“Ponto de Fuga”. Maestro Martim Sousa Tavares apresenta espetáculo narrativo e autobiográfico “Ponto de Fuga”

O maestro Martim Sousa Tavares estreia-se em palco no formato stand-up com o espetáculo narrativo e autobiográfico Ponto de Fuga, que tem a primeira data marcada para novembro, em Braga, e inúmeras outras no resto do país ainda por anunciar.

Nas palavras do artista, que assume em simultâneo o papel de autor e narrador, “Ponto de Fuga é um espetáculo sobre a importância do belo, das histórias e da forma como estes elementos enriquecem a nossa vida”, tomando como ponto de partida as suas próprias experiências, memórias e aprendizagens, explica em comunicado.

Desta forma, Martim Sousa Tavares, que colabora regularmente na Rádio Observador, assinando o podcast Encontro com a Beleza, propõe “uma viagem marcada por momentos de contemplação, emoção e até humor”. E não estará sozinho em palco, contando com a participação de um acordeonista português internacionalmente premiado e referência do instrumento a nível mundial.

“Tem música ao vivo, tocada pelo João Barradas e por mim (…) para além de passar pelo cinema, a poesia e outras formas de arte. Ao longo de cinco atos contínuos terei o prazer de conduzir o público por um caminho de artes, histórias de vida e, acima de tudo, da descoberta de muita beleza”, continua o músico na nota de imprensa.

Esta é a estreia do maestro de 28 anos em palco no formato stand-up, depois de ter passado pela televisão, rádio, podcasts e, mais recentemente, ter lançado o seu primeiro livro, Falar Piano e Tocar Francês.

Chega diz que habitação pública no Porto é suficiente. Propõe tirar casa a quem trafica droga

Miguel Corte-Real aposta na resolução do trânsito e no combate à má gestão para convencer classe média. E “a habitação pública no Porto é suficiente se as casas estiverem ocupadas por quem precisa e não por redes de tráfico de droga”. O candidato do Chega à Câmara do Porto defendeu esta quarta-feira que a habitação pública existente na cidade é suficiente para quem precisa dela e propõe retirar das casas quem nelas trafica droga. No discurso de apresentação da sua candidatura, Miguel Corte-Real, afirmou também querer canalizar a receita proveniente da taxa turística para pagar o conforto de quem vive

Almirante em queda na “Belém Party”

A proliferação de candidatos e pré-candidatos estará, contudo, a demonstrar que a candidatura presidencial de Gouveia e Melo não será tão forte quanto muitos poderiam supor.

As sondagens mostram o almirante Gouveia e Melo em queda e, 40 anos depois do histórico confronto eleitoral Soares vs. Freitas, parece ser cada vez mais provável uma segunda volta nas presidenciais do próximo ano.

As negociações Kiev/Moscovo e a resposta europeia à imposição de tarifas norte-americanas são outros temas em debate com Begoña Iñiguez e Olivier Bonamici.

Satélites ajudam a “caçar” pesca industrial em áreas marinhas protegidas

Temos actualmente 8% do oceano formalmente protegido, ainda que a ambição seja triplicar essa área até 2030. Mas como é que sabemos que estas águas estão, de facto, a salvo dos arpões e redes da pesca industrial? Com a ajuda da ciência e da tecnologia. Neste caso, mais precisamente com a ajuda de duas equipas independentes de cientistas que recorreram a imagens de satélite e à inteligência artificial para vigiar Áreas Marinhas Protegidas (AMP) em todo o mundo.

Dois estudos publicados na revista Science esta quinta-feira mostram como a tecnologia de radar por satélite e a inteligência artificial (IA) podem ser um bom investimento para vigiar estas áreas protegidas que, muitas vezes, podem ser “visitadas” por embarcações que desligam os dados dos Sistemas de Identificação Automática (AIS, na sigla em inglês).

Nesta faina científica, os estudos podem parecer contraditórios. Mas não são — complementam-se.

As duas investigações mostram que, embora os navios de pesca industrial estejam presentes em muitas áreas protegidas em todo o mundo, as Áreas Marinhas Protegidas com os níveis mais elevados de protecção continuam praticamente sem pesca à vista. “Por outro lado, os dois sugerem que o investimento adequado em áreas protegidas será compensador e que a tecnologia de satélite de radar de abertura sintética (SAR, na sigla em inglês) poderá ser uma das ferramentas fundamentais para salvaguardar a sustentabilidade futura dos oceanos”, refere a nota de imprensa da Science sobre estes dois artigos.

“O oceano já não é demasiado grande para ser observado. Com satélites de ponta e com IA estamos a tornar visível a pesca ilegal e a provar que as fortes protecções marinhas funcionam”, afirma Juan Mayorga, cientista da iniciativa Mares Prístinos (Pristine Seas), da National Geographic Society, e co-autor de um dos estudos publicados.

Áreas protegidas sem actividade de pesca

No trabalho liderado por Jennifer Raynor, professora de economia de recursos naturais no Departamento de Ecologia Florestal e da Vida Selvagem da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, os cientistas varreram 455 áreas classificadas como “altamente” ou “totalmente” protegidas que proíbem totalmente a pesca industrial dentro dos seus limites.

“Descobrimos que as AMP com proibições estritas de pesca legal funcionam melhor do que os críticos afirmam”, diz Raynor, num comunicado da universidade. “As AMP podem ajudar a regenerar as populações de peixes, o que cria fortes incentivos à pesca ilegal —, e, no entanto, essa actividade esteve praticamente ausente. Esta é uma boa notícia para a conservação marinha.”

Em resposta ao Azul, a investigadora escreve: “Países em todo o mundo estão a trabalhar para proteger 30% dos oceanos até 2030, um aumento de cerca de quatro vezes em relação aos níveis actuais de protecção. Essa rápida expansão levou a uma preocupação generalizada de que as AMP sejam apenas ‘parques no papel’ — muitas promessas, nenhuma protecção. Mas a nossa pesquisa mostra uma realidade diferente. Em locais onde a pesca industrial é proibida, a pesca ilegal é surpreendentemente rara.”

Reserva Natural do Garajau no top 10

O artigo, que também contou com o trabalho de Enric Sala, um dos co-autores do estudo, explorador residente da National Geographic e fundador da iniciativa Mares Prístinos, é intitulado Pouca ou nenhuma pesca industrial ocorre em áreas marinhas totalmente e altamente protegidas. E o título já diz o suficiente sobre as suas conclusões.

Os autores relatam que 78,5% das 1380 AMP estudadas não tinham actividade de pesca comercial e que, nas áreas protegidas em que as imagens de satélite detectaram actividade de pesca ilegal, 82% tinham uma média de menos de 24 horas de actividade por ano. O projecto demonstra também que “as AMP fortemente protegidas tinham, em média, nove vezes menos embarcações de pesca por quilómetro quadrado do que as zonas costeiras não protegidas”.

Especificamente sobre Portugal, Jennifer Raynor adianta que foram incluídas seis áreas protegidas portuguesas no estudo: Caloura-Ilhéu de Vila Franca do Campo, Costa Sudeste (ilha Graciosa), Reserva Natural do Garajau, ilhéu da Vila, Reserva Natural das Dunas de São Jacinto e Ilhas Selvagens.

Mapa da costa de Portugal mostra (a branco) os limites das AMP portuguesas e (a azul) as, detecções classificadas como embarcações de pesca que são rastreadas através do AIS e (a laranja) as detecões não rastreadas classificadas como embarcações de pesca. Imagens Sentinel-1/base de dados Global Fishing Watch

“A Reserva Natural do Garajau apareceu no top 10 global em termos de densidade aparente do esforço de pesca (média diária de horas de pesca por 100 km2); mas isto representa um esforço de pesca relativamente pequeno, cerca de 11 horas totais de esforço aparente de pesca por ano, em média”, destaca a cientista.

No outro lado da moeda, os menos bem-sucedidos: “As AMP designadas como estritamente protegidas com uma actividade de pesca significativa incluíam as da Reserva Marinha de Chagos, das Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul e do Parque Marinho da Grande Barreira de Coral (combinado com o Parque Marinho da Costa da Grande Barreira de Coral), cada uma com aproximadamente 900 horas por ano.”

Rastreio das zonas costeiras

Já o estudo liderado por Raphael Seguin, investigador do centro de investigação em biodiversidade marinha, exploração e conservação (Marbec) da Universidade de Montpellier, em França, quis quantificar as actividades de pesca num vasto conjunto de 6021 AMP costeiras que representam uma vasta gama de categorias de protecção, tal como definidas pelo quadro de gestão da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

“Combinando dados do GPS da embarcação com imagens de satélite, detectamos pesca industrial em 47% das AMP costeiras em todo o mundo entre 2022 e 2024, com dois terços da embarcação detecções (67%) não rastreadas por monitorização pública”, escrevem os autores no artigo. E acrescentam: “Esses navios não rastreados foram mais prevalentes (80%) em AMP com a mais restritiva categoria de gestão, que visa proibir todas as actividades extractivas.”

Ou seja, quase metade das AMP avaliadas apresentavam indícios de pesca industrial a níveis que, em muitos casos, correspondiam ou excediam os das águas desprotegidas próximas. O estudo não refere Portugal de forma específica, mas o autor partilhou com o Azul uma visão da costa portuguesa composta por imagens do satélite Sentinel-1 (utilizadas para fazer as detecções), apoiadas no conjunto de dados das detecções de embarcações da Global Fishing Watch.

No artigo, os autores concluem que factores como a dimensão e o afastamento da AMP são mais preditivos da presença da pesca do que a categoria de protecção oficial por si só. O estudo foi conduzido pelo Marbec da Universidade de Montpellier em colaboração com o Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS), o Instituto Francês de Ciências Oceânicas (​Ifremer) e o Instituto de Investigação e Desenvolvimento (IRD) em Montpellier.

“A inclusão de embarcações não rastreadas aumentou o esforço de pesca estimado dentro das AMP em 28%, para uma média de quatro horas por quilómetro quadrado por ano. Estes resultados evidenciam a presença contínua de navios de pesca industrial nas AMP e uma lacuna importante na nossa compreensão da pressão da pesca nas áreas protegidas a nível mundial”, refere o estudo intitulado Padrões globais e factores de pesca industrial não rastreada em áreas marinhas costeiras protegidas.

Ao Azul, o autor principal admite que “uma grande limitação” do estudo que coordenou é que as imagens de satélite usadas cobrem apenas as zonas costeiras, onde se concentra a maior parte da actividade de pesca industrial — “mas isso significa que perdemos a maioria das AMP mais remotas”, refere​.

Além disso, acrescenta Raphael Seguin​, a resolução das imagens de satélite usadas significa que perdemos a maioria das embarcações com menos de 15 metros e muitas embarcações entre 15 e 25 metros, “o que significa que subestimamos a verdadeira escala da pesca nas AMP”.

Protecção compensa até para os pescadores

A pesca ilegal representa uma ameaça global significativa, pondo em risco tanto a saúde dos ecossistemas oceânicos como a estabilidade económica da indústria pesqueira. A ciência já demonstrou que proteger as águas compensa, restaurando a vida marinha dentro dos seus limites e criando resistência contra o aquecimento do oceano, mas também melhorando a pesca local, proporcionando empregos e benefícios económicos. “Quando as AMP são protegidas de forma mínima ou ligeira, os benefícios praticamente desaparecem”, lê-se na nota de imprensa.

Confuso? Passamos a explicar. “Uma vez que as áreas marinhas estritamente protegidas desencorajam a pesca ilegal, os peixes são muito mais abundantes dentro dos seus limites, produzem muito mais bebés e ajudam a reabastecer as áreas circundantes”, constata Enric Sala, um dos co-autores do estudo, citado no comunicado da iniciativa Mares Prístinos da National Geographic. “Por outras palavras, a indústria pesqueira beneficia do cumprimento das regras.”

Neste caso, os investigadores analisaram cinco mil milhões de posições de embarcações através dos AIS, um sinal de segurança baseado em GPS transmitido por muitas embarcações de pesca industrial. Depois confrontaram estes sinais com imagens de satélite geradas pelo Radar de Abertura Sintética (SAR, na sigla em inglês), que consegue detectar embarcações independentemente das condições meteorológicas ou de luminosidade.

Uma comparação lado a lado dos dados dos navios de pesca detectados na região da Austrália através do Sistema de Identificação Automática e aqueles detectados pelas técnicas de satélite Crédito: Ilustração de Jennifer Raynor.
Ilustração de Jennifer Raynor.

Juntando a estas ferramentas a utilização de modelos de IA desenvolvidos pela Global Fishing Watch, os investigadores conseguiram detectaram a maioria das embarcações de pesca com mais de quinze metros de comprimento, mesmo as que não transmitem os sinais. Aliás, os autores notam que os dados AIS não detectaram quase 90% das embarcações de pesca identificadas pelo radar de satélite dentro destas AMP.

O desafio de monitorizar a pesca no mar

“Nenhum conjunto de dados isolado pode resolver o desafio de monitorizar a actividade pesqueira no mar; cada um tem os seus pontos cegos”, afirma Juan Mayorga. “Mas quando os combinamos, o seu poder emerge. Ao fundir o rastreio AIS com imagens de radar de satélite e IA, estamos agora muito mais perto da imagem completa da actividade humana no oceano. Isso é especialmente importante nas jóias da coroa do oceano — as áreas mais fortemente protegidas do mundo — onde os riscos para a aplicação da lei e a biodiversidade são maiores.”

Em jeito de conclusão, Raphael Seguin, da Universidade de Montpellier,​ frisa que “a quantidade de áreas marinhas protegidas não determina a sua qualidade”. “As definições das AMP devem seguir recomendações científicas e proibir a pesca industrial, caso contrário, não devem ser consideradas verdadeiras AMP”, defende, lembrando que “muitos governos estão a declarar vastas áreas do oceano como AMP para cumprir rapidamente as metas internacionais de protecção e reivindicar uma vitória política, com pouca ou nenhuma protecção real em vigor”.

O cientista alerta ainda que a protecção é frequentemente colocada em áreas remotas e distantes, onde a pesca industrial não está presente ou é muito reduzida, e, por isso, sugere que “as AMP também devem estar localizadas em áreas sujeitas à pressão da pesca, e não apenas em áreas que não estão sob ameaça”. Por fim, avisa: “A monitorização das pescas deve ser reforçada e tornada mais transparente, em particular através da generalização da utilização do AIS à escala global.”

Já Jennifer Raynor, da Universidade de Wisconsin-Madison,​ espera que as novas descobertas ajudem a definir políticas globais para futuras AMP. “Ao utilizar satélites para seguir os navios de pesca, os países podem prever a localização das actividades ilegais e direccionar os esforços de patrulha, poupando mão-de-obra e dinheiro”, afirma. “Isto é fundamental para alcançar o objectivo 30×30 do Quadro Mundial para a Biodiversidade, que visa proteger 30% dos oceanos até 2030.”

Onda de calor marinha de 2023 pode ser alerta para “pontos de não retorno” do clima

Os recifes de corais estão na linha da frente dos ecossistemas em risco devido às alterações climáticas. No final de 2024, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) dizia que 44% das 800 espécies de coral estavam ameaçadas de extinção. Estes ecossistemas não só albergam uma grande biodiversidade marinha, como são também protectores das áreas costeiras contra tempestades e outros eventos extremos.

Mas as ondas de calor marinhas põem em causa os recifes de corais, já que provocam o seu embranquecimento, deixando-os muito vulneráveis. Estes eventos em que a temperatura superficial marinha aumenta muito, como o que ocorreu ao longo de 2023, têm-se tornado cada vez mais intensos no contexto das alterações climáticas, podendo ser um sinal de alerta de que o planeta está a atingir pontos de não retorno.

A onda de calor marinha extraordinária de 2023 pode representar uma mudança maior nas condições oceânicas e atmosféricas, potencialmente indicando um sinal precoce de um evento de não retorno no sistema climático da Terra”, revela um estudo publicado na revista Science, nesta quinta-feira, que analisou a onda de calor marinha de 2023.

“Estes eventos podem causar stress aos ecossistemas além do limiar da recuperação, provocando potencialmente o colapso dos recifes de coral, reduzindo a riqueza das espécies, aumentando as taxas de mortalidade”, lê-se no artigo.

Pontos de viragem

A ciência determinou há vários anos mais de 15 pontos de viragem climática (ou de não retorno) a nível planetário, referentes a sistemas climáticos, geofísicos e relacionados com os ecossistemas. Os recifes de corais, o gelo marinho do Pólo Norte, a calote de gelo da Antárctida e a floresta da Amazónia são alguns dos sistemas que podem sofrer uma mudança definitiva ao atingirem um ponto de não retorno.

Se houver um aumento de temperatura média da Terra a partir de um determinado nível, o gelo acumulado na Gronelândia derrete-se, aumentando o nível médio do mar em cerca de sete metros, e a floresta amazónica pode transformar-se numa savana, alterando todo o regime de chuvas daquela região, por exemplo.

Estas mudanças, além de terem um impacto enorme para as espécies e para as sociedades humanas, podem potenciar ainda mais as alterações climáticas, piorando a situação.

Os recifes de corais são dos sistemas que precisam de um menor aquecimento planetário para atingirem o tal ponto de não retorno. Um aquecimento global sustentado em que a temperatura da atmosfera atinja 1,5 graus acima da era pré-industrial provocará a perda de 70% a 90% dos recifes de corais, adianta o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). No caso de se atingir os dois graus de aquecimento, então praticamente todos os corais irão desaparecer.

Actualmente, o aumento da temperatura deverá estar entre os 1,3 e 1,4 graus. Mas o planeta poderá aquecer até aos 3,1 graus em 2100, se não houver mais cortes nas emissões de gases com efeito de estufa, de acordo com um relatório das Nações Unidas de 2024. Nesse caso, as ondas de calor marinhas que têm surgido nos últimos anos, incluindo a que está a afectar actualmente o mar Mediterrâneo, serão uma pálida versão das que existirão no futuro.

Um recorde no mar

O estudo agora publicado na Science, produzido por uma equipa chinesa, quis analisar a onda de calor marinha que afectou diversas regiões do oceano global ao longo de 2023 e perceber os mecanismos que possibilitaram esses fenómenos de acontecer.

“Desde Março de 2023, muitos dos oceanos do globo experimentaram um aquecimento fora do normal da temperatura média de superfície, eclipsando todas as observações registadas anteriormente”, lê-se no artigo, cujo primeiro autor é Tianyun Dong, do Instituto de Tecnologia do Leste, em Ningbo, Zhejiang, uma província da costa leste da China. Segundo o artigo, a onda de calor marinha provocou fenómenos de embranquecimento de corais, o colapso de pescarias em várias regiões e intensificou o stress dos ecossistemas marinhos.

“Descobrir os mecanismos por trás destes processos (…) é essencial para desenvolver estratégias de adaptação eficazes e estratégias de mitigação”, adianta-se no documento.

Através do uso de informação de satélite, a equipa analisou a abrangência, a duração e os principais fenómenos que causaram a onda de calor marinha. As regiões mais duramente afectadas foram áreas oceânicas do Norte do Atlântico, do Norte do Pacífico, do Sudoeste do Pacífico e do Leste da região tropical do Pacífico, esta última associada ao fenómeno El Niño.

Urgência na monitorização

Ao todo, a onda de calor marinha de 2023 “exibiu a longa duração (de 120 dias) e a ocorrência espacial mais ampla (96% da área global marinha)”, relativamente aos registos históricos, de acordo com o artigo. O fenómeno “representou um evento global com um período de retorno de 50 anos”, lê-se no artigo. Mas no caso específico do Atlântico Norte, o fenómeno terá um período de retorno de 276 anos. Ou seja, a onda de calor marinha que se viveu naquela região, que durou ao todo 525 dias (ultrapassou o ano de 2023), ocorre menos de quatro vezes por cada mil anos.

A análise dos factores que influenciaram o aquecimento das águas superficiais daquelas quatro regiões mostrou que houve uma mistura de fenómenos na sua génese. Por um lado, houve um aumento de radiação solar por haver uma menor cobertura de nuvens. Por outro, ventos mais fracos e anomalias nas correntes marinhas impediram o arrefecimento das águas superficiais.

Todos aqueles factores “são variados e interconectados, sublinhando a complexidade dos processos que geram a formação de ondas de calor marinhas e a sua amplificação sob as condições das alterações climáticas”, lê-se no artigo.

Os autores lembram que fenómenos daquele tipo influenciam os ecossistemas marinhos, as actividades pesqueiras, a dinâmica da criosfera e o sistema de circulação das correntes, incluindo a importante circulação termoalina meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês), que leva calor para a Europa e mantém a temperatura do continente mais amena. Esta corrente também pode sofrer um ponto de não retorno, alterando radicalmente o clima ao nível da Europa.

“A interacção entre as ondas de calor marinhas e os elementos de não retorno sublinha a necessidade urgente de sistemas de observação terrestre melhorados para monitorizar a física e a biogeoquímica do oceano, para detectar sinais precoces e melhorar os modelos preditivos”, conclui a equipa.

O maior investimento de sempre vai a caminho dos 100 milhões: FC Porto confirma Alberto Costa (a par da venda de João Mário)

Começou em maio, vai continuar em agosto, promete ficar na história do clube como um ano de mudança de paradigma. Quando apresentou Francesco Farioli como sucessor de Martín Anselmi (que ainda não assinou a rescisão de contrato com os dragões), André Villas-Boas, presidente do FC Porto, fez mais do que garantir ao italiano que teria todas as condições para alterar o rumo recente do futebol dos azuis e brancos. “Podemos estar a falar do maior mercado da história do clube”, atirou. A teoria continua a passar à prática e, no dia em que Alberto Costa foi confirmando como sexto reforço da época, o investimento já atingiu os 93,1 milhões.

“A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD (“FC Porto”) vem informar o mercado, os seus associados, adeptos e simpatizantes, bem como o público em geral, que chegou a um acordo com a Juventus para a aquisição, a título definitivo, dos direitos de inscrição desportiva e 100% dos direitos económicos do jogador profissional de futebol Alberto Costa, pelo valor fixo de 15M€ (quinze milhões de euros), acrescido de uma remuneração variável máxima de 1M€ (um milhão de euros) em função do cumprimento de certos objetivos. A Juventus irá reter o valor correspondente a 10% das mais valias de uma potencial futura transferência do jogador”, confirmou esta quinta-feira a SAD dos dragões num comunicado que foi enviado à CMVM.

“Mais se informa que o FC Porto celebrou com o jogador um contrato válido por cinco épocas desportivas, ou seja, até 30 de junho de 2030, tendo acordado uma cláusula de rescisão no montante de 65M€ (sessenta e cinco milhões de euros). A Juventus assumirá a responsabilidade com o mecanismo de solidariedade devida a terceiros e o FC Porto declara que terá encargos com serviços de intermediação de 10% do montante da transação”, acrescentou ainda a missiva dos dragões à entidade que regula o mercado.

Em atualização

Trabalhadores das Misericórdias em greve em 8 de agosto e com protestos semanais

Os trabalhadores das Misericórdias e da União das Misericórdias vão fazer greve em 8 de agosto, anunciou esta quinta-feira o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, que irá manifestar-se semanalmente à porta do Ministério do Trabalho.

Um grupo de 16 trabalhadores e delegados sindicais das Misericórdias estiveram esta quinta-feira à porta do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS), em Lisboa, em protesto por a União das Misericórdias ter desmarcado na quarta-feira e adiado para setembro a reunião desta quinta-feira, em sede de conciliação, de negociação salarial.

Em declarações à agência Lusa, Célia Lopes, dirigente sindical do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) adiantou que foram recebidos por dois assessores dos secretários de Estado do Trabalho e da Ação Social e da Inclusão, a quem explicaram o problema com a União das Misericórdias (UMP).

“Este problema não se tem colocado nas restantes IPSS, coloca-se nas Misericórdias porque há um histórico de tentativa de retirada de direitos aos trabalhadores e de não revisão regular da contratação coletiva”, apontou a sindicalista, segundo a qual a UMP continua sem apresentar proposta de atualização da tabela salarial para 2025, apesar de estar a terminar o mês de julho e de já ter sido feita a revisão dos protocolos de cooperação, com retroativos a janeiro.

Célia Lopes questiona, por isso, por que motivo o Estado atualiza o valor que transfere para o setor social sem garantir que as instituições se comprometem com a respetiva revisão da contratação coletiva. Acrescentou que foram entretanto informados “que brevemente vão iniciar-se os processos para a revisão para 2026 e os trabalhadores das misericórdias ainda não viram os seus salários atualizados em 2025″.

A responsável disse também que o CESP defende a uniformização das condições de trabalho dos trabalhadores do setor social, uma vez que o financiamento é igual para UMP, Confederação das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS) ou União das Mutualidades Portuguesas. “Se o financiamento é igual, as condições de trabalho têm que ser similares. Não faz sentido que trabalhadores no setor social, em igualdade de circunstâncias, dependendo da unidade em que trabalham, recebam em média 30% abaixo”, criticou, dando como exemplo que as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) tenham atualizações salariais desde 2017.

Nesse sentido, explicou que uma das exigências do CESP é que se mantenha em vigor a portaria de extensão de 2022 que veio implementar essa uniformização e que, segundo a sindicalista, a União das Misericórdias recusa cumprir. “Fomos, aliás, surpreendidos em julho, no dia 11 de julho, com a emissão de um aviso por parte do Ministério, que o publicou no Boletim de Trabalho e Emprego, que pretende revogar a tal portaria de 2022 que vem uniformizar por cima as condições de trabalho, com o mesmo argumento que pretendem uniformizar nas misericórdias”, adiantou.

Acrescentou que explicaram aos assessores dos dois secretários de Estado que se o Ministério do Trabalho for avante com essa decisão “será responsável por haver milhares de trabalhadores das Misericórdias que nos próximos dois, três anos não têm qualquer aumento de salário”. Para o CESP, essa é uma decisão “completamente inaceitável”, razão pela qual decidiram que irão manifestar-se todas as semanas para a porta do Ministério do Trabalho “até que o Governo resolva de facto o problema” e entregar pré-aviso de greve para o dia 8 de agosto para todos os trabalhadores das Misericórdias e da União das Misericórdias.

Célia Lopes disse que os trabalhadores querem “respostas concretas da senhora ministra [do Trabalho]”, uma vez que se a portaria do Governo entrar em vigor haverá “um retrocesso muito grande, uma retirada efetiva direta aos trabalhadores”.

​Enviado dos EUA culpa Hamas por impasse nas negociações

O impasse continua nas negociações para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Após avaliar a resposta do Hamas ao longo desta quinta-feira, uma fonte política israelita disse aos media locais que as divergências prosseguem.

“Embora tenhamos alcançado progresso nos primeiros dias, encontramos dificuldades em outras questões das negociações”, disse a mesma fonte envolvida no processo.

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A resposta encaminhada não permite avanços sem que o Hamas apresente mudanças na sua lista de exigências, adiantou.

A equipa de negociadores israelita retornou de Doha, no Catar, para consultas após 18 dias de negociações.

O enviado dos EUA para o Médio Oriente, Steve Witkoff, anunciou que a delegação norte-americana também irá deixar o Catar.

Segundo Witkoff, “parece que o Hamas não está agir de boa-fé”. O enviado dos EUA diz também que, agora, os norte-americanos vão considerar “opções alternativas para fazer regressar a Israel os reféns mantidos em cativeiro pelo Hamas e criar um ambiente mais estável para os moradores da Faixa de Gaza”.

“É uma pena que o Hamas tenha agido de forma egoísta. Estamos determinados a pôr fim ao conflito e alcançar a paz permanente em Gaza”, afirmou Witkoff.

Para além da retirada de tropas de mais áreas da Faixa de Gaza, do fim do modelo atual de distribuição operado pela empresa privada norte-americana Fundo Humanitário de Gaza (GHF) e da reabertura da Passagem de Rafah (a fronteira entre Gaza e Egito), fontes israelitas informam que o Hamas também estaria a exigir a libertação de um número maior de prisioneiros palestinianos.

Ainda não há uma posição oficial por parte do Hamas após as declarações de Witkoff.

Apesar do cenário de incerteza atual, os próprios oficiais israelitas dizem acreditar que não houve colapso nas negociações.

Reclusos pedem fim de greves nas prisões e ameaçam com queixas em massa na União Europeia

A Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso (APAR) alertou esta quinta-feira o Governo para a “necessidade urgente” de terminar as greves de guardas prisionais e melhorar as condições nas prisões, ameaçando apresentar queixas “em massa” na Europa contra o Estado.

Uma delegação da APAR reuniu-se esta quinta-feira, durante cerca de uma hora e meia, no Ministério da Justiça, em Lisboa, com o secretário de Estado adjunto e da Justiça, Gonçalo da Cunha Pires.

À saída do encontro, o secretário-geral da associação, Vítor Ilharco, referiu que um dos temas abordados na reunião foram as “greves [de guardas prisionais] exageradas e absurdas” em curso há vários meses nas cadeias.

“Alertámos para a necessidade urgente de terminar com estas greves e melhorar a alimentação e saúde dos reclusos, sob pena de termos de partir para outros tipos de luta, com a apresentação em massa de queixas no Tribunal Europeu [dos Direitos Humanos”], sublinhou.

Tal, acrescentou, poderia traduzir-se num aumento para “20 ou 30 milhões de euros” do montante que o Estado português pode ser obrigado a pagar em indemnizações a reclusos por falta de condições nas prisões — um valor, defendeu, que seria mais bem aplicado no sistema prisional.

Desde Dezembro de 2019, o Estado português já desembolsou 1.552.075 euros nesse âmbito, segundo o mais recente relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção, do provedor de Justiça.

À Lusa, Vítor Ilharco garantiu que há já um grupo de advogados disponível para apresentar “100, 200 queixas” por semana, mas ressalvou que a APAR tem estado “a evitar” que tal aconteça.

“Não tomamos medidas radicais, mas também exigimos uma coisa muito simples: que o Ministério da Justiça cumpra a lei de execução de penas”, sublinhou o secretário-geral.

A APAR apresentou ainda “uma proposta para alteração do regulamento prisional”.

Segundo o secretário-geral da associação, Gonçalo da Cunha Pires concordou com as necessidades apontadas pela APAR, tendo expressado a intenção de intervir no sistema prisional ao nível dos edifícios, da formação dos profissionais e da cultura nas cadeias, que pretende que seja “menos violenta e mais de reinserção social”.

“Viemos entusiasmados, foi um encontro positivo”, concluiu Vítor Ilharco.

Desde 2023, a Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público soma 245 avisos prévios de greve, a maior parte convocada pelo Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, o mais antigo e representativo do sector, sendo que foram realizadas 220. O relatório anual da Provedoria de Justiça recentemente divulgado critica a persistência dos problemas nas prisões, como o acesso à saúde e ao trabalho, e fala mesmo em “negligência”.

Recentemente, a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, aceitou que, enquanto houver falta de guardas, os reclusos do Estabelecimento Prisional de Alcoentre, na Azambuja, tenham menos uma hora de recreio por dia.

Frederico Morais, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, aplaude a decisão de reduzir o tempo de pátio concedido aos reclusos. “O sindicato congratula-se com a medida, que gostaria de ver aplicada a nível nacional, porque a falta de guardas é nacional.”

As águias Anémona e MM contratadas para afastar gaivotas na praia de Matosinhos

O trabalho começa cedo, logo pelas 7h da manhã. As duas aves da espécie Águia de Harris, “Anémona” e a “MM”, dois nomes muito ligados ao município, chegam à praia de Matosinhos numa altura em que o areal está coberto por um manto de gaivotas. Mas não será por muito tempo.

Imperiais no porte, as águias vêm pela mão dos técnicos, que as mantêm pousadas sobre uma luva e as levam até próximo do mar onde se concentram várias dezenas de gaivotas. Mal avistam a “Anémona” e a “MM” acontece uma espécie de espetáculo de natureza. Os madrugadores, que estão àquela hora na praia, ficam parados a admirar a debandada. Ao avistar as aves de rapina, as gaivotas levantam voo e  abandonam o areal, que retoma o tom dourado e perde o salpicado de cinzento, branco e amarelo do bico das aves.

As águias impõem-se pela simples presença. Em nenhum momento os dois animais abandonam a luva dos técnicos. Não é necessário agir, apenas ser. As gaivotas automaticamente são afastadas ao avistarem o predador. Luís Lopes é técnico de controlo de pragas e trabalha diariamente com águias. Ao Observador explica que o objetivo é só afugentar as gaivotas. “Tentamos introduzir o predador natural, para tentar equilibrar o ecossistema. Mas este predador não as vai caçar, não as vai matar, é só para afastá-las”, esclarece.

Na praia são vários os olhares de admiração perante as duas aves. Muitas pessoas abordam os técnicos, mas há quem mostre algum receio. Luís Lopes tranquiliza os frequentadores da praia e lembra que “as águias não atacam ninguém, nenhum humano” e que mesmo nas gaivotas existe um trabalho vasto para conseguirem acompanhá-las. “Controlamos o peso da ave, sabemos ler e interpretar esses pormenores. E caso existam dúvidas não lançamos a águia. Fazemos o trabalho dessa forma para que não haja capturas nem acidentes”, sublinha ao Observador.

Câmara de Matosinhos contrata águias para afugentar gaivotas

O serviço de “Anémona” e “MM” continua da parte da manhã até às 9h. Tornam depois ao serviço já ao final do dia, entre as 17h e as 21h. O técnico explica que os horários apanham “o amanhecer quando estão na areia mais gaivotas”. Durante o dia, como “a praia vai enchendo de banhistas, as gaivotas já não param no areal”. Já ao final da tarde, as aves regressam em bando à praia e, por isso, voltam também as águias para as afugentar. A ideia é “não entrar em conflito de espaço com os banhistas”.

Pode até parecer uma decisão fora do comum, mas Luís Lopes salienta que a utilização de águias é mais habitual do que parece. “É pouco visível para as pessoas mas é uma prática já efetuada pelo país inteiro, Europa e por aí fora”, conta. Só na cidade do Porto os McDonalds nas Antas, Aliados e Ribeira também contam com Águias de Harris para afastarem as gaivotas, bem como alguns estabelecimentos hoteleiros.

Lúcifer, a águia-de-Harris que expulsou as gaivotas num hotel de luxo de Gaia

São cerca de 14 mil gaivotas que sobrevoam diariamente a praia de Matosinhos e que têm impacto na qualidade balnear. De acordo com a vereadora do ambiente da Câmara Municipal da cidade, Manuela Álvares, as gaivotas tornaram-se “praga”. “Os E.colis (bactérias) encontrados quando a praia de Matosinhos não está de acordo com as regras de uso balnear são em mais de metade de origem animal”, adianta ao Observador.

A E.coli é uma bactéria presente no intestino humano e animal. Quer isto dizer que aquelas gaivotas e outras aves como os pombos, que também frequentam a zona, acabam por defecar naquelas áreas e, assim, contaminar a praia – que se encontra, até ao momento, com interdição a banhos.

A vereadora do ambiente garante que a autarquia está a “avaliar” e “monitorizar” os dados e não há planos para estender a estratégia das águias a outras zonas da cidade. “É uma ação piloto durante a época balnear. Vamos avaliar com a área metropolitana do Porto”, que lançou a ideia da utilização das aves de rapina, a manutenção da estratégia anti-gaivota e anti-pombo.

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