Rever livros? De que falamos quando falamos disto

Rever livros? De que falamos quando falamos disto

Provavelmente leu estas notícias ou os seus títulos (são sempre das mais lidas do dia nos sites noticiosos, incluindo o do PÚBLICO):

  • não haverá os adjectivos “gordo” ou “feio” nos clássicos de Roald Dahl nem qualquer alusão ao género ou à cor da pele das personagens;
  • houve alterações nos romances de Agatha Christie, onde se eliminaram palavras como “oriental”, “cigano” e “nativo”;
  • foram revistos livros da saga James Bond, de Ian Fleming, sem alusões racistas e sexistas;
  • e, muito antes, foram notícia mudanças em Huckleberry Finn, de Mark Twain, e Tintin no Congo, de Hergé.

Ao mesmo tempo, com menos difusão mediática, em alguns locais dos Estados Unidos, o poder republicano proíbe livros ou currículos escolares que mencionem o racismo ou a existência das pessoas LGBTQ. Noutros países há igual tentação, agitando-se fantasmas como o da suposta “ideologia de género”.

Esta é uma conversa (às vezes, talvez mais vezes, uma gritaria) para onde confluem política, mercado, sensibilidade, visões sobre o papel da literatura na educação e mais ingredientes. Para tentar ir além da polémica do dia X ou Y, Isabel Lucas foi ouvir especialistas em literatura e linguagem. Trouxe respostas e muitas perguntas.

O clima que descrevemos é aproveitado pelos populistas – nos EUA, na Europa, no Brasil… Giuliano da Empoli estuda-os. Chama-lhes, num livro agora editado em Portugal, os “engenheiros do caos”. Diz o professor na Faculdade de Ciência Política (Sciences Po) de Paris, em entrevista a Teresa de Sousa: “O novo tipo de políticos populistas é o resultado da raiva mais o algoritmo”.

“A fragmentação da realidade”, que alimenta populistas, “vai poder ir muito mais longe com a inteligência artificial. Corre o risco de reforçar a estupidez colectiva”, avisa Empoli. Sobre esse tema, que marca 2023 e ao qual voltaremos, falámos com o tecnólogo americano Jaron Lanier. Não é catastrofista: sublinha que a inteligência artificial é uma ferramenta sob o controlo dos humanos, não “uma criatura”. Ela será o que quisermos que ela seja – mas há cautelas a tomar.

Em seis anos, a vida de Pedro Mafama deu muitas voltas. Era músico relativamente underground. Era. Uma ida ao Preço Certo? Ter Cristina Ferreira e Manuel Luís Goucha a dançar a sua música que roça agora sem pudor na “baixa cultura”? Deixar um pasteleiro ter uma palavra a dizer na arte do seu novo disco? Alexandre Ribeiro e Matilde Fieschi andaram com Mafama na Lisboa típica que o anima e onde cresceu. Lança esta sexta-feira Estava No Abismo Mas Dei Um Passo Em Frente. Escolheu, para o nosso Spotify, algumas das canções que o inspiraram.

Há peixe panado com coca e outras lendas em Rabo de Peixe. É a segunda série original portuguesa para a Netflix. O efeito novidade não se dissipou porque esta é uma aventura diferente. “Esta é uma história de adrenalina, cocaína e miúdos. Tinha de ser rápido, enérgico, colorido”, explica Augusto Fraga, criador, co-realizador e co-argumentista.

E há mais neste Ípsilon, como as nossas recensões críticas aos filmes Velas Escarlates e Os Filhos dos Outros. Boas leituras!


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