Genebra torna transportes públicos gratuitos para combater poluição de ozono

Os transportes públicos serão temporariamente gratuitos em Genebra, pela primeira vez na Suíça, como parte de uma série de medidas para combater o aumento da poluição na cidade, que está a registar um pico grave de poluição por ozono à superfície – um gás nocivo que pode causar problemas respiratórios e desencadear dores de cabeça e ataques de asma, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
O sistema de alerta de poluição de Genebra anunciou que as concentrações de ozono tinham ultrapassado o limiar de segurança sanitária ambiental de 180 microgramas por metro cúbico durante 24 horas, segundo um comunicado do Cantão de Genebra.
A onda de calor que está a varrer a Europa contribui para isto. Na terça-feira, as temperaturas atingiram 37 graus Celsius e o Governo emitiu avisos de calor para o Oeste e Sul da Suíça. As altas temperaturas e a baixa cobertura de nuvens significam que os poluentes de ozono se acumulam e demoram mais tempo a dispersar-se, disse à Reuters o Gabinete do Ambiente do Cantão de Genebra.
O ozono troposférico, que é nocivo para a saúde humana, não deve ser confundido com a camada de ozono que funciona como um “escudo” protector do nosso planeta e que, por extensão, protege os seres vivos que nele habitam.
Quando se forma na atmosfera, através da interacção entre gases precursores e a luz do sol, o ozono é um poluente do ar. Se os limiares de concentração na atmosfera são excedidos, o ozono pode ser nocivo para a saúde humana, e está associado a doenças respiratórias e cardiovasculares.
Limites excedidos em Portugal
Também em Portugal tem havido picos de concentração de ozono de 180 µg/m³ (microgramas por metro cúbico), definida como limiar de informação à população sobre este poluente. Na quarta-feira, este patamar foi ultrapassado nas estações de monitorização da qualidade do ar nos Olivais, concelho de Lisboa, e em Paio Pires, concelho do Seixal (Setúbal), alertou a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo.
A diferença é que, na Suíça, as autoridades estão a tomar medidas. Os transportes públicos foram tornados gratuitos pela primeira vez na quarta-feira em todo o cantão francês, para incentivar os residentes e os visitantes a trocarem os seus automóveis por autocarros, eléctricos, comboios e barcos, a fim de reduzir as emissões de poluentes provenientes do tráfego.
“As medidas tomadas no âmbito deste protocolo de emergência visam reduzir as emissões de óxido de azoto, nomeadamente através da promoção dos transportes públicos e da limitação da circulação dos veículos mais poluentes”, declarou o gabinete do ambiente.
Os passageiros não precisarão de bilhete e os controlos da bilhética serão suspensos até que a poluição melhore, informaram as autoridades num comunicado. Entre as 6h00 (5h00 em Portugal continental) e as 22h, apenas os carros com emissões mais baixas são autorizados a circular no centro da cidade.
Causa de morte prematura
A exposição ao ozono no início da vida, até aos dois anos, aumenta o risco de uma criança desenvolver asma e “pieira” aos quatro anos, revela uma análise publicado na revista médica JAMA Network Open, que envolveu 1188 crianças dos Estados Unidos.
A poluição atmosférica por ozono é hoje uma das principais causas de mortalidade prematura na Europa. Com a crise climática, estes fenómenos tendem a piorar, uma vez que a radiação solar interfere directamente no complexo processo de formação do ozono na troposfera (daí a denominação ozono troposférico ou respirável).
Um estudo publicado no ano passado na revista científica Nature Medicine explicava que o aquecimento global reforça as condições que levam à formação de ozono troposférico no futuro. Isto porque “os mecanismos fotoquímicos de formação de ozono são favorecidos durante as ondas de calor e períodos de elevada radiação solar”. O artigo alerta que este é, de resto, o “factor dominante” que faz com que os investigadores estimem maiores concentrações de ozono e, como resultado, maior impacto na saúde pública.
