Pesquisador moçambicano diz que conflitos e mudanças climáticas disseminam Mpox


O pesquisador moçambicano Osvaldo Inlamae apontou esta quinta-feira que conflitos e alterações climáticas, que forçam à deslocação de pessoas, contribuem para a disseminação da mpox, mas que não se verificaram condições para a doença se transformar epidémica em Moçambique.
“No caso do mpox, que é o nosso assunto do momento, basicamente, este aumento de casos que tem estado a se verificar está muito mais relacionado à mobilidade de pessoas por diversas causas (…) do que necessariamente uma causa única”, disse à Lusa Osvaldo Inlamae, pesquisador e coordenador do programa de doenças transmitidas por vetores, negligenciadas e zoonóticas no Instituto Nacional de Saúde (INS) de Moçambique, à margem de um seminário online científico organizado pela instituição, quando o surto da doença já provocou 38 casos num mês.
Segundo o pesquisador, as mudanças climáticas e os conflitos permitem que as pessoas se movam para áreas de reassentamento ou outras em busca de terras agrícolas mais produtivas e, no processo, podem disseminar uma doença “confinada numa determinada área geográfica”.
Moçambique vive, desde 2017, conflitos armados em Cabo Delgado, no norte do país, que obrigaram à deslocação de mais de um milhão de pessoas. O país africano é também considerado um dos mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa, situações que obrigam à deslocação de centenas de pessoas, algumas vezes para países vizinhos.
Apesar destas deslocações de pessoas em massa que se registam em Moçambique, Osvaldo Inlamae garantiu ainda “não existir condições” para a mpox se tornar uma epidemia no país que, para o coordenador, está numa situação “um pouco mais avantajada”.
“O mpox é um agente DNA, tem poucas variantes, a forma de transmissão precisa de um contacto próximo, muito próximo, enquanto a Covid-19 não precisava disto. Então, tem aspetos muito relacionados ao patógeno e também tem aspetos relacionados a medidas de controlo que limitam”, explicou o responsável.
As autoridades de saúde moçambicanas afirmaram, na quarta-feira, que mais de metade dos casos confirmados de mpox em Moçambique já estão recuperados e sem registo de óbitos.
“Do total de 38 casos positivos, 20 estão atualmente recuperados da doença e já tiveram alta domiciliar. Até agora não tivemos nenhum óbito pela doença e esperamos, gostaríamos e estamos a trabalhar para evitar que tenhamos óbitos pela doença no país”, disse o diretor nacional de Saúde Pública, Quinhas Fernandes.
A mpox é uma doença viral zoonótica, identificada pela primeira vez em 1970, na República Democrática do Congo. No atual surto, na África austral, desde 01 de janeiro, já foram notificados 77.458 casos da doença, em 22 países, com 501 óbitos.
O primeiro caso de mpox em Moçambique aconteceu em outubro de 2022, com um doente em Maputo. O coordenador do COESP, órgão da Direção Nacional de Saúde Pública, aponta a capacidade de testagem que agora existe nas províncias, com 4.000 testes disponíveis e mil para análises de reagentes para identificar estirpes de casos positivos, como a grande mudança em três anos.