Arcebispo emérito de Andorra alerta que migrantes “precisam de esperança viva”

O arcebispo emérito de Urgel em Andorra, D. Joan Enric-Vives, apelou esta quarta-feira em Fátima à solidariedade para com os migrantes e refugiados, a quem se referiu como “os nossos irmãos e irmãs” que mais precisam de “esperança”.
“O Jubileu é um tempo de graça, de reconciliação, de libertação e de consolação. E se há alguém que precisa desta esperança viva hoje, são os nossos irmãos e irmãs, migrantes e refugiados, homens e mulheres marcados pela incerteza e pela espera”, afirmou, na eucaristia final da Peregrinação do Migrante e Refugiado, que se assinala esta quarta-feira no Santuário, a propósito do 13 de agosto.
No texto lido durante a eucaristia, o arcebispo emérito de Urgel lembrou a história da Igreja e de Nossa Senhora, também ela “peregrina e refugiada” e com passagens pelo Egito e pelas terras onde hoje se situa a Faixa de Gaza. Para provar que a mensagem de Nossa Senhora continua atual devido à necessidade de “consolação, conversão e, sobretudo, esperança”, o também antigo príncipe de Andorra deu o exemplo de muitos migrantes que têm atualmente “uma mala numa mão e a fé na outra”.
Na leitura de D. Joan, essa imagem deve inspirar os católicos e transformar a Igreja, para que se aproxime de um “Deus que salva, cuida e não se esquece de ninguém, sobretudo dos mais vulneráveis”.
“Acolher migrantes não é apenas uma obra de caridade; é uma opção evangélica e jubilar. Porque cada vez que acolhemos um irmão ou uma irmã migrante, estamos a acolher Cristo. E neste tempo de graça, a Igreja é chamada a ser mais maternal do que nunca, mais aberta, mais hospitaleira”, frisou.
Também o Papa Leão XIV foi citado na homília, com o antigo chefe de Estado andorriano a falar da mensagem de julho passado na Festa dos Migrantes e Refugiados em Roma para mostrar que o fenómeno da migração não é novo: apenas mudaram os motivos que levam as pessoas a abandonar as suas terras, hoje mais focados nas “guerras” e “fenómenos climáticos extremos” e não tanto em “questões de trabalho”.
Perante uma audienci de 50 milhares de pessoas e pontuada por bandeiras de todo o mundo (como Ucrânia, Angola, Venezuela e Alemanha), D. Joan Enric-Vives dirigiu-se também aos migrantes, mostrando-lhes que, embora precisem de esperança, também eles podem ajudar a transformar positivamente as comunidades onde vivem.
“Num mundo obscurecido por guerras e injustiças, mesmo onde tudo parece perdido, os migrantes e os refugiados são mensageiros de esperança”, afirmou, para de seguida acrescentar: “Que o vosso entusiasmo espiritual e a vossa vitalidade contribuam para revitalizar comunidades eclesiais envelhecidas e cansadas, nas quais o deserto espiritual avança ameaçadoramente”.
No final da eucaristia, o reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas, expressou também solidariedade com os bombeiros que combatem os incêndios por todo o país.
“Neste dia, não podemos ignorar o drama dos incêndios, com as inquietações que provoca e o rasto de destruição que deixa atrás de si. Por isso, tenhamos presente na nossa oração todos aqueles que são atingidos pelos incêndios, mas rezemos de forma especial pelos bombeiros e ajudemo-los com o nosso comportamento responsável“, afirmou.
A Peregrinação do Migrante e do Refugiado termina esta quarta-feira no Santuário, tradicionalmente assinalada durante a Peregrinação Internacional Aniversária de 13 de agosto e onde habitualmente os peregrinos doam sacos de trigo e farinha.
A eucaristia foi presidida este ano por D. Joan-Enric Vives, arcebispo emérito de Urgel e ex-copríncipe de Andorra, e cocelebrada por quatro bispos, 82 padres e 12 diáconos. No recinto, marcaram presença cerca de 50 mil fiéis, segundo estimativas da organização.