Evenepoel abandona a Volta a França e acende a luta pelo pódio

O belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) desistiu do Tour de France na 14.ª etapa.

O campeão olímpico em título e terceiro classificado na última Volta a França tem mostrado que está num momento difícil de forma. Perdeu muito tempo na primeira etapa dos Pirinéus no Hautacam e voltou a repetir o filme na cronoescalada da etapa 12, na sexta-feira.

Ainda assim, Remco mantinha o terceiro lugar na geral, já longe de Tadej Pogacar e a distância considerável para Jonas Vingegaard, mas segurava a camisola branca.

No entanto, os sinais de quebra mantiveram-se e o pelotão voltou a deixar Remco para trás logo no início da primeira subida deste sábado, no mítico Tourmalet. Nem sequer chegou a concluir a montanha, tendo optado por desistir.

O belga deixa o Tour com uma vitória no contrarrelógio da 6.ª etapa. Chegou a estar no segundo posto da classificação geral, tendo caído para o terceiro após a etapa 10.

Remco teve o arranque da época condicionado após ter sofrido várias fraturas num acidente com uma carrinha dos correios no início de dezembro.

O dia ficou também marcado pelo abandono do dinamarquês Mattias Skjelmose (Lidl-Trek). O único trepador da equipa norte-americana caiu e foi obrigado a desistir.

Sem Remco Evenepoel e João Almeida, terceiro e quarto classificados do último Tour, está aberto o ataque ao pódio. Florian Lipowitz (Red Bull-BORA-hansgrohe) sobe virtualmente ao terceiro lugar e assume também a camisola branca da juventude.

O alemão da Red Bull entrou para esta etapa com 41 segundos de vantagem para Oscar Onley, da Team Picnic PostNL, 45 para Kévin Vauquelin, da Arkéa-B&B Hotels, e 1m20s para o colega de equipa Primoz Roglic.

No meio dos problemas, o arranque continua a dar asas ao falcão: Miguel Oliveira 13.º na corrida Sprint de Brno

Sexta-feira não foi um bom dia para Miguel Oliveira. Na abertura do Grande Prémio da República Checa, a chuva marcou as primeiras sessões de treinos livres, que terminaram com o piloto da Pramac a falhar o acesso direto à Q2, depois de ter ido além do 19.º lugar no primeiro dia de Brno, terminando a quase dois sessões de Marc Márquez (Ducati). Este sábado, os sinais melhoraram ligeiramente, mas a posição do português voltou a ficar aquém do esperado. Já sem chuva e com a pista totalmente seca, o que não acontecia desde 2020, o líder do Mundial bateu o recorde do circuito, com Oliveira a terminar o TL3 em 11.º, a 0,8 segundos. Pouco depois, até reduziu as distâncias para os 0,5, mas acabou a Q1 no sétimo lugar, partindo de 17.º. Com uma queda na última volta, Márquez perdeu a pole position para Pecco Bagnaia (Ducati).

As promessas não se concretizaram, entre a pista molhada e o sol no final: Miguel Oliveira acaba treinos livres na Rep. Checa no 19.º lugar

“O meu principal problema é que estou a sobrecarregar o pneu dianteiro e, à medida que a pista seca cada vez mais, não consigo manter velocidade suficiente nas curvas e também perco muito nas zonas de travagem. Por isso, precisamos de reduzir um pouco a carga no pneu dianteiro. Com um pneu e uma estratégia diferente, podia ter ido um pouco mais rápido, mas essa sensação na dianteira está a atrapalhar-me. Quando se entra numa curva, não se quer toda essa flutuação na dianteira. Por outro lado, no piso molhado, a sensação foi boa, a aderência foi sólida e fiquei feliz com isso. Agora vamos ver o que a corrida nos reserva. Continuo muito confiante, especialmente considerando o trabalho que fizemos durante os testes. Preciso de manter a confiança”, confessou o piloto de Almada no final das sessões de sexta-feira.

Com Jorge Martín (Aprilia) de regresso oito Grandes Prémios depois, a corrida Sprint começou com Bagnaia a segurar o primeiro posto com um grande arranque, à semelhança de Miguel Oliveira, que subiu de imediato ao 13.º lugar, perdendo depois a posição para Jack Miller (Pramac). Ainda assim, na primeira volta, Marc Márquez assumiu de vez a liderança. Pouco depois, Augusto Fernández (Yamaha) caiu e levou consigo Takaaki Nakagami (Trackhouse), com os dois a abandonarem a prova. Na terceira volta, Oliveira voltou à carga e recuperou o 13.º posto a Luca Marini (Honda). A meio da prova, Bagnaia teve um problema na Ducati e caiu para o quinto lugar em pouco tempo, com Pedro Acosta (KTM) a assumir a perseguição a Márquez, que seguia com mais de 2,5 segundos de avanço.

A cinco voltas do fim, os problemas voltaram a assolar os primeiros, com Marc Márquez a perder o ritmo e a ceder três segundos em apenas um setor, com Acosta a aproveitar para assumir a liderança. Contudo, na penúltima volta, o líder do Mundial recuperou a posição e chegou à 11.ª vitória da temporada em corridas Sprint, estendendo o seu domínio. Pedro Acosta segurou o segundo lugar e, depois de uma luta com Marco Bezzecchi (Aprilia), Enea Bastianini (KTM) fechou no pódio. Miguel Oliveira acabou com um aviso de limites de pista, no 13.º lugar, fora dos pontos. No Mundial de pilotos, Márquez chegou aos 356 pontos, contra os 261 do irmão Álex (Gresini) e os 200 de Bagnaia.

Mariana Leitão apresenta a sua liderança: “Sejamos radicais”

No sábado em que passa a ser líder da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão fez uma primeira intervenção para marcar a linha de ação de um “novo ciclo”, que mostrou ser de rutura com o passado recente — ainda que tenha feito parte dele, como líder parlamentar e vice do partido na era de Rui Rocha. Leitão quer uma IL “mais clara ainda: sejamos radicais — radicais naquilo que verdadeiramente importa. Radicais na defesa da liberdade das pessoas.”

Numa intervenção curta, na abertura da Convenção da IL, num pavilhão multiusos em Alcobaça, Leitão limitou-se a traçar as linhas de orientação mais genéricas para a próxima fase do partido, depois de umas legislativas onde falhou o objetivo da relevância ao nível da governação. Para a candidata única à liderança, o atual cenário político “exige mais” da IL: “Mais exigência, mais compromisso, mais militância porque um partido liberal não se constrói com slogans”.

E convoca todos, sublinhando que o “novo ciclo começa dentro de casa”, desde logo com “uma Iniciativa Liberal mais coesa, mais ideológica, mais convicta”. A sua candidatura à liderança não teve oposição, o que tem merecido críticas internas com vários membros a preferirem que a sucessão de Rui Rocha fosse apenas resolvida depois das autárquicas, dando tempo para mais candidaturas poderem perfilar-se. Logo à entrada da Convenção, Mariana Leitão falou aos jornalistas e garantiu que “houve tempo suficiente” para haver candidatura alternativa à sua.

Agora, num tempo que reclama ser de “união”, Leitão quer “um partido que não pede desculpa por ser liberal” e sem “medo” de “defender a dignidade do indivíduo, a força do mercado, a coragem de empreender, o direito de errar, de tentar, de recomeçar”. Quando fala na necessidade de um posicionamento “radical” do partido nesta fase, a futura líder insiste sobretudo que “ninguém deve ser propriedade do Estado”, que “a ideia de que cada indivíduo tem o direito inalienável de viver como entender” e ainda na “defesa da autonomia pessoal” e na responsabilidade individual.

Radicais, acima de tudo, na defesa da liberdade de viver sem medo do Estado, sem medo da maioria, sem medo de qualquer moda de qualquer Governo”, definiu Mariana Leitão, sublinhando que “quando o mundo escorrega para o conforto do autoritarismo suave ou do conformismo crónico, temos o dever de ser incómodos”.

No atual contexto político, a Iniciativa Liberal surge agora sobretudo apostada na diferenciação face a AD — que tem tido o Chega como parceiro mais frequente no arranque da legislatura. E é precisamente neste ponto que entra a rajada de críticas ao partido de André Ventura, com Leitão a falar na “direita do caos” que diz que “já começa a esconder-se atrás da responsabilidade para deixar tudo na mesma. Não tenhamos dúvidas: o Chega não é mais do que um novo socialismo à direita.”

E continuou no tiro ao Chega nesta mesma linha, por não defender “a soberania enquanto indivíduos”, ou “qualquer reforma para Portugal”. “São coletivistas, estatistas, e paternalistas”, criticou, acusando o partido de Ventura por querer ditar como “devemos viver” e como são “muito parecidos com os que já conhecíamos, e precisam tanto do Estado como os outros”.

Neste quadro de espaço reduzido para marcar à direita, a próxima líder da IL recusa para o seu partido um papel secundário. “A Iniciativa Liberal não tem hoje as condições para contribuir para uma solução de governo”, reconheceu tentando convencer os presentes que a “função” da IL é “outra”.

“Não aceitamos o papel de figurantes num sistema que queremos transformar”. “O atual governo da AD pensa que falar em reformas e inventar um ministério chega para agradar aos liberais”, disse quando recusou essa posição para o seu partido, aproveitando para colocar as autárquicas como o desafio “importante” que se segue e onde a IL “pode provar que uma gestão liberal faz a diferença – estando ao serviço das pessoas, não dos interesses instalados”.

Para essas eleições coloca à cabeça a intenção de “mostrar que é possível governar com rigor, transparência e responsabilidade”, “que é possível colocar os cidadãos à frente dos caciques” e ainda “que o poder local pode – e deve – ser um espaço de liberdade, de autonomia e de mérito.”

Para quem se posiciona no partido para essa corrida eleitoral, a futura líder avisou que “não serão meros gestores de freguesias ou concelhos. Serão agentes da mudança.” Pede-lhes “coragem para enfrentar as redes de poder que há décadas se entranharam em tantas câmaras”. E o objetivo vale, sublinhou, para os que vão a votos soba a chancela da IL e “também para os que, em nome de um bem maior, irão coligados para desalojar poderes instalados” — a IL tem 15 coligações autárquicas anunciadas com a AD, Lisboa e Porto estão entre elas.

No discurso em que apresentou à Convenção a da candidatura, Leitão não deixou de atirar também à esquerda, mas sobretudo na análise do desaire eleitoral sofrido nas últimas legislativas pelos partidos nesta área política. “A esquerda radical pagou o preço da sua prepotência” e a “esquerda moderada carrega hoje um pesado fardo do seu passado de desgoverno, desorientação e negligência do país”.  E nesta convicção de que o “imobilismo começa a mudar de sinal”, que Mariana Leitão tenta agora posicionar o partido: entre esta esquerda e uma direita de onde procura destacar-se.

A Constituição do Reino Unido é invisível (mas está lá)

O Reino Unido não tem uma Constituição escrita e codificada num único documento, como acontece, por exemplo, em Portugal. Mas o Estado funciona na mesma. Afinal, como é que se entendem os nossos amigos britânicos? A Constituição do Reino Unido é o conjunto de leis e princípios sob o qual o Reino Unido é governado. No entanto, não existe enquanto documento escrito. No título do artigo lê-se que a Constituição do Reino Unido é invisível porque não está escrita e codificada num único documento. Mas está lá. Confuso? Apesar de não ser não codificada, como acontece em Portugal e em

Bélgica. Mulher morre na primeira noite do festival Tomorrowland

Uma mulher canadiana de 35 anos morreu na noite de sexta-feira, quando assistia à abertura do festival de música eletrónica Tomorrowland.

A morte resultou de uma queda durante o festival, segundo avançou o Ministério Público de Antuérpia, a cidade onde se realiza o festival.

As equipas de emergência tentaram reanimar a mulher, mas acabou por morrer no hospital, onde entrou em estado crítico.

O Tomorrowland recebe todos os anos mais de 400 mil pessoas, de mais de 200 nacionalidades diferentes, em apenas dois fins de semana.

Na quarta-feira, dois dias antes da abertura do festival, um incêndio destruiu o palco principal do recinto.

Após o ocorrido, os organizadores decidiram manter aberto o acesso a todo o recinto e montaram um novo palco em menos de 24 horas.

Antes do arranque do festival, a Procuradoria-Geral de Antuérpia anunciou que o Instituto Nacional de Criminalidade e Criminologia (NCIC) iria instalar, pelo segundo ano consecutivo, um laboratório móvel de despistagem de drogas no recinto do Tomorrowland, devido à crescente disseminação de novas substâncias psicoativas e de cocktails de diferentes drogas nos últimos anos.

​Pelo menos 28 feridos após veículo atingir multidão em Los Angeles

Pelo menos 28 pessoas ficaram feridas quando um veículo se lançou sobre uma multidão na Santa Monica Boulevard, em Los Angeles, na madrugada deste sábado, informaram os bombeiros da cidade.

Pelo menos três pessoas estavam em estado crítico e seis outras ficaram gravemente feridas, segundo o alerta.

Vídeos publicados no X mostraram estradas a serem fechadas e pacientes a serem levados em ambulâncias.

As autoridades não deram pormenores imediatos sobre a causa do incidente ou a identidade do condutor.

A CNN noticiou que o local estava perto de um local de música.

O incidente ocorreu pouco antes das 2 horas da manhã, hora local, informaram os bombeiros.

As autoridades não deram pormenores imediatos sobre a causa do incidente ou a identidade do condutor.

A CNN noticiou que o local estava perto de um local de música.

O incidente ocorreu pouco antes das 2 horas da manhã, hora local, informaram os bombeiros.

Amélia: rainha, pintora, mecenas

Na introdução ao seu livro, José Alberto Ribeiro, diretor do Palácio Nacional da Ajuda e do Museu do Tesouro Real, a ele associado, não deixa margem para dúvidas sobre o propósito deste seu trabalho: “A rainha D. Amélia é, certamente, a monarca que mais interesse tem suscitado nos últimos anos, com obras publicadas em Portugal e em França, mas nunca na sua vertente de mecenas da conservação e restauro do património e como pintora”, e ainda: “Menos conhecida é também a artista, como pintora apreciadora do desenho de “paisagem ao natural” e do património histórico que reúne em desenhos e aguarelas, organizando um verdadeiro museu de papel, pela recolha e classificação de objetos de arte e arquitetura, essencialmente medievais” (p. 9). Na p. 72 vemos uma fotografia de D. Amélia a desenhar nas escavações arqueológicas de Pompeia, na conhecida viagem de 1903 pelo Mediterrâneo para instrução dos príncipes —aparentemente o único registo de muitas ocasiões semelhantes, passadas em Portugal, durante as quais produziu uma expressiva obra pictórica, constituída por 383 trabalhos, entre desenhos, aguarelas, óleo e técnicas mistas.

Dez anos depois de ter participado na exposição itinerante e no livro “Tirée par …”. A Rainha D. Amélia e a fotografia, com Luís Pavão e outros (Documenta, 2016, 180 pp.), Ribeiro prossegue no digníssimo encargo de dar a conhecer melhor D. Amélia de Orléans (1865-1951), rainha portuguesa desde 1889, publicando este livro que é uma síntese da sua tese de doutoramento em História da Arte, defendida em 2024 na Faculdade de Letras de Lisboa e que trouxe a público muita documentação inédita. O indisputável “amor incondicional a Portugal e aos portugueses” (dito pela rainha, citada na p. 11) tem plena confirmação nesta obra, dando alento e bálsamo especialmente a quantos confiam que a Monarquia é — glosando um grande estadista — o pior dos regimes, à exceção de todos os outros… Leitura para qualquer tempo, Rainha D. Amélia, pintora e mecenas do património histórico oferece-nos no atual contexto político do país uma oportunidade de avaliação de contrastes, que certamente não buscou mas aí está de facto, à disposição de quem vê e pensa.

A filha do conde de Paris nasceu em Twickenham, nos arredores de Londres, em meados de um século particularmente marcado pelo revivalismo artístico e por cuidados com o património, com a valorização das obras de arte e os monumentos antigos e o restauro de grandes palácios. A egitomania estivera de tal modo em voga, que o Obelisco de Luxor — uma oferenda ao rei Luís Filipe — foi erguido na Place de la Concorde, em Paris, 29 anos antes do nascimento de Amélia, cujos primeiros anos de vida coincidem com a reabilitação e restauro do Château d’Eu, na Normandia, uma das principais residências dos Orléans em França, realizada nada menos que por Viollet-le-Duc entre 1874 e 1879. Além disso, “parte da sua infância e adolescência foi passada junto dos seus avós, duques de Montpensier, nos palácios de Sanlúcar de Barameda ou de San Telmo, em Sevilha, na Andaluzia, repletos de obras de arte e numa zona cheia de tradições que sempre apreciou e que sempre gostou de visitar” (p. 22). Em Paris, os Orléans utilizaram uma parte do palácio Matignon, atualmente a residência oficial do primeiro-ministro francês. A consequência disso foi que, “desde cedo, esta princesa com forte formação artística e consciência do valor patrimonial das obras de arte, mostrou interesse pelas artes e pela sensibilização e proteção do património histórico português, da arqueologia ao restauro de sés catedrais” (p. 23).


Título: “Rainha D. Amélia, pintora e mecenas do património histórico”
Autor: José Alberto Ribeiro
Editor: Caleidoscópio
Design: Overshoot Design
Páginas: 192

Havia muito por fazer, ou até, estava quase tudo por fazer. Apesar dos contributos de Almeida Garrett e de Alexandre Herculano (um dos seus “escritores eleitos”, p. 130) sobre o Gótico em Portugal, que José Alberto Ribeiro percorre, faltava dramaticamente uma história da arte nacional que alicerçasse campanhas de restauro, de resto tão necessárias, em particular desde a já longínqua extinção das ordens religiosas, em 1834. Nesse domínio, a memória da nacionalidade fundada a 5 de Outubro de 1143 era claramente devedora de trabalhos de estrangeiros em visita — e de alguma forma continuaria a sê-lo, se pensarmos no norte-americano Robert Smith (1912-75) e nos seus estudos essenciais sobre a nossa arquitetura. Ainda assim, refere o autor, “com a monarquia constitucional portuguesa, iniciada por D. Maria II e o seu consorte, D. Fernando de Saxe Coburgo-Gotha, a educação para o colecionismo, antiquariato e pelas artes seria uma constante, criando nas gerações futuras dos Bragança grandes interesses culturais e uma prática artística variada que se manteria até 1910. Podemos até estabelecer alguns paralelos entre a atuação de Fernando Filipe de Orléans e D. Fernando de Saxe Coburgo-Gotha” (p. 46), pelo que é “no seio desta família real, tão ligada à arte e ao colecionismo, que D. Amélia entra por casamento com o príncipe herdeiro, D. Carlos” (p. 47), ele próprio “um dos pintores mais virtuosos da sua época” (p. 77).

José Alberto Ribeiro pôde, por isso, elencar com facilidade algumas intervenções da Rainha da proteção das artes, dos artistas e dos ofícios tradicionais, que decorre a par da sua filantropia social nos domínios da saúde, do ensino e em particular da proteção das crianças — sem contudo, por uma só vez, as conjugar ou alinhar com os extensos trabalhos oceanográficos e ornitólogos do marido, também eles focamente patrimoniais, de que resultarão o oceanário de Lisboa (furiosamente delapidado, convém saber, no fim de 1910…) e os três álbuns Aves de Portugal com 301 estampas de Enrique Casanova, dirigidos por D. Carlos. A intervenção pessoal da Rainha na conservação de monumentos nacionais tem a sua principal demonstração na longa campanha de restauro medievalista da Sé Velha de Coimbra, a partir de 1893 — que ela segue a par e passo e suporta financeiramente (desenhando-a também) —, mas a generosa mão régia também se estende em apoio a escavações arqueológicas na romana Conímbriga em 1899, cujo andamento a preocupa, e ao restauro da Sé de Lisboa, que teve início em 1902 e cujos trabalhos por várias vezes visitou. Em vão protestou contra a fábrica de gás construída nas imediações da Torre de Belém (“vizinhança sacrílega”, disse a uma revista em 1897): “Escrevi, pedi, supliquei aos ministros das Obras Públicas. Zanguei-me, esgotei influência, macei toda a gente, e nada!”, dirá em 1938 a José Leitão de Barros em célebre entrevista (cit. p. 66).

A D. Amélia se deve o Museu dos Coches Reais, no antigo Picadeiro Real do Palácio de Belém, para albergar “uma coleção que sabia ser única no contexto europeu” (p. 69), decisão muito pessoal tomada em 1902 e que demonstra “uma clara preocupação de inventariar e conservar um acervo único em risco de se perder para fruição coletiva” (p. 68). Em menos de três conseguiu inaugurar o museu, inaugurado a 23 de maio de 1905, reunindo “tudo o que era apanágio das cavalariças reais e que ainda fosse recuperável” (p. 71), ao mesmo tempo que a Quinta de Belém foi remodelada para servir de residência oficial a chefes de Estado em visita ao país, a partir de setembro de 1908. Em nota de rodapé, Ribeiro não perdeu a oportunidade de registar com melancólica ironia que “Sem saber, D. Amélia preparava com dignidade a residência oficial do futuro presidente da República”, poucos meses depois… E embora a visita ao Egito com os filhos em 1903 não seja um tema direto do seu trabalho, o autor fala-nos dela precisamente para sublinhar que a Rainha, “conhecedora da ausência de consciência histórica portuguesa de artefactos de uma civilização pré-clássica tão relevante como a egípcia” (p. 74), trouxe para Portugal um lote de 453 antiguidades egípcias para serem integradas num museu nacional, um transbordo que, aliás, “acompanhou de perto”.

Os capítulos IV e V têm por título “A Rainha pintora” e “Os anos de exílio. Mecenato, coleção e dispersão”, abrindo portas para dois mundos, o privado e o público, em que a condição régia nunca está ausente, mesmo que a função esteja. A formação artística cedo iniciada teve em Lisboa continuação com o aperfeiçoamento do desenho e da aguarela com Enrique Casanova (1850-1913), e João Alberto Ribeiro diz-nos que “a obra artística que a rainha foi desenvolvendo não era um mero exercício diletante adequado à sua posição social” (p. 84). A maioria dos desenhos, de grande detalhe, são sobretudo de igrejas e museus, o que indicia o seu impulso patrimonialista. Os Reis inauguraram o Museu de São Roque em Janeiro de 1905, mas verdade é que “a rainha tinha particular gosto pelo acervo da igreja de São Roque e desenhava-o desde 1898” (p. 97). Desenhou profusamente em Alcobaça no ano 1892. Atente-se, por exemplo, nos desenhos da pia benta da rainha D. Leonor (p. 94) e do túmulo de D. Inês (p. 101) — ou na bela aguarela, datada de 1897, do colar que pertenceu à rainha Santa Isabel, no Museu de Coimbra (p. 91). Acompanhando vaga contemporânea de estudos científicos, também deu atenção a motivos etnográficos. Desenhos foram feitos em Vila Viçosa, e certa vez pediu a uma bela jovem que trabalhava no balneário termal de São Pedro do Sul que fosse ao paço “vestida de camponesa com capucha para a desenhar” (pp. 95, 96). Participou em exposições com finalidades filantrópicas e afins, e os 31 desenhos que fez sobre o Paço de Sintra acabariam num livro do visconde de Sabugosa destinado a financiar a Assistência Nacional aos Tuberculosos em 1903.

Amélia de Orléans e Bragança. Quando a rainha que “soube sofrer portuguêsmente” regressou a Portugal

No verão de 1910, preparava a edição dum álbum com 130 desenhos de arqueologia — um “museu-portátil”, na feliz expressão consagrada —, segundo as suas próprias palavras resgatando “vestígios da nossa antiga opulência, que escaparam à ação destruidora do tempo, ao vandalismo e ganância dos homens” (cit. p. 113). Dois desses trabalhos seriam, muito provavelmente, a Custódia dos Jerónimos, uma aguarela sobre o ostentório cinzelado por Gil Vicente em 1506, conhecido como Custódia dos Jerónimos, e o Relicário de Vasco da Gama, obras de 1910 que podemos observar nas pp. 124 e 125. O golpe republicano e o exílio adiariam o projeto editorial Mes Dessins, que acabou por concretizar-se em 1926 e 1928, com dois livros de grande dimensão e tiragem reduzida, publicados em Paris e Londres, respetivamente, por ela custeados. O primeiro tem por título Mes Endroits Préférés e o segundo Art et Archéologie, compilando desenhos e aguarelas dos dezanove anos em que foi rainha de Portugal. Arquitetura e arte sacra medieval, e também os motivos florais, perfazem mais de metade das temáticas artísticas representadas. É deveras notável — mas não surpreende — que “o produto da venda reverteria, uma vez mais, a favor da Assistência Nacional aos Tuberculosos de Portugal, obra que nunca esqueceria” (p. 153).

Para trás ficava a coleção de arte de D. Amélia, que se pode prescrutar em fotografias dos seus atelier e gabinete de trabalho no Palácio das Necessidades publicadas em periódicos da época, e que José Alberto Ribeiro elenca com pormenor para lhe estabelecer balizas estéticas, que são a do “gosto melancólico dos pintores seus contemporâneos”, adivinhando o fim duma época e o “caminho rápido para o Abismo” (sic) que 1910 e 1914-18 confirmariam inexcedivelmente, e 1939-45 reforçaria ainda. Nos 41 anos que D. Amélia viveu depois de sair exilada de Portugal, as suas doações de obras de arte a museus e o constante gesto de filantropia não deixam dúvidas sobre o carácter e o desígnio desta bela francesa que em Junho de 1939, oferecendo ao nosso país o seu retrato por Victor Corcos (1905), escreveu: “Quis dar à Nação Portuguesa, que tanto amo, e de quem tive a honra de ser rainha, esse testemunho da minha grande ternura, e da minha constante saudade, desejando que os portugueses me recordem sempre, com o mesmo afeto que eu lhes dedico” (cit. p. 155). Com este livro, José Alberto Ribeiro e a editora Caleidoscópio retribuíram-lhe — da melhor maneira possível — para que assim seja.

Tudo o que precisa de saber sobre a polémica entre Jeffrey Epstein e Donald Trump

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos avançou esta sexta-feira com uma moção para tornar públicas transcrições relacionadas com a acusação de Jeffrey Epstein, considerando-as de “interesse público”.

A decisão pode indicar que estará próxima a ordem para a divulgação da lista de clientes do multimilionário acusado de tráfico sexual de menores, encontrado morto numa cela de prisão em agosto de 2019, quando aguardava julgamento.

A morte foi considerada suicídio por enforcamento, mas as ligações de poder de Epstein – e de outros famosos que terão estado associados ao seu alegado esquema de tráfico sexual de menores – alimentaram teorias da conspiração de um assassinato de alguém com interesse em silenciar o empresário.

O próprio Trump, em tempos amigo pessoal de Epstein, alimentou a questão, ao deixar em aberto a possibilidade de Epstein não se ter suicidado e ter colocado como uma das suas promessas eleitorais divulgar a lista de clientes do empresário.

Ao não concretizar a intenção, crescem as teorias da conspiração entre o movimento Make America Great Again (MAGA) de que Trump está a ocultar os documentos para proteger pessoas ricas e influentes ligadas a Epstein.

Quem foi Jeffrey Epstein?

Nascido em Brooklyn, Epstein foi inicialmente professor de matemática no ensino secundário, tendo mais tarde fundado empresas de consultoria e gestão financeira. Procurou sempre rodear-se de pessoas ricas e influentes.

Era conhecido por socializar com políticos e membros da realeza, incluindo Trump, o ex-presidente democrata Bill Clinton, o cofundador da Microsoft Bill Gates, e o príncipe André do Reino Unido. Alguns amigos e clientes viajavam no seu avião privado e visitavam as suas ilhas nas Caraíbas.

Trump conheceu Epstein socialmente nos anos 1990 e no início dos anos 2000. Durante o julgamento, em 2021, de Ghislaine Maxwell — associada de Epstein — o piloto de longa data do financeiro, Lawrence Visoski, testemunhou que Trump voou várias vezes no avião privado de Epstein. Trump negou que isso tenha acontecido.

Lei da nacionalidade fica para Setembro, direita chumba audições a associações de imigrantes

A lei da nacionalidade não vai ver a luz do dia antes de Setembro, ao contrário do que era a vontade do PSD. No âmbito da discussão em comissão parlamentar, foram chumbadas pela direita as audições de associações que representam imigrantes. Os votos contra do PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal inviabilizaram também todas as audições propostas para as mudanças à lei de estrangeiros.

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Irão tentou matar político em Madrid num “aviso à Europa”

A justiça espanhola concluiu que o Irão tentou matar o político Alejo Vidal-Quadras, em 2023, em Madrid, como um aviso à União Europeia (UE). Espanha prepara-se para julgar oito pessoas por, em 2023, tentarem matar Alejo Vidal-Quadras, um ex-dirigente do Partido Popular e fundador do Vox em nome do regime iraniano e como aviso a Espanha e à Europa. O atentado aconteceu a 9 de novembro de 2023, numa rua de Madrid, e pretendia ser uma “vingança da sua atividade política em favor da resistência iraniana, assim como avisar o Governo de Espanha e a União Europeia de que não