. Amanhã queremos mais. Como já disse aos adeptos, tragam tudo o que têm e joguemos juntos. Se queremos algo especial temos de ver algo que nunca vimos. Que todos tragam essa energia. Esta é a competição mais bonita e temos de merecer estar na final”, disse Mikel Arteta, que afastou PSV e Real Madrid, na antevisão da primeira mão da meia-final.

No PSG, a recordação mais natural levava-nos a 2019/20, a temporada que só terminou em agosto e ficou obviamente marcada pela pandemia de Covid-19. Depois de eliminarem Borussia Dortmund, Atalanta e RB Leipzig, os franceses chegaram à final da Liga dos Campeões com o intuito de validar o multimilionário projeto com o troféu europeu mais importante a nível de clubes. No Estádio da Luz, porém, nem Neymar, Mbappé e Di María chegaram para derrotar o Bayern Munique de Lewandowski, Müller e Coman: os alemães de Hansi Flick venceram os parisienses de Thomas Tuchel e o PSG não voltou a uma final da Liga dos Campeões.

“Somos ambiciosos e queremos fazer história. O objetivo é alcançar o que outros antes de nós não conseguiram. Vejo que a equipa está cheia de confiança. Há momentos em que não nos apresentamos de forma brilhante, mas isso é normal. Sei que as pessoas em Paris não exigem necessariamente uma vitória amanhã, mas querem ver um bom jogo”, explicou Luis Enrique, que eliminou Brest, Liverpool e Aston Villa, na antecâmara da partida.

Assim, depois de já se terem encontrado na fase de liga da Liga dos Campeões e a vitória a cair para os ingleses, Arsenal e PSG cruzavam-se novamente esta terça-feira no Emirates. Mikel Arteta lançava Saka, Trossard e Gabriel Martinelli no ataque, com Mikel Merino a ser titular mas no meio-campo, enquanto que Luis Enrique tinha Nuno Mendes, Vitinha e João Neves no onze inicial, com Doué e Kvaratskhelia no apoio a Dembélé.

O PSG entrou no jogo praticamente a ganhar: Dembélé conduziu sem oposição pelo corredor central, abriu na esquerda em Kvaratskhelia e voltou a receber para atirar de primeira, cruzado, para bater David Raya e abrir o marcador (4′). Os franceses dominaram durante os 20 minutos iniciais, sem que o Arsenal tivesse qualquer possibilidade de chegar sequer perto da baliza de Donnarumma, e Odegaard demorou quase meia-hora a ter a bola de forma controlada para poder desequilibrar.

Os ingleses conseguiram recuperar algum equilíbrio a dada altura, com maior presença no meio-campo contrário e outra capacidade para ganhar duelos individuais, mas as ocasiões de perigo continuavam a pertencer por inteiro ao PSG e Doué poderia ter aumentado a vantagem com um remate que Raya defendeu (31′). O Arsenal criou a melhor oportunidade da primeira parte já perto dos descontos, num lance em que Gabriel Martinelli apareceu em velocidade na área e atirou cruzado para uma boa intervenção de Donnarumma (40′), mas os franceses foram mesmo para o intervalo a ganhar pela margem mínima.

Nenhum dos treinadores mexeu ao intervalo e a segunda parte começou como tinha começado com a primeira: com um golo. Mikel Merino bateu Donnarumma de cabeça depois de um livre cobrado na esquerda (46′), mas o lance foi anulado por fora de jogo do espanhol após recurso ao VAR e o Arsenal continuou a perder com o PSG. Os ingleses estavam por cima, claramente a correr atrás do resultado e da eliminatória, e Donnarumma voltou a ser instrumental ao defender um remate de Trossard com uma enorme intervenção (56′).

Luis Enrique foi o primeiro a mexer, trocando um desgastadíssimo Dembélé por Bradley Barcola antes de também lançar Gonçalo Ramos no lugar de Doué. Mikel Arteta respondeu com Ben White, que rendeu Timber, e o jogo foi decorrendo sem grandes sobressaltos e com o PSG a conseguir controlar as raras investidas do Arsenal, que não conseguia aproximar-se da baliza de Donnarumma com muita frequência, e a ter capacidade para criar perigo em situações de transição rápida.

Até ao fim, Barcola ainda teve uma enorme oportunidade para aumentar a vantagem, ao aparecer isolado na área a rematar cruzado e ao lado (84′), e Gonçalo Ramos acertou na trave quando só tinha David Raya pela frente (85′), mas já nada mudou. O PSG venceu o Arsenal no Emirates e parte para a segunda mão da meia-final da Liga dos Campeões, no Parque dos Príncipes, em vantagem — e muito porque Dembélé decidiu ser psicólogo para ultrapassar traumas e ghostbuster para afastar fantasmas.

Apagão não fez aumentar ciberataques em Portugal

Quando já circulavam rumores falsos online a propósito do apagão que afetou Portugal e Espanha, como uma notícia que alegadamente teria sido publicada pela CNN a avançar que teria sido causado por ciberataques russos, o Centro Nacional de Cibersegurança disse que não tinham sido identificados “indícios” que apontassem para um ataque informático. Apesar de a causa da falha na rede elétrica ainda não ter sido identificada, os especialistas ouvidos pelo Observador consideram que não terá deixado o país mais exposto a nível de possíveis ciberataques.

De acordo com a Check Point Software, especialista em soluções de cibersegurança, “não existiu um aumento de atividade cibernética em Portugal ou contra Portugal” face ao apagão, sendo que, “aliás, durante o presente mês de abril tem-se registado uma diminuição no número de ataques”. A empresa defende ainda que, tendo em conta a falha de energia geral e a instabilidade nas telecomunicações, “não houve oportunidades para um aproveitamento das circunstâncias”. “No fundo, não estavam reunidas as condições ideias para a realização de ciberataques.”

A empresa portuguesa de cibersegurança Visionware também diz, em resposta a questões do Observador sobre um possível aumento da atividade cibernética contra Portugal ou os seus serviços, não ter detetado “qualquer situação anómala ou digna de registo/rastreamento”. “A hipótese de ciberataque está aparentemente excluída e fica assim evidente e exposta para todo o mundo, a nossa elevada (ou demasiada) dependência de Espanha ao nível do cobre e do impacto do clima”, afirma Bruno Castro, CEO da firma e especialista em cibersegurança, fazendo uma análise ao apagão. “Fica também notória a nossa dependência do digital, pelo que, nesta fase, todas as hipóteses, seja sabotagem, ciberespionagem ou questões de cyberwarfare [ataques cibernéticos estratégicos], devem ou deverão estar em cima da mesa”, considera.

Para Bruno Castro, a falha energética colocou à prova a capacidade de Portugal para resistir a eventos que tenham este impacto, “sem qualquer redundância nos nossos sistemas”. “Será crítico extrairmos rapidamente algumas lições deste dia e, principalmente, apurar factos, motivações e causas para o ocorrido, com total rigor e exatidão para que medidas preventivas sejam tomadas com urgência e seja garantido que tal apagão não voltará a acontecer, que planos de contingência ao mais elevado nível serão concretizados, exigindo as devidas responsabilidades e consequências para todas as entidades e operadores envolvidos”, defende o responsável pela Visionware.

Ao Observador, Lino Santos, coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), disse, desde logo, que não existia “qualquer suspeita” de que o apagão tivesse sido provocado por um ataque informático. Um comunicado divulgado pelo centro pouco tempo depois reafirmava essa posição e pedia à população para ter atenção à “circulação de desinformação”. Contactado pelo Observador, no sentido de perceber se existia alguma atualização que pudesse ser partilhada, o CNCS remeteu para essa nota, indicando que a informação será atualizada sempre que se justificar.

Entretanto, esta terça-feira, também a empresa espanhola Red Eletrica descartou publicamente, pelo menos para já e com base em “informações preliminares”, que o apagão que afetou Espanha e Portugal tenha sido provocado por um ciberataque.

Tem painéis solares em casa e não escapou ao apagão. Porquê?

Esta segunda-feira, milhões de portugueses ficaram sem eletricidade durante cerca de 11 horas devido à falha que afetou Portugal e Espanha. E, para quem tem painéis solares em casa, ficou a dúvida: se há um painel, como é que a casa ficou às escuras na mesma? Esta era uma questão feita em fóruns como o Reddit e em algumas redes sociais.

Ter um painel solar instalado em casa não é sinal de que automaticamente terá energia em caso de falha elétrica. É certo que um painel deste tipo tem como principal função produzir energia fotovoltaica, ou seja, aproveitar a luz do Sol, mas é preciso mais para que possa ter produção para alimentar outros equipamentos em casa.

Habitualmente, os painéis solares são instalados nos telhados de casas, prédios ou empresas para conseguir tirar partido dos raios solares e ajudar a reduzir a fatura energética.

Quando a luz do sol, que é composta por partículas chamadas fotões, incide nos painéis, há uma conversão em energia elétrica. Só que os painéis produzem uma energia em corrente contínua e, para que possa ser usada para alimentar os equipamentos que tem em casa, é preciso que seja transformada em corrente alternada. “Os painéis solares são geradores de energia, mas têm um equipamento que se chama inversor de rede, que não é mais do que um equipamento que converte a corrente contínua que é gerada nos painéis fotovoltaicos em corrente alternada para que possa ser injetada na rede interna da casa ou, quando vai para a rede, poder ser exportada para a rede”, explica ao Observador João Nuno Serra, presidente da Associação dos Comercializadores de Energia do Mercado Liberalizado (Acemel).

O inversor tem a particularidade de se sincronizar “com a frequência da rede (50 Hz) e com a tensão da rede”, continua o responsável da Acemel. “Quando não há rede e não há tensão, isto é, há um zero na tensão e um zero na frequência, o inversor não consegue sincronizar, logo o sistema é desligado.” É, então, o inversor que justifica o facto de muitos donos de painéis solares terem ficado sem eletricidade durante o apagão.

Fonte oficial da EDP explica ao Observador que “os painéis solares comercializados pela EDP e pela generalidade do mercado param de produzir eletricidade em caso de falha da rede elétrica”, como aconteceu esta segunda-feira. “Os sistemas foram concebidos desta forma por razões de segurança, uma vez que a regulamentação nacional exige que todos os inversores fotovoltaicos convencionais deixem de fornecer energia à rede numa situação de interrupção de fornecimento como a de ontem”, explica a empresa.

É ainda dito que, como a rede “esteve desligada e operacional, não era possível garantir o seu funcionamento em segurança”. A EDP indica ainda que “esta situação afetou também os clientes com baterias para armazenamento de energia, uma vez que são os inversores que comunicam com a rede”.

Para que os clientes conseguissem ter um sistema “que funcionasse em ‘ilha’, ou seja, independente da rede elétrica, era necessário equipamento adicional que implicaria alterações significativas no quadro elétrico de uma casa ou empresa”. A EDP descreve este sistemas como pouco vantajosos para famílias e empresas “devido ao seu custo elevado e às raras interrupções longas de energia na rede elétrica nacional”. Afinal, o que aconteceu esta segunda foi um fenómeno invulgar.

Fonte oficial da EDP indica que, nestes dois dias, recebeu um “número residual de contactos — cerca de 200 — ligados a dúvidas sobre projetos solares”. A empresa explica que atualmente tem “mais de 140 mil famílias com energia solar e milhares de empresas com sistemas de produção de eletricidade solar para autoconsumo”.

O apagão desta segunda-feira teve impacto em vários pontos do país

Também a esmagadora maioria dos sistemas instalados pela Iberdrola implica a ligação à rede, explica Pedro Freitas, responsável pela área de smart solar da empresa. “As instalações mais comuns que fazemos são normalmente ligadas à rede, não temos nenhuma do chamado off-grid”, ou seja, desligado da rede pública.

“Penso que muitos poucos sistemas ou situações conseguem sobreviver sem estarem conectados à rede pública”, acrescenta. A pouca expressão está não só ligada a custos, como também ao facto de estes sistemas “implicarem o cumprimento de certas regras por da DGEG [Direção-Geral de Energia e Geologia] e mesmo do código europeu de redes”. É isto que justifica que a “maioria dos sistemas instalados” inclui a tal funcionalidade de segurança do inversor.

Porém, nota que alguns inversores podem ter uma função “zero-grid”, uma funcionalidade “em que o inversor se ajusta às necessidades da procura na casa do cliente e não injetar nada na rede”.

Convém esclarecer que o painel solar é responsável apenas pela produção de energia. Para um cenário em que queira armazenar parte da energia produzida é necessária uma bateria.

Há kits de autoconsumo que já incluem a bateria, em que há um inversor diferente, que é híbrido. Pedro Freitas, da Iberdrola, explica que já é “comum” haver sistemas instalados com estes equipamentos, mas que têm um objetivo específico de “havendo excedente na produção durante o dia poder armazenar para que possa ser consumida quando não há produção solar”, como dias de chuva ou de pouca incidência solar.

Porém, há a questão do custo. “O preço das baterias tem vindo a diminuir, mas é uma solução que ainda tem um peso significativo no orçamento”, admite.

João Nuno Serra, da Acemel, também refere que possam ter existido donos de painéis com baterias surpreendidos com a falta de energia. “Então mas tenho uma bateria e não consigo ir buscar energia? Porque também depende do inversor que têm”, explica. Mesmo nos casos em que tenham inversores híbridos, os tais que “permitem carregar a bateria, tem que ter um dispositivo para fazer o ‘start’ e a bateria começar a injetar na rede doméstica.”

Painéis de energia solar instalados pela E-Redes, há cerca de um ano, junto ao bairro dos pescadores, no âmbito do projeto “Berlenga Sustentável”, ao largo de Peniche, 27 de outubro 2021. Implementado pela E-Redes, o projeto “Berlenga Sustentável” permite o fornecimento de energia elétrica sustentável de longo prazo, substituindo a produção a diesel. (ACOMPANHA TEXTO DA LUSA DO DIA 01 DE NOVEMBRO DE 2021). PAULO CUNHA /LUSA

Os painéis solares são uma solução com procura crescente

“Nem todos têm, isso custa dinheiro”, explica, afirmando que é um universo “muito diminuto” de utilizadores. Este sistema dá o tal ‘start’ de forma automática, “simplesmente o inversor tem de estar equipado com esse mecanismo para repor a energia que está na bateria na rede doméstica”. Que também poderá ter limitações — pode não arrancar se “a carga da bateria estiver a menos de 20%”, exemplifica.

Noutros casos, refere que algumas pessoas possam ter encontrado refúgio não nos painéis solares mas sim em carros elétricos. “Quem tem um veículo elétrico e consegue ligá-lo a casa, nestas situações, pode ter energia a partir do veículo”, explica — desde que haja bateria no carro, claro.

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