

A liderança de Mariana Mortágua será de continuidade? Não há um corte radical?
Não vejo nenhuma razão para que fosse sequer desejável. A Catarina [Martins], o Jorge Costa, o Pedro Filipe Soares, o José Soeiro, a Joana [Mortágua] e a Mariana Mortágua fizeram parte daquela equipa que conduziu a “geringonça” nas negociações do dia-a-dia durante quatro anos e que, depois, reorganizou uma capacidade política de intervenção do BE nas novas circunstâncias. Foram à luta e partilharam esse trajeto. Portanto, há evidentemente uma continuidade política.
No futuro, que BE podemos projetar? Um partido que deve tentar fazer parte de soluções governativas, formar governo? Ou um partido que deve afirmar-se na oposição, como partido de protesto?
O BE tem que insistir em respostas concretas que mostrem o seu conhecimento, a sua capacidade de mobilizar respostas, a sua capacidade de governar.
O BE pode voltar a esses tempos de influência de 2015 a 2019?
Deve voltar e procurar ter uma capacidade muito superior ao que pôde ter nesse tempo porque era um tempo de viragem. Era sair do desastre da troika. Uma coisa é que, em 2015, tenha a prioridade de recuperar cortes em salários, pensões ou no SNS. Outra coisa é responder hoje ao desastre ambiental, à desorganização das cidades, a esta espécie de tragédia da desigualdade. A resposta a essas dificuldades significa que é preciso uma esquerda que se imponha nas respostas concretas, na capacidade de atuação, capacidade governativa.
Nesta convenção, gostava de ouvir uma projeção de objetivos eleitorais?
Com certeza. O partido deve dizer a disputa que quer fazer, como se vai colocar, com que linhas de força, argumentos, resultados, objetivos. Até porque as eleições são uma batalha política importante. Há divisões novas, até um pouco surpreendentes, no campo das esquerdas e no campo político. Há um ano, não esperaria que pudesse haver forças de esquerda que viessem dizer que a Ucrânia não tem direito à autodeterminação. Há política importante para o debate europeu que vale a pena desenvolver.