Xenofonte e o fecho-éclair

Um homem da Nova Inglaterra inventou um extraordinário entalhe duplo em metal dourado e, para o descrever, usou uma comparação que tomou de empréstimo a um raio que cai do céu. Disse: “Vou chamá-lo fecho-éclair” (relâmpago, clarão). O seu nome era Whitcomb Judson. Colocou-o à venda no início de 1891.

Homero e Píndaro chamavam “símbolos” aos fragmentos partidos de tesselas quando os heróis se apartavam. Quando regressavam, anos mais tarde, os heróis reajustavam as bordas. No momento em que a sua peça do puzzle encaixava perfeitamente na outra, os olhos reconheciam os rostos.

Tal como o rato que se imobiliza, reconhecendo os dentes da serpente que assombrara os seus sonhos em medo antes ainda de os ter percebido na realidade. Assume um ar extasiado. É então que o rato se transforma, sob os dentes da serpente, na forma do outrora maior que o esperava no espaço e que ele vira à noite.

Ao fim de muitos anos, Xenofonte passou a pensar que era melhor ser mercenário do que soldado, embora para se ser o primeiro se tenha de ser o segundo. Os mercenários têm um carácter abrupto e carecem, em geral, de espírito de corpo, ao contrário dos soldados de um reino, cuja disciplina, como o soldo, lhes chega de fora. Cada mercenário tem de cuidar de si mesmo, pensa mais na vida do que na glória e é livre para improvisar, enquanto os soldados se devem a uma falange ou a um esquadrão. Durante a anábase, e antes da batalha de Cunaxa em que Ciro morreu e se revelou a liderança do cronista grego, Xenofonte decidiu que atribuiria a cada parte do seu corpo um fragmento de memória, e que anotaria na sua correagem os números e as letras que lhe permitissem rever, se sobrevivesse na fuga, os eventos faustos e infaustos. Infausto fora o engano e a degola dos generais traídos, acontecimento que desencorajou os seus, momentaneamente decapitados; faustos, as retiradas, as distrações de Artaxerxes II e por fim a marcha até ao Mar Negro.

À noite, aparelhados os guardas, mastigados os escassos mantimentos, Xenofonte lia, diante do fogo, as notas que havia tomado das conversas com o seu mestre Sócrates. Estavam escritas na parte inferior do peitoral de couro e obedeciam também a um método mnemónico baseado em números e palavras soltas. Ao amanhecer, os dez mil retomavam de novo a marcha, com os pés feridos, coxeando, obcecados por eventuais fontes de água doce e provisões, permanentemente em falta. Cruzavam vales mais secos do que os recantos do Hades, circos de granito e xisto rachados por verões de fogo, caminhando durante horas, sem uma palavra, respirando com dificuldade. Alguns, mais feridos, pereciam no caminho; uns poucos ficavam para trás e ofereciam-se para espiar das colinas os que os perseguiam. Xenofonte multiplicava-se: tão depressa estava no quadrado central daquela mole em fuga, como à cabeça. Quando lhe era possível recostar-se contra alguma acácia atarracada e parar para urinar um líquido escuro, espesso e ardente, imaginava uma biblioteca que abrigasse também livros persas, pois o conhecimento do inimigo toma parte da força própria. Uma biblioteca não muito grande, perto do mar, na qual se dedicaria a transcrever as suas experiências de guerra e os cem detalhes que a sua curiosidade havia registado pelo caminho: pedras com desenhos de espirais no seu interior, flocos de mica, seixos da cor do gelo, voos de águias, procissões de nuvens, pobres nascentes ao lado das quais cresciam tísicos fetos, relâmpagos, clarões.

Faltava-lhe a graça e a memória do seu mestre Sócrates, a quem nunca tinha visto citar livros ou documentos. Tinha, o maiêuta, a capacidade de improvisar, o dom de brincar com as ideias, a paciência de quem conhece o ofício de escultor e, portanto, as formas em que se pode esculpir um bloco ou polir um argumento. Xenofonte devia-lhe a arte da temperança e o caminho para deixar de lado o desespero. Na biblioteca com que sonhava, haveria poucos, mas bons volumes. Aos fugitivos, as noites estreladas preenchiam-nos da esperança de regressar a casa, o pastor às cabras, o camponês à terra cinzenta, o artesão aos seus bronzes, o vinhateiro aos seus bacelos, o curandeiro aos seus unguentos. Eram os dez mil na sua anábase, na sua fuga. Subiram o Tigre e atravessaram a Arménia por uma rota que parecia infinita, chegaram à colónia grega de Trapezunte, nas margens do Mar Negro, e quando viram a grande extensão de água e o clarão da lua sobre as ondas, gritaram: “O mar, o mar!”, escreveria muito mais tarde Xenofonte. Após o que caíram de joelhos invocando os seus deuses. Xenofonte, Artemis e também Ares. Esfregaram as pálpebras e acariciaram os tornozelos doridos, cuspiram, assobiaram, suspiraram. Estando mais perto da sua terra e a salvo dos seus perseguidores, que entretanto haviam lentificado a sua marcha, as vozes despertaram novamente as gargantas, os cantos, os insultos, as bênçãos, os juramentos e as promessas. Estabelecido em Escilunte, e antes de se juntar à campanha de Agesilau contra a Boécia, Xenofonte tentou organizar a sua pequena biblioteca, na qual começou a transcrever a enorme e tremenda façanha de que havia sido parte e o principal responsável. Foi como esticar pâmpanos de videira, desdobrar papiros egípcios. Sílabas e números brotavam ao ritmo da sua mão para transcrever o heroísmo de um e o rosto manchado de sangue de outro. Seria uma crónica, mas também uma história épica. Seria uma história que ressumbraria os mesmos suores e pânicos dos seus homens.

No final de 1891, o fecho de dentes do Sr. Judson tinha encontrado onze compradores. Em 1892, vinte e dois. Em 1893, trinta e três. Em 1894, quarenta e quatro. Em 1900, cem.

Em 1909, quando Whitcomb Judson morreu, a sua mulher entrou no quarto e ele pegou-lhe na mão. Segurou-a firmemente. Perguntou-lhe se se lembrava de ele ter imaginado, há muito tempo, há mais de vinte anos, que, ao encaixar dois ganchos dourados, um ao contrário do outro, os dentes já não se soltariam. A sua invenção não passava de um nome pateta que lembrava clarões e tempestades.

Xenofonte não teve muito tempo para desfrutar da sua biblioteca, pois quanto mais descansava lendo, mais cansaço se somava ao que já sentia e com mais urgência o reclamavam lá fora. Durante dias e dias, lhe doeram as pernas e lhe falharam os olhos. Quando pensava em si, não se via como mercenário ou viajante, mas como um amigo de Ciro, o persa, discípulo de Sócrates, criança distraída e escritor maduro. Repetia palavras persas ao acaso, sonhava com gaivotas. Desfrutava de um pão escuro e de um azeite em que brilhava o clarão da liberdade.

Trump manda recado e diz que Lula pode ligar “quando quiser” para negociar tarifas

O Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, garantiu, esta sexta-feira, que o seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pode ligar-lhe “a qualquer momento” para falar sobre as tarifas de 50% que impôs a vários produtos do país.

“Ele pode falar comigo quando quiser”, disse o líder republicano à imprensa.

O Presidente dos Estados Unidos não quis detalhar o que o Brasil pode esperar dessa eventual conversa: “Vamos ver o que acontece, mas gosto do povo brasileiro”, afirmou.

O Presidente norte-americano puniu o Brasil com uma tarifa de 50% vários produtos em retaliação às ações das autoridades judiciais contra o ex-Presidente Jair Bolsonaro, o seu aliado político.

A carta em que, no dia 9 de julho, anunciou essas taxas argumentava que essa medida não respondia a motivos comerciais, mas ao que, na sua opinião, é uma “caça» às bruxas” contra Jair Bolsonaro no processo contra ele por tentativa de golpe de Estado.

Questionado esta sexta-feira sobre o motivo dessas tarifas, Donald Trump reiterou que “as pessoas que governam o Brasil erraram”.

O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, afirmou na quinta-feira que a tarifa de 50% que os Estados Unidos impõem às importações brasileiras afetará 35,9% das vendas do país e prometeu “lutar para reduzir ainda mais esse impacto”.

Num comunicado assinado por Lula da Silva da quinta-feira, o Presidente brasileiro sublinhou que “a motivação política das medidas contra o Brasil atenta contra a soberania nacional e a própria relação histórica entre os dois países”, mas acrescentou que o país continua “disposto a negociar aspetos comerciais da relação com os Estados Unidos, mas não abrirá mão dos instrumentos de defesa do país previstos na sua legislação”.

Pelo menos 32 pessoas hospitalizadas após contacto com o mar na Praia da Nazaré

Pelo menos 32 pessoas, incluindo 15 crianças, foram hospitalizadas com vómitos e diarreia depois de terem estado em contacto com o mar na praia da Nazaré, que foi esta sexta-feira interditada a banhos.

O número é avançado pelo Jornal de Leiria, até às 17 horas desta sexta-feira, que foram recebidos nas unidades de Alcobaça e Leiria do Centro Hospitalar de Leiria. A maioria das situações são ligeiras, mas um dos doentes ficou em observação.

Esta sexta-feira, a Câmara Municipal da Nazaré anunciou a interdição da praia a banhos até serem conhecidos os resultados de análises, após uma falha técnica que originou uma descarga nos esgotos pluviais e maus cheiros.

“Por precaução, e até à receção dos resultados das análises à qualidade da água, e por decisão das autoridades competentes, a praia encontra-se interditada a banhos”, referiu a autarquia.

Técnicos estiveram na praia esta quinta-feira e o local foi inspecionado, estando “sem sinais visíveis de escorrência ou maus cheiros”, avança a autarquia, que garante que irá continuar a situação de perto.

José de Pina ataca cartaz da IL que tem uma escadaria: “Tem de ser demolido como as barracas. É de uma arrogância”

Neste que é o último Irritações antes da pausa para férias, José de Pina promete não largar o tema dos ‘outdoors’ das campanhas políticas, atacando, desta vez, um cartaz da Iniciativa Liberal. E tudo por causa… de umas escadas: “Falam tanto mas aquilo tem de ser demolido como as barracas. É de uma arrogância. Mas o Carlos Moedas vai com a IL, por isso vai fazer o quê?”, questiona o comentador. Luana do Bem dá conta de se ter apercebido, recentemente, de certos alimentos e pratos que parecem mudar de sabor, ao longo dos tempos: “Não sei se é pelas leis do açúcar ou não mas há muitos sabores da infância que hoje em dia não são iguais. E se tiverem muito açúcar, eu vou pela minha conta e risco. Mas não mudem”. Já Luís Pedro Nunes fala sobre uma funcionalidade do WhatsApp que já salvou muitas vidas mas que ainda deveria ser melhorada. Com moderação de Pedro Boucherie Mendes, o Irritações foi emitido a 01 de agosto, na SIC Radical. O programa regressa em setembro!

* A sinopse deste episódio foi criada com o apoio de IA

Um programa com muita controvérsia, algum humor e bastante ironia. José de Pina, Luís Pedro Nunes e Luana do Bem debatem em estúdio com Pedro Boucherie Mendes sobre aquilo que os irrita de forma geral e em particular. Ouça mais episódios:

Ao lado de Lukashenko, Putin anuncia produção em massa de míssil hipersónico e responde à “desilusão” de Trump

Foi uma conferência de imprensa inusitada. Sentado num banco de jardim na ilha de Valaam, na Rússia, o Presidente Vladimir Putin, prestou declarações à imprensa, ao lado de Alexander Lukashenko, o homólogo da Bielorrússia. Citado pela agência RIA, o chefe de Estado russo falou sobre mísseis, fez várias críticas à Ucrânia e à União Europeia e aproveitou para responder ao facto de Donald Trump estar “desiludido”.

“Qualquer desilusão sentida por alguém, toda a desilusão, vem de expectativas elevadas. É uma regra de senso comum”, assinalou Vladimir Putin. Para o líder russo, acabar com a guerra na Ucrânia exige “discussões sérias” — e não “em público”, mas “calmamente”, algo que exige um “processo negocial”.

Vladimir Putin adiantou também que Moscovo lançou a produção em massa do Oreshnik, um míssil hipersónico de última geração que pode transportar uma ogiva nuclear. O Chefe de Estado russo reiterou que Moscovo poderá em breve instalar estes mísseis na Bielorrússia. “Os nossos especialistas — especialistas militares bielorrussos e russos — escolheram o local para as futuras posições. Os trabalhos de preparação dessas posições estão agora em curso.”

Em relação à Ucrânia, Vlaidmir Putin criticou a “falta de soberania”: “É humilhante”. Para o líder russo, Kiev está completamente dependente da ajuda externa europeia e norte-americana.

[Horas depois do crime, a polícia vai encontrar o assassino de Issam Sartawi, o dirigente palestiniano morto no átrio de um hotel de Albufeira. Mas, também vai descobrir que ele não é quem diz ser. “1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto uma embaixada em Lisboa e esta execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. É narrada pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Ouça o segundo episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E ouça o primeiro aqui]

Sobre corrupção, Vladimir Putin frisou que é “característica de quase todos os países”: “A questão é se a sociedade está pronta para combatê-la”. O Presidente russo acusou a Ucrânia ser um país com corrupção “galopante”, indicando que as agências anticorrupção ucranianas — que estiveram na origem de vários protestos contra a presidência — nunca foram eficazes.

As críticas não se ficaram apenas pela Ucrânia. Outro dos alvos foi a União Europeia (UE). O líder russo esclareceu que a “soberania desempenha um papel fundamental no mundo moderno, inclusive para o desenvolvimento económico”, lamentando que a União Europeia “não tenha isso hoje”. E relacionou a “perda de soberania política” com a “perda de independência económica”. “Está claro que hoje a União Europeia não tem tanta soberania. Tornou-se óbvio que isso não existe.”

Militarmente, o Presidente da Rússia confirmou que a cidade de Chasiv Yar, na província de Donestsk, foi controlada pelas tropas do país. “Foi libertada há alguns dias, não ontem”, especificou Vladimir Putin, confirmando, no entanto, que a Ucrânia está a “tentar contra-atacar” na região.

A Ucrânia nega que a Rússia tenha controlado Chasiv Yar, mas Vladimir Putin respondeu à “liderança ucraniana”: “Está mal informada sobre a situação”. O chefe de Estado russo enfatizou que as “tropas russas estão a avançar ao longo de toda a linha da frente”.

Na mesma conferência de imprensa, o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, atirou-se ao seu homólogo norte-americano, Donald Trump: “Se quer a paz, deve envolver-se no processo de paz e não deve ditá-la”.

O líder bielorrusso disse que a Ucrânia de “querer o impossível”. “Para que a Ucrânia tenha uma reunião com Putin, precisa primeiro de preparar terreno”, avisou. “Ninguém conseguirá colocar Minsk e Moscovo de joelhos. Estamos determinados a defender os nossos interesses”, assegurou Alexander Lukashenko.

Sobre a guerra, o Presidente bielorrusso reiterou que a Rússia “está a avançar” na linha da frente. Alexander Lukashenko recordou que perguntou a Vladimir Putin o motivo pelo qual não avança mais rápido no campo de batalha. “Sinto pena das pessoas” foi a resposta do líder russo, segundo o Presidente bielorrusso: “Devagar, mas com confiança”.

Sobre o Ocidente, o Presidente da Bielorrússia repetiu as críticas do seu homólogo russo. “Os norte-americanos têm interesse em enfraquecer a UE como centro de poder”, alertou Alexander Lukashenko.

Melómanos, atenção: Marvão, mágica em ré maior

No topo de um monte nos confins alentejanos da região de Portalegre emergem as sólidas muralhas de Marvão, em cujo interior está uma povoação com castelo. Ali habitam permanentemente cerca de 100 pessoas. Em Julho/Agosto, e durante dez dias seguidos habita ali também a suprema arte da música, e os felizardos que conseguem bilhetes para os 31 concertos.

Tudo está imaculado, limpo, pintado, escovado, sobram poucas casas por restaurar. Foi conquista no século XII do nosso Rei Fundador D. Afonso Henriques, sucessivamente reconquistada aos mouros, pelo menos três vezes, até ficar definitivamente parte de Portugal com D. Sancho II.

E foi reconquistada no século XXI pelo Festival Internacional de Música de Marvão.

Quem diria que, faz agora 11 anos, um alemão de seu nome Christoph Poppen, vindo de mui longínquas terras, se iria apaixonar e reconquistar Marvão? Com um abanão quase esotérico, não perdeu tempo, comprou lá uma casa e deu visibilidade internacional àqueles confins, ligando a beleza poética, majestosa e imponente do lugar à monumentalidade da harmonia musical mais penetrante.

Christoph Poppen, supremo na arte do violino, tem uma carreira brilhante. Foi diretor artístico e maestro principal da Orquestra de Câmara de Munique (1995–2006), diretor musical da Deutsche Radio Philharmonie Saarbrücken Kaiserslautern, é maestro principal da Orquestra de Câmara de Colónia desde 2013 e diretor musical da Hong Kong Sinfonietta. Está casado com uma diva, Juliane Banse, soprano lírica de grande talento tanto no lied quanto na ópera.

O Festival internacional de Música (clássica) de Marvão, deu os seus primeiros passos em 2014. Num êxito crescente, Poppen acolheu patronos de várias nacionalidades, que apoiam com entusiasmo e com os seus dinheiros particulares este Projecto de sucesso. A excepcional qualidade do que o Festival de Marvão oferece aos melómanos mobiliza o apoio financeiro de dezenas de estrangeiros, e uns tantos (poucos) patronos nacionais.

Entre os “corporativos” portugueses, destaca-se o entusiasmo de José Pena Amaral e de Artur Santos Silva no apoio ao Festival no comando das cofres do BPI/Fundação La Caixa.

Entre os estranjeiros o mecenas principal, com montantes igualmente substanciais, sublinha-se a Anja Fichte Stiftung, uma Fundação privada alemã e sem fins lucrativos, criada em 2010 pelos pais da artista Anja Fichte, após o seu falecimento aos 30 anos. Anja Fichte era melómana e flautista. Daí a Fundação contribuir activamente para a promoção de jovens músicos através de bolsas de estudo, apoio à compra de instrumentos, de orquestras, festivais de música, contribuindo também para as áreas social e da saúde.

Aparecem depois patrocinadores secundários, como a BP Portugal e a Stone Capital, a que se juntam apoios financeiros oriundos da Câmara Municipal de Marvão, Turismo de Portugal e CCDR do Alentejo, e outros, cujo mérito neste mecenato haverá sempre que sublinhar. E o festival conta com o alto Patrocínio da Presidência da República.

A designação “internacional” é mais do que justa, não só pela multiplicidade de nacionalidades de patronos/apoiantes, como de músicos portugueses, americanos, canadianos, alemães, sul-coreanos, espanhóis, franceses, etc. A juventude e a genialidade de todos os artistas é sobressalente, um naipe de músicos cujos curricula impressionam particularmente, pois quase todos estão no início de carreira, mas já com dezenas de prémios e intervenções internacionais de grande relevo.

Poppen descobriu Marvão em 2014 e foi imediatamente cativado pela sua beleza singular, pela atmosfera pacífica que ali se respira, e pela paisagm infinita que se desfruta daquelas alturas. Conquistou-o a multi-centenária povoação intra-muralhas, onde se situa o castelo, um cenário perfeito para música nas suas pequenas Igrejas e ao ar livre. A harmonia entre a arquitetura histórica e a envolvência do Alentejo profundo fazem de Marvão um palco único para planar num etéreo sonho musical.

Em 2025 o Festival decorreu de 19 a 27 de Julho, com 31 concertos. Sem contar com o coro, intervieram cerca de 70 intérpretes das mais variadas nacionalidades.

Nestas coisas, fica quase sempre na sombra o esforço dos bastidores. Daniel Boto é o grande herói local, um organizador e mobilizador de excepção. É o responsável pela coordenação executiva global do festival no funding, planeamento, gestão operacional, articulação institucional e supervisão logística. É a pessoa chave que pôe de pé uma organização sem mácula. Chamou a atenção, por exemplo, a escolha que fez para o stage-management, um grupo alemão de um profissionalismo que foi tão visível como admirável, sem uma falha. Uma empresa húngara especializada no regísto de imagens de concertos clássicos, mostrou ser dextra notável no seu ramo.

Marvão tem despertado um interesse crescente nos últimos anos. Em 2003 já foi local incluído no livro 1000 Places to See Before You Die, um best-seller número 1 do New York Times. Prafraseando Saramago : “De Marvão vê-se a terra toda… Compreende-se que daqui, do alto da torre de menagem do castelo de Marvão, se murmure respeitosamente: ‘Como é grande o mundo”.

Em Marvão paira algo do mistério que encontramos, por exemplo, em Stonehenge (3.000 anos AC), ou nas múltiplas construções megalíticas desta região do Alentejo, de que se destaca o Cromeleque dos Almendres (3 a 6.000 anos AC).  Esses são indecifráveis, Marvão é completamente decifrável.

Há certos concertos de tal beleza, transcendência e perfeição de execução que nos conseguem transportar à certeza da existência de Deus criador, em momentos etéreos vividos naquelas alturas. Em Marvão, a música não se ouve apenas: eleva-se. Entre as muralhas antigas, o castelo, noites cálidas e céus imensos, cada nota parece devolver-nos à origem do sagrado.

O autor destas linhas sentiu-se durante os concertos a que assistiu muito para além do “grande mundo” de Saramago e dos mistérios de Stonehenge e dos Cromeleques, transportado, num entorno mágico, para o quase sobrenatural que é o milagre da música.

E todos os que lá vão, além de quatro bons hotéis dentro dos muros, têm acesso a gastronomia de excelência, como são os casos do Fago, intra-muros, com a arte do chef José Diogo Branco cujo perfil vai para além dos sabores do Alentejo. Para a grande gastronomia alentejana também digna de estrelato não se pode dispensar o Tombalobos em Portalegre, e o Confraria, em Castelo de Vide. Num ambiente taurino, o Solar do Forcado, também em Portalegre, obriga a uma visita. Os vinhos mais notáveis da zona que foram provados foram os tintos do Monte da Penha, de Francisco Fino, e o Florão Branco da Symington Family Estates produzido na Quinta de Fonte Souto.

Assim, na música erudita, na paisagem, na gastronomia, nos vinhos e nos serviços a todos os níveis, é possível reencontrarmo-nos com o nosso saudoso Portugal profundo, onde, além do talento dos participantes estrangeiros no Festival, a atenção e a qualidade milenária dos portugueses de Portugal, em português vernáculo, tem poucos rivais.

Sem esquecer muitos outros projectos de grande mérito, fica-se sempre surpreendido com êxitos de mecenato, como são, por exemplo, os casos de Serralves e da Casa da Música, ambos no Porto. Em Portugal, muitos particulares e empresas que podem, consideram que pedidos de apoio cultural são pedinchices improdutivas. Será que a cultura, base essencial de toda a nossa comunidade, é considerada por esses um sub-produto? A dificuldade de mobilizar fundos para promoção e apoio à cultura é sentida por todos os que se envolvem nessas aventuras e vão à pesca de patrocinadores. Fica repetitivo ouvir dizer a quem pode “desculpe, já dou para muita coisa…”. Outros preferem dedicar os seus fundos a festivais mais light, caso da Companhia de Seguros Ageas, que abandonou Marvão, e reridecionou este ano os seus dinheiros para culturas “fáceis” e mais comerciais, um passo em falso que empobreceu a nobre cultura da música clássica.

A gala de encerramento aconteceu no páteo do Castelo, numa noite mágica, amena, enfeitiçada pelos acordes dos cantores líricos e das notas de quase todos os instrumentos utilizados ao longo de 10 dias. Foram ouvidas 14 obras, quase todas familiares para os ouvidos do público que esgotou os lugares disponíveis, onde estava Marcelo Rebelo de Sousa, que nunca falta. Entre um Estudo de Tango, de Piazolla, a Malagueña para piano a quatro mãos de Lecuona, e outras peças muito bem escolhidas, foi uma supresa ver uma jovem, que anonimamente virava as páginas das pautas dos intérpretes, sentar-se ao piano com dois outros pianistas, para tocarem, em perfeição, uma obra rara de se ouvir, Valsa e Romance para piano a seis mãos, de Rachmaninoff. É alemã, de reconhecidos méritos, Maia Anisonyan. O fecho foi assim com chave de ouro, bem engendrado e melhor preparado, que levou o entusiasmo de todos ao rubro.

Em 10 dias, cerca de 15.000 espectadores assistiram ao Festival.

Marvão, em termos de Festivais de Música internacionais de Verão, já aparece em todos os guiões que mobilizam melómanos do mundo inteiro.

Que reconfortante seria ver um maior número de pessoas e instituições nacionais mais envolvidos no apoio mecenático a este extarordinário marco de cultura em Portugal!

Tesla condenada a pagar quase 300 milhões após acidente com piloto automático

A Tesla foi esta sexta-feira condenada a pagar uma indemnização de quase 300 milhões de euros devido a um acidente mortal com piloto automático ocorrido em 2019, após julgamento num tribunal na Flórida.

Em causa está o acidente que vitimou Naibel Benavides Leon, uma jovem norte-americana que foi atropelada por um Tesla Model S que circulava em modo piloto automático a cerca de 100 km/h, quando se encontrava a ver as estrelas com o seu namorado.

O condutor do Tesla ignorou um semáforo vermelho e acabou por colidir com o carro de onde Naibel e o namorado, Dillon Angulo, tinham acabado de sair, projetando a jovem por 20 metros. O companheiro sobreviveu ao acidente, mas ficou gravemente ferido.

Em decisão esta sexta-feira, o tribunal considerou a Tesla 33% responsável pelo acidente, com a restante culpa a ser atribuída ao motorista, George Brian McGee, que não terá de pagar a sua parte da indemnização.

Assim, o tribunal condenou a empresa a danos compensatórios de 111 milhões de euros e a danos punitivos de 172 milhões.

Perante a decisão, a Tesla já anunciou que ira recorrer, considerado o veredito “errado” e que “só serve para atrasar a segurança da automobilidade”.

Trump ordena mobilização de dois submarinos nucleares para perto da Rússia e critica “palavras provocadoras” de Medvedev

A troca de acusações nas redes sociais resultou na mobilização de dois submarinos nucleares. O Presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a reagir às “declarações altamente provocadoras” do antigo chefe de Estado russo, Dmitry Medvedev, que atualmente ocupa o cargo de vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.

Donald Trump ordenou, esta sexta-feira, que “dois submarinos nucleares sejam posicionados em regiões apropriadas”, caso as “declarações tontas e inflamatórias” de Dmitry Medvedev se repitam — e “forem mais do que aparentam”.

“As palavras são muito importantes e podem levar a consequências indesejadas”, alertou Donald Trump numa publicação na Truth Social, esperando que esta “não seja uma destas situações”.

Depois da publicação, em declarações aos jornalistas, o Presidente dos Estados Unidos garantiu que mobilizou submarinos nucleares para “a segurança” do povo norte-americano. “Tivemos de o fazer. Temos só de ter cuidado”, acrescentou, sublinhando que uma “ameaça foi feita” e não acharam “que fosse apropriada”.

“Uma ameaça foi feita por um ex-Presidente da Rússia e vamos proteger o nosso povo”, reforçou novamente Trump.

[Horas depois do crime, a polícia vai encontrar o assassino de Issam Sartawi, o dirigente palestiniano morto no átrio de um hotel de Albufeira. Mas, também vai descobrir que ele não é quem diz ser. “1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto uma embaixada em Lisboa e esta execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. É narrada pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Ouça o segundo episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E ouça o primeiro aqui]

Na mesma medida, o senador republicano norte-americano, Lindsey Graham, um dos maiores aliados de Donald Trump, aplaudiu a medida, avisando que a Rússia se está “a exceder” — e isso motivou uma resposta do Presidente norte-americano.

No X, Lindsey Graham afirmou que o Presidente norte-americano “procura a paz e não a guerra”. Contudo, avisou que Donald Trump “não é Obama, não é Biden”, não “deixando que brinquem com ele”.

Nas redes sociais, Donald Trump e Dmitry Medvedev têm trocado acusações. O ex-Presidente da Rússia criticou no X o “ultimato” após o líder norte-americano ter indicado que aplicaria sanções à Rússia se não cessar as hostilidades na Ucrânia até 8 de agosto.

“Cada ultimato é um passo rumo à guerra”, avisou Dmitry Medvedev, que não ficou sem resposta. Donald Trump atacou depois o “falhado” ex-Presidente russo, avisando-lhe para ter “cuidado com as palavras”: “Está a entrar em território perigoso”.

Por sua vez, o antigo líder russo ridicularizou a “reação nervosa” do “todo-poderoso Presidente dos EUA”. “Significa que a Rússia está certa e continuará a seguir o seu próprio caminho”, atirou.

Misericórdia de Serpa admite que crise financeira atrasa pagamento de subsídios

A Santa Casa da Misericórdia (SCM) de Serpa, no distrito de Beja, admitiu esta sexta-feira que dificuldades financeiras na instituição estão a atrasar o pagamento dos subsídios de Natal de 2024 e de férias deste ano aos funcionários.

Em comunicado, a instituição confirmou os “atrasos no pagamento de determinados créditos laborais”, nomeadamente “o subsídio de Natal de 2024, já incluído no Processo Especial de Revitalização (PER) em curso, e o subsídio de férias de 2025”.

Estes valores têm sido objeto de justa preocupação por parte dos trabalhadores e foram referidos na manifestação realizada no passado dia 28 de julho, junto ao Lar de São Francisco, convocada pelo sindicato que os representa”, salientou.

Os funcionários da SCM de Serpa concentraram-se, na segunda-feira, junto ao Lar de São Francisco, uma das valências da instituição, numa ação do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas.

Segundo Alcides Teles, dirigente do sindicato, citado pelo jornal Diário do Alentejo, de Beja, “os trabalhadores têm alguns retroativos atrasados desde 2022, não receberam o subsídio de Natal de 2024 e foram confrontados também com o não pagamento do subsídio de férias de 2025”.

No comunicado, a SCM de Serpa explicou que a instituição atravessa “uma situação financeira particularmente difícil”, que está a ser “agravada pelo atraso no início da atividade cirúrgica na Unidade Médico-Cirúrgica”.

“A gestão e arranque desta unidade estavam previstos no âmbito de uma parceria estabelecida com a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) desde 2023. No entanto, essa parceria não se concretizou na prática”, realçou.

[Horas depois do crime, a polícia vai encontrar o assassino de Issam Sartawi, o dirigente palestiniano morto no átrio de um hotel de Albufeira. Mas, também vai descobrir que ele não é quem diz ser. “1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto uma embaixada em Lisboa e esta execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. É narrada pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Ouça o segundo episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E ouça o primeiro aqui]

A instituição alegou que tem feito “sucessivas diligências” e mantido “contacto direto e insistente com a UMP” para se iniciar a produção cirúrgica e a atividade plena da unidade, mas até agora “não se verificou”.

“A situação reveste-se de especial gravidade, tendo em conta que o edifício se encontra concluído, totalmente equipado e com capacidade instalada para responder às significativas carências assistenciais da região e até do país”, sublinhou.

De acordo com a SCM de Serpa, a UMP comunicou, em dezembro de 2024, a resolução do acordo de gestão em parceria do Hospital de São Paulo, propriedade da misericórdia, apresentando como “alternativa a proposta de entrada da instituição num PER, como via para enfrentar o agravamento da sua situação financeira”.

“Face à ausência de outras soluções realistas e com base no compromisso assumido pela UMP, de que retomaria a gestão e operacionalização da Unidade Médico-Cirúrgica após a submissão do PER, a mesa administrativa optou por dar seguimento a esta proposta”, adiantou.

Assinalando que a situação se mantém indefinida, a instituição referiu que “sem a parceria prevista e anunciada desde 2023” a capacidade para iniciar a atividade médico-cirúrgica de forma autónoma “é, neste momento, extremamente limitada”.

Contactado pela Lusa, o presidente da UMP, Manuel Lemos, disse que a união denunciou a parceria para “permitir à SCM de Serpa encontrar um mecanismo financeiro que permitisse resolver” as suas dificuldades financeiras.

“Logo que estejam resolvidos, estamos interessados e disponíveis para encontrar e montar uma parceria” com a SCM de Serpa, limitou-se a acrescentar.

Associação de empresários vai apoiar estudantes e escolas com 341 bolsas

A associação Empresários pela Inclusão Social (EPIS) vai apoiar, no próximo ano letivo, estudantes desfavorecidos e escolas com 341 bolsas, a maioria para novos alunos em licenciaturas e mestrados.

O prazo para apresentação de candidatura, através do site da associação, começou esta sexta-feira e termina em 21 de setembro.

Com um investimento de 845 mil euros por parte de 67 parceiros, as bolsas destinam-se a apoiar alunos de contextos socioeconómicos desfavorecidos e distinguir escolas por boas práticas de inclusão.

Na 15.ª edição, 80% das bolsas destinam-se a alunos que vão iniciar, a partir de setembro, licenciaturas e mestrados, incluindo 28 bolsas com estágios integrados, com o objetivo de reforçar a ligação entre o ensino superior e o mercado de trabalho, refere a associação em comunicado.

Além destes, serão também apoiados alunos que vão ingressar no 10.º ano e novos alunos em cursos de especialização tecnológica ou cursos técnicos superiores profissionais.

Acreditamos que nenhum jovem deve ficar para trás por falta de recursos. A educação é uma responsabilidade coletiva. Cada bolsa EPIS é uma ponte para o futuro, um sinal de confiança no talento e no esforço de cada jovem”, sublinha o diretor-geral da EPIS, Diogo Simões Pereira, citado em comunicado.

Criadas em 2011, as Bolsas Sociais EPIS já distinguiram 134 escolas e apoiaram 1.519 alunos, num investimento total de 3,16 milhões de euros, com o apoio de 120 investidores sociais e 89 doadores individuais.

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