Fundação Jornada tem 360 mil euros para projetos de jovens após JMJ


Dois anos depois do Papa Francisco se ter despedido de Lisboa e da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a Fundação que geriu o evento muda de nome – passa a chamar-se Fundação Jornada – e anuncia a abertura de um concurso de apoio aos jovens.
Em entrevista à Renascença, a diretora-executiva da nova Fundação Jornada, Marta Figueiredo, explica que vão lançar a 16 de outubro o primeiro “concurso-piloto”. A ideia é que haja dois concursos anuais para os quais está prevista uma verba total de 800 mil euros.
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“Neste primeiro ano vamos lançar um concurso piloto para receber candidaturas de projetos e iniciativas focadas nos jovens, ou lideradas pelos jovens, entre os 15 e os 35 anos, nas áreas da educação, formação, espiritualidade, saúde mental, liderança e cidadania”, detalha.
Segundo a responsável, “todos os jovens podem candidatar-se, mas “o foco é que o público-alvo seja residente em Portugal”. Contudo, a candidatura poderá ser também de uma “qualquer entidade constituída legalmente em Portugal”.
Para este primeiro concurso é disponibilizada uma verba total de 360 mil euros. Cada projeto será apoiado “até um valor máximo de 30 mil euros”, indica Marta Figueiredo.
Também em entrevista à Renascença, D. Alexandre Palma, presidente da Fundação Jornada, sublinha que a ideia da Fundação é não ser “apenas financiadora”.
“Quer estar como amiga, parceira, suporte e como capacitadora dos jovens. Queremos fazer um caminho com os jovens. Não queremos apenas vê-los fazer esse caminho”, refere o também bispo-auxiliar de Lisboa.
Afinal, para onde vão os 35 milhões de lucro da JMJ?
Nesta “segunda fase” da vida da Fundação Jornada, como lhe chama D. Alexandre Palma, vão aplicar o dinheiro que resulta do lucro gerado pela Jornada Mundial da Juventude.
Questionado pela Renascença sobre o uso dos 35 milhões de lucros, D. Alexandre Palma começa por indicar que “o projeto de Fundação é perpetuar o seu fundo, ou seja, não é depauperá-lo”.
O presidente da Jornada vai mais longe e explica que têm como “objetivo” enriquecer esse fundo dos 35 milhões de euros.
“Vamos redistribuir os proveitos que este património gera. Neste sentido, é de maneira muito semelhante ao que boa parte das fundações que têm um fundo próprio e financiam as suas atividades funcionam”, esclarece.
Segundo as palavras de D. Alexandre Palma “o que se trata é de conservar e multiplicar este fundo”. Vão assim, “distribuir os proveitos desse fundo pelos jovens”, sublinha o bispo-auxiliar, acrescentando que esperam desta forma “beneficiar” várias gerações de jovens.
“Vai impactar muito mais a juventude do que apenas aqueles que têm a sorte de ser jovens neste tempo”, diz D. Alexandre Palma, que recorda que o legado da JMJ é um “património estável”, de uma “escala extraordinária” e que “é um bem”.
“O património material da Fundação é um bem, não é um mal, mas o património da Fundação não é apenas o património material. Há aqui um sonho, um ideal que não é apenas traduzível, nem quantificável. Este valor material, resulta de um número extraordinário de peregrinos, da enorme generosidade de voluntários e parceiros de toda a ordem e grandeza”, destaca.
Não esquecendo o trabalho de D. Américo Aguiar, que liderou a JMJ, e de D. Manuel Clemente, então cardeal patriarca, D. Alexandre Palma refere que tiveram “uma visão de estratégia, rigor e transparência ao nível da gestão” que foi “muito importante”.
“A fé move, a ação multiplica” é o lema da Fundação
“É uma Fundação focada nos jovens, para os jovens, pelos jovens e com os jovens”, destaca Marta Figueiredo. A diretora-executiva lembra o legado da JMJ de Lisboa para sublinhar que querem “devolver aos jovens a confiança no futuro, dar-lhes o que eles precisam, capacitá-los com as competências para tomar decisões”.
Seguindo o lema da Fundação “A fé move, a ação multiplica”, querem ir ao encontro da “experiência dos jovens com o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude”.
“É esta adesão que houve movida pela fé e que agora, segundo o convite do próprio Papa, chama os jovens à ação, transformação e multiplicação”.
Recordando as recentes palavras do agora Papa Leão XIV no Jubileu dos Jovens, é pedido à nova geração que sejam “agentes de transformação e esperança”.
Como será a intervenção da Fundação?
“O modelo de intervenção da Fundação será sempre através de quem já está no terreno”, indica Marta Figueiredo. “O nosso grande objetivo é potenciar aqueles que são os projetos que trabalham para os jovens ou são liderados por jovens”, refere a diretora-executiva da Fundação Jornada.
Marta Figueiredo esclarece que não irão atuar diretamente, mas sim, “através dos jovens e dos seus projetos.
Questionados sobre se irão atuar na área da habitação que muito preocupa a nova geração, D. Alexandre Palma afirma: “Não ignoramos que esse é um desafio muito importante da juventude, mas devo dizer que a escala do problema, no contexto nacional, é tal que vai muito além do que uma fundação como a nossa pode fazer”.
“Nós estamos com os jovens nos seus problemas, e também estamos com esse. Apesar da nossa escala grande, é muito pouca para o tamanho do desafio social que temos entre nós”, sublinha D. Alexandre Palma.
Também Marta Figueiredo lembra o momento da Via Sacra em Lisboa em que foi feito um levantamento dos problemas dos jovens: “percebemos que são inúmeros os desafios que existem, e a habitação é, sem dúvida, um desses temas, mas à medida que íamos fazendo o aprofundamento desta decisão de onde é que nos queremos focar, foi ficando cada vez mais claro que o nosso foco é o jovem”.
“Não podemos resolver todos os problemas”, esclarece Marta Figueiredo. “Vamos capacitar os jovens para que eles próprios sejam capazes de enfrentar os desafios”, afirma a responsável.
O novo Papa Leão XIV e os jovens
A mobilização da juventude portuguesa no recente Jubileu dos Jovens, que decorreu em Roma, é resultado ainda da JMJ de Lisboa, diz D. Alexandre Palma.
“É fruto de toda a ação, de todas as dioceses em Portugal, sem exceção, de todos os organismos ligados à Pastoral Juvenil, e de toda a sociedade portuguesa”, elenca o bispo-auxiliar de Lisboa.
“Creio que os frutos das jornadas não se podem ver de forma miope”
Para o presidente da Fundação Jornada, “o tempo vai mostrar que os frutos da JMJ” resultarão a longo prazo. Contudo, a “experiência em Roma nestes dias” revela uma “enorme janela de esperança para a Igreja em Portugal e para a sociedade portuguesa”.
Ao escutar as palavras do Papa Leão XIV aos jovens, D. Alexandre Palma confessa que sente que vai ao encontro do trabalho que têm desenvolvido na Fundação portuguesa.
“É uma enorme confirmação. Nós já tínhamos acertado entre nós que queríamos jovens agentes de esperança. Quando na abertura do Jubileu, o Papa se dirige pedindo-lhes que eles sejam sinais de esperança, nós achamos, quem nos está a conduzir não é apenas a nossa reflexão, é também a providência divina”.
Nas palavras de D. Alexandre Palma, os jovens são “um potencial de bem”. “Há uma capacidade de bem extraordinária entre a juventude. Isto não branqueia que não existam problemas. Mas há um potencial na juventude, uma capacidade que todos nós, sociedade e igreja, não estamos a saber beneficiar suficientemente”, critica o responsável.
“Aos jovens que queiram ser agentes de esperança, convidamos a vir connosco nesta jornada” convida o presidente. Também Marta Figueiredo lança “um convite ao coração dos jovens, para que se aproximem” da Fundação Jornada que agora começa uma nova etapa.