Governo dos Açores quer mais navios a transportar carga para as ilhas

A secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores, Berta Cabral, assegurou esta quinta-feira que o Governo Regional está a “envidar esforços” junto dos armadores para aumentar o número de navios de transporte de carga para as ilhas do arquipélago.

Berta Cabral, segundo uma nota de imprensa, assume que o governo dos Açores “reconhece que as alterações nos itinerários e o substancial aumento da carga transportada para as ilhas e interilhas têm vindo a causar vários transtornos a empresas e particulares”.

“Estamos a envidar esforços junto dos armadores para que estes aumentem o número de navios de transporte de carga para as ilhas açorianas”, afirmou.

Na quarta-feira, a Câmara de Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH) considerou que há “disfunções graves” nas ligações marítimas de mercadorias para a ilha Terceira, o que afeta o abastecimento de bens.

Em comunicado, a direção da CCIAH refere que a ilha “enfrenta atualmente uma crise séria no abastecimento de bens essenciais”, devido a “disfunções graves nas ligações marítimas que asseguram o transporte regular de mercadorias”.

A titular da pasta da Mobilidade, ainda na nota de imprensa desta quinta-feira, refere que “se têm verificado muitas alterações de itinerário — um total de sete neste mês de agosto”, situação que “tem vindo a complicar a gestão da carga por parte dos empresários”.

Para Berta Cabral, “é cada vez mais percetível que não existe capacidade instalada para transporte de todas as mercadorias para a região, principalmente nos meses de verão”.

De acordo com a governante, nos últimos anos verificou-se um crescimento médio da carga transportada (carga e descarga nos portos regionais) em 10%, mas assegurou que não houve qualquer cancelamento de navios para nenhuma ilha.

Incêndios. Apoio europeu poderá ser ativado se Marrocos não prolongar cedência dos Canadair

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O comandante nacional da Proteção Civil disse esta quinta-feira que o mecanismo europeu de proteção civil poderá ser ativado caso Portugal não consiga prolongar a permanência dos dois aviões Canadair de Marrocos.

“Daquilo que for o resultado das nossas diligências junto do Reino de Marrocos, iremos avaliar a necessidade, ou não, da ativação do mecanismo europeu de proteção civil relativamente à mobilização de meios aéreos. Iremos avaliar, mas, em princípio, se Marrocos continuar a manter essa disponibilidade, não iremos fazer essa ativação, uma vez que, inclusivamente, já temos os outros dois Canadair operacionais”, disse o comandante nacional de Emergência e Proteção Civil, Mário Silvestre.

O responsável, que falava aos jornalistas no briefing diário de balanço do combate aos fogos florestais, garantiu que quatro Canadair são suficientes para o combate aos fogos.

“Nós, com quatro Canadair e com os restantes meios aéreos, teremos, por certo, os recursos necessários para fazer face ao problema que temos”, disse.

Mário Silvestre disse ainda que foi pedido às Forças Armadas um reforço de meios militares no terreno, sobretudo para situações de consolidação e rescaldos de incêndios, permitindo com isso libertar operacionais para o combate às chamas, para além de terem sido pedidas mais máquinas de rastos.

Minutos depois de ter terminado o briefing, o Ministério da Defesa anunciou, em comunicado, a disponibilização pelo Exército de três pelotões de rescaldo, num total de 60 militares que integram os cerca de 300 que este ramo militar tem diariamente no terreno.

No balanço desta quinta-feira, até às 17h00, Mário Silvestre destacou 73 ocorrências, sete das quais durante a noite, que envolveram 1.982 operacionais, 509 meios terrestres e 169 missões aéreas, acrescentando que os incêndios de Trancoso, que já lavra desde dia 9, de Sátão, de Piódão, em Arganil, que terá começado devido a trovoada, Cinfães, Lousã e Portalegre são as situações mais preocupantes para a Proteção Civil atualmente.

Destacou ainda o incêndio junto à fronteira com Espanha, na zona de Chaves, em área de parque natural que já está a chegar a território nacional e que levou os bombeiros portugueses a ajudarem os vizinhos espanhóis no combate.

[Um homem desobedece às ordens dos terroristas e da polícia e entra sozinho na embaixada. Momentos depois, ouve-se uma enorme explosão“1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto a embaixada turca em Lisboa e uma execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. É narrada pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Ouça o quarto episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube MusicE ouça o primeiro episódio aqui, o segundo aqui e o terceiro aqui]

Foram assistidos oito bombeiros, por ferimentos ligeiros, sete dos quais com necessidade de deslocação a hospital. Foram também transportados ao hospital três civis, um dos quais considerado ferido grave na sequência de um despiste.

Atualmente estão em vigor Planos Municipais de Emergência e Proteção Civil nos concelhos de Trancoso, Oliveira do Hospital, Arganil, Aguiar da Beira, Sátão e Sernancelhe.

Mário Silvestre apelou para um comportamento responsável das populações e para que acatem os conselhos das autoridades, nomeadamente sobre ordens de evacuação e o uso de fogo, sobretudo, neste último aspeto, no dia de sexta-feira, considerando crítico evitar novas ignições.

“É crítico. Já temos sete ocorrências [preocupantes]. Há ocorrências destas que estão em curso que vão, sem dúvida nenhuma, passar para o dia seguinte. E, portanto, o dispositivo e Portugal não podem ter mais ignições no dia de amanhã. E, portanto, isto é, no fundo, o apelo que fazemos a todos os portugueses”, disse.

Ainda assim, considerou que apesar do desgaste provocado por vários dias de combate, o dispositivo “continua com a capacidade de ataque inicial praticamente intocável”.

“A prova disto é o incêndio de Portalegre, onde temos um incêndio completamente fora da zona onde estavam a decorrer os outros incêndios e o dispositivo conseguiu reagir em ataque inicial e colocar muito rapidamente cerca de 180 homens naquele teatro de operações”, exemplificou.

Destacou ainda a capacidade que tem existido de rotatividade, rendição e descanso de meios humanos no terreno, garantindo a resposta do dispositivo.

Sobre as críticas de falta de meios no terreno de autarcas e populações, que por vezes se dizem sozinhas sem qualquer corporação nas suas localidades, Mário Silvestre disse compreender as críticas, mas sublinhou que o combate é feito de acordo com as prioridades estabelecidas, colocando os meios onde é mais urgente a cada momento.

Ainda assim, reconheceu que haverá momentos em que os meios chegam “um pouco mais tarde do que o previsto”.

O comandante nacional explicou ainda, sobre o risco de incêndio previsto para sexta-feira, que a Proteção Civil trabalha com um índice de referência para aferir a “severidade do comportamento de incêndio” e que este se encontra nos “níveis mais elevados” desde julho.

“Amanhã [sexta-feira] temos, sem dúvida nenhuma, os índices mais elevados durante este período, muito em virtude do vento que se verá sentir em algumas das regiões, que vão influenciar diretamente, no fundo, o aumento desse índice de representatividade da severidade dos incêndios”, disse.

Portugal está em situação de alerta devido ao risco de incêndio desde 2 de agosto e nas últimas semanas têm deflagrado vários incêndios no norte e centro do país que já consumiram mais de metade dos cerca de 75 mil hectares de área ardida este ano.

Marcelo lamenta morte “precoce” de Teresa Caeiro

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “lamenta profundamente” a morte “precoce” de Teresa Caeiro, antiga deputada do CDS, secretária de Estado e vice-presidente da Assembleia da República.

Numa mensagem publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa escreve que Teresa Caeiro “deixa uma enorme saudade do seu contributo ao serviço do país e do trato sempre afável”.

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“Neste momento de perda, o Presidente da República envia à Família e aos amigos as mais sentidas condolências”, sublinha o Presidente da República.

João Almeida, deputado do CDS-PP, considera que a solidariedade e o serviço público foram a marca de Teresa Caeiro.

Em declarações na SIC Notícias, o parlamentar considera que foi assim nas passagens de Teresa Caeiro pelo Governo Civil de Lisboa, na Secretaria de Estado da Segurança Social ou no Parlamento.

“Muita gente que ia ter com a Teresa e encontrava ali uma esperança que muitas vezes se conseguiu concretizar numa solução. Pondo de parte partidos e ideologia. Era preciso era ajudar as pessoas a resolver os seus problemas.”

João Almeida considera que a morte de Teresa Caeiro é uma “notícia trágica e brutal”.

“Deixa um vazio enorme para toda a gente que conheceu a Teresa. A Teresa vivia o serviço público de uma maneira muito própria, com uma dedicação… E o desempenho de cada cargo a tentar ajudar as pessoas que iam ter com ela, fossem quem fossem. E quanto menos possibilidade essas pessoas tivessem de fazer ouvir a sua voz, mais a Teresa se empenhava”, sublinha.

Teresa Caeiro morreu esta quinta-feira, 14 de agosto, aos 56 anos.

O peso da Imigração: afinal, quem paga a conta

Andamos a falar ideologicamente de imigração há meses. Parece que – como em todos os assuntos em 2025 — metade do país está à esquerda a defender mais imigrantes e as suas contribuições (ignorando os seus gastos), enquanto a outra metade os culpa por todos os problemas do país (ignorando os seus efeitos positivos). Afinal quem tem razão?

O relatório da Comissão Europeia, publicado pelo Joint Research Centre, rompe com mitos da esquerda romântica e da direita populista. Vamos a factos.

Este estudo avaliou a contribuição fiscal líquida – diferença entre impostos pagos e benefícios recebidos – entre 3 grupos: nativos, migrantes intra-UE (nascidos noutro país da UE) e migrantes extra-UE (nascidos num país fora da UE).

Apoiado na dupla de modelos econométricos EUROMOD e CEPAM-Mic, o estudo oferece-nos um retrato rigoroso e incómodo: a sustentabilidade fiscal dos Estados europeus está em causa, e os imigrantes têm um papel ambíguo, mas crucial.

Ao dia de hoje, os cidadãos nativos da UE são contribuintes líquidos, ou seja, pagam mais impostos do que aquilo que recebem. Porém, em 2035, essa tendência inverter-se-á. Devido ao envelhecimento demográfico, estes contribuintes passarão a ser beneficiários líquidos (pensões e apoios), com um saldo médio negativo.

No futuro, os migrantes de países intra-UE manter-se-ão como contribuintes líquidos, enquanto os de fora da UE passarão também a ser beneficiários, embora em menor grau (envelhecimento dessa população).

Contrariando soluções simplistas, o estudo esclarece que não basta receber mais migrantes pois o aumento do fluxo por si só, gera apenas ganhos fiscais marginais e acarreta despesas relevantes. Só a integração plena (entendida como acesso ao mercado de trabalho em condições equivalentes aos nativos) permite ganhos significativos. Com integração laboral plena conseguimos que um migrante extra-UE possa contribuir sensivelmente o mesmo que um nativo.

Ficamos assim a saber que, se nada for feito para inverter esta imigração “à lá geringonça”, teremos apenas pequenos ganhos fiscais com a imigração, mas um grande aumento dos custos, pois estas pessoas usam os serviços e infraestrutura nacionais e vão receber pensões no futuro.

Mas porque contribuem menos os migrantes de fora da UE? A razão prende-se com serem pessoas que enfrentam situações de desemprego mais prolongado (sobretudo logo após a chegada) e padecem de taxas de emprego mais baixas devido a assumirem mais empregos precários, informais ou de baixos salários, reduzindo assim os impostos por si pagos enquanto utilizam a infraestrutura existente, como por exemplo o SNS.

Estas pessoas geralmente não dominam a língua local (excepção aos brasileiros e PALOPS em Portugal e veja-se a facilidade de adaptação muito superior aos restantes migrantes), o que limita fortemente o acesso a empregos qualificados. Têm, igualmente, dificuldade em que as formações obtidas fora da UE sejam reconhecidas pelos países comunitários. Deste modo acabam muitas vezes a trabalhar abaixo das suas qualificações, reduzindo assim a produtividade e o salário.

Em alguns casos, há também isolamento comunitário ou resistência à assimilação devido à cultura e/ou religião, o que dificulta a inserção plena na sociedade mas esta situação tem variações regionais e não deve ser generalizada, dependendo de como o país anfitrião estrutura a integração.

Concluiu-se assim que, os migrantes extra-UE contribuem menos porque o sistema os integra mal, não porque sejam inerentemente menos produtivos ou menos desejáveis.

A idade e o nível de escolaridade são igualmente importantes. Imigrantes que chegam em idade ativa e tendem a equilibrar o peso fiscal do envelhecimento são, naturalmente, mais importantes que pessoas com mais idade.  Migrantes intra-UE têm, em média, maior escolaridade e melhores indicadores laborais que os extra-UE e o seu sucesso fiscal associa-se assim à integração plena no mercado de trabalho.

A narrativa da deportação em massa promovida por partidos populistas é politicamente sedutora, mas economicamente ruinosa e logisticamente impraticável. Os custos de deportar centenas de milhares de pessoas, associado a processos legais (suponho que não queremos abdicar do Estado de Direito que somos), logísticos, diplomáticos e sociais, ultrapassariam largamente os seus alegados benefícios económicos.

Além disso, deportar um jovem em idade ativa é desperdiçar um potencial contribuinte. Mesmo adoptando um ponto de vista puramente utilitário, faz mais sentido investir na sua formação, aprendizagem da língua e integração laboral do que abdicar desta força de trabalho.

O Partido Socialista em Portugal e parte da esquerda europeia falharam ao acreditar que bastaria acolher para integrar. A integração exige estratégia, investimento e exigência. A resposta não pode ser um fecho de fronteiras movido a medo assim como não podemos receber um número de pessoas sem limite. Não podemos ter um acolhimento ingénuo, mas também não podemos adoptar a xenofobia como solução para os problemas.

O que a sociedade precisa de pragmatismo e entender que não podemos assumir que a imigração é a solução para todos os problemas de natalidade sob a assunção de que os migrantes não envelhecem e quando envelhecerem, continuamos a receber pessoas em idade produtiva para alimentar o ciclo.

Os próximos anos serão anos de mudanças radicais no mercado de trabalho, digitalização e principalmente automação. O ser humano enquanto trabalhador será cada vez menos necessário e as sociedades devem planear o futuro e não apenas viver para os próximos 5 anos. Portugal precisa de um determinado número de migrantes sim, mas plenamente integrados assim como precisa de políticas de natalidade activas como a isenção vitalícia de IRS para famílias com mais de 3 filhos, apoios habitacionais e de creches (que existam), licenças parentais e de maternidade alargadas ou financiamento da fecundação in vitro.

Podemos e devemos acolher sem perder a nossa cultura. A língua, a história e as tradições são reforçadas quando partilhadas e não quando empurradas para trincheiras ideológicas para beneficio político.

A grande questão não é “imigração: sim ou não?”, mas sim “que tipo de imigração e como a integrar?”.  A imigração é apenas parte da solução para o problema demográfico, visto que a maioria dos residentes será sempre beneficiária liquida. O verdadeiro desafio é o envelhecimento das populações activas antes de uma era em que a robotização consiga ser banalizada. Não há mal nenhum em termos um país de 6 milhões com qualidade de vida e os sectores produtivos robotizados, mas simplesmente ainda não estamos nessa era.

Os números não mentem, mas o discurso político muitas vezes mente sobre os números: só existem ganhos fiscais significativos quando os migrantes participam no mercado de trabalho ao mesmo nível que os nativos. Apenas uma integração eficaz, justa, humanista, exigente e estratégica pode assegurar a sustentabilidade fiscal e a coesão social.

É fundamental não diabolizar, mas dar maior atenção à selecção e qualificação dos migrantes, assumindo a imigração uma nova centralidade, mas não invalidando a necessidade de reformas estruturais nos sistemas de bem-estar e nas políticas de incentivo à natalidade. Cortes arbitrários e ideológicos na imigração vão poupar pouco e custar caro a longo prazo, mas investir na plena integração é uma aposta de retorno garantido.

Quando Viana se veste de Agonia

Perguntar a alguém de Viana “o que são as festas da Agonia?” é o mesmo que lhe perguntar “qual é o sentido da vida?”. E o único prejuízo disso é não ter de ler Shakespeare, Homero ou Flaubert para se saber a resposta.

Cada tempo teve as suas tentativas de obra de arte total. De unificar todas as formas de beleza numa só. Platão teve a República. A Idade Média, as catedrais. O iluminismo, a Enciclopédia. Wagner, a Ópera. Viana tem a Romaria da Senhora da Agonia.

Como Roma, há cidades fundadas sob um mito. Como Alexandria, há cidades fundadas sob um nome. Como Jerusalém, há cidades fundadas sob uma promessa. Viana, ao invés, é fundada sob uma festa. E se é verdade que Viana existia muito antes de haver Romaria, como havia Constantinopla antes de Constantino, e Atenas antes da Democracia, Viana é, hoje, o outro nome da Agonia.

Como muitas festas que povoam Portugal, a Romaria da Senhora da Agonia não é só uma Romaria. Quando estava doente, a minha avó não fazia questão de ir a um restaurante, nem de viajar até algum lugar. Mas não quis perder a Romaria. Quando vinha de ir às compras, ao talho ou à mercearia, não parava na biblioteca nem no café. Mas subia o escadório, para repousar dentro da igreja da Senhora da Agonia. Nunca ouviu Bob Dylan comigo. Nunca leu um livro de Agostinho ou de Tomás de Aquino. Nunca me levou a um museu. Mas andou comigo nos carrosséis. Levou-me a comer farturas. Comprou-me um chapéu verde tropa, para me proteger do Sol nas procissões. Cantou, várias vezes, o “Havemos de ir a Viana” ao meu lado.

Por isso, a Romaria é como a liberdade. Não é parolice. Nem o Alto-Minho Pop das manhãs televisivas. Porque aqui ninguém é figurante do Portugal dos Pequeninos. Como também não é resistência cultural ou ativismo. É outra coisa. Não é uma feira medieval com trajes regionais e procissões. Não é uma despedida de solteiro. Não é um passado distante. A Romaria é a Romaria. E a Romaria é de todos.

Durante as Festas d´Agonia, Viana está para além da verdade e da mentira. É como a Dublin de Joyce, a Rússia de Dostoiévski e Tolstói, o Inferno de Dante ou a Macondo de García Márquez. Não adianta perguntar se existe ou não; se tudo é real ou se tudo faz sentido. Porque como nos livros, tudo só vale a pena depois de um mergulho. De nada serve ficar na prancha.

Por estes dias, Viana torna-se uma epopeia, mas onde as personagens não têm uma história gloriosa para contar. Apenas procuram o seu autor. Todos somos órfãos de algo ou de alguém, que se busca na rua. E ainda assim, não vamos à Romaria para encontrar nada. Vamos para nos perdermos. Acima de tudo, para perder a certeza de que a vida é sempre igual.

Numa crónica curiosa, Miguel Esteves Cardoso diz que em Viana “não se esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista”. E é verdade. Viana é como uma parábola. Daquela onde se conta a chegada de um grande exército a uma pequena cidade para reclamar as suas riquezas e o seu tesouro. Onde essa mesma cidade o coloca diante dos soldados, com gosto, sem truques, sem jogos, e ainda insiste: não lhe querem tocar, levem uma pecinha convosco, e não levem só uma, que só uma seria uma desfeita. E onde, depois disso, o exército se sente incapaz de saquear seja o que for. Porque em Viana, na Romaria, desarma-se um exército não pela força, mas pela claridade.

A candidatura de Cotrim coloca um dilema a Ventura

Cotrim percebeu duas coisas e agiu com rapidez. Uma, havia claramente um vazio que as candidaturas de Seguro, de Gouveia e Melo e de Marques Mendes não preenchem. As três candidaturas estão viradas para o centro, e são candidaturas do status quo. Mesmo Gouveia e Melo, que se apresentava como um “candidato anti-sistema”, perdeu o efeito de novidade ao rodear-se de uma coligação tipo ‘bloco central’, cheia de figuras do sistema. Cotrim quer falar para o eleitorado mais de direita, mais jovem e mais anti-sistema, muito dele é o mesmo, visto que as últimas três décadas criaram um sistema socialista, de esquerda e de e para velhos.

Em segundo lugar, percebeu que seria essencial antecipar-se a uma candidatura do Chega. Ventura, com os seus instintos políticos apurados, também percebeu que a candidatura de Gouveia e Melo não servia os interesses do Chega. Foi ainda rápido a aproveitar a oportunidade do veto presidencial à lei da imigração para anunciar logo uma candidatura presidencial do Chega.

Mas Ventura cometeu um erro. Logo após o veto da lei da imigração, deveria ter anunciado a sua candidatura. Nenhum candidato do Chega vale metade do que ele vale. Mas perdeu rapidez porque quis ser institucional. Parece que aceita a validade da tese de que o líder da oposição não se deve candidatar a Belém, ou pelo menos hesita. Esses auto-limites institucionais aplicam-se aos partidos do sistema, e não ao Chega.

Agora está a atrasado em relação a Cotrim. Se apresentar a sua candidatura, vem tarde. Se não apresentar, e decidir que seja outro o candidato do Chega, corre um risco óbvio: o seu candidato ficar atrás de Cotrim Figueiredo. Se Ventura for candidato, no actual panorama, vai provavelmente à segunda volta e consolida o seu eleitorado. Se não avançar, muito possivelmente irá assistir Cotrim Figueiredo disputar a segunda volta.

Férias meditativas

Começo a apreciar este Governo, embora não esteja a apreciar este Governo. Esta declaração esquizofrénica requer explicação, mas primeiro vou dar uma volta. Com licença:

Suponho que não há quem não seja (tirando eu e um ou outro ocasional maduro) a favor da justiça social e da diminuição das desigualdades.

Deixemos em paz a justiça social, à qual cada um dá o conteúdo que quiser, mas sempre se resumindo nisto: fulano teve ou tem vantagens materiais sobre mim, uma grande injustiça, de modo que devo ser compensado e os meus filhos também no caso de não lhes ter podido dar vantagens sobre os filhos dos outros.

Se a diminuição da desigualdade é um bem, a igualdade é o maior bem que se pode obter. Mas como não há maneira de garantir que, na imensa variabilidade das competências, circunstâncias e interesses, todos atinjam os mesmos resultados materiais, haverá que pilhar os mais bem sucedidos a benefício dos restantes.

Nos bons tempos do marxismo não havia mistério: de cada qual segundo a sua capacidade (isto é, o que produzes não é teu), a cada qual segundo as suas necessidades (isto é, as que podem ser satisfeitas). A coisa ruiu porque implicava pessoas que não existem, aquelas que se esforçam a benefício não de si mesmas e dos seus filhos, mas da comunidade. E como as que existem são as que sempre existiram, com o tempo os regimes ficaram igualitários, mas com uns cidadãos mais iguais do que os outros; e o processo da criação de riqueza travou. Ainda há quem defenda este modelo falido e, por mim, são pessoas que encaro com ternura: quando ainda tinham poder, e portanto representavam um perigo, eu era novo e agora não sou. O perigo passou mas infelizmente também os anos, e de toda a maneira vejo com uma certa simpatia pessoas com ideias disparatadas; e, se se reclamarem de superioridade moral, acho-as até cómicas.

Quer dizer que a defesa explícita da igualdade absoluta na riqueza desapareceu; mas ficou a retórica e esta tem consequências até mesmo para aquelas pessoas exornadas de intelectos brilhantes e cultura histórica assinalável: a uma ouvi ser um atentado à humanidade a existência de magnatas americanos que têm riquezas superiores às do PIB de muitos países.

Têm sim senhor, e dificilmente teriam se não fossem americanos. O que é surpreendente é que não se ligue uma coisa à outra e não se perceba que é precisamente o culto da diferença e não da igualdade que explica o sucesso do modelo americano, em conjunto é claro com outros factores. Esses trilionários andam agora de faca nos dentes a investir em inteligência artificial sem que ninguém esteja certo de que seja uma aposta de sucesso, e menos ainda de que haja espaço para todos. Enquanto isso, a Europa social-democrata produziu já regulamentações daquela IA e os defensores da legislação, que são legião, e os críticos, que são menos, vão ventilar as suas divergências para as redes sociais… que são americanas porque o génio europeu está ocupado a produzir teorias, revoluções, regulamentações, redistribuições e perdigotos.

Para já, a Europa pode gabar-se da superioridade dos seus SNS, dos seus modelos sociais que se traduzem em férias pagas com muitos mais dias do que as americanas, protecção contra despedimentos e um imenso etc. que a faz olhar com desdém para o modo de vida americano. Excepto que a América, e a China, crescem muito mais do que a Europa, ano após ano, o que fará com que algures num futuro não muito distante o pobre americano seja tão rico como o médio europeu. Quem quer tudo e o seu contrário acaba por ficar mais do lado do contrário.

E então, que tem isto a ver connosco? Tem que nós temos um governo social-democrata, o que seria um mal com remédio, mas um eleitorado que também é, o que é difícil tenha emenda. O ministro da Reforma vai reformar, mas sem despedir ninguém, credo; a da Saúde quer acabar com aldrabices no apoio à amamentação para além dos dois anos dos infantes, cai o Carmo e a Trindade (a misturada disto com o necessário apoio à natalidade é um equívoco – quem tem de fazer isso é quem beneficia, isto é, a comunidade, não as empresas, e os apoios necessários devem ir muito além dos que existem); o da Educação quer reformar uma estrutura vetusta, suspeita e provavelmente endogâmica, e não só se vê nisso um imenso e atrevido passo, como gente de representação apresenta a coisa, sem se rir, como um ataque à ciência. Também quer, o pobre homem, que os organismos que têm por missão dar números sobre Educação deem números fiáveis, um evidente exagero.

Eu destes escândalos recentes do Governo gosto, da dimensãozinha modesta deles não. Voltando ao princípio, que não sou desses que começam por uma ponta e a páginas tantas já não sabem onde estão com a cabeça: estes tímidos começos vão na direcção certa mas de passos grandes não estou à espera.

Sucede porém que o Tribunal Constitucional acaba de dizer (creio, fui ler o Acórdão, mas às tantas os olhos lacrimejavam de cansaço e a cabeça estava a começar a zunir por causa de tantos nós cegos que se acumulavam nas meninges, razões pelas quais desisti) que quem cá está manda vir quem diga que é filho e, parece, a mulher com quem estava casado (não apurei se isso também se aplica às outras, no caso de ser casado com várias), além dos pais, tudo provado com documentos dos países de origem, além de uma extensa lista de outras correcções, todas militando no mesmo sentido: o que está está muito bem, na realidade não são precisas alterações nenhumas. Todavia, o TC não entende necessário, ao contrário do que pretendia o Presidente Marcelo, que para alterar as leis que regulam estas matérias fosse necessário ouvir cerca de 17.000 entidades, assim se garantindo a democraticidade e a entrada de mais algumas centenas de milhar antes de acabar a audição. Isto e muito mais, com tanta minúcia e tanta complicação inacreditavelmente prolixa que ninguém vai ler até ao fim, qualquer imigrante que tenha advogado poderá contestar tudo e o seu contrário e a Agência encarregada de regular o assunto fará o que lhe der na cabeça, certa de que encontrará sempre argumentos a favor nos dias ímpares do mês, e contra nos restantes.

Sobre este assunto há muitíssimo mais para dizer, mas o artigo não é sobre imigração, mas sim sobre o pendor reformista do Governo. E aqui cabe tirar o chapéu porque comprar uma briga com o Presidente Marcelo, a personificação do consenso dissolvente, do porreirismo e das reformas de faz-de-conta, não é coisa pouca. Existe um problema de imigração, o Governo quer resolvê-lo e Marcelo quer, como sempre quis, a mesmice do atoleiro e uma fotografia com um coraçãozinho em todas as salas de todas as casas do país.

Antes desta parte gaga do Acórdão tinha escrito, para acabar:

É o que temos: a Europa perde lugar no mundo e nós com socialistas perdemos lugar na Europa e, com social-democratas, talvez o mantenhamos. Esta diferença que nos faz originais quer dizer um de centro-direita e outro de centro-esquerda. O centro, como bem sabemos, é o lugar geométrico de coisa nenhuma.

E agora acrescento que Marcelo baralha as contas porque me esqueci dele, que é um resquício dos tempos de Costa: muita parra e nenhuma uva.

Nota editorial: Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não refletem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.

Praia da Nazaré reaberta a banhos

A praia na Nazaré, que se encontrava interdita a banhos desde terça-feira, foi reaberta cerca das 23h00 desta quinta-feira, com base nos resultados das análises realizadas pelo Instituto Ricardo Jorge, anunciou a Câmara.

Na sequência dos resultados da análise à qualidade da água da praia da Nazaré, realizados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a partir de colheitas efetuadas no dia 13 de agosto pelos técnicos dos serviços de saúde pública da Unidade Local de Saúde de Leiria, foi determinado o levantamento da interdição “da prática balnear, com efeitos imediatos”, avançou a Câmara da Nazaré, na sequência da informação recebida da Delegação Regional de Saúde do Centro da Direção Geral de Saúde (DGS).

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Num comunicado enviado à agência Lusa, o município acrescentou que “face a esta decisão, será providenciada a retirada dos avisos de interdição anteriormente afixados”.

Na terça-feira, a zona norte da praia da Nazaré, no distrito de Leiria, foi interditada a banhos, devido a uma obstrução na conduta de saneamento, junto à Praça Manuel Arriaga, que provocou uma escorrência de efluentes durante cerca de hora e meia.

Autarca admite "tentativa de sabotagem" na praia da Nazaré

Na informação enviada ao presidente da Câmara da Nazaré, Manuel Sequeira, os serviços de saúde pública sublinharam que “será reforçada a monitorização da rede pelas equipas competentes do município, de forma a prevenir ou detetar precocemente eventuais situações que possam conduzir a nova contaminação”, pode ler-se no comunicado.

No mesmo texto, a Unidade Local de Saúde (ULS) de Leiria esclareceu que continuará a assegurar a vigilância regular da qualidade da água balnear.

Esta foi a segunda interdição da praia a banhos desde o início do mês, depois de em 01 de agosto os banhos terem sido proibidos devido a uma descarga nos esgotos pluviais.

Na sequência do incidente, 116 pessoas foram assistidas na Unidade Local de Saúde (ULS) da Região de Leiria com sintomas relacionados com a contaminação da água.

Na quarta-feira, a ULS da Região de Leiria comunicou esta segunda interdição de banhos “não se registou um aumento de afluência aos Serviços de Urgência com sintomas gastrointestinais, resultado da atuação preventiva que desaconselhou de imediato o contacto com a água”.

A Câmara da Nazaré indicou, também na quarta-feira, não afastar a hipótese “de sabotagem” na conduta de saneamento e reconheceu a necessidade urgente de um investimento na substituição do sistema com cerca de 60 anos.

Lamento o transtorno causado ao leitor

Caro leitor, tenho uma dúvida. O que faria se, sistematicamente, numa utilização diária, tivesse de ser sujeito a um transtorno habitual? Imagino que o leitor iria tentar fazer algo para eliminar esse incómodo. Se fosse o trânsito, iria tentar arranjar alternativas, ou até alterar horários, se possível.

Imagine agora leitor que utiliza a CP (Comboios de Portugal) e que esse transtorno é o atraso gerado. Imagine agora, para aumentar a situação enfadonha, que esse atraso era diário. Todos os dias aquele comboio chegava atrasado. Imagine que essa situação lamentável acontece, à hora que escrevo este texto, há mais de 7 meses.

O que pode o utilizador fazer perante esta situação logo no primeiro mês de atrasos sistemáticos? Primeiro passo é questionar o revisor. O leitor, que é também utilizador assim faz.

Que resposta obtém do operador? Interferências na circulação (obras), gestão da rede e serviços ferroviários, material circulante não é eficiente para aquele serviço (são composições duplas da série 2240) que pelo que percebi não tem a mesma eficiência.

Muito bem, o leitor e utilizador aguardará mais um tempo para ver se a situação é agilizada. O revisor não sabe quando a situação voltará ao normal, mas o leitor é paciente.

Passados três meses dos primeiros atrasos recorrentes induz uma reclamação na CP. Bom cidadão. A resposta do operador do material circulante além de semelhante ao do revisor, termina com o “lamentamos os transtornos causados”. Fica tratado com o “lamento”.

Que fará o leitor e utilizador deste serviço perante estes meses de atraso? Apanha o comboio 1h mais cedo para não ser sujeito a isso? Atrasa-se a sair de casa para não apanhar o atraso acumulado? Muda de meio de transporte público? Qual? Vai 50 minutos mais tarde?

O leitor ainda fez um apanhado até para facilitar o operador do material circulante, do mês de julho de 2025 dos atrasos naquele comboio nº15707. Em 23 dias úteis de trabalho, conseguiu 2 dias sem atraso acima de 5 minutos. Nesses 21 dias de atrasos apanhou atrasos de 23 minutos por três vezes. Portanto, o leitor e utilizador deste serviço já sabe que em média ficará à espera na estação 11 minutos a mais do que o normal.

E porque não mudar a hora do comboio se está sempre atrasado, quase todos os dias, desde o início do ano? Revejo novamente a resposta: “A pontualidade é uma preocupação constante da CP”.

O leitor, esperto, olha para o painel de informação onde diz o horário do comboio e o destino e a “Nova Hora: xx:xx”. Não vê na verdade. O utilizador não vai observar porque não existe a parte da “Nova Hora”. Que transtorno: o utilizador chega à estação, sabe que encontra atraso, não sabe quanto tempo. Eventualmente a voz a lamentar o atraso falará, se falar. Isto se tiver do lado certo da linha. Do outro lado, não se ouve.

O utilizador incomodado, reclama ao gestor da infraestrutura, neste caso a IP (Infraestruturas de Portugal) sobre este outro transtorno.

O gestor informa que “a sua reposição será feita logo que estejam reunidas as condições necessárias”, encontrando-se a “reparação dos equipamentos em fase de adjudicação”, “estimando-se” resolver a situação até ao final do terceiro trimestre do presente ano. O que aconteceria se o utilizador e leitor não reclamasse?

Porque não informa a CP (dona do material circulante) ou a IP (dona do painel de informação e do altifalante) do motivo do atraso? Porque não posso eu saber o motivo do atraso? É o utilizador assim tão asno que não irá perceber? Se é obras que digam, se é acidente que digam, se não há maquinista que digam. Porra pá!

Ninguém supervisiona o estado da infraestrutura? Não há fiscalização? Não há nenhum funcionário capaz de fazer essa verificação? Até pelas câmaras (trabalham?) nas estações conseguem ver isso.

É preciso ser um cliente a reclamar? Lembre-se, se vir um buraco na estrada, ou a vegetação a tapar o caminho o mais provável é ninguém ter reclamado. Maldito povo! Malditos serviços. Que faz a junta de freguesia se não fiscaliza o local onde estão os cidadãos? Um marasmo…

É lamentável falarmos de alta velocidade, quanto tempos problemas surreais na baixa velocidade. Não temos plataformas decentes. Temos avarias constantes de elevadores. Deficiente comunicação com o utilizador. Não temos material circulante decente. Não temos casas de banho numa viagem de 1h. A maior parte das estações e apeadeiros tem edifícios abandonados. Deixamos de operar em linhas passadas. Fazemos obras inúteis na ferrovia.

Lamento o transtorno causado ao leitor. Que pode o leitor fazer mais?

Morreu Teresa Caeiro, ex-deputada do CDS e antiga vice-presidente da AR

Figura de relevo no seio do CDS-PP, Teresa Caeiro foi vice-presidente da Comissão Política Nacional do partido entre 2008 e 2012. Foi deputada pelo Círculo Eleitoral de Leiria entre 2005 e 2011 e exerceu funções de vice-presidente da Assembleia da República entre 2011 e 2019.

Recentemente, tinha-se desfiliado do partido, justificando a decisão por estar em desacordo com a actual direcção.

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