Lamento o transtorno causado ao leitor


Caro leitor, tenho uma dúvida. O que faria se, sistematicamente, numa utilização diária, tivesse de ser sujeito a um transtorno habitual? Imagino que o leitor iria tentar fazer algo para eliminar esse incómodo. Se fosse o trânsito, iria tentar arranjar alternativas, ou até alterar horários, se possível.
Imagine agora leitor que utiliza a CP (Comboios de Portugal) e que esse transtorno é o atraso gerado. Imagine agora, para aumentar a situação enfadonha, que esse atraso era diário. Todos os dias aquele comboio chegava atrasado. Imagine que essa situação lamentável acontece, à hora que escrevo este texto, há mais de 7 meses.
O que pode o utilizador fazer perante esta situação logo no primeiro mês de atrasos sistemáticos? Primeiro passo é questionar o revisor. O leitor, que é também utilizador assim faz.
Que resposta obtém do operador? Interferências na circulação (obras), gestão da rede e serviços ferroviários, material circulante não é eficiente para aquele serviço (são composições duplas da série 2240) que pelo que percebi não tem a mesma eficiência.
Muito bem, o leitor e utilizador aguardará mais um tempo para ver se a situação é agilizada. O revisor não sabe quando a situação voltará ao normal, mas o leitor é paciente.
Passados três meses dos primeiros atrasos recorrentes induz uma reclamação na CP. Bom cidadão. A resposta do operador do material circulante além de semelhante ao do revisor, termina com o “lamentamos os transtornos causados”. Fica tratado com o “lamento”.
Que fará o leitor e utilizador deste serviço perante estes meses de atraso? Apanha o comboio 1h mais cedo para não ser sujeito a isso? Atrasa-se a sair de casa para não apanhar o atraso acumulado? Muda de meio de transporte público? Qual? Vai 50 minutos mais tarde?
O leitor ainda fez um apanhado até para facilitar o operador do material circulante, do mês de julho de 2025 dos atrasos naquele comboio nº15707. Em 23 dias úteis de trabalho, conseguiu 2 dias sem atraso acima de 5 minutos. Nesses 21 dias de atrasos apanhou atrasos de 23 minutos por três vezes. Portanto, o leitor e utilizador deste serviço já sabe que em média ficará à espera na estação 11 minutos a mais do que o normal.
E porque não mudar a hora do comboio se está sempre atrasado, quase todos os dias, desde o início do ano? Revejo novamente a resposta: “A pontualidade é uma preocupação constante da CP”.
O leitor, esperto, olha para o painel de informação onde diz o horário do comboio e o destino e a “Nova Hora: xx:xx”. Não vê na verdade. O utilizador não vai observar porque não existe a parte da “Nova Hora”. Que transtorno: o utilizador chega à estação, sabe que encontra atraso, não sabe quanto tempo. Eventualmente a voz a lamentar o atraso falará, se falar. Isto se tiver do lado certo da linha. Do outro lado, não se ouve.
O utilizador incomodado, reclama ao gestor da infraestrutura, neste caso a IP (Infraestruturas de Portugal) sobre este outro transtorno.
O gestor informa que “a sua reposição será feita logo que estejam reunidas as condições necessárias”, encontrando-se a “reparação dos equipamentos em fase de adjudicação”, “estimando-se” resolver a situação até ao final do terceiro trimestre do presente ano. O que aconteceria se o utilizador e leitor não reclamasse?
Porque não informa a CP (dona do material circulante) ou a IP (dona do painel de informação e do altifalante) do motivo do atraso? Porque não posso eu saber o motivo do atraso? É o utilizador assim tão asno que não irá perceber? Se é obras que digam, se é acidente que digam, se não há maquinista que digam. Porra pá!
Ninguém supervisiona o estado da infraestrutura? Não há fiscalização? Não há nenhum funcionário capaz de fazer essa verificação? Até pelas câmaras (trabalham?) nas estações conseguem ver isso.
É preciso ser um cliente a reclamar? Lembre-se, se vir um buraco na estrada, ou a vegetação a tapar o caminho o mais provável é ninguém ter reclamado. Maldito povo! Malditos serviços. Que faz a junta de freguesia se não fiscaliza o local onde estão os cidadãos? Um marasmo…
É lamentável falarmos de alta velocidade, quanto tempos problemas surreais na baixa velocidade. Não temos plataformas decentes. Temos avarias constantes de elevadores. Deficiente comunicação com o utilizador. Não temos material circulante decente. Não temos casas de banho numa viagem de 1h. A maior parte das estações e apeadeiros tem edifícios abandonados. Deixamos de operar em linhas passadas. Fazemos obras inúteis na ferrovia.
Lamento o transtorno causado ao leitor. Que pode o leitor fazer mais?