

À chegada à Feira do Livro de Lisboa, o Presidente da República começou a ser questionado sobre a intervenção dos Serviços de Informação e Segurança (SIS) no caso Galamba. Marcelo, contudo, tinha um anúncio a fazer: a sua agenda para os próximos tempos, que vai inclui uma reunião do Conselho de Estado para o fim de julho com o objetivo de fazer um “ponto de situação” sobre a política, a sociedade e a economia.
“O que tenho a dizer-vos hoje é o calendário que resulta da minhas reflexões nos últimos tempos”, começou por dizer o Presidente, passando, então, a debitar a agenda: dia 21 de junho ouve os partidos com assento parlamentar na Madeira para marcar as eleições regionais; em julho “como é habitual” vai receber os partidos com assento na Assembleia da República “para fazer o balanço da sessão legislativa e para os ouvir”. “Já não os ouço há meses”, como que lamentou o Presidente, que imprimiu um ritmo trimestral à audição de partidos e às reuniões de Conselho de Estado, práticas que os seus antecessores usavam com muito menos regularidade.
“Perto do final de julho irei convocar um outro Conselho de Estado para apreciar a situação portuguesa”, continuou o Presidente, explicando que tem dado “prioridade aos temas internacionais” naquele órgão de aconselhamento. E dia 16 de junho continuam a ser os temas internacionais a marcar a reunião já anunciada com a presença da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.
No fim de julho, justificou, já estará em preparação o Orçamento do Estado para o próximo ano e a sessão legislativa já terá terminado. “Estive a ponderar e pensei que é um momento em que faz sentido fazer um ponto de situação através de um Conselho de Estado. Faz sentido ouvir os conselheiros de Estado logo a seguir aos partidos. Não para nenhum ponto especifico de intervenção, para ouvir o que pensam sobre a evolução da economia, sobre a situação social e sobre a situação política”, continuou a justificar, ressalvando que “a ideia não é dar passos, é ouvir”.
Marcelo admite, contudo, falar aos portugueses depois dessa reunião. “Não planeio nenhum ação em concreto para o pós-Conselho de Estado a não ser que entenda haver alguma questão sobre a qual deva falar aos portugueses. Isso decidirei depois de ouvir o Conselho de Estado, afirmou o Presidente que vê muitas vantagens no funcionamento deste órgão: ”O Conselho de Estado tem conselheiros que intervêm muito publicamente, outros intervêm pouco. Na praça pública qualquer um pode formular os seus juízos, no Conselho de Estado todos se ouvem a todos e há uma interação que é muito mais rica.” E ainda acrescentou: “Nada melhor do que ouvir um espectro amplo.”
TIAGO MIRANDA
Quanto à pergunta que lhe foi feita com mais insistência – quando é que o primeiro-ministro lhe disse que o SIS tinha tido intervenção no caso Galamba – começou por responder: “Nunca conto conversas com o primeiro-ministro.” Quarta-feira, no debate parlamentar, António Costa disse que tinha falado com o Presidente da República entre 26 e 27 de abril, depois dos acontecimentos “deploráveis” no Ministério das Infraestruturas, tendo esclarecido que nessas conversas não lhe falou do SIS. “O primeiro contacto que tive sobre esta matéria com alguém foi no dia 29, no regresso da Ovibeja”, esclareceu agora o Presidente, sem dizer quem foi o “alguém”. Ora a 29, à hora a que Marcelo regressou da Ovibeja, já a intervenção das secretas era conhecida: foi noticiada pelo Expresso no dia 28 à noite e assumida pelo ministro na conferência de imprensa que deu ao início da tarde de dia 29.
Marcelo também recusou comentar o caso “Tutti Frutti”, que envolve investigação aos dois maiores partidos. “Não vou entrar agora em realidades que estão em processo e que vão sendo analisada pelo Parlamento, pelos partidos e pelos portugueses em geral”, responde. E aproveitou para justificar novamente o seu calendário: “A razão pela qual entendo que é muito prudente este calendário que escolhi é deixar que toda a realidade económica social e política decorra, cabendo ao Presidente da República ir observando atentamente e depois ouvir a opinião sobre quem tem um parecer a dar sobre tudo isso.”