“Antes do Gil Vicente disse que aquele é que era o jogo do título.” As confissões de Borges, da surpresa com Trincão ao exemplo de Nuno


Os dias seguintes à conquista do bicampeonato foram de folga para a comitiva do Sporting, mas a verdade é que muitos dos principais jogadores leoninos acabaram por desdobrar-se em entrevistas sobre a temporada, os festejos, a saída de Ruben Amorim e o futuro. Gyökeres, Hjulmand, Pedro Gonçalves, Rui Silva, Maxi Araújo, Trincão e Eduardo Quaresma falaram todos a órgãos de comunicação social diferentes — Rui Borges, porém, ficou dentro de casa.
O treinador do Sporting deu uma grande entrevista ao Jornal Sporting, publicada esta quinta-feira, onde aborda toda a temporada e antecipa desde já a final da Taça de Portugal do próximo domingo, contra o Benfica. Para além de referir que “família” é a melhor palavra para descrever esta equipa dos leões e que o tricampeonato será “o sonho e o propósito” da próxima época, Rui Borges recordou alguns dos jogos mais importantes dos últimos meses e não escondeu que soube o momento em que o Campeonato foi conquistado.
“O primeiro jogo, com o Benfica, foi importante. Estávamos em segundo e voltámos a passar para o primeiro lugar. O jogo em Guimarães também, um ambiente muito difícil. Mas o jogo que me marcou mais acabou por ser com o Gil Vicente. No meu discurso antes do jogo disse que o jogo do título não ia ser com o Benfica, ia ser naquele dia. Disse que era aquele o jogo que ia dar-nos o título. Quando o Quaresma fez golo corri como um tontinho. Ninguém precisa de fazer eletrocardiogramas nos próximos meses”, brincou o técnico de 43 anos.
Mais à frente, Rui Borges voltou a falar do voto de confiança que sentiu por parte de Frederico Varandas, algo que já tinha abordado no breve discurso no Marquês de Pombal, no sábado. “No primeiro abraço que lhe dei depois do jogo agradeci pela confiança e por acreditar numa equipa técnica que não tinha um passado tão glorioso quanto isso. Era mais trabalho do que outra coisa, porque não tínhamos troféus nenhuns. Desde o primeiro segundo que senti que gostou muito de mim enquanto pessoa e só posso agradecer. Jamais vou esquecer a oportunidade que me deu e a coragem de apostar em nós”, sublinhou, recordando os festejos do bicampeonato com o desejo de que “tenha sido a primeira de muitas” e a noção de que “toda a gente devia viver aquilo uma vez na vida”.
Sobre a chegada ao Sporting, que aconteceu para substituir João Pereira e mesmo em cima do Natal, o treinador leonino reconheceu que não “desfrutou” da quadra, mas “pelo melhor motivo do mundo”. “O grupo é fantástico, não tem egos, ninguém se acha melhor ou pior”, garantiu, antes de deixar notas muito particulares sobre vários dos jogadores do plantel, desde Gyökeres a Hjulmand, passando por elementos menos utilizados.
“O Morten [Hjulmand] tem uma personalidade muito própria e ganha o respeito logo com a sua imagem pelo caráter e tranquilidade. Respeitamo-lo logo, no momento, no bater do olhar. Tem sido um grande líder dentro e fora de campo. Dá um grande exemplo, tal como o Viktor. Ninguém pode ficar atrás do que eles tentam dar à equipa. São muito agregadores na atitude, na ambição. Foram dois pilares”, começou por dizer.
“Também não posso esquecer jogadores muito importantes para o balneário, como o Nuno Santos, que esteve lesionado e tem uma resiliência diária. É impossível não olharmos para ele como um exemplo. Quer ser melhor, voltar e ganhar. O Matheus Reis e o Ricardo Esgaio ganharam tudo no Sporting e são muito importantes porque são a imagem do clube. Olham para eles e respeitam-nos quando falam porque conquistaram essa valorização no grupo com muito trabalho. O Daniel Bragança teve uma lesão grave e é capitão de equipa, olham para ele como um símbolo da nossa formação. Também tem uma grande resiliência”, acrescentou.
Mais à frente, Rui Borges ainda reconheceu que ficou “surpreendido” com Trincão. “Deixo uma palavra também para o Francisco Trincão e o Franco Israel. O Trincão foi dos que mais me surpreenderam. A ver de fora, olhava para ele como um jogador especial no sentido técnico, mas a capacidade de trabalho tem sido indescritível. Achava que era só um virtuoso, mas não. Até pode perder 20 bolas que nunca o vou chatear. Tem um compromisso fenomenal com a equipa e por isso é que ele é muito melhor do que era quando foi para o Barcelona, por exemplo. Quanto ao Franco: temos dado muito valor ao Rui Silva, que tem demonstrado ser um grande guarda-redes e isso deixa-me muito feliz, mas o Franco tem uma personalidade que eu adoro. Falam muito da amizade dele com o Trincão, mas é muito amigo de toda a gente. Respeitou sempre a minha opção de apostar no Rui Silva e tem um dia a dia feliz, nunca vejo aquele rapaz triste, está sempre a puxar pelos colegas. É impossível não sorrir ao lado dele e não ter vontade de lhe dar um abraço”, terminou.
Por fim, antecipando desde já a final da Taça de Portugal do próximo domingo, Rui Borges garantiu que a equipa continua focada em ser competitiva e conquistar o troféu. “O maior sonho era ser campeão nacional e felizmente concretizei-o, mas como venho de escalões inferiores o primeiro sonho era disputar a final da Taça por toda a beleza, o envolvimento, a cultura. Acredito que seja uma linda festa, mas quero ganhar. Vou fazer tudo para conquistar a Taça de Portugal”, concluiu.