Mulheres sem poder votar? Secretário da Defesa dos EUA partilha declarações de pastor que apoia ideia

O secretário da Defesa dos Estados Unidos da América (EUA), Pete Hegseth, partilhou um vídeo em que dois pastores afirmam que as mulheres não deveriam ter direito de voto. O acto originou vários protestos e críticas contra o responsável norte-americano, que mantém a publicação na página oficial.
Pete Hegseth republicou na rede social X (antigo Twitter) um vídeo sobre o pastor Doug Wilson, um nacionalista cristão que tem uma relação de proximidade com o governante e que pretende transformar os Estados Unidos numa “nação cristã”.
O pastor foi entrevistado para um programa da CNN sobre o movimento cristão e as suas relações com o poder nos EUA. Durante a entrevista, disse que a principal função das mulheres é servir como um veículo de reprodução, considerando que estas não devem ocupar cargos de liderança na Igreja ou nas forças armadas norte-americanas.
All of Christ for All of Life. https://t.co/QqXhqZFStv
— Pete Hegseth (@PeteHegseth) August 8, 2025
“All of Christ for All of Life”, escreveu Hegseth a acompanhar a partilha. A frase, que se traduz para “Tudo de Cristo para Toda a Vida” é uma expressão usada por cristãos nos Estados Unidos que defende a incorporação dos ensinamentos de Jesus Cristo em todos os aspectos da vida quotidiana.
“As mulheres são o tipo de pessoas das quais as pessoas saem. Não é preciso nenhum talento para reproduzir biologicamente. A mãe e esposa, chefe-executiva de um lar, tem a responsabilidade sobre três, quatro ou cinco almas eternas”, disse Doug Wilson.
Outro dos pastores entrevistados pela CNN para o mesmo segmento foi Toby Sumpter. O responsável pela Igreja King’s Cross, no Idaho, defende que sejam os homens a votarem pelo agregado familiar.
“Na minha sociedade ideal, votaríamos por agregado familiar. Eu seria, normalmente, quem depositaria o voto, mas fá-lo-ia depois de o ter discutido com a minha família”, adiantou o pastor. Se as opiniões políticas entre marido e mulher fossem diferentes, este estaria aberto a uma discussão, garante.
O pastor Doug Wilson defende a criminalização da homossexualidade, prevendo que, daqui a 250 anos, a nação norte-americana seja totalmente cristã. Questionado sobre declarações polémicas na década de 1990 sobre a escravatura, o pastor reforça a crença de que existia um “afecto mútuo” entre escravos e os seus proprietários.
“Depende dos donos e dos escravos que falamos. A escravatura era vigiada e conduzida por pessoas com falhas. Houve abusos horrendos, mas também existiam pessoas que tinham escravos, eram pessoas decentes e não os maltratavam. Mas não era um sistema bíblico e fico feliz que tenha acabado”, finaliza.
Pete Hegseth foi apresentador da Fox News e chamado por Trump no final de 2024 para assumir a pasta de secretário da Defesa. Antes de ser escolhido pelo Presidente norte-americano, o responsável foi afastado da tomada de posse de Joe Biden, em 2021, por ser extremista e defender uma cruzada por um mundo branco, cristão e patriarcal.
Em declarações à Associated Press citadas pelo Guardian, Doug Pagitt, pastor e líder da organização evangélica progressista Vote Common Good, disse que as ideias partilhadas no vídeo são defendidas por uma “pequena franja” dos cristãos, considerando “perturbador” que o responsável as dissemine nas redes sociais.
A nomeação de Hegseth, de 45 anos, foi criticada no Partido Democrata e nas estruturas militares dos EUA, mas também na ala mais tradicional do Partido Republicano, na óptica da sua falta de experiência para o cargo.
