O Ministério Público confirmou, nesta quarta-feira, a abertura de um inquérito ao presidente do Chega, André Ventura, e à deputada do partido Rita Matias, sobre a divulgação de nomes de crianças imigrantes matriculadas numa escola de Lisboa.

Em resposta enviada à Lusa, a Procuradoria-Geral da República (PGR) adiantou que “confirma-se a instauração de inquérito relacionado com a matéria”.

André Ventura mencionou a lista de nomes na Assembleia da República e Rita Matias divulgou os nomes num vídeo partilhado nas redes sociais.

A Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) também já abriu um processo de averiguação ao caso.

Com a ajuda já habitual da aproximação dos meses do Verão, o número de empregos continuou, durante o segundo trimestre deste ano, a aumentar em Portugal, voltando a bater os máximos históricos, com a taxa de desemprego a cair para 5,9%.

Os dados trimestrais do inquérito do emprego divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística não são corrigidos do efeito da sazonalidade e, por isso, como tem sido hábito todos os anos, já era esperada uma melhoria dos indicadores do emprego e do desemprego no segundo trimestre, aquele em que os chamados empregos de Verão, temporários e relacionados com o sector do turismo e da restauração, voltam a aparecer nas estatísticas.

Mais uma vez, no segundo trimestre deste ano, o fenómeno voltou a acontecer, acentuando uma tendência que era já de si positiva no mercado de trabalho português.

De acordo com o INE, a taxa de desemprego em Portugal caiu de 6,6% no primeiro trimestre do ano para 5,9% no segundo. Este valor representa ainda uma descida de 0,2 pontos percentuais face ao mesmo período do ano passado, revelando que existe uma ligeira melhoria do indicador que vai além dos efeitos sazonais. É também o nível mais baixo de desemprego registado desde o terceiro trimestre de 2022.

No que diz respeito ao número de empregos, a tendência positiva que se tem vindo a registar ao longo da última década manteve-se. Entre o primeiro e o segundo trimestre do ano foram criados mais 66,9 mil empregos, estima o INE, assistindo-se a um acréscimo de 148,4 mil postos de trabalho face a igual período do ano passado.

Com este resultado, Portugal volta a bater novos máximos no que diz respeito ao número de pessoas empregadas, que passou agora a superar os 5,2 milhões.

O crescimento do emprego foi, em cadeia, de 1,3% e, em termos homólogos, de 2,9% no segundo trimestre deste ano, o que significa que o mercado de trabalho está a ter um desempenho mais forte que o apresentado pelo PIB, que, de acordo com os dados publicados pelo INE no ano passado, cresceu 0,6% em cadeia e de 1,9% face ao mesmo período do ano passado.

Quase três anos depois da estreia do que viria a ser um dos três grandes fenómenos da ficção da Netflix, e da cultura pop audiovisual recente, Wednesday regressa esta quarta-feira (um timing apropriado ao seu nome) à plataforma de streaming. É a série em língua inglesa mais vista da Netflix numa só temporada (considerando apenas a primeira semana de exibição, nos idos de 2022, foi vista em mais de 50 milhões de casas) e o seu regresso é o que é: o teste do segundo álbum para a banda que rebentou com as expectativas no disco de estreia, e uma oportunidade para pensar por que é que o público reagiu como reagiu a Wednesday Addams, uma adolescente ácida, gótica e talvez introvertida vinda da longínqua década de 1930.

Portanto, quase cem anos depois de o cartoonista Charles Addams ter começado a publicar os seus desenhos na revista New Yorker, esta família, e em particular esta jovem, continua a dizer algo a muita gente. De diferentes idades e gostos. Houve uma série de televisão emblemática na década de 1960, os filmes da década de 1990, muita banda desenhada, livros, peças de teatro e uma continuação da obra de Addams para além da sepultura.

Em 2022, o PÚBLICO escrevia que esta era a “Netflixicação da Família Addams”. Em 2025, a saga continua. O regresso, após uma dose de fama que Jenna Ortega, a actriz de 22 anos na pele da personagem principal, descreveu como “avassaladora”, e não de uma forma positiva, teria de usar a fórmula vencedora e pôr-lhe aditivos. Se na primeira temporada estavam lá os ingredientes cuidadosamente escolhidos do colégio interno para miúdos diferentes à la Harry Potter, com os diferentes poderes de cada grupo de adolescentes, as fardas estilosas e a narrativa na primeira pessoa de uma pequena detective à moda de Veronica Mars, agora tinha tudo de ser “maior e melhor”, nas palavras pouco subtis dos autores da série, Alfred Gough e Miles Millar.

Sim, Tim Burton continua a estar lá para dar o seu prestígio perturbador e um certo aroma a mofo premium à série como produtor executivo e realizador de alguns dos novos episódios. Sim, Wednesday continua a viver em rigor mortis, perdão, deadpan, e a dizer frases curtas e cortantes. Sim, a Netflix sabe o que tem em mãos e fará render o peixe putrefacto em duas doses, com os primeiros quatro episódios a estrearem-se esta quarta-feira e os seguintes a 3 de Setembro.

Mas não, Wednesday já não está tão solitária. Não só porque na primeira temporada passou de pária entre os párias a heroína pelos seus feitos, mas também porque algures entre os contratos com os actores, as métricas de compensação extra pelo sucesso da série e o algoritmo, mais e melhor significa que Catherine Zeta-Jones está mais presente, que Fred Armisen volta, que Steve Buscemi passou a integrar o elenco principal. Ou que há uma aparição especial de Lady Gaga (uma das fãs manifestas da série quando em 2022 se juntou à viralidade do sucesso de Wednesday), e que os actores convidados incluem agora nomes como Joanna Lumley, Christopher Lloyd, Billie Piper ou Haley Joel Osment.

O sucesso popular da série não teve correspondência directa na resposta da crítica. Mas normalmente as séries para adolescentes e jovens adultos não conseguem tal proeza, justa ou injustamente, por serem engavetadas na categoria “melodrama adolescente”, como a arrumou Mike Hale no New York Times. É isso que também torna interessante perceber porquê. Porquê Wednesday Addams, e porquê agora.

Heroína introvertida

“Num mundo idealizado onde as suas farpas verbais com óptimo timing e a sua falta de interesse pela aprovação dos outros a tornam imune a bullies e defensora dos seus companheiros socialmente inadaptados, quem não gostaria de ser Wednesday Addams?”, perguntava retoricamente no diário britânico The Guardian a jornalista Janelle Zara. Teimosa e inteligente, mulher e condescendente, é uma heroína dos anos 2020 em parte porque não é demasiado “perigosa” — no seu mundo há sereias, lobisomens e ela safa-se com comportamentos que noutro contexto que não o da fantasia não seriam toleráveis.

Por outro lado, numa altura em que a literacia emocional aumenta nas faixas mais jovens, Wednesday tornou-se um case study para os detectives online debaterem se há ali alguém no espectro da neurodiversidade, asseverando que se trata de uma introvertida, por exemplo, para que os jornalistas convidem psicólogos e psiquiatras a analisar a personagem, o seu trauma, os seus traços anti-sociais. Na verdade, a personagem sempre se destacou na família que agora sobrepovoa a segunda temporada.

“Wednesday era uma personagem ‘excêntrica’, mas não autenticamente ameaçadora. Uma adolescente pode expressar o seu amor pela esquisitice sem que as pessoas pensem que é uma assassina em série ou uma psicopata em formação”, comentava em 2022 ao jornal britânico The Independent Daryl Sparkes, professor sénior de Estudos e Produção de Media na Universidade de Queensland Sul. “Mas se andasse por aí a exaltar o seu amor por Chucky, o Boneco Assassino, e tentasse imitá-lo, essa pessoa podia acabar no psicólogo”, acrescentou o docente, que há muito admira a personagem criada por Charles Addams.

Guilhotinas, uma mão com vida própria, caixões, insectos crocantes e outras iguarias servidas com humor negro são a camada superior do fenómeno. Tim Burton aceitou Wednesday porque sentiu que a série foi escrita para ele. “Não sou uma rapariga adolescente, mas às vezes sinto-me como tal”, brincou há dias numa conferência de imprensa, citado pela agência Lusa. “Adorei a sua abordagem a tudo, da família à escola e à psiquiatria”, enumerou, reconhecendo a sua filiação nas “fábulas, que perduram porque incorporam luz, sombras, humor, drama e medo”. Como a vida, no fundo, “uma mistura de todas essas coisas”.

A própria Jenna Ortega acha que a “estranheza” da família é o factor que atrai o público, por fazer dela “uma unidade coesa”, mas também regressa à forma como se vive um século depois da criação dos Addams. “As pessoas interagem e encontram a sua comunidade online, o que pode ser muito isolador”, disse à BBC. Com a profusão actual de informação e de influência servida pelas redes sociais, “é mais difícil encontrarmos o sentido de nós mesmos”. Lembra que é hoje “muito fácil ser-se arrastado por uma mentalidade de rebanho” e que as idiossincrasias dos Addams e da sua personagem em particular são por isso bem úteis neste contexto.

Um rebanho de fiéis começará esta quarta-feira a devorar Wednesday, ou Wandinha, como insiste a Netflix em apresentá-la aos espectadores portugueses com o baptismo que foi dado à personagem no Brasil, ou Miércoles, como salivam os fãs que falam espanhol. A série está nessa encruzilhada do elogio do sobrenatural como lugar de decisão e de algum poder, de afirmação do que é ser único… para as massas, através de duas das mais poderosas encarnações dos mass media desde o advento da televisão, o streaming e as redes sociais. “Que raio de cenário infernal distópico é este?”, pergunta-se a jovem na primeira temporada.